quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A cura do esquerdismo

Não há fuga do capitalismo. É a grande lição deste promissor e transformador início de século.
Depois da eclosão da maior crise econômica desde os anos 1930, ainda em andamento, a economia de mercado é hoje mais hegemônica do que há dois anos, quando o Lehman Brothers quebrou e levou junto o mercado financeiro global.
Centenas de milhares de trabalhadores europeus marcharam pelo velho continente ontem num dia de protesto contra as políticas econômicas adotadas por causa da crise, que muitos acreditaram poderia fortalecer as esquerdas, mas que acabou inviabilizando suas posturas mais tradicionais. A receita contra a crise do capitalismo é um capitalismo depurador.
A Espanha do premiê socialista José Luiz Zapatero, palco dos maiores protestos ontem, é o melhor exemplo: teve que reduzir gastos públicos e direitos trabalhistas para reativar a economia do país e satisfazer a exigência de maior rigor fiscal feita pelo mercado (que financia os gastos espanhóis). A Grécia socialista também tomou medidas duras contra benefícios e gastos.
Chegou-se a opinar que a Europa estaria mais bem preparada para enfrentar os problemas sociais pós-crise que os EUA por causa de seus generosos benefícios sociais. Mas o que se viu foi esse colchão de proteção montado ao longo do século passado encolher junto com o sistema financeiro. E em países governados tanto pela direita quanto pela esquerda.
A esquerda é obrigada a engolir esse tipo de medida porque sabe que o capitalismo é o único jogo no mundo hoje. Quanto mais capitalista fica a China, mais rica ela fica. O Brasil também.
Cada vez mais sincronizado em tudo (inclusive na política), o mundo assiste a importantes vitórias eleitorais da direita desde a crise capitalista: a mais espetacular delas na Suécia, bastião esquerdista, no início de setembro.
A próxima grande vitória deve ser a tomada do Congresso americano pelos conservadores republicanos, revigorados pelo movimento antitributos e pró-liberalismo econômico.
No Brasil, nenhum candidato presidencial relevante ousa confrontar o modelo econômico vigente, que finalmente nos colocou no caminho da prosperidade.
Isso não quer dizer que tudo siga como antes. A própria crise depurou o sistema e impôs reformas prudenciais.
Ela também escancarou e acelerou o grande movimento geopolítico e geoeconômico que está mudando o mundo. A emergência da periferia do capitalismo como novo motor do avanço global transforma o planeta muito mais do que a própria crise econômica.
Não é o triunfo de um modelo socioeconômico sobre outro, como se viu na Guerra Fria, mas a disseminação do modelo hegemônico, que libera um dinamismo represado em nações como China, Brasil, Índia, Colômbia, Vietnã, a lista dos cada vez mais capitalistas cada vez aumenta mais (até tu, Cuba?).
Se do capitalismo vamos algum dia para um novo modelo, a ver. Mas já sabemos que não vamos retroceder pelas ilusões do socialismo.
Desse mal não mais padeceremos. A crise nos curou do esquerdismo.

