sexta-feira, 3 de junho de 2011

O longo domingo da eleição peruana

A eleição presidencial peruana do domingo será a mais disputada e polarizada da história do país. Os institutos de pesquisa afirmam que o vencedor deve ganhar por 2 pontos percentuais, ou até menos. Segundo as últimas pesquisas, a direitista Keiko Fujimori e o esquerdista Ollanta Humala estão tecnicamente empatados: Keiko, a filha do ex-presidente Alberto Fujimori, aparece com 51,1% na pesquisa da IpsosApoyo de ontem, e Humala tem 48.9% dos votos válidos.
Com isso, temos dois problemas em primeiro lugar, os resultados podem demorar a sair, acirrando tensões no país. Os candidatos principalmente Humala já vêm denunciando supostas fraudes pelo país. Keiko estaria sendo favorecida pelo apoio, ainda que não aberto, do governo de Alan García. Se a votação do domingo for muito apertada, podemos esperar muitas urnas contestadas, e o resultado pode demorar a sair. Na eleição municipal de Lima no ano passado, o resultado final demorou quase um mês para sair.
O segundo problema é o estado de ânimos do país.O Peru está completamente dividido entre as duas candidaturas. Os intelectuais peruanos estão se mobilizando contra a candidatura da direitista Keiko Fujimori, enquanto empresários atacam seu oponente, o esquerdista Ollanta Humala. Os meios de comunicação também estão em campanha aberta o jornal "La Republica" pelo candidato Humala, e o restante dos jornais e TVs, por Keiko. A Confederação Nacional de Empresas Privadas do Peru (Confiep), espécie de Fiesp peruana, está veiculando nas TVs anúncios atacando Humala "Não percamos aquilo que o Peru já ganhou", dizem , em alusão ao partido de Humala, o Gana Perú.
Um grupo de cem escritores, entre eles o Nobel Mario Vargas Llosa, divulgou na semana passada uma carta de repúdio à candidatura de Keiko Fujimori, "diante da ameaça, contra a democracia e a liberdade dos peruanos, que supõe a possível ressurreição da ditadura fujimorista". Aos escritores, se juntaram a associação dos cineastas e jovens no Facebook. "Eu deixei o Peru justamente por causa do fujimorismo, que matava gente, subornava e censurava jornalistas", disse-me o escritor Santiago Roncagliolo, um dos autores da carta, que hoje mora na Espanha. "O dinheiro está com Keiko, mas nós, que cuidamos também da memória do país, não podemos deixar que volte o autoritarismo".
Vargas Llosa, aliás, deixou de publicar sua coluna no jornal fujimorista "El Comércio", e divulgou uma carta desaforada contra o dito partidarismo da publicação. Ontem, anunciou que passará a publicar sua coluna no humalista "La República".
Estive com o pintor Fernando de Szyszlo, um dos maiores artistas peruanos e intelectual respeitado, e ele me disse que o clima no país está pesadíssimo. "Todo o ódio se voltou contra Vargas Llosa. Ele voltou a Madri, onde vive parte do ano, logo depois do primeiro turno. Até então, entrávamos nos restaurantes , as pessoas paravam e o aplaudiam. Agora, esses puxa-sacos dizem que é Vargas Llosa é um traidor por apoiar Humala". O escritor, que não vai votar em Humala porque não compra a transformação do candidato, disse que não vai votar em ninguém nesta eleição.
Para analistas, esse embate entre intelectuais e empresários tem pouquíssima influência sobre o grosso do eleitorado peruano, as classes média e baixa, que é quem vai decidir a eleição no domingo. "Na população o voto se divide em continuidade, com Keiko, para manter o crescimento econômico, ou mudança, com Humala, para fazer com que os ganhos do crescimento cheguem até os mais pobres".
É, vai ser um longo domingo, esse da eleição peruana.

Patrícia Campos Mello

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