Dilma Roussef aproveitou uma solenidade oficial realizada na cidade
mineira de Rio Pardo de Minas (MG) para enviar um recado às 28
categorias do setor público em greve. Disse que, sob crise, a prioridade
do governo é salvar o emprego dos trabalhadores humildes da iniciativa
privada, que não dispõem de estabilidade.
A presidente injetou a crise econômica num discurso sobre o programa
odontológico Brasil Sorridente. Sem fazer menção explícita às greves, disse
a certa altura: “Nós, hoje, estamos enfrentando uma crise no mundo. O
Brasil sabe, porque tem os pés no chão, que ele pode e ele vai enfrentar
a crise e passar por cima dela, assegurando emprego para todos os
brasileiros.”
Acrescentou: “O que o meu governo vai fazer, e isso ele vai fazer, é
assegurar empregos para aquela parte da população que é a mais frágil,
que não tem direito à estabilidade, que sofre porque pode e esteve,
muitas vezes, desempregada. Nós não queremos isso. Nós queremos todos os
brasileiros empregados, ganhando seu salário e recebendo serviços
públicos de qualidade.”
Os comentários de Dilma chegam poucos dias antes do prazo fixado pelo
Ministério do Planejamento para apresentar as propostas salariais do
governo aos servidores, muitos deles paralisados há mais de dois meses.
As reuniões ocorrerão na semana que vem, entre segunda (13) e
sexta-feira (17).
A presidente teve lá suas razões
para contrapor no discurso a estabilidade dos servidores públicos à
fragilidade dos empregados de empresas privadas. Respondia às vaias,
apitos e assobios que lhe foram dirigidos por cerca de 35 professores,
estudantes e servidores da Universidade Federal de Minas.
O grupo foi impedido de levar para defronte do palanque as faixas que
havia preparado com antecedência. Mas os manifestantes, pintados para a
guerra (duas listras pretas nas faces), sacaram dos bolsos folhas de
papel com mensagens acerbas. “Negocia, Dilma”, lia-se numa das folhas. O
que não coube no papel foi expressado em gritos: “Ô Dilma, a culpa é
sua. A greve continua.” Ou ainda: “A nossa greve unificou, é estudante,
funcionário, professor.”
Longe do palanque, outros manifestantes desfraldavam as faixas
vetadas pelos seguranças no local em que Dilma discursou. A oradora
ilustre e sua comitiva tiveram de cruzar uma delas ao deixar o local.
Lia-se: “Dilma, não deixe a falta de diálogo sepultar a esperança.
Reabra a negociação.” Destinatária da mensagem, a presidente
atravessou-a com o vidro do carro aberto. Acenou para os insatisfeitos.
Josias de Souza
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