Sérgio Malbergier

Democracia, imprensa e viés eleitoral

A democracia não elimina o conflito entre diferentes facções políticas. Ela apenas procura discipliná-lo, de modo que a disputa pelo poder se resolva pela vias institucionais e não as de fato. De um modo geral funciona. Desde que a democracia foi restabelecida por aqui, em 1985, não assistimos a revoluções, golpes de Estado e outras modalidades de ruptura violenta. Um quarto de século não é muito, conceda-se. Mas, em alguns países, o período de estabilidade política proporcionado pela institucionalização das controvérsias pode chegar a vários séculos, como é o caso dos EUA e do Reino Unido e da Sereníssima San Marino, República fundada em 301 e cuja Constituição vigora desde 1600. É claro que normalidade política não é tudo, mas é uma condição no mais das vezes necessária para que um país consiga aliar desenvolvimento econômico com um regime de liberdades, o que, por seu turno, permite aos cidadãos que se dediquem a buscar a própria felicidade.
Quanto a essa polêmica toda em torno das supostas tendências liberticidas do governo Lula contra o presumido caráter golpista da mídia brasileira, eu diria que a grita faz parte do jogo. É um dos caminhos institucionais da disputa. Enquanto as divergências ficam no terreno da retórica, estamos atuando de acordo com as regras. Pode não ser muito bonito, mas não vejo aí nenhuma ameaça. A democracia, como eu já disse, não tem o dom de eliminar o conflito latente na sociedade. E isso, aliás, nem seria desejável.
A imprensa quer derrubar Lula? Difícil acreditar. Ao contrário do que os setores mais à direita previam em 2002, o país não só não foi tomado pelo caos com a vitória do dirigente petista como vai muito bem com ele no poder. Na economia e em várias outras áreas sensíveis, Lula mostrou-se tão ou mais conservador do que seus antecessores tucanos. As diferenças pequenas entre as propostas dos principais candidatos a sucedê-lo são um bom indício de que uma eventual deposição dos petistas, ainda que desejada por certos setores, não vale o risco de uma aventura golpista. É mais negócio esperar a próxima crise econômica, que abrirá uma excelente janela de oportunidade para a oposição. De resto, fazer acusações, xingar, propor "impeachment" (o PT pediu o afastamento de FHC), tudo isso é permitido pelo jogo.
E Lula pretende destruir a sociedade livre? Também me parece uma besteira. É fato que o presidente padece de incontinência verbal, o que invariavelmente o faz dizer coisas que deveria calar, mas, afora a paternal leniência para com aliados, aloprados e ditadores da estirpe de Ahmadinejad, Lula não tomou nenhuma medida de lesa-democracia. A principal "prova" apresentada pelos opositores é o Plano Nacional de Direitos Humanos 3, um decreto (sem força de lei) que elenca intenções do governo em áreas tão diversas como direitos de mulheres, crianças e populações indígenas, combate à tortura, à pobreza, ao racismo e às perseguições a minorias. Nessa extensa pauta, faz referências à "democratização" dos meios de comunicação. É um documento mais voltado à militância do que à base parlamentar, que, de resto, só teria algum efeito prático se convertido em projetos de lei específicos que fossem individualmente aprovados pelo Congresso.
No mais, todos os governos do mundo livre sempre tentam dar uma apertadinha na imprensa, que normalmente reage à altura. Nos regimes democráticos, tudo fica no reino do diz-que-diz e das pressões. É mais uma modalidade do jogo.
Cuidado. Não estou, com essas minhas observações, absolvendo Lula e o PT. Há fartos indícios de que petistas infringiram um bom número de artigos do Código Penal. Numa democracia mais madura, as consequências legais desses atos viriam em tempo hábil, provocando também repercussões políticas. A questão central, contudo, é que há uma diferença entre formar quadrilha, como a Procuradoria Geral da República descreve o "mensalão", e atentar contra a democracia. O PT parece envolvido até o pescoço no primeiro pecado, mas é inocente do segundo.
E isso nos leva à questão de fundo desta coluna: por que raios, quando o assunto é política, as pessoas param de pensar com a cabeça e reagem apenas emocionalmente? O problema, receio, é mais grave. Eu diria que a política é um dos poucos assuntos onde conseguimos perceber com alguma clareza que nossos cérebros são profundamente enviesados. Em outras áreas, nosso órgão executivo central também age segundo um sistema de preferências internas preestabelecidas, com base em emoções e intuições morais esculpidas por condicionamentos culturais, mas nós mal nos damos conta disso.
Quem resume bem a situação é Robert Wright, em "Animal Moral": "O cérebro é como um bom advogado: dado um conjunto de interesses a defender, ele se põe a convencer o mundo de sua correção lógica e moral, independentemente de ter qualquer uma das duas. Como um advogado, o cérebro humano quer vitória, não verdade; e, como um advogado, ele é muitas vezes mais admirável por sua habilidade do que por sua virtude".
Esse sistema está tão enraizado dentro de nós que, de acordo com o psicólogo Jonathan Haidt, depois que um juízo intuitivo foi proferido e reforçado por uma racionalização "post hoc" (o cérebro causídico), existem apenas quatro circunstâncias sob as quais esse juízo pode ser alterado. A primeira e a segunda têm mais a ver com interações sociais do que com pensamento propriamente dito. Elas são o efeito maria-vai-com-as-outras e a obediência a uma autoridade.
A força desses fenômenos já foi estabelecida em diversos experimentos psicológicos. Solomon Asch revelou como um indivíduo pode ser levado a dizer uma inverdade óbvia (o tamanho de diferentes objetos colocados à sua frente, por exemplo) se um bom número de pessoas (atores contratados) sustentar a mentira antes dele. Já Stanley Milgram, na célebre experiência que leva seu nome, mostrou que, quando recebiam ordens de cientistas (mesmo que sem muita ênfase), voluntários comuns eram capazes de desferir em outros seres humanos choques que acreditavam (falsamente) ser capazes de deixar graves sequelas.
As outras duas hipóteses levantadas por Haidt são mais promissoras para os amantes da razão. Ele as batizou de juízo racionalizado e reflexão privada. O problema é que só tendem a ocorrer quando a intuição moral inicial é muito fraca ou inexistente e a capacidade analítica do sujeito, forte. É só aí que o advogado pode sair de férias.
A razão está, então, condenada? Sim e não. A resposta depende de como a definimos. A ideia de que a escolha de um candidato a presidente (ou qualquer outra escolha que envolva maior conteúdo moral ou emocional do que decidir qual azeitona tirar da travessa) é resultado de uma reflexão que pesa prós e contras nos moldes preconizados pelos teóricos do Iluminismo fica de fato comprometida. A questão é que esse modelo jamais foi verdadeiro. Ele existia apenas nas cabeças dos "philosophes".
Como o neurologista português António Damásio mostrou, aquilo que chamamos de razão é resultado de complexos processos cerebrais catalisados por emoções. Sem elas, seria impossível até mesmo pensar. Como bem observa o neurocientista Michael Gazzaniga, autor de "Human: The Science Behind What Makes Your Brain Unique", esse rebaixamento do estatuto da razão talvez não seja uma má notícia. Afinal, se fôssemos todos 100% racionais o tempo todo, ninguém daria gorjeta num restaurante a que não pretende voltar e esposas abandonariam seus maridos doentes para ficar com um parceiro saudável. Num mundo perfeitamente racional, sempre vale a pena roubar a carteira do melhor amigo, se tivermos alguma garantia de que não seremos apanhados. São as emoções que possibilitam a moral e a ética.
O desafio diante de nós é aprender que nossos cérebros são máquinas de autoengano e, na medida das possibilidades, tentar nos precaver contra o erro. No mundo contemporâneo, pensar racionalmente às vezes vale a pena.

Hélio Schwartsman

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Enfim, o osso!



Blog de Josias de Souza

Candiraturas!



Blog de Josias de Souza

Os "ingratos" se vingam de Lula


Segundo o Centro de Políticas Sociais da FGV-RJ, quase 30 milhões de brasileiros ascenderam à classe C no governo Lula.

Esse pessoal tem renda familiar mensal entre R$ 1.126 e R$ 4.854. Constitui hoje o bloco com maior poder de consumo no país, à frente das classes A, B, D (já o segundo maior) e E.
Segundo a empresa de pesquisas Data Popular, cabem no bolso da classe C cerca de R$ 430 bilhões anuais em compras.
Foi graças principalmente à política de valorização do salário mínimo (alta de 53% acima da inflação sob Lula) e aos quase 15 milhões de empregos formais criados em seu governo que essa travessia para a classe C ocorreu.
Pois bem: é exatamente a classe C que está ameaçando a candidata petista Dilma Rousseff de ter de enfrentar um segundo turno.
Dilma perdeu cerca de 6 milhões de votos (entre um total de 135 milhões) nas duas últimas semanas.
O período foi pontuado por escândalos na Casa Civil, a demissão da ex-braço direito de Dilma, Erenice Guerra, e por críticas destemperadas da candidata e de Lula contra a imprensa em geral.
A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, foi a maior beneficiada por essa migração de votos. Conquistou cerca de 4 milhões de eleitores no período. Serra ganhou cerca de 2 milhões.
Mais da metade dessa "sangria" (cerca de 3,6 milhões de votos) se concentrou exatamente na parcela da população pertencente à classe C.
O mais significativo é que Dilma perdeu eleitores ou oscilou para baixo em todos os estratos da população.
Isso ocorre quando a economia brasileira está posicionada para crescer quase 8% neste ano eleitoral. E num momento em que a renda e o número de empregos formais continuam ascendentes.
A grande trincheira de Dilma continua sendo os menos favorecidos.
No Nordeste, região mais pobre do Brasil, ela tem o triplo das intenções de voto de Serra (59% contra 19%). Entre os que tem renda familiar mensal até R$ 1.020, Dilma bate Serra por 52% a 25%.
O irônico nesta reta final do primeiro turno é que é de Lula o mérito por ter colocado mais dinheiro no bolso dos brasileiros para comprar bens, televisores, estudar mais e se informar.
São eles que colocam agora sua candidata sob pressão por conta de escândalos e fanfarronices contra a mídia.
É bom que seja assim.
Veja no quadro acima como foi a migração de votos de Dilma para as demais candidaturas considerando renda e escolaridade, segundo a pesquisa Datafolha realizada em dia. 27.set.:

