Bin Laden se foi, mas sua epopeia pode ser conferida em um brilhante livro disponível no Brasil (em português) sob o título "O vulto das torres - A Al Qaeda e o caminho até o 11/9", do pesquisador e jornalista Lawrence Wright.
Além de um minucioso relato sobre como a Al Qaeda (A Base) se formou, Wright nos conta detalhadamente de que modo o radicalismo islâmico progrediu nas últimas décadas.
O livro remonta aos anos 50 e às origens do pensamento do egípcio Sayyid Qutb, líder intelectual da Irmandade Islâmica.
Qutb começa a desenvolver seu radicalismo estudando nos EUA. E Wrigth dá a entender que teria sido bastante prosaica uma das sementes da Al Qaeda.
Em cartas que o pesquisador levantou nos EUA, Qutb reclama em sua passagem por uma universidade da solidão que as mulheres ocidentais, com suas saias curtas, "impunham" aos árabes (machistas e recalcados como ele).
Mas a fúria contra o Ocidente ganha ímpeto poderoso quando, de volta ao Egito, Qutb e seguidores são perseguidos e presos pelo regime egípcio apoiado pelos norte-americanos.
O tratamento contra eles nos calabouços egípcios, diz o autor, é brutal, desumano, inesquecível. O que só reforçaria o radicalismo em uma região marcada pela pobreza, repressão e falta de oportunidades.
Bin Laden entra em cena anos adiante quase como um Forrest Gump. Sem fazer muito (até o 11 de setembro de 2001), o saudita se apropria de uma série de atentados a alvos ocidentais que nada tiveram a ver com ele.
Herdeiro de uma grande fortuna (seu pai foi um dos maiores construtores do Oriente Médio, na Arábia Saudita), Bin Laden atraía seguidores pagando soldos entre U$ 1.500 e U$ 4.500.
Exilado no Sudão, chegou a emprestar milhões de dólares para o governo. Quando seu discurso se radicalizou, incomodando EUA e Arábia Saudita, acabou expulso com uma mão na frente e outra atrás.
Ao voltar para o Afeganistão (onde já havia estado nas cavernas de Tora Bora, abertas com maquinário da empresa do pai nos anos da ocupação soviética), Bin Laden teve o "mérito" de verbalizar o caldo anti americano que havia no mundo árabe.
A Guerra do Golfo (1990/91) foi a gota d´água no ódio aos infiéis americanos, que instalaram bases militares na Arábia Saudita (onde fica Meca) para defender o Kuwait dos iraquianos.
Anos mais tarde, Bin Laden chegaria a dar entrevistas para a CNN incitando o fim dos EUA, sem jamais ser importunado pela CIA ou FBI.
No Afeganistão, conta Wright, Bin Laden foi financiado pelo governo do Paquistão, onde vivia ao ser morto. Recebia à época para treinar paquistaneses que atuariam no conflito com a Índia pelo controle da Caxemira.
Teria sido com parte desse mesmo dinheiro do Paquistão que Bin Laden tramou, financiou e fez executar os atentados do 11 de Setembro.
"O vulto das torres - A Al Qaeda e o caminho até o 11/ 9"
Lawrence Wright
Companhia das Letras, 2007 - 505 págs
Cerca de R$ 50,00 em sites na internet
Fernando Canzian
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