quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A cura do esquerdismo

Não há fuga do capitalismo. É a grande lição deste promissor e transformador início de século.
Depois da eclosão da maior crise econômica desde os anos 1930, ainda em andamento, a economia de mercado é hoje mais hegemônica do que há dois anos, quando o Lehman Brothers quebrou e levou junto o mercado financeiro global.
Centenas de milhares de trabalhadores europeus marcharam pelo velho continente ontem num dia de protesto contra as políticas econômicas adotadas por causa da crise, que muitos acreditaram poderia fortalecer as esquerdas, mas que acabou inviabilizando suas posturas mais tradicionais. A receita contra a crise do capitalismo é um capitalismo depurador.
A Espanha do premiê socialista José Luiz Zapatero, palco dos maiores protestos ontem, é o melhor exemplo: teve que reduzir gastos públicos e direitos trabalhistas para reativar a economia do país e satisfazer a exigência de maior rigor fiscal feita pelo mercado (que financia os gastos espanhóis). A Grécia socialista também tomou medidas duras contra benefícios e gastos.
Chegou-se a opinar que a Europa estaria mais bem preparada para enfrentar os problemas sociais pós-crise que os EUA por causa de seus generosos benefícios sociais. Mas o que se viu foi esse colchão de proteção montado ao longo do século passado encolher junto com o sistema financeiro. E em países governados tanto pela direita quanto pela esquerda.
A esquerda é obrigada a engolir esse tipo de medida porque sabe que o capitalismo é o único jogo no mundo hoje. Quanto mais capitalista fica a China, mais rica ela fica. O Brasil também.
Cada vez mais sincronizado em tudo (inclusive na política), o mundo assiste a importantes vitórias eleitorais da direita desde a crise capitalista: a mais espetacular delas na Suécia, bastião esquerdista, no início de setembro.
A próxima grande vitória deve ser a tomada do Congresso americano pelos conservadores republicanos, revigorados pelo movimento antitributos e pró-liberalismo econômico.
No Brasil, nenhum candidato presidencial relevante ousa confrontar o modelo econômico vigente, que finalmente nos colocou no caminho da prosperidade.
Isso não quer dizer que tudo siga como antes. A própria crise depurou o sistema e impôs reformas prudenciais.
Ela também escancarou e acelerou o grande movimento geopolítico e geoeconômico que está mudando o mundo. A emergência da periferia do capitalismo como novo motor do avanço global transforma o planeta muito mais do que a própria crise econômica.
Não é o triunfo de um modelo socioeconômico sobre outro, como se viu na Guerra Fria, mas a disseminação do modelo hegemônico, que libera um dinamismo represado em nações como China, Brasil, Índia, Colômbia, Vietnã, a lista dos cada vez mais capitalistas cada vez aumenta mais (até tu, Cuba?).
Se do capitalismo vamos algum dia para um novo modelo, a ver. Mas já sabemos que não vamos retroceder pelas ilusões do socialismo.
Desse mal não mais padeceremos. A crise nos curou do esquerdismo.

Sérgio Malbergier

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