“Vou recuperar no STF o mandato
que o povo de Goiás me concedeu” — declarou o ex-senador Demóstenes Torres,
anunciando a disposição de recorrer ao Supremo contra a decisão do Senado de
cassar o seu mandato. Demóstenes
Torres (GO), que teve seu mandato cassado pelo Senado, pelas ligações perigosas
que mantinha com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, decidiu ingressar com
representação no Supremo Tribunal Federal em uma tentativa para recuperar o
cargo eletivo de senador. Os colegas de Demóstenes cassaram seu mandato por 56
votos, 15 além do mínimo necessário, em uma manifestação de que estavam
dispostos a se livrarem de sua presença na Casa.
“Os motivos (para a
representação) são suficientes: fui cassado sem provas, sem direito a ampla
defesa e sem ter quebrado o decoro”. Ora, sua cassação foi um ato político por
excelência, que dificilmente será revisto pelo Supremo Tribunal Federal que,
além de tudo o mais, não iria assumir tal ônus.
Abordado pela imprensa, o advogado de Demóstenes (Antônio Carlos de
Almeida Castrio, o Kakay) foi habilidoso: “Não farei essa petição, mas entendo
que ele tem o direito de questionar no Supremo”. Antes de divulgar que iria
recorrer da decisão dos senadores de cassar seu mandato, o ex-senador Demóstenes
Torres fora ao escritório de seu advogado. “Ficou lá até as 18h30”
— disse
Kakay, acrescentando: “Não falou em recorrer. Algum tempo depois, quando cheguei
em casa, ele me telefonou.”
Advogado
contesta a cassação
Antes de
anunciar a decisão de reagir, Demóstenes estivera no escritório de
Kakay. “Ficou
lá até as 18h30”, conta o advogado. “Não falou em recorrer. Algum tempo
depois,
quando cheguei em casa, ele me telefonou”. Demóstenes revelou a Kakay
que
consultara alguns constitucionalistas e decidira discutir a hipótese de
recorrer
ao Supremo Tribunal Federal da decisão do Senado de lhe cassar o
mandato. “Eu
respondi que respeito a decisão. Mas não farei essa petição, apesar de
achar que
ele pode, em tese, recorrer”. Como se indagasse as razões do recurso,
explicou:
“Entendo que não houve quebra de decoro. Foi essa a nossa linha de
defesa. E,
se ele encontra um advogado constitucionalista que considere que o rito
pode ser
questionado, tem todo o direito de fazê-lo”. O senador Humberto Costa
(PT-PE), relator do processo de cassação de Demóstenes, escreveu no
twitter: “Certos
comportamentos não são aceitos na atividade política. Demóstenes tinha
um
discurso de austeridade, mas relações promíscuas”.
Demóstenes
cobra as provas
O ex-senador
Demóstenes Torres contestou a acusação do senador Humberto Costa, afirmando:
“Onde estão as provas dessas relações promíscuas? São as mesmas que o senhor
sofreu no escândalo dos sanguessugas?”. O relator ainda disse: “Demóstenes não
foi vítima de acusação leviana ou armação política. Fizemos um trabalho
cuidadoso. Agora, caberá à Justiça analisar o caso”. Demóstenes aproveitou a
oportunidade para fazer nova crítica ao relator de seu processo de cassação: O
próprio relator admite que, “agora, caberá à Justiça analisar o caso”. Porque,
até agora, não houve análise, houve massacre”. O processo, como é fácil
verificar, ainda está em pleno curso, pois resta esperar pela palavra final, que
será dada pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. Não há dúvida, pelo menos
para a maioria dos senadores, que Demóstenes Torres tivera “relações promíscuas”
com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o dono do jogo ilegal em Goiás, enquanto
mantinha um discurso moralizante da tribuna do Senado. Agora, é esperar pelo
desfecho do processo na nossa mais alta corte de justiça.
Ironia do
destino
A cadeira de
senador de Demóstenes Torres, que ficou vaga com a sua cassação, será agora
ocupada por Wilder Pedro de Morais, de 46 anos, o suplente do cassado. Assume o cargo de titular, como todo
suplente, sem ter conquistado um só voto em Goiás. É do DEM e ganha agora sete
anos e meio de mandato sem fazer força. Curioso é que esse Wilder é ex-marido de
Andressa Mendonça, com quem teve dois filhos. Andressa é hoje a atual
companheira do bicheiro Carlinhos Cachoeira, a causa real da cassação de
Demóstenes Torres. Quando registrou sua candidatura de suplente de Demóstenes,
Wilder declarou à Justiça Eleitoral de Goiás os seus de bens: o patrimônio
somava R$ 14,4 milhões. Tinha em casa guardados, em dinheiro vivo, R$ 2,2
milhões. Empresário e engenheiro, o novo senador tem uma incorporadora de
imóveis chamada Orca. Foi ele quem financiou a campanha eleitoral de Demóstenes
Torres com R$ 700 mil, sendo considerado o segundo maior doador do ex-senador
cassado.
Tarcísio Holanda
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