Fernando Canzian

Ciência da compaixão

Tenho profunda simpatia pela meditação, embora não a pratique. Não acho que a ideia de uma atividade introspectiva silenciadora da consciência seja incompatível com ciência, ao contrário. Posso testemunhar que a decisão de respirar fundo e esvaziar da mente o pensamento agressivo, nos momentos de irritação, dá melhores resultados que esbravejar. Por que não poderia servir de base para uma filosofia de vida e, mais, tornar-se objeto de investigação científica?
Alguma coisa acontece no cérebro de quem consegue a proeza, isso é certo. E não só no cérebro. Richard Davidson, neurocientista da Universidade de Wisconsin em Madison (EUA), desobedeceu aos conselhos de antigos orientadores na Universidade Harvard e se dispôs a descobrir o que, exatamente, se altera nos corações e mentes dos meditabundos, segundo leio em reportagem de Dirk Johnson no diário "The New York Times".
Davidson criou um Centro para Investigação de Mentes Saudáveis em Wisconsin. Seus objetos de pesquisa são "qualidades positivas" da mente, ou "virtuosas", como altruísmo e felicidade. Nos próximos cinco anos, as prioridades de investigação recaem sobre compaixão, amor e perdão.
A simpatia aumenta, diante de tanta coragem. A primeira reação de muitos diante desse programa de pesquisa pode ser negativa, pois ele recende à mescla em princípio indesejável de valores com ciência objetiva. Mas quem disse que valores nunca se misturam com ciência?
Os pesquisadores gostam de imaginar que a confusão nunca ocorre, mas ela acontece o tempo todo. Por exemplo, quando escolhem os objetos de pesquisa, ou as variáveis que investigarão. Ninguém estranha que se estudem comportamentos violentos, ou a depressão. Estamos viciados na noção de que é mais útil investigar as patologias para tentar descobrir "remédios" contra elas.
Davidson está interessado no caráter preventivo da meditação. Acaba de iniciar um projeto sobre seus efeitos em jovens de quinta série na cidade de Madison. Eles serão treinados para dedicar pensamentos caridosos a seus parentes e colegas, ou até mesmo estranhos e inimigos. Ao final do ensino fundamental, época em que adolescentes partem para as drogas ou para a ignorância, seu comportamento será comparado com o de um grupo de controle, que não terá exercitado a meditação compassiva.
Quem achar que nada disso é sério, saiba que Davidson não está aí para brincadeiras. Conta com o apoio de ninguém menos que Tenzing Gyatso, o dalai lama, um amigo pessoal que doou US$ 50 mil para as pesquisas do centro. E o neurocientista já publicou vários artigos em periódicos científicos sobre meditação, como um estudo de 2003 em que comprovou que ela pode aumentar até o efeito protetor de vacina contra a gripe, ao estimular o sistema imunológico (resultado oposto ao do estresse, reconhecido por todos).
Existem vários outros estudos mostrando com métodos objetivos que a meditação pode afetar positivamente as pessoas e inclusive fazer bem ao coração, em sentido literal e fisiológico. Já escrevi sobre o tema aqui.
Pense nisso. Com generosidade. Depois decida quem merece um voto de confiança.

Marcelo Leite

Aprender a Amar

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Preparação do terreno!



Blog de Josias de Souza

Por um pino!



Blog de Josias de Souza

Por me sinto vitorioso

O Datafolha detectou que na região Sudeste a educação já aparece, variando de classe social, como a principal preocupação do eleitor. No país como um todo, está entre as três primeiras da lista (coloquei a íntegra no http://catracalivre.folha.uol.com.br/). Essa informação já me faz sentir vitorioso nessas eleições, independentemente de quem ganhar nas urnas.
Como o leitor desta coluna sabe, não vejo nada mais importante para um país do que apostar no conhecimento de seus habitantes. Até pouco tempo, essa preocupação aparecia por baixo, muito por baixo, entre as prioridades dos habitantes, o que acabava não pressionando os governantes. Isso explica, em parte, por que o nível de ensino é tão baixo.
Uma levantamento feito pelo Data Popular mostra que, para a classe C, que é maioria no país, o estudo passou a ser visto como prioritário.
Isso significa que, cada vez mais, os governantes serão eleitos ou derrubados com base no desempenho dos alunos.
Nunca, nem remotamente, tivemos nada parecido na agenda do país. Daí, pelo menos nesse aspecto, podemos comemorar vitória.

Gilberto Dimenstein

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Noções Números Complexos Plano de Argand Gauss Modulo

Circulo unitário ou trigonométrico

Função Exponencial e Logaritmos

Vazamento!



