segunda-feira, 16 de abril de 2012

Cachoeira e o mensalão

A criação da CPI do Cachoeira fará bem ao país. Há tempos não acontece uma Comissão Parlamentar de Inquérito com potencial para expor as vísceras da política e ajudar no combate à corrupção. Existem motivos de sobra para instalar essa investigação congressual.
O PT e a oposição têm razões legítimas para tentar fazer uma CPI mais ao seu gosto. A disputa é natural da política. Os petistas avaliam que poderão relativizar a gravidade do mensalão. Tucanos e democratas creem que acabarão encontrando algo incômodo para o Palácio do Planalto.
Ganhou corpo, sobretudo nas redes sociais, a teoria de que a CPI do Cachoeira poderia provar que o mensalão foi uma farsa porque o vídeo de propina nos Correios teria sido montado pelo contraventor e seus arapongas. Outros vídeos e grampos que foram estopins de crises também teriam origem na turma de Cachoeira.
Se ficar provado que houve armações e que jornalistas foram usados, numa parceria que ultrapassou os limites da ética e da legalidade, obviamente haverá utilização política disso pelo PT.
No entanto, o mensalão não seria apagado nem minimizado. O mensalão é o escândalo mais grave do governo Lula e da história do PT. Marcos Valério e Delúbio Soares são personagens reais. Não são invenções. Deputados receberam dinheiro na boca do caixa do Banco Rural de Brasília. Há fundadas acusações de uso de dinheiro público para irrigar o valerioduto.
É compreensível que o PT queira se defender politicamente, lutando para que o mensalão não seja catalogado como o maior caso de corrupção da história. Afinal, não existe corruptômetro, como disse Chico Buarque. Mas o PT erra ao estimular uma versão edulcorada desse episódio. Houve erros. Houve desvios de conduta. Houve corrupção política.
Existe um claro embate político em torno do julgamento do mensalão. Num país em que a corrupção é assustadora, a opinião pública faz pressão por uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Alguns ministros do Supremo defendem um julgamento ainda neste ano, como o futuro presidente do tribunal, Carlos Ayres Britto.
É legítimo que a oposição queira trazer o assunto de volta às manchetes num ano eleitoral. E é legítimo que o PT se incomode e queira minimizar danos. Isso é a política como ela é.

TERMÔMETRO

Mesmo que o PT ocupe espaço na imprensa com a CPI do Cachoeira, dificilmente conseguirá eclipsar o eventual julgamento do mensalão. Em conversas reservadas, ministros dizem ser bastante provável a condenação dos principais petistas que são réus no processo.

Kennedy Alencar

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