sexta-feira, 3 de junho de 2011

Agora, pé no freio

O PIB do primeiro trimestre de 2011 ainda veio quente. Mas todos os indicadores de abril e maio indicam desaceleração.
A queda na atividade já contratada para o segundo trimestre vem de um encadeamento de fatores. A inflação e algumas medidas do governo são a mola desse movimento.
Os preços dos alimentos deram um salto nos últimos meses. Assim, e por pressões sobre serviços e transporte, o rendimento médio dos brasileiros perde para a inflação desde outubro/10.
Ele caiu 5,1% nos últimos sete meses. Equivale hoje a R$ 1.540 ao mês na média dos ocupados.
Se não houvesse inflação, seria R$ 80 maior. Haveria, por exemplo, mais 20 kg de frango ao mês na mesa de quem recebe R$ 1.540.
Essa perda de rendimentos já esfriou a atividade industrial. Não por acaso, dentro da queda de 1,3% da indústria em 12 meses, a produção de alimentos recuou mais de 8%. De calçados e vestuário, mais de 10%.
É a inflação tirando comida da mesa e adiando itens no guarda-roupa. Os pobres sofrem mais.
O governo também tomou medidas para limitar a expansão do crédito a 15% neste ano, à metade do ritmo de 2010. Já há um número de prestações menores e juros maiores na praça.
Por último, houve um corte brutal dos investimentos (e gastos) públicos nos últimos meses, o que ajuda a esfriar mais a economia. Mas a perpetuar a péssima infraestrutura brasileira.
Com essas ressalvas, entramos em uma fase mais equilibrada daqui adiante. De crescimento menor e com menos inflação, provavelmente.
E, apesar da queda do rendimento a partir de outubro, ele ainda é um pouco maior (+1,8%) do que há um ano.
O Brasil também pode ser beneficiado, paradoxalmente, por novas incertezas nas economias avançadas. Fato que reduz a pressão sobre preços de commodities agrícolas e combustíveis.
Pois, se o Brasil está esfriando, os países ricos parecem ter voltado a congelar.

Fernando Canzian

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