Não podia mesmo demorar muito para que o movimento dos "indignados", os jovens convocados pelas redes sociais que se manifestam em cidades europeias, desembarcasse na América do Sul.
Aconteceu há uma semana no país, o Peru, que era o candidato óbvio. Primeiro porque faz domingo o segundo turno das eleições presidenciais. Segundo porque os dois candidatos finalistas Ollanta Humala e Keiko Fujimori são mal-amados.
Demonstra-o o próprio resultado do primeiro turno: Ollanta ficou em primeiro lugar mas com apenas 31,7% dos votos. Keiko menos, como é óbvio: apenas 23,55%. Significa que entre três quartos e dois terços dos peruanos, grosso modo, não estão confortáveis com a escolha que terão que fazer domingo.
Essa evidência numérica é reforçada pela avaliação de Mirko Lauer, um dos melhores colunistas peruanos, para o jornal "La República: "Não foi uma competição de méritos ou de simpatias pessoais mas uma pugna para estabelecer-se o mal menor entre uma maioria de votantes".
Os "indignados", pelo menos aqueles que se manifestaram em Lima, convocados pelas redes sociais, já decidiram que o mal maior é Keiko Fujimori, filha de Alberto Fujimori, o presidente que acabou com a guerrilha do Sendero Luminoso atropelando os direitos humanos em massa, no percurso, além de envolver-se em um esquema de corrupção que o levou à cadeia, onde ainda se encontra.
"Keiko Fujimori representa a pior etapa de nossa história. Representa a corrupção, o abuso, o crime e a ditadura que liderou seu pai. Não queremos que essa época negra da história volte e por isso estamos nas ruas", diz a poetisa Rocío Silva Santisteban, secretária da Coordenadora Nacional de Direitos Humanos.
O jornal espanhol "El País" informa que um grupo chamado "No a Keiko" já conta com mais de 182 mil adesões no Facebook.
O movimento não faz apologia do voto em Ollanta Humala, mas é óbvio que ele é visto como o mal menor. Mas não muito menor, a julgar pelo que diz Jorge Eduardo Benavides, escritor peruano, em artigo recente para "El País". Referindo-se ao manifesto que um grupo de intelectuais peruanos divulgou há pouco, defendendo o voto em Humala, Benavides afirma que "nenhum dos firmantes [entre os quais está o Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa] pensa que Humala seja uma opção ideal nem desperta nosso entusiasmo; muitos nos colocamos sérias dúvidas sobre a confiabilidade de sua candidatura".
O problema é que, para o escritor como para os "indignados", "Keiko foi primeira dama do país durante aquele governo [Fujimori] e uma colaboradora ativa deste, ademais de ser a principal proponente da ideia de conceder o indulto a Alberto Fujimori, que atualmente cumpre pena por crimes contra os direitos humanos, assim como Vladimiro Montesinos, o tenebroso assessor que intoxicou nossa vida política com seus subornos e assassinatos".
Benavides termina seu texto de forma tenebrosa: Votar por Humala talvez seja um suicídio. Mas, em todo caso, será um suicídio em legítima defesa".
Que horror, hein?
Clóvis Rossi
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