Na sessão desta segunda-feira, a trigésima dedicada ao mensalão, o
STF deve concluir o julgamento dos parlamentares que se corromperam em
troca de propinas. Na quarta (3), o relator Joaquim Barbosa inicia a
leitura do pedaço do seu voto que trata dos corruptores ativos. Entre
eles os grão-petistas José Dirceu, Jose Genoino e Delúbio Soares.
Barbosa condenará os três.
O texto do relator é longo. Estima-se que a leitura se estenderá pelo
menos até a sessão de quinta (4). Os demais ministros só votarão na
semana que vem. Porém, a três dias do encontro com as urnas municipais
de 2012, o eleitorado ficará sabendo que, na visão de Barbosa, a fina
flor do PT comprou deputados sob Lula.
De acordo com o Datafolha,
81% dos eleitores de São Paulo disseram que não mudaram sua opção de
voto em função do mensalão. A despeito disso, a cúpula do PT está
incomodada com o fato de o voto do relator escalar as manchetes assim,
na beira da urna.
Além da tróica do PT, Barbosa deve grudar a pecha de ‘corruptor
ativo’ num ex-ministro de Lula, Anderson Adauto (Transportes), em Marcos
Valério, nos ex-sócios Ramon Hollerback e Cristiano Paz, no advogado
Rogério Tolentino e na ex-diretora da SMP&B Simone Vasconcelos.
Há dúvidas quanto ao posicionamento do relator em relação à
‘mequetrefe’ Geiza Dias. Ex-funcionária da agência de Valério, era Geiza
quem encaminhava ao Banco Rural as listas de sacadores das verbas sujas
do esquema operado pelo chefe. Para Barbosa, ela também é culpada.
Porém, Geiza foi absolvida pela maioria dos ministros do Supremo em
capítulos anteriores. O relator pode concluir que não vale a pena dar
murro em ponta de faca.
Ao votar pela condenação dos ex-comandates do politburo petista,
Barbosa responderá à principal pergunta que pende do julgamento: se
deputados foram comprados, quem realizou a compra? Dito de outro modo:
se há corrompidos, tem de haver corruptores.
Na semana passada, já foi atingida a maioria de votos que condenou
como corruptos passivos o deputado Valdemar Costa Neto (PR) e os
ex-deputados Roberto Jefferson (PTB), Romeu Queiroz (PTB), Pedro Corrêa
(PP), Carlos Rodrigues (ex-PL), e José Borba (PMDB). Falta um voto para
que o deputado Pedro Henry (PP) seja incluído nesse grupo.
O julgamento será retomado nesta segunda-feira a partir do voto de
Dias Toffoli, apenas insinuado na sessão da última quinta. Depois dele,
os ministros Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Ayres Britto dirão o
que pensam sobre os acusados de se corromper. Concluída essa fase, a
palavra será devolvida a Barbosa, na quarta.
A defesa de José Dirceu sustenta que, acomodado na Casa Civil de
Lula, ele distanciou-se dos negócios partidários. Barbosa dirá coisa
diferente. Escorando-se nos elementos disponíveis nos autos, o ministro
pretende demonstrar que Dirceu tinha ascendência sobre Genoino e
Delúbio. Endossará a tese da Procuradoria segundo a qual o ex-ministro
frequentou o escândalo na condição de chefe.
O relator recordará, por exemplo, as reuniões que Dirceu manteve com
gestores do Banco Rural, sempre com a presença de Valério. Realçará o
papel desempenhado pelo ex-ministro na montagem do condomínio partidário
que deu suporte ao governo no Congresso. Recordará favores prestados
por Valério a uma ex-mulher de Dirceu.
Prevê-se que o revisor Ricardo Lewandowski divergirá de Barbosa
também nesse ponto. Mas a divergência só virá à luz na semana que vem,
depois de abertas as urnas do primeiro turno da refrega municipal. Para
desassossego do petismo, o andar da carruagem do Supremo não autoriza a
conclusão de que a posição de Lewandowski prevalecerá sobre a de
Barbosa.
O esquema esmiuçado pelo STF em ritmo de novela revela-se grandioso
demais para que se atribuam todas as culpas apenas a Valério e Delúbio.
Os elementos colecionados pela Polícia Federal e reunidos pela
Procuradoria da República empurram para o epicentro da encrenca também
José Genoino e José Dirceu. Em capítulo posterior, Dirceu, Genoino e
Delúbio voltarão ao cadafalso, dessa vez para ser julgados por formação
de quadrilha.
Josias de Souza
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