Blog de Josias de Souza

A xenofobia está na moda

Era uma vez uma visita de um certo Luiz Inácio Lula da Silva à África do Sul, primeiro, e Alemanha, depois. Corria o ano de 1994, Nelson Mandela havia sido eleito pouco antes o primeiro presidente pós-apartheid e era, pois, uma "photo opportunity" imperdível para um candidato presidencial que liderava as pesquisas mas tinha a sombra do recém-lançado Plano Real sobre sua vantagem (acabou derrotado por ele, como todo o mundo sabe).
Na Alemanha, entrávamos juntos na sede do SPD (o Partido Social Democrata da Alemanha), em Bonn, ainda a capital da Alemanha, embora já tivesse ocorrido a reunificação, que devolveria a Berlim a sede do governo.
Sem nem sequer ser provocado, Lula me disse algo como: se o Brasil conseguir chegar perto do modelo alemão ou sueco, já estará de bom tamanho.
Hoje, uma frase como essa nem mereceria ser reproduzida. Mas estamos falando de 1994, ano em que Lula aterrorizava a burguesia a tal ponto que o então presidente da Fiesp, Mário Amato, chegou a dizer que 800 mil empresários abandonariam o país se Lula se elegesse.
Lula só se elegeu oito anos depois, tão mudado que um dos patriarcas da banca brasileira chegou a dizer que gostaria de colocar uma estátua dele na porta de seu banco.
Volto à frase: depois da eleição de domingo na Suécia, não estou tão certo de que Lula, o de hoje ou o de ontem, ficaria confortável com o modelo. Não pelo fato de que a social-democracia obteve seu pior resultado em 90 anos. O modelo sueco deve muito a ela, que governou 65 anos dos últimos 78.
O desconforto tampouco adviria do fato de a Aliança conservadora que está no poder ter conseguido, pela primeira vez, encadear uma segunda vitória consecutiva. Lula, pelo menos o de hoje, não tem preconceitos ideológicos.
O desconforto talvez viesse pelo fato de que, pela primeira vez naquele país, a extrema-direita, os Democratas Suecos, superaram a cláusula de barreira (4% dos votos) e terão acesso ao Parlamento. Obtiveram 5,7% e ocuparão 20 assentos em um Parlamento de 157 cadeiras.
Pior: exatamente pelo desempenho da extrema-direita, a Aliança do primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt ficou a três cadeiras da maioria absoluta, o que o obriga a negociar com outras forças a formação de um governo de maioria. Reinfeldt já disse que, entre as outras forças, exclui de cara os Democratas.
Do meu ponto de vista, a Suécia, paradigma de convivência e tolerância, seria o último país a abrir as portas de seu Parlamento para um movimento xenófobo e anti-imigrantes. Na verdade, seria o penúltimo, se a Holanda, o paradigma anterior, não tivesse sucumbido antes e dado ao Partido da Liberdade, de Geert Wilders, o papel de terceira força política do país, ao passar de 9 para 24 cadeiras no Parlamento, nas eleições de junho (para não mencionar antecedentes mais antigos de quebra da tolerância que parecia ser uma das mais belas características holandesas).
Para dar uma ideia mais, digamos, universal de quem é Wilders, ele foi o convidado de honra da marcha do Tea Party, o movimento ultraconservador norte-americano, realizada na semana retrasada.
Já os Democratas Suecos tem raízes nos movimentos neonazistas dos anos 80 e 90, ainda que tenham moderado sua imagem extremista ultimamente.
De todo modo, uma das principais metas do partido é uma redução significativa da imigração e uma política de assimilação em vez de integração dos imigrantes.
Partidos de extrema-direita já estão no governo na Itália e ocupam cadeiras nos Parlamentos da Dinamarca, Hungria, Áustria e Bulgária, sem contar a possibilidade de que o Partido da Liberdade acabe participando do governo da Holanda (as negociações para formá-lo ainda se arrastam). Sem contar também as ações anti-ciganos do governo Nicolas Sarkozy, na França.
Fica a nítida sensação de que a massa de imigrantes que busca o paraíso europeu (ou norte-americano) acabou por incomodar.Enquanto eram necessários para ocupar os postos de trabalho que os locais desprezavam, pelos baixos salários ou más condições, foram tolerados. Agora, o número assombra os locais. Para ficar só no caso da Suécia, 14% de seus 9,3 milhões de habitantes são estrangeiros. A eles deve-se acrescentar os 6% que, embora nascidos na Suécia, são filhos de estrangeiros.
O suficiente, a julgar pela eleição de domingo, para causar um risco no generoso modelo sueco que tanto seduzia Lula.

Clóvis Rossi

Vale tudo!

Suspense geral. Entramos na reta final da campanha. Os dois lados estão na expectativa sobre o resultado das pesquisas de intenção de voto que serão divulgadas nesta semana. Se tudo ficar como está, adeus. Só um milagre colocará José Serra no segundo turno. Se Dilma Rousseff cair, os tucanos vão partir para o tudo ou nada na semana derradeira de campanha e a temperatura tende a subir a níveis insuportáveis. De ambos os lados.
As estratégias de petistas e tucanos já estão definidas. O comando da campanha de Dilma vai bater cada vez mais na comparação entre os governos Lula e FHC, além de tentar apresentar a petista como a candidata que une o Brasil. Nada mais estranho diante do tom dos discursos do presidente Lula, cada vez mais na linha do "nós contra eles".
Os tucanos vão seguir mirando a classe média lançando mão das manchetes de jornais dos últimos dias, destacando o escândalo de tráfico de influência na Casa Civil que derrubou a ministra Erenice Guerra. E tentará atrair eleitores lulistas das classes C, D e E com promessas bem difíceis de cumprir, como o salário mínimo de R$ 600 em 2010. Se ganhar, Serra terá de montar um plano para socorrer milhares de prefeituras país afora, que não terão recursos para bancar o aumento.
Enfim, chegamos à reta final com os petistas radicalizando o discurso, principalmente o presidente Lula, na sua eterna tentativa de se dizer vítima de preconceitos. E os tucanos partindo para algo que, há pouco tempo, soaria completamente inacreditável: propostas populistas e irreais, beirando a demagogia.
O fato é que o clima político está quase intragável. Tão ruim que faz a classe política produzir, aos borbotões, declarações de arrepiar. A começar pelo presidente petista. Diz ele: "Nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partidos políticos. Nós não precisamos de formadores de opinião. Nós somos a opinião pública". Como assim? Agora ele se diz dono da verdade, aquele que representa a opinião pública. Posso estar enganado mas, na condição institucional de chefe de governo, ele precisa ser avaliado pela opinião pública, e não se dizer a própria.
Tudo bem, Lula coleciona índices elevados de popularidade nessa fase final de seus dois mandatos, o que significa que a maioria da população brasileira aprova sua administração. Isso não quer dizer, porém, que ele deva se colocar acima do bem e do mal e refratário a qualquer tipo de crítica. Logo ele que, antes de virar presidente, exercitou seu amplo direito à esculhambação geral dos adversários.
Vejamos outra declaração infeliz: "Eleito presidente da República, o salário mínimo do Brasil será de R$ 600. Essa é minha proposta hoje e será a realidade de amanhã. Não os R$ 538 propostos pelo governo". Como bom economista e defensor do equilíbrio das contas públicas, Serra sabe que cumprir sua promessa é algo muito difícil de acontecer. Teria de cortar quase tudo que é investimento público federal para tentar bancá-la. Sem falar, como já dito acima, que milhares de prefeitos não teriam condições de suportar o aumento.
Talvez Serra tenha em mente uma estratégia de elevar o salário mínimo para R$ 600 em etapas durante o próximo ano. Se fizer isso, terá cumprido sua promessa. Só que soará um estelionato eleitoral, já que o eleitor que acreditar na sua proposta atual estará apostando que o mínimo sobe para R$ 600 no início de 2010.
Enfim, tucanos e petistas estão apreensivos. A equipe de Serra acredita que Dilma cairá nas próximas pesquisas. A dúvida é se numa velocidade que permita levar a eleição para um segundo turno. Entre os petistas, a avaliação é que a candidata de Lula pode recuar um pouco nesta semana em suas intenções de voto, mas acreditam que a estratégia final de campanha fará Dilma subir novamente na última semana. Tudo que eles não querem é que a eleição vá para o segundo turno. A conferir.

