O Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou às 14h13 desta quarta-feira a
décima sessão do julgamento do mensalão. A maior expectativa para hoje é
o possível início da exposição do voto do relator do caso, o ministro
Joaquim Barbosa, documentado em cerca de 1 mil páginas. Antes, no
entanto, devem falar os defensores dos últimos três réus do processo.
Para abrir o dia está prevista a fala do advogado de defesa de José Luiz
Alves, então chefe de gabinete do ministro dos Transportes Anderson
Adauto.
Segundo a acusação do Ministério Público (MP), Alves
atuava como intermediário no recebimento de propina do esquema do
mensalão e sabia que estava viabilizando criminosamente o recebimento de
valores em espécie. "Sua atuação foi habitual e constante como auxiliar
de Anderson Adauto na prática de crimes", resumiu o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, na denúncia. Atualmente, José Luiz Alves é
presidente do Centro Operacional de Desenvolvimento e Saneamento de
Uberaba (Codau), município administrado por Adauto.
Em
seguida, está prevista a exposição do advogado do publicitário Duda
Mendonça, acusado de remeter dinheiro não declarado para contas mantidas
em paraísos fiscais. Ele teria recebido R$ 15,5 milhões das contas de
Marcos Valério por meio de sua sócia, Zilmar Fernandes, que será a
última a ser defendida na sessão de hoje.
Em um novo texto
entregue ao STF no mês passado, a defesa de Duda Mendonça e Zilmar
Fernandes afirma que eles são "figuras externas" ao esquema do mensalão.
Os advogados Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, e
Luciano Feldens confirmam o recebimento de parte do dinheiro em uma
conta aberta nas Bahamas. Por isso, Duda responde por lavagem de
dinheiro e evasão de divisas. No entanto, os defensores argumentam que
as acusações não têm respaldo documental, já que quem mandou o dinheiro
para o exterior foi o contratante e o publicitário apenas recebeu o
pagamento.
A defesa de Duda e Zilmar será feita em duas partes.
Primeiro, o advogado Luciano Feldens deve atacar pontos técnicos, como
as acusações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Depois, Kakay
deverá falar do processo como um todo, inclusive rebatendo a existência
do chamado mensalão e atacando o que vê como incapacidade do MP de
produzir provas e dar consistência à acusação.
O mensalão do PT
Em
2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no
suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto
Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele,
parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar
de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o
escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da
Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e
perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No
relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como
operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e
ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio
Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados
por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda
por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a
Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no
inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de
serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus.
José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de
figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo
publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário
Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério
Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone
Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes:
formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A
então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José
Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados
por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O
publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a
ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro
da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por
peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de
dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP)
responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de
dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e
PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho
de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do
processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram
de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do
ex-tesoureiro.
Jornal do Brasil
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