ATENAS - Visto do imenso tumulto grego, o Brasil parece um paraíso, apesar de a política estar um bocado confusa. Mesmo assim, é sempre prudente prestar atenção às crises alheias. Ninguém é obrigado a reinventar a roda da crise se alguém, antes, já caiu da bicicleta.
Primeiro ponto: uma parte importante do deficit e do endividamento públicos da Grécia é atribuída aos gastos com a realização dos Jogos Olímpicos de 2004. Houve abusos e exageros, como quase sempre acontece nessas ocasiões, e, de quebra, sobraram elefantes brancos depois do torneio.
No Brasil, haverá não apenas a Olimpíada, mas também a Copa do Mundo. Dobram, portanto, as possibilidades de excessos. Dá arrepios, nesse contexto, ler o título de reportagem na página A7 desta Folha (Poder, 2/7): "Copa pode ficar mais cara com novas regras, dizem procuradores". Já?
Segundo ponto: antes de mergulhar na crise, em 2008, a Grécia vivera 15 anos de crescimento contínuo. Também era um paraíso, em grande medida regado a financiamentos, internos e externos. Créditos concedidos sem muita atenção à real capacidade de pagamento dos tomadores.
Pode-se, como fazem jornais alemães sensacionalistas, esculhambar os gregos por excessiva propensão ao consumo. Tudo bem, mas consumir não é o que faz rodar a engrenagem do capitalismo?
Também no Brasil há um frenesi de consumo, de resto estimulado pela propaganda, que afinal continua sendo a alma do negócio.
Mas dá de novo arrepios ver financeiras chamando clientes com ofertas irresistíveis, "sem comprovação de renda".
Os credores da Grécia agiram da mesma forma. Agora que querem o dinheiro de volta, descobrem que não há "renda" para pagá-los.
Não digo que algo do gênero esteja ocorrendo no Brasil, mas é melhor comprovar antes a renda, para não ver depois que ela inexiste.
Clóvis Rossi
Nenhum comentário:
Postar um comentário