Valdo Cruz

domingo, 19 de setembro de 2010

Por que é tão difícil melhorar a qualidade da educação no Brasil?

Embora o tema deste editorial seja mais adequado a teses acadêmicas, tamanha sua complexidade, dois fatos registrados esta semana nos remetem a questionamentos sobre a melhoria da qualidade da educação. E ambos têm como foco o profissional da educação. O primeiro deles, diz respeito à dificuldade em se aplicar, integralmente, os preceitos da Lei que instituiu o Piso Salarial Profissional Nacional do Magistério Público da Educação Básica, e, o segundo, refere-se à situação também de descaso dos gestores públicos em manter quadros permanentes na educação básica.
A Nesta quinta-feira (16), a CNTE fará a entrega de um dossiê no STF denunciando a não aplicação da Lei 11.738 na maior parte do país, e cobrando do Tribunal o julgamento do mérito das duas pendências da Ação Direta de Inconstitucionalidade movida por cinco governadores considerados “Inimigos da Educação, Traidores da Escola Pública”.
Já matéria veiculada no jornal Folha de SP, ontem (14), revela que o Estado de São Paulo mantém 46% do quadro de magistério da rede pública de ensino em caráter temporário. Segundo o próprio veículo de comunicação, a gestão José Serra à frente do Estado havia prometido diminuir esse percentual para 10%, conforme propõe o Conselho Nacional de Educação (Parecer CNE/CEB nº 9/2009). Contudo, o que aconteceu foi exatamente o contrário. O índice de temporários saltou de 39,6%, em 2008, para 46,3% em 2010.
Em números absolutos, o incremento de temporários no magistério público de SP subiu de 83.681 para 101.375!
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem do periódico, a presença massiva de trabalhadores temporários é muito prejudicial para a educação, pois o profissional não mantém vínculo com a escola. Em um dos casos, um professor de ciências do ensino fundamental, de 24 anos de idade e a 6 anos como temporário na rede de ensino, já havia transitado por 9 escolas!
Afora as questões do federalismo nacional, que descentralizam muitas das questões relativas à gestão escolar, fato é que os gestores públicos precisam ter mais compromisso com a educação pública de qualidade e, no caso de SP, transformar, o mais rapidamente possível, por meio de concurso público, as vagas temporárias em efetivas – mesmo que isso incorra em maior custo financeiro para o Estado (fato que tem impedido essa transformação na educação paulista).

CNTE

Minha Casa Civil, Minha Vida!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Salto baixo!

Escândalos do PT? Só se fala de outra coisa

Era previsível que os casos "quebra de sigilos" e "Erenice Guerra" nem arranhassem, no geral, as intenções de voto nas candidaturas Dilma, Serra e Marina, segundo revela a nova pesquisa Datafolha.
Especialmente no Nordeste e no resto do Brasil mais pobre e menos escolarizado. E, principalmente, entre a nova classe C, engordada em 30 milhões no governo Lula.
Apesar das manchetes negativas, Dilma segue favorita e com chances de vencer em primeiro turno: 72% dos eleitores acreditam nisso.
Anteontem, no caminho de casa, parei em um boteco que me intriga há tempos. No relógio, se aproximava a hora do "Jornal Nacional", da TV Globo. Viria carregado dos dois casos mais recentes e "rumorosos" contra o PT.
O Flor da Rosa e Silva fica na rua que leva o mesmo nome, no chamado "Baixo Higienópolis" paulistano.
Costumava ser uma rua escura, de comércio popular. Mas vem ficando mais "ajeitada" nos últimos tempos.
O bar foi recém-reformado e é limpo. Vende PFs (pratos feitos) de arroz, feijão e farofa com variações da mistura principal (frango, bife ou costela) a preços entre R$ 7 e R$ 8. O X-Egg sai a R$ 4,50. Salgados, a R$ 1,50.
Mas o que "bomba" mesmo à noite são espetinhos feitos em uma grelha improvisada que enche o ambiente de fumaça. Custam R$ 2. A cerveja, R$ 4. E o PF dá lugar à PL (pinga com limão).
Na terça, havia mais de 30 brasileiros no local. Pedreiros, pintores, motoristas e balconistas em fim de expediente. Espalhados por mesas de plástico nas calçadas ou debruçados no balcão.
Na hora do "JN", o atendente aumentou o volume. Mas não se interessou pelo que aparecia na TV.
Entre todos os presentes, uma única pessoa prestou atenção aos dois maiores escândalos desta eleição.

