DE PARIS - Como a Folha me mobilizou muito durante as
retas finais das campanhas na Grécia e na França, só hoje consigo voltar
a abrir esta "Janela", para falar ainda da França.
Não propriamente da eleição, que, nos grandes traços, é igual à qualquer
outra. Diferenças, pelo menos em relação ao Brasil, há de todo modo,
duas a ressaltar:
Primeiro, na reta final, o horário gratuito é repartido igualmente entre
todos os candidatos, ao contrário do que ocorre no Brasil. Assim, o
presidente-candidato Nicolas Sarkozy e o
candidato-que-viria-a-ser-eleito François Hollande tiveram o mesmo tempo
que um certo Jacques Cheminade, uma espécie de Levy Fidelix francês,
que defendeu, durante a campanha criar um corredor termonuclear da Terra
a Marte e colônias humanas em Marte e nas luas de Júpiter e Saturno.
Teve 89 mil votos ou 0,25% do total.
Haverá quem diga que essa repartição é mais democrática que a
brasileira. Acho que não. Apenas estimula a candidatura de aventureiros.
Segunda diferença: não se vê a quantidade de banners, cartazes, posters
etc que caracterizam as campanhas brasileiras. É tudo muito discreto:
espaços públicos reservados para os cartazes oficiais, colados em geral
um ao lado do outro, todos do mesmo tamanho.
Deixa a cidade mais limpa mas menos festeira.
No mais, os marqueteiros, cá como aí, têm peso. Dizem até que a nova
mulher de Hollande, Valérie Trierweiler, jornalista --e de TV, ou seja,
que cuida mais da imagem do que nós, do papel foi quem sugeriu que ele
emagrecesse. Perdeu 11 quilos. Duvido que tenha ganho um só voto com
isso, mas eu definitivamente não entendo nada de ganhar votos.
A grande diferença entre a eleição no Brasil e na França, na verdade,
dá-se no debate cara-a-cara entre os dois candidatos finalistas. Aqui, é
livre, leve e solto.
Os dois jornalistas moderadores apenas levantam a bola (ou os temas)
para que os dois falem o que bem entenderem, sem limite de tempo e sem
esperar que o outro termine de falar. Interrompem-se, xingam-se (Sarkozy
cansou de dizer que Hollande era um mentiroso), discutem, falam ao
mesmo tempo (o que por vezes impede entender o que cada um está dizendo,
mas nem assim os moderadores interferem).
A rigor, a única regra é uma certa igualdade de tempo para cada qual,
mas medida no conjunto da obra, não em cada bloco. Até porque não há
blocos separados por publicidade. Vai de cabo a rabo com os dois
falando. A previsão era de duas horas de debate. Durou três.
Se eu fosse eleitor na França, terminaria o debate suficientemente
informado para decidir meu voto, o que raramente ocorre no Brasil.
Outra diferença importante, esta no campo do jornalismo: o matutino
conservador "Le Figaro" fez um trabalho em tempo real excepcional
durante o debate, contrariando a sabedoria convencional que diz que o
tempo real, pela velocidade a que é obrigado, é muito superficial. O
"Figaro", ao contrário, punha no ar a cada tanto os números reais
relativos aos temas que os candidatos estavam debatendo, demonstrando
qual deles (ou ambos) estava mentindo.
No Brasil, nós, jornalistas, ainda não conseguimos tanta informação nem
no dia seguinte ao debate, quanto mais no momento em que está ocorrendo.
Ficam, pois, um desafio e uma sugestão: para os candidatos, que tenham a
coragem de topar um cara-a-cara (no segundo turno, claro) sem a
camisa-de-força que são as regras atuais. Para a mídia: amontoemos desde
já estatísticas sobre o que tendem a ser os pontos quentes de debate
para jogá-las no ar em tempo real, assim que um ou outro candidato tocar
no assunto. Quer dizer, desde que haja estatísticas confiáveis, do que
não estou certo.
Clóvis Rossi
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