segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Black Blocs: causa ou efeito?

Sob o título “Por que deveríamos todos ser Blacks Blocs”, o artigo a seguir é de autoria do procurador regional da República Osório Silva Barbosa Sobrinho, da 3ª Região (São Paulo e Mato Grosso do Sul). Segundo o autor, o texto foi escrito para provocar a análise dos leitores.

Caro leitor você já se perguntou por que os ditos vândalos (como são chamados hoje os Blacks Blocs) agem (vandalizam)?
Eles apresentam várias causas. Denunciam algumas, reivindicam outras tantas.
Denunciam, por exemplo, a corrupção desenfreada de que padece o Brasil desde o seu descobrimento; denunciam os gastos excessivos na construção dos estádios de futebol para a copa do mundo de 2014.
Reivindicam, por exemplo, melhores escolas e hospitais.
Você, aí no seu cantinho sossegado e protegido, também não denuncia e reivindica as mesmas práticas acima?
Então, responda-nos: você é mesmo contra os Blacks Blocs? Acha que as lutas deles são injustas?
Como você, sem muito esforço, pode perceber, é que as denúncias e reivindicações acima não são causa de nada, porém efeito da omissão do Estado em combatê-las, debelá-las! Ao contrário, o que se vê, inúmeras vezes, é o próprio Estado contribuindo para as práticas que você e os Blacks Blocs condenam!
O que o Estado faz para evitar as causas que levam os ditos “vândalos” a agirem?
Repita-se, para que fixemos devidamente: na nossa leitura os “vândalos” são os efeitos dos males permitidos e incentivados pelo Estado, e não suas causas!
Lembremos do exemplo histórico: os “vândalos” um dia invadiram o Império Romano. Por que eles fizeram isso? Pelo simples prazer de destruir? Óbvio que não!
Roma, pela força, havia saqueado todas as partes do mundo e apenas os romanos desfrutavam dos benefícios dos bens que eram de todos, inclusive dos “vândalos”, razão pela qual estes somente foram buscar o que deles foi tirado.
Esta seria uma boa lição, se fôssemos obedientes à história.
Os atuais imigrantes ditos ilegais na Europa podem ser, e são vistos, como verdadeiros “vândalos”, mas somente estão indo buscar o que era deles e foi saqueado pela Espanha, por exemplo, da América. Mesmo assim a Europa não os aceita, e muitos discursos, em especial pelos defensores dos Direitos Humanos, são pronunciados em defesa da aceitação.
Somente quando centenas morrem afogados, como aconteceu recentemente próximo à ilha de Lampedusa, na Itália, é que se volta os olhos para aqueles miseráveis que anteriormente foram espoliados.
A atual presidente da República chegou a chamar os Blacks Blocs de “fascistas”!
Uma resposta simples que poderia ser-lhe dada era: “Nós somente estamos seguindo o seu brioso exemplo, presidente”!
O que fez a presidente em sua juventude? Pegou até em armas e foi a luta pelos seus ideais. Pode ela condenar quem lhes segue o exemplo, embora usando a face em vez de armas?
Poderia ela dizer que lutou contra uma ditadura política, ao que poder-se-ia responder-lhe: “Nos lutamos contra uma ditadura econômica e o roubo dos bens públicos, estes sim, de grande monta se comparados aos bens que dizem que nós destruímos!
Mas o mais interessante nisso tudo: o povo que lutava contra a ditadura política sequestrou embaixador e roubou bancos e cofres etc., e, por incrível que pareça, uma pessoa que participava, louvavelmente, da luta contra a ditadura militar, que chegou à presidência da República, justamente, parece que, agora, se põe contra a quem luta contra a ditadura econômica, a corrupção e outros males que assolam o Brasil!
Santa contradição, de novo, Batman!
Há mais de séculos descobriu-se que causas sociais não se resolvem com polícia! Mas no Brasil ainda insiste-se nessa prática!
Quem tem fome precisa de pão; quem tem frio precisa de roupa; quem dorme ao relento precisa de um lar; quem está doente precisa de hospital; quem não estuda precisa de escola. Nada disso pode ser substituído por cassetete e gás lacrimogêneo!
Resolvam-se os problemas acima apontados (causas) e não teremos os efeitos (Blacks Blocs).
Segundo afirmam alguns, têm/existem outros modos de lutar, e deles deviam servir-se os Blacks Blocs? Quais são esses outros modos? Desde quando são usados por você que os conhece? Já resolveram alguma coisa nestes 500 anos de Brasil?
Se tivesse resolvido, os problemas (causas) já teriam sido sanados, o que parece que não ocorreu, daí estarem acontecendo esses movimentos reivindicatórios.
Há algum tempo o MPF, por um de seus membros, participou de uma Audiência Pública sobre as Causas da Violência em São Paulo.
O membro do MPF fez algumas recomendações ao Governo de São Paulo quando da “guerra” entre a PM-SP e o PCC.
Lá pelas tantas, no desenrolar da recomendação, surgiu o oferecimento, por parte do governo federal, de ajuda ao governo paulista, o que foi prontamente rejeitado, tudo por expectativas de aproveitamento político-eleitoral.
O PT iria aproveita-se de fraqueza do governo do PSDB ou o PT queria aproveitar-se de fraqueza do governo do PSDB.
Agora, com o aparecimento dos movimentos populares reivindicatórios (sociais, portanto), levou “SP a pedir cooperação federal”!!!!!!
Ou seja, movimentos sociais são mais perigosos que os membros do PCC que agem armados!?
