terça-feira, 13 de julho de 2010

Caso Bruno, a investigação criminal e a eleição

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Pois bem, não só não chegamos à final da Copa do Mundo, como nossa atenção no mundo esportivo saiu dos cadernos de Esporte e foi parar nas páginas policiais. Hoje, com o Campeonato Brasileiro prestes a recomeçar, todos falamos do goleiro Bruno, jogador do Flamengo, e seu envolvimento no desaparecimento de sua ex-namorada Eliza Samudio. Um caso em que, até agora, não se sabe o paradeiro da mãe do suposto filho de Bruno e, talvez, nunca venhamos a saber.
Num episódio como esse o uso do que há de melhor na investigação criminal é essencial para evitar mais um crime sem condenados nos arquivos policiais. Situações que acabam estimulando a sensação de impunidade por parte daqueles propensos à violência. Até aqui, não parece ser esse o destino do caso em destaque, até porque as polícias de Minas e do Rio estão usando das melhores técnicas de inteligência. Mas, infelizmente, essa não é a regra em todo o país, deficiência reconhecida pelo ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, que deseja tentar corrigi-la.
O próprio ministro conta uma história, sem revelar os nomes, para exemplificar como uma investigação pode ser comprometida quando as equipes policiais não estão bem treinadas nem contam com o que há de melhor na busca de elucidar crimes. Ou então estão mais preocupadas com outras coisas, menos fazer o seu trabalho.
Recentemente, um policial foi apontado como principal suspeito de um assassinato. Descobriram que ele havia vendido o celular da vítima. Isso mesmo, o aparelho celular havia sumido. A Polícia concluiu que o telefone da vítima havia sido o único objeto roubado. Aí veio a surpresa. O policial suspeito, na verdade, estava na equipe chamada para investigar o caso. Achou o aparelho "muito bonito", colocou no bolso, ficou com ele um período de dois meses, depois vendeu por R$ 200. Típico caso em que a cena do crime não é preservada e o policial poderia ser chamado de tudo, menos de policial.
Outra história relatada pelo ministro envolvendo outro assassinato. Foram descobertas várias pegadas no local do crime. A perícia chegou e tratou de fazer o seu serviço: descobrir de quem eram as pegadas. Foi checar que tipo de sapato era aquele, se alguém relacionado à vítima tinha calçado semelhante. Surpresa! As pegadas eram da própria polícia que esteve no local para investigar o crime, que desfilou pela área sem se preocupar com a preservação do cenário antes da chegada da perícia.
Esses são exemplos de coisas básicas que devem ser observadas numa investigação criminal, técnicas que nem sempre são obedecidas por equipes policiais. "No Sul e Sudeste, esses casos são mais raros, mas em outras regiões do país são comuns. Não isolam o local do crime até a chegada da perícia, uma regra básica", diz ele.
Bem, isso é o básico, como diz o ministro. Em alguns Estados do país a Polícia Civil não está equipada para fazer exames de DNA, de balística, de uso de reagente para detectar manchas lavadas de sangue. Ou seja, está totalmente atrasada em relação ao que há de mais avançado na elucidação de crimes, a chamada investigação científica de assassinatos.
Para tentar acabar com essas deficiências, Luiz Paulo Barreto lançou um programa que vai destinar R$ 100 milhões para treinamento e compra de equipamentos para a Polícia Civil nos Estados brasileiros. O ministro acredita que pode desestimular a bandidagem se mostrar a esse pessoal que o número de crimes sem identificação dos culpados está em declínio. Em outras palavras, aumentar a sensação de risco e diminuir o da impunidade.
O fato é que os casos relatados pelo ministro são reflexo da situação precária da segurança pública em boa parte do país. Não por outro motivo a sensação de insegurança é uma das principais queixas dos eleitores a cada eleição, sem solução. Antes, havia a desculpa de que o país não tinha como dar conta das crises econômicas, que dirá de outros problemas. Uma desculpa meio esfarrapada. Agora, nem isso pode ser usado como justificativa. Passou da hora de os governos tratarem a segurança pública como algo prioritário. Com a palavra, os candidatos --a presidente e governadores.

Valdo Cruz

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