Fernando Canzian

O PT de Dirceu que Dilma esconde

A declaração de que o PT terá mais poder com Dilma do que com Lula, feita pelo ex-ministro José Dirceu, eterno presidente de fato do partido, é motivo para reflexões, avaliações e projeções muito sérias. Até porque --ou principalmente porque-- o PT tem sido um ausente do discurso de Dilma na campanha.
A equação não fecha: Dilma disfarça o partido, mas o partido vai ter ainda mais poder no governo dela?
No debate Rede TV!/Folha, no domingo à noite, Dilma relegou mais uma vez o PT ao segundo plano, referindo-se ao 'presidente Lula' e ao 'nosso governo' como os seus verdadeiros partidos. Mas Dirceu entregou o jogo: o PT é que vai dar as cartas no governo Dilma --que, não custa lembrar, era do PDT até outro dia.
A julgar pelas pesquisas, o PT vem numericamente forte por aí. Vai fazer uma bancada grande e experiente no Senado (calcanhar-de-Aquiles de Lula) e tende a ultrapassar o PMDB como maior bancada na Câmara. (Aliás, desbancando a candidatura do peemedebista Henrique Eduardo Alves para a presidência da Casa.)
O PT, então, será o líder no Congresso de uma imensa tropa formada desde o PC do B ao PP de Maluf, depois de já ter transformado a CUT, o MST e a UNE em agências do governo, financiadas com recursos públicos; já ter aparelhado o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, a Petrobras, o BNDES; e estar em vias de 'extirpar' a oposição, como disse Lula sobre o DEM, enquanto ataca pessoalmente os tucanos Tasso Jereissatti no Ceará e Arthur Virgílio no Amazonas.
E aí entra a fala de Dirceu: 'A eleição de Dilma é mais importante do que a do Lula, porque é a eleição do projeto político'. Leia-se: Lula foi um meio para se chegar a um fim, ao tal 'projeto político'. Agora, falta explicar exatamente do que se trata, antes que o governo e o projeto se instalem. Dilma entregou um programa 'hard' de manhã ao TSE e, de tarde, retirou e entregou outro 'light'. Até agora, não se sabe ao certo qual é para valer.
Um dos laboratórios do 'projeto político' de Dirceu foi a liderança do PT na Câmara antes da eleição de Lula, que atuava e respirava conforme Dirceu mandava. Era ali o foco dos dossiês, das CPIs, das denúncias de todo tipo contra Collor, contra Itamar, contra Fernando Henrique, contra tudo e contra todos os demais.
E não é que foi dali que saíram Erenice Guerra, José Dias Toffoli, Márcio Silva? Saíram direto da central de dossiês contra adversários para o comando do país.
Erenice surgiu meio do nada e virou ministra da Casa Civil, principal cargo do governo. Toffoli é um ótimo sujeito, mas tinha todas as desvantagens e nenhum dos atributos para ser ministro, nada mais nada menos, do Supremo Tribunal Federal. E o tal do Márcio Silva é advogado da campanha de Dilma e dono de um escritório meteórico que, como diz o Painel da Folha de hoje (15/09/10), 'é assunto de advogados há muito estabelecidos em Brasília'.
Dilma teve a consideração de indicar a amiga e braço-direito Erenice Guerra como sua sucessora na Casa Civil. Mas, agora que a Casa Civil caiu (de novo) sob o peso da parentada toda dele, teve a desconsideração de rebaixá-la à condição de 'mera assessora'.
Deve estar aí a chave da questão: tem hora de esconder e tem hora de mostrar. É o PT das Erenices dos dossiês, do aparelhamento e do patrimonialismo que vai tocar o 'projeto político' em curso no país?
E com o inestimável apoio do PMDB, evidentemente.

Eliane Cantanhêde

Crie o hábito de silenciar

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Os Kirchner, Lula e Dilma

BUENOS AIRES - Em que país se especula sobre a sombra que o antecessor exerce sobre a sucessora, ainda mais que há indícios de que o antecessor pretende suceder a quem o sucedeu?
Se você respondeu Brasil, pode ter adivinhado o futuro. Mas acertaria em cheio se respondesse Argentina.
Aqui, a angiografia a que se submeteu no sábado o ex-presidente Néstor Kirchner disparou toda uma onda de comentários sobre quem manda de fato no governo de sua mulher Cristina Kirchner, a sucessora.
É óbvio que os comentários partem apenas da oposição ou dos setores da mídia que estão em guerra com os Kirchner. Para o governismo, é inconveniente discutir quem manda no governo porque enfraquece a figura da presidenta.
Não deve ser mera coincidência o fato de que o principal candidato da oposição no Brasil, José Serra, está usando como um dos focos de sua campanha a acusação de que Dilma não passa de um fantoche de Lula.
É igualmente óbvio que há uma pilha de diferenças entre as situações da Argentina e do Brasil, mas o leitor é suficientemente inteligente e informado para dispensar-me do trabalho (e do espaço) de listá-las.
Vale, portanto, falar da coincidência de que a sombra de Néstor flutua sobre o governo de sua sucessora, assim como a de Lula invade regulamente o espaço de Dilma (vide, por exemplo, o chega-p'ra-lá que Lula deu em Dilma para responder aos ataques da oposição sobre a violação de sigilos fiscais).
Vale igualmente a coincidência de que ninguém aqui tem certeza de que Néstor deixará Cristina candidatar-se à reeleição, como legalmente pode fazê-lo, ou se preferirá ele próprio apresentar-se para suceder à sucessora.

No Brasil, é assim também, não é?

Há ainda uma terceira coincidência. Claudio Jacquelin, comentarista do matutino "La Nación", um dos inimigos dos Kirchner na mídia, escreve nesta terça-feira que "o kirchnerismo é exclusivamente Kirchner".
No Brasil, ninguém ainda chegou a escrever que o petismo é exclusivamente Lula, mas está evidente que Lula é maior, bem maior, que o partido que fundou.
Jacquelin diz também que "a maioria dos movimentos políticos [como contraposição a partidos políticos], em geral personalistas, verticalistas e populistas, são o que o líder diz que são e o que faz para que sejam. Carecem de institucionalidade e de estruturas".
O PT não era assim, até chegar ao poder (o federal). Agora, se encaixa na descrição que o jornalista argentino faz do movimento peronista. Basta lembrar que a escolha de Dilma para ser a candidata foi exatamente o que o líder disse que tinha que ser, sem passar pelas deliberações das instâncias partidárias.
O fato de Néstor Kirchner ter passado em apenas sete meses por dois problemas cardíacos está sendo festejado na oposição, nem sempre discretamente, a partir da pressuposição de que "o kirchnerismo é exclusivamente Kirchner".
Ou seja, torce-se para que, abalada a saúde física do líder, a saúde política do movimento também ficará abalada.
O coração de Lula, ao contrário, parece sólido o suficiente para continuar planando sobre o futuro governo. Seria interessante, por isso, que Dilma incumbisse alguém de confiança de estudar, aqui na Argentina, o efeito dessa sombra sobre o prestígio da sucessora.

