As duas primeiras reuniões marcadas pelo Ministério do Planejamento
para negociar com servidores públicos em greve resultaram em embromação,
frustração e radicalização. A mistura fez ferver os ânimos dos
organizadores da marcha sindical que descerá a Esplanada nesta quarta
(15).
Na semana passada, Sérgio Mendonça, secretário de Relações de
Trabalho, enviara comunicado às entidades sindicais convocando-as para
as duas rodadas de negociação, nesta terça (14) –uma pela manhã e outra à
tarde. Embromou em ambas.
Numa, após tomar um chá de cadeira de quase duas horas, os
sindicalistas ouviram do secretário que o governo ainda não lograra
formular uma resposta para as reivindicações de 18 das mais de 30
categorias que trazem os braços cruzados. Adiou a apresentação da
proposta para sexta (17).
Para complicar, Sérgio Mendonça preparou o ânimo dos interlocutores
para o pior. Lero vai, lero vem informou que a proposta que está por vir
passará longe dos anseios dos grevistas. Primeira frustração.
Noutra reunião, o assessor da ministra Miriam Belchior (Planejamento)
mostrou a barriga para servidores sublevados do Incra e do Ministério
do Desenvolvimento Agrário. Sem resposta, o sindicalismo agrário foi da
frustração à revolta. O tempo fechou.
Os grevistas retiveram Sérgio Mendonça e informaram que não
arredariam o pé da sala de reuniões enquanto não chegasse uma proposta
do Planalto. Acionada, a Polícia Militar de Brasília enviou um
destacamento para a portaria do prédio do ministério.
Entre argumentos e contra-argumentos, a atmosfera de tensão durou
algo como três horas. O secretário viu-se compelido a marcar nova
reunião com os sindicalistas, dessa vez para segunda-feira (20). Braços
erguidos e aos gritos, a comitiva de servidores deixou a sede do
Planejamento sob vigilância policial.
Tudo isso um dia depois de o Planejamento ter enviado às repartições
públicas um comunicado reiterando a ordem para cortar o ponto dos
grevistas. Sem propostas e com os contracheques sob ameaça, as entidades
sindicais levaram aos seus sites comunicados encharcados de
radicalismo.
A Condsef, confederação nacional dos servidores federais, anotou coisas assim:
“Com o impasse, a greve deve seguir forte e tende a crescer.” Ou assim:
“Nesta quarta-feira, a marcha agendada para acontecer a partir das 9h
[…] deve se realizar com um clima de revolta.”
O sindsef, sindicato dos servidores federais no Distrito Federal, escreveu:
“Vergonha: governo nega proposta mais uma vez”. Acrescentou: “Numa
demonstração de total desrespeito com as entidades representativas do
funcionalismo público, com os servidores e o próprio serviço público, o
governo mais uma vez adiou a apresentação da proposta…”
Josias de Souza
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