Depois que o presidente José Sarney abriu nesta quarta-feira a sessão
que definirá o futuro político de Demóstenes Torres (sem partido-GO), o
senador Humberto Costa(PT-PE), relator do processo no Conselho de Ética
foi o primeiro a falar. Demóstenes é acusado de ter usado o mandato
para favorecer o contraventor Carlinhos Cachoeira.
Durante o
discurso, Costa criticou os discursos de Demóstenes durante a semana que
antecedeu o julgamento. "Qualquer parlamentar pode mentir quando
discursa. No entanto, é um direito de qualquer outro parlamentar não
acreditar na mentira do colega e pedir a sua punição. Não é normal, nem
aceitável, que se minta ao parlamento e à sociedade brasileira",
enfatizou.
Em seguida, começou a fala do senador Pedro Taques
(PDT-MT), relator do processo na Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ). Ele defendeu a legalidade do relatório e disse que o
processo é plenamente adequado às determinações da Constituição.
"O
comportamento (do senador Demóstenes) foi incompatível à conduta
parlamentar, ferindo de morte a dignidade do cargo", ressaltou.
O
presidente do Senado, determinou, após ouvir os líderes partidários, a
concessão de um prazo maior para manifestação da acusação e da defesa na
sessão do Plenário que examina o processo de cassação, atendendo pedido
de Humberto Costa. Inicialmente, seriam assegurados 10 minutos para a
manifestação das partes, mas Costa argumentou que, na condição de
relator de mérito, precisaria do tempo necessário para fazer a defesa do
seu trabalho no Conselho de Ética.
Assim, os relatores Humberto Costa e Pedro Taques ganharam 20 minutos para se manifestarem.
Após
o pedido de Costa, Demóstenes também solicitou mais tempo para se
manifestar e terá 40 minutos para se defender, prorrogáveis por mais 10.
Os senadores inscritos falarão por 10 minutos.
Manifestação dos parlamentares
Ao
final dos discursos dos relatores Humberto Costa e Pedro Tasques,
iniciou a manifestação dos parlamentares inscritos. O primeiro a falar
foi o senador Mário Couto (PSDB-PA).
Caso Cachoeira
Acusado
de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos,
o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia
Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um
vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil,
José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto
esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas
telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos
entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu
dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a
critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais
Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de
Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles
Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3
mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou
informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos
três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da
liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol
representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois,
em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo
Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O
presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de
abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia
resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a
desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as
denúncias só aumentaram e começaram a atingir outros políticos, agentes
públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a
construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos
últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa
anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das
conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores
Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de
Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
Jornal do Brasil
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