Clóvis Rossi

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Às margens do Paranoá!

República Popular do Socialismo Fiscal!

A década brasileira

Por mais importantes que Fernando Henrique Cardoso e Lula tenham sido, a história do Brasil começa a ficar mais interessante e mais importante a partir de agora.
Muito graças a eles.
FHC e Lula são os dois melhores quadros de seus grupos políticos e conseguiram liderar governos que, se tiveram problemas, colocaram o Brasil no rumo certo depois de todos os equívocos possíveis.
O caminho certo, obviamente, é a economia de mercado. E se já melhoramos muito, temos muito a melhorar. O salto principal ainda está à frente.
Por isso o que vem por aí é o mais importante, o verdadeiro vai ou racha.
A segunda década do século 21, os novos anos 10, pode (e deve) ser a década do Brasil, nossa melhor oportunidade em 500 anos. Com a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, garantimos a atenção do mundo. Precisamos até lá, e estão logo aí, estruturar nossa narrativa, nosso posicionamento, nosso caso para as platéias globais.
Muito já está dado.
Nossa mistura de sol, solo, água e emprendedorismo torna o Brasil dominante em mercados cada vez mais demandados pelos bilhões de consumidores emergentes: alimentos, energia e minerais. Nossa adesão final ao capitalismo fortalece e expande o mercado interno. Nossas enormes carências, nesse ambiente, tornam-se enormes oportunidades de negócios, de desenvolvimento.
Não consigo imaginar nenhum governo eleito neste ano que pense em desviar o país do rumo que a Era Lula-FHC estabeleceu. Mas seria muito melhor se das urnas saísse uma configuração política capaz de unir as principais forças políticas brasileiras em torno dessa oportunidade dourada dos anos 2010.
As circunstâncias que criaram as divergências históricas e muitas vezes histéricas entre PT e PSDB podem deixar de existir dependendo dos resultados nacionais e regionais do pleito deste ano.
A campanha eleitoral esquentou e como sempre é divisiva. Passada a tensão pré-eleitoral, a política deveria se tornar inclusiva. Precisamos de um grande centrão do bem, unindo PT, PSDB e outras siglas comprometidas com um projeto de país de curto e longo prazo.
Há uma seminal pauta consensual, como reforma tributária, reforma política, reformas microeconômicas para melhorar o ambiente de negócios, políticas efetivas para dar um choque de qualidade na educação, na saúde.
Este é o momento para que nossa definidora busca pela acomodação se prove muito mais um super trunfo da brasilidade do que um defeito.
Não podemos perder mais esta oportunidade. O futuro do Brasil, finalmente, chegou. Brasileiros, uni-vos.

Sérgio Malbergier

A doença de Lula

Dilma Rousseff está vencendo as eleições porque Lula fez um bom governo, marcado pela redução da miséria, em meio a crescimento econômico e inflação sob controle. Simples assim. Soube manter as conquistas econômicas do seu antecessor e aprofundar programas sociais. Não conheço nenhum período da nossa história em que estivéssemos tão bem, apesar de muito longe de uma nação civilizada e precisarmos ainda de reformas ousadas.
Difícil entender por que, com tantas conquistas, termine seu mandato atacando a imprensa, desrespeitando o poder judiciário, acobertando flagrantes falcatruas e dando sinais inequívocos de apoio do aparelhamento do Estado.
Morei 13 anos em Brasília, onde respirava os bastidores do poder. Até que me cansei, por achar que estava ficando intoxicado. Vi como, frequentemente, os governantes também se intoxicavam e ficavam mentalmente doentes, ao transformarem a realidade em um espelho no qual queriam ser ver lindamente refletidos, sempre estimulados pelos assessores. É apenas a velha doença de Narciso, o personagem mitológico, que se esvai e se consome, seduzido pela própria imagem nas águas.
O tempo passa e o que é popular hoje transforma-se, muitas vezes, em esquecimento amanhã. O que sobra é o frio julgamento da história, na qual se mede a estatura de um homem público. Nesse final de mandato, Lula está deixando imagens muito distantes de um estadista --o que só faz valorizar, pelo menos para a história, a figura hoje tão atacada, tão desprezada (até por seus correligionários), de Fernando Henrique Cardoso que, como Lula, teve seus dias Narciso em Brasília.

Gilberto Dimenstein

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Dom Lula 2º: 'Dilmadependente ou morte!'

Saudemos os "Professores Pardais"

