As taxas de juros cobradas de consumidores e empresas voltaram a recuar
em agosto. Segundo nota do Banco Central divulgada nesta quarta-feira
(26), a taxa de juros média do mercado caiu 0,6 pontos percentuais no
mês passado, para 30,1% ao ano, menor patamar da série iniciada em 2000.
Essa taxa é quase 10 ponto percentuais menor do que a observada um ano antes.
No caso da pessoa física, os juros médios anuais recuaram para 35,6%,
queda que foi puxada principalmente pela diminuição da taxa média
cobrada no cheque especial, para 148,6% ao ano. Este é o menor nível da
série histórica, inciada em 1994.
Os juros cobrados das empresas cairam para 23,05% ao ano, movimento
puxado pela redução da taxa da conta garantia, para 100% ao ano,
informou o BC. Trata-se do menor nível desde dezembro de 2007, quando
estava em 22,9%.
"Essa redução [dos juros] em agosto foi muito expressiva. Nossa
avaliação é de que a taxa de juros tem caído de forma expressiva e
continua caído", disse o chefe do departamento econômico do Banco
Central, Tulio Maciel.
Esse movimento reflete um esforço do governo para reduzir os juros no
Brasil, seja contando a taxa básica de juros (Selic), seja pressionando
os bancos a diminuírem seus "spreads" (diferença entre o custo de
captação do banco e quanto ele cobra dos clientes).
A Selic, que baliza o custo de captação dos bancos, caiu de 12,5% ao ano em agosto de 2011 para 7,5% ao ano no mês passado.
Os spreads também voltaram a cair no mês passado, divulgou hoje o Banco
Central. O valor médio cobrado pelos bancos no país recuou meio ponto
percentual em agosto para 22,5 pontos percentuais. Esse patamar é 5,3
pontos percentuais ao observado um ano atrás.
A presidente Dilma Rousseff e o ministro Guido Mantega (Fazenda) têm
feito críticas duras aos "spreads" praticados pelos bancos no Brasil.
Além disso, o governo ordenou que os bancos públicos Banco do Brasil e
Caixa Econômica Federal reduzissem suas taxas para forçar os bancos
privados a também reduzirem os juros.
Essa tática tem funcionado. Nesta semana, o Bradesco anunciou redução
significativa nas taxas cobradas no cartão de crédito em uma nova rodada
de cortes nos juros. HSBC e Santander anunciaram que estudam medida
semelhante.
O esforço das instituições púlbicas, iniciado em maio, já forçou
diminuição dos juros em outras linhas, como financiamento de veículos e
cheque especial.
INADIMPLÊNCIA
A inadimplência média ficou estável em 5,9% em agosto após leve alta em
julho. Este dado leva em conta operações de pessoas físicas e jurídicas.
Enquanto o indicador relativo às operações com pessoas físicas
permaneceu em 7,9% no mês passado, o calote de mais de 90 dias aumentou
para a pessoa jurídica, ao passar de 4% para 4,1%.
Os atrasos de 15 a 90 dias permaneceram estáveis em 2,3% no crédito às
empresas, enquanto, nos empréstimos às famílias, registraram recuo de
6,4% para 6,2%.
Nos financiamentos de veículos, foram observadas reduções tanto na
inadimplência, de 6% para 5,9%, como nos atrasos de 15 a 90 dias, de
7,9% para 7,7%.
Nas operações destinadas a pessoas físicas, os empréstimos pessoais
cresceram 1,6% no mês e 16,9% em 12 meses, somando R$ 275 bilhões. Essa
categoria foi impulsionada pelo crédito consignado.
Os financiamentos para aquisição de veículos, em linha com os resultados
expressivos das vendas, estimuladas pela redução do IPI, registraram
incrementos de 1,2% no mês e 13,5% em 12 meses, atingindo saldo de R$
186 bilhões.
Já nas modalidades para pessoas jurídicas, as operações de capital de
giro, tiveram volume de R$ 344 bilhões, com alta de 1,2% no mês e 17,9%
em 12 meses.
VOLUME DE CRÉDITO E SETORES
O volume crédito cresceu 1,2% em agosto, chegando a 51% do PIB (Produto
Interno Bruto), ou R$ 2,211 trilhões, informou o Banco Central. A
autoridade monetária atribuiu a melhora do mercado de crédito, que
apresentou fraqueza no início do ano, à redução dos juros e à
estabilidade da inadimplência.
O crédito ao setor privado alcançou R$ 2,105 bilhões em agosto, alta de 1,2% no mês.
O setor de maior expressão neste grupo foi o voltado às operações da
indústria, com crescimento de 0,2%, chegando a R$ 439 bilhões, enquanto
os créditos ao comércio recuaram 0,2%, situando-se em R$ 214 bilhões.
O segmento de outros serviços atingiu R$ 372 bilhões, com acréscimo de
1,1% no mês, favorecido por empréstimos aos setores de energia,
transportes e atividades imobiliárias.
O crédito habitacional, que considerada operações para aquisição e
construção de moradias com recursos livres e direcionados, alcançou R$
250 bilhões, após avanços de 3,2% no mês e de 38,6% em 12 meses. Com
esse incremento o setor passa a representar 5,8% do PIB, ante 4,4% em
agosto de 2011.
Os empréstimos ao setor rural, estimulados pela demanda por custeio e
investimento agrícolas da safra 2012/2013, aumentaram 3,4% no mês,
totalizando R$ 151 bilhões.
O saldo dos financiamentos ao setor público situou-se em R$ 106 bilhões
em agosto, após crescimento mensal de 1,5%, que refletiu as elevações de
1,8% na carteira de crédito ao governo federal, com saldo de R$ 61
bilhões, e de 1% nas operações contratadas com as esferas estaduais e
municipais, que atingiram saldo de R$ 44 bilhões.
(MARIANA SCHREIBER)
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