Agora, porém, os governos do PSDB e PT, que sempre foram a mesma coisa, diga-se de passagem, unem-se contra os movimentos sociais! Vão começar querendo sufocar os Blacks Blocs para depois irem sufocar todos nós, exceto os “pau-mandados de plantão”, sempre dispostos a verem a lei e a legalidade, não interessando o teor das mesmas, já que elas sempre pendem para o lado de quem os paga e cobra caro por isso!
Em São Paulo e Rio de Janeiro, desde sempre se incendiou ônibus e explodiu-se caixas eletrônicos e destruiu-se lixeiras e placas de sinalização de trânsito, mas como isso era feito por “bandidos de verdade”, os governos (federal, estadual e municipal) pouco os combateram, se é que o fizeram, pois o sucesso das ações criminosas eram e são cada vez maiores.
Quais os reais prejuízos causados pelos “vândalos”?
Com certeza que bem menor do que aqueles causados pelas várias máfias que roubam o dinheiro público dos brasileiros (mensalões, sangue-sugas, fiscais etc.).
Na verdade, o que os governos temem mesmo é que o povo descubra que pode reivindicar seus direitos e exigir punição para os corruptos que se alimentam da sua fragilidade. Esse é o real perigo que fez o PT e o PSDB se abraçarem.
Outro prejuízo que causam os Blacks Blocs são aqueles simbólicos para os patrocinadores da imprensa, como a quebra de um caixa eletrônico!
Mas é para isso mesmo! É para chamar a atenção de quem não dá a mínima (se dessa já os teria resolvido) para os problemas da população.
O que os Black Blocs fazem é ensinar que é possível lutar por um pais mais justo, igualitário e com menos corrupção, o que não interessa para quem está no poder.
Tanto não interessa que, como aconteceu no Rio de Janeiro, professores das redes estadual e municipal passaram mais de mês em greve que não se resolvia nunca. Os Blacks Blocs atuaram para apanhar primeiro que as professoras e a coisa andou, tanto assim que, após essa intervenção, o Supremo Tribunal Federal determinou que os pontos dos mestres não fossem cortados e a greve, que deveria ter sido resolvida há muito tempo, chegou ao fim!
Estavam errados os Blacks Blocs? E o Supremo?
Agora se tenta criar um mártir contra os Blacks Blocs, um coronel da PM Paulista!
Embora não seja o caso do coronel, numa hora dessas se endeusa até o satã! Desde que seja para glorificar a causa abraçada por determinação dos financiadores!
Especificamente quanto ao caso do coronel paulista, vendo as imagens, concluí:
Realmente, depois de ver os vídeos com calma, pude perceber que as imagens falam por si sós!
São deveras esclarecedoras!
Um coronel, quase a paisana, sem os instrumentos de proteção a serem usados em situações que tais (passeatas com possibilidade de quebra-quebra pontual e cirúrgico [onde somente se atingem caixas eletrônicos e agências bancárias], com precisão igual a dos drones americanos, que lançados sobre uma cidade “só matam os terroristas”!), arrasta uma mulher/moça na frente de um bando de homens (não bundões)!
Com essa atitude ponderadíssima, o coronel provocou a ira santa dos jovens que estavam no local e partiram para a defesa da moça/mulher!
Os meninos não queriam matar o coronel (que certamente não foi identificado como tal, mas como PM, o que no fundo e no raso não faz qualquer diferença a patente) e deram-lhe apenas um corretivo. Vejam que as pancadas com a tábua é dada em prancha e não com a quina! Ninguém deu uma voadora no coronel para levá-lo ao solo, onde seria chutado e pisoteado, caso a intenção fosse mesmo matar o agressor da moça/mulher.
Com a ação/reação, pode-se dizer que os Blacks Blocs são tudo, menos que não são cavalheiros!
Recorramos mais uma vez à história:
“1897 – RIO DE JANEIRO – Em visita ao Arsenal de Guerra, o Presidente da República Prudente de Morais é alvo de atentado por um soldado. O Presidente salvou-se mas o Ministro da Guerra Marechal Graduado Carlos Machado de Bittencourt morreu; e o Marechal Luís Mendes de Morais, foi gravemente ferido. O Marechal Carlos Machado de Bittencourt é patrono da Arma de Intendência do Exército.”
Não se se apregoa a violência, menos ainda a morte de alguém, mas um próprio militar já matou um marechal, logo, um coronel é também passível de um crime igual, embora os Blacks Blocs, como mostram as imagens, não cheguem ao nível de violência típico dos militares.
Uma das acusações contra os Blacks Blocs é de que eles “não têm finalidades para as suas lutas!
Exigir a definição de um fim não é o mesmo que solicitar a alguém que “explique” a condição humana?
Por que ter uma finalidade?
E se a finalidade mudar no tempo (hoje é isso, amanhã aquilo) e também mudar no espaço (o que é reivindicado/denunciado em São Paulo pode não ser o mesmo no Rio de Janeiro ou no Amazonas)?
E os milhares de políticos que se elegem prometendo uma coisa e fazem outra? Alguns até mandam “esquecer o que escreveram” antes de chegar ao poder! Outros, que ajudaram seus avós a fraudar precatórios, hoje falam mal dos velhos que estão na política (embora, no último caso, não esteja de todo errado), vejam João Alves, de provecta idade, que ganhou mais de cem vezes na loteria esportiva!
Portanto, caros detratores e subservientes ao poder político/poder do capital, saibam que para alguns, “a maior prova de inteligência se encontra na recusa em aprender”, como ensina o jovem em espírito Rubem Alves (Histórias de quem gosta de ensinar, Papirus, p. 73).
É o que eu me recuso e desejo que os Blacks Blocs também o façam. 

Frederico Vasconcelos 

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