Futebol na rede

O futebol é extremamente conservador. É nítido como todos que vivem no esporte são extremamente arredios as novidades. Nem vou falar em pequenas mudanças nas regras do jogo ou o uso de tecnologia para acabar com os erros que mudam a história dos campeonatos. O conservadorismo se manifesta de maneira muito forte nos conceitos de como os técnicos armam e treinam suas equipes.
Graças a esse repúdio ao novo somos obrigados a conviver com duas frases que, de tanto serem usadas ao longo do tempo, parecem que se tornaram verdades universais.
A primeira delas é: "time que ganha não se mexe". É lógico que uma equipe precisa ter entrosamento, mas não existe nenhuma lógica que os mesmos 11 jogadores, com o mesmo estilo de jogo, terão o mesmo desempenho contra times diferentes. Pelo menos, de uma partida para outra é necessário, no mínimo, uma alteração do posicionamento das peças.
A outra frase retrógada é a famigerada: "é melhor acertar a defesa primeiro". Desculpe isso é declaração de técnico que vai armar uma retranca para tentar não perder suas partidas no novo time. Na mesma proporção que um treinador precisar acertar a defesa - o que é relativamente fácil - é preciso que ele encontre uma maneira de fazer a sua equipe ter alternativas ofensivas.
Muitas vezes, as pessoas que trabalham no futebol são tão arredias ao novo, que quando surge um treinador que queira fazer algo diferente do comum já vira motivo de piada. Já existe até um apelido - também antigo - para os técnicos que tentam fazer inovações: Professor Pardal - lembrança ao inventor criado por Walt Disney nas histórias em quadrinhos.
Eu particularmente adoro esse tipo de treinador. Gosto de um treinador que tenta adaptar seu time para aproveitar os pontos fracos do adversário, nem que para isso precise fazer mudanças no esquema tático ou mudar as posições dos jogadores.
Esses técnicos também são sempre ousados nas substituições. Nunca caem na mesmice de trocar um lateral por um meia quando o time está perdendo, ou substituir um atacante por volante nos últimos minutos com a sua equipe vencendo. As trocas desses técnicos, muitas vezes fazem uma revolução na equipe. Uma simples substituição faz com que três ou quatro jogadores precisem mudar seu posicionamento no gramado.
Isso é o trabalho do treinador. Tentar surpreender o adversário e mudar o destino do jogo com suas modificações. É lógico que nem sempre as mudanças não dão certo, algumas vezes os resultados são trágicos - para alegria dos reacionários. Mas, o positivo é que os "Professores Pardais" sempre buscam uma maneira diferente para mudar o jogo.
Talvez, o único problema que enxergo nesse tipo de treinador que tenta escapar do padrão é que muitas vezes ele se torna escravo e se sente na obrigação de fazer uma revolução em cada mudança tática ou substituição. Muitas vezes isso não é necessário.
Para aqueles que querem sempre o mesmo padrão de treinadores, com suas receitas prontas - acho que só no Brasil rotulamos técnicos como especialistas em "mata-mata", "pontos corridos", "acesso de divisão", "tirar times do descenso" - não custa nada dizer que alguns treinadores que sempre foram criticados pelas suas "invenções" estão fazendo sucesso no Campeonato Brasileiro.
São eles: Adilson Batista (Corinthians), Cuca (Cruzeiro) e Paulo César Carpegiani (Atlético-PR). Ainda há o iniciante Sérgio Baresi (São Paulo), que foi motivo de vários comentários irônicos ao dar treinos nada ortodoxos, mas faz o São Paulo sair de um período péssimo.
Que se aumente a quantidade "Professores Pardais" nos bancos dos nossos times. Só assim vão se quebrar alguns conceitos que já estão superados, mas que poucos técnicos com medo de perder espaço, têm coragem de mudar.
Até a próxima.

DESTAQUE

Com o fim - na verdade quase, pois faltam duas partidas - do primeiro turno, já é possível prever que a disputa pelo título não vai ficar restrita entre Fluminense e Corinthians. Times como Santos, Cruzeiro e Internacional já estão se aproximando dos líderes e devem embolar a classificação já no meio do returno. Bom para o campeonato, que, mais uma vez, terá um final emocionante.

ERA PARA SER DESTAQUE

O excelente trabalho de PC Gusmão na primeira fase do Campeonato Brasileiro. O treinador não perdeu nas 18 partidas que fez. Antes da Copa, o técnico levou o limitado Ceará a brigar pela liderança do torneio. No Vasco, com os reforços que recebeu acertou a equipe e colocou o time na parte de cima da tabela.

Humberto Luiz Peron

Patriotismo, terrorismo, canalhice

Se o escritor e pensador inglês Samuel Johnson (1709/1784) está certo em dizer que "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas", então um desses refúgios começou a ruir com a proposta de trégua anunciada pelo grupo basco ETA.
ETA são as iniciais de Euskadi Ta Askatasuna (Pátria Basca e Liberdade), grupo criado durante a ditadura franquista (1939/1975) para lutar pela independência do País Basco, a região do norte da Espanha que entra também pela França.
Enquanto o franquismo dominava a Espanha, o grupo gozou de relativa legitimidade e reconhecimento internacional. Afinal, o Direito internacional e mesmo a Doutrina Social da igreja admitem o direito à rebelião ante uma tirania insuportável. Claro que "insuportável" é um termo subjetivo, mas, no caso do franquismo, o regime foi especialmente repressivo em relação ao nacionalismo basco (e também catalão). Repressão não só física mas também cultural.
Por isso mesmo, partidos democráticos contrários à violência como instrumento de ação política ou apoiaram ou silenciaram em relação aos métodos do grupo ETA. Caso, entre outros, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), hoje no poder.
Quando, após a morte de Franco, veio a democracia, o terrorismo tornou-se uma aberração. Ainda mais que os governos democráticos concederam ao País Basco (e às demais comunidades espanholas) um grau de autonomia bastante amplo. Mais, só mesmo chegando à independência, em tese o objetivo da luta da ETA. Mas a independência não conta com o apoio da maioria nem no País Basco nem na Catalunha, do que dá prova a baixa votação dos partidos independentistas, inclusive (ou principalmente) aqueles que funcionaram como linha auxiliar da ETA.
É claro que a lógica política ensina que, a cada aumento no teor de autonomia, segue-se, de parte das agrupações regionais, a reivindicação por ainda mais autonomia. É do jogo.
Independência é outra coisa, que a ETA tratou sempre de impor pela força não só ao governo central mas aos próprios bascos. Por isso, o ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, responsável pela segurança interna, descartou a proposta de diálogo feita pelo grupo terrorista. Diálogo que teria como finalidade chegar "democraticamente" à independência.
"A ETA mata para se impor e, portanto, não se pode dialogar", afirmou o ministro que reiterou que manterá intacta a politica antiterrorista. Política, de resto, eficaz. Enfraqueceu o grupo basco até levá-lo a sugerir a trégua.
Como se trata da 11ª trégua anunciada nos 51 anos de vida da ETA, é natural que tenha sido recebida com ceticismo. Pode se tratar apenas de uma maneira de ganhar tempo para lamber as feridas provocadas pela repressão e aumentar a musculatura debilitada.
Mas o anúncio parece mais um reflexo do desgaste crescente não só da sua força militar mas da cumplicidade de que goza (ou gozava) entre os bascos pró-independência, como a chamada esquerda "abertzale" (patriota em basco). Esta acabava de solicitar à ETA "uma trégua permanente e internacionalmente comprovável".
Não foi exatamente o que o grupo anunciou, mas não deixa de ser um passo para escapar da aberração.

Clóvis Rossi

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010