domingo, 30 de outubro de 2011

Fumo pode ser causa para câncer na laringe de Lula


O fumo pode ter sido a causa para o câncer na laringe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o oncologista Artur Katz
Ex-fumante de cigarros, Lula gosta de cigarrilhas, hábito que dividia com o seu vice, José Alencar, morto em março deste ano, após lutar por mais de 15 anos contra um câncer.
Os dois também costumavam tomar "uns golos", como dizia Alencar. O álcool é um fator de risco a mais para a evolução da doença. Mas também existem causas virais e não é possível ainda afirmar o que levou ao desenvolvimento do tumor de Lula.
Lula passou por exames ontem no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, que detectaram a doença. Ele começa a quimioterapia amanhã. Os médicos optaram por esse tratamento para tentar preservar o órgão.
O tumor na laringe tem cerca de 3 cm, segundo a Folha apurou com médicos do hospital.
Katz disse que o tumor "não muito grande" foi descoberto na manhã de ontem. "As chances de cura são excelentes."
Antes de deixar o hospital, Lula recebeu a visita do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que relatou tranquilidade do ex-presidente.
"Dona Marisa, Lula estão tranquilos, confiantes, porque o problema dele tem cura. Foi pego no início, então as perspectivas são boas."
Na quinta-feira (27), Lula comemorou seu aniversário de 66 anos no instituto que leva seu nome. Em uma pequena cerimônia com funcionários, na sede da organização, em São Paulo, o ex-presidente ganhou um bolo.

Folha de São Paulo

Outro Enem é tese estapafúrdia, diz ministro da Educação

O ministro da Educação Fernando Haddad descartou ontem a possibilidade do cancelamento de todas as provas do Enem, como pede a Procuradoria no Ceará. O pedido ocorreu após alunos de uma escola de Fortaleza terem tido acesso a parte das questões antes da prova.
A informação é da reportagem de Natália Cancian publicada na edição deste domingo da Folha. A reportagem completa está disponível para assinantes do jornal e do UOL (empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
Para Haddad, há apenas duas possibilidades em discussão: a anulação das 14 questões que foram apresentadas a alunos do colégio Christus e a reaplicação do exame para esses alunos. O MEC prefere a segunda por considerar que o problema se restringiu "a um grupo pequeno".
A Justiça Federal no Ceará deu até amanhã para o Inep (órgão do MEC responsável pelo Enem) se manifestar sobre pedido do Ministério Público Federal, que quer a suspensão do exame nacional no país ou a anulação das questões vazadas.

PRÉ-TESTE

O problema veio a público após alunos escreverem em redes sociais, no final de semana, que colégio havia conseguido antecipar questões. Inicialmente, o MEC identificou oito questões iguais.
Posteriormente, concluiu-se que o simulado continha 14 questões do Enem. Elas haviam sido aplicadas no pré-teste realizado por duas turmas da escola em outubro de 2010 os colégios que fazem o pré-teste são escolhidos por sorteio.
Segundo o MEC, todos os cadernos da pré-testagem foram devolvidos, mas o conteúdo pode ter sido copiado eletronicamente. "O material [o simulado] é o conteúdo de dois cadernos, na íntegra. Está absolutamente comprovado", disse Haddad à Folha.

Folha de São Paulo

Crise na Europa eleva Brasil a sexta economia mundial

Graças à crise dos países desenvolvidos, neste ano, o Produto Interno Bruto brasileiro medido em dólares deverá ultrapassar o do Reino Unido, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional e das consultorias EIU (Economist Intelligence Unit) e BMI (Business Monitor International).
Portugal e Espanha querem que G20 ajude a aliviar crise na UE
A estimativa mais recente, da EIU, prevê que o PIB do Brasil alcance US$ 2,44 trilhões, ante US$ 2,41 trilhões do PIB britânico. Com isso, o Brasil passará a ocupar a posição de sexta maior economia do mundo. Em 2010, ao deixar a Itália para trás, o país já havia alcançado o sétimo lugar.
Como a economia brasileira cresce em ritmo menor que a de outros emergentes asiáticos, em 2013, o país deverá perder a sexta posição para a Índia. Mas voltará a recuperá-la em 2014, ano da Copa do Mundo, ao ultrapassar a França, segundo a EIU.
Até o fim da década, o PIB brasileiro se tornará maior do que o de qualquer país europeu, de acordo com projeções da EIU. Depois de passar Reino Unido e França, a economia brasileira deverá deixar a alemã para trás em 2020.
A tendência de ascensão dos emergentes já era esperada por especialistas há anos, mas tem ganhado velocidade devido à crise global.

ÉRICA FRAGA

O câncer de Lula me envergonhou

Senti um misto de vergonha e enjoo ao receber centenas de comentários de leitores para a minha coluna sobre o câncer de Lula. Fossem apenas algumas dezenas, não me daria o trabalho de comentar. O fato é que foi uma enxurrada de ataques desrespeitosos, desumanos, raivosos, mostrando prazer com a tragédia de um ser humano. Pode sinalizar algo mais profundo.
Centenas de e-mails pediam que Lula não se tratasse num hospital de elite, mas no SUS para supostamente mostrar solidariedade com os mais pobres. É de uma tolice sem tamanho. O que provoca tanto ódio de uma minoria?
Lula teve muitos problemas e merece ser criticado por muitas coisas, a começar por uma conivência com a corrupção. Mas não foi um ditador, manteve as regras democráticas e a economia crescendo, investiu como nunca no social.
No caso de seu câncer, tratou a doença com extrema transparência e altivez. É um caso, portanto, em que todos deveriam se sentir incomodados com a tragédia alheia.
Minha suspeita é que a interatividade democrática da internet é, de um lado um avanço do jornalismo e, de outro, uma porta direta com o esgoto de ressentimento e da ignorância.
Isso significa quem um dos nossos papéis como jornalistas é educar os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência.

Gilberto Dimenstein

Dilma Dinamite

A dois meses do Ano Novo, está quase nítida a fotografia do primeiro ano de Dilma Rousseff na Presidência.
Obviamente, é ruim perder tantos ministros em tão pouco tempo. Foram oito mudanças no primeiro escalão.
Cinco ministros deixaram seus postos devido a suspeitas de corrupção. Em todos os casos, havia de fumaça a batom no colarinho. Com a ressalva de que o mais ingênuo em Brasília se livra das meias sem tirar os sapatos, é justo dizer que Orlando Silva pagou por um erro que é mais do PC do B como um todo do que dele em particular.
Nelson Jobim caiu da Defesa por insubordinação. Comentários inábeis e francos sobre colegas levaram a presidente a achar que se tratava de sabotagem pura e simples. Mas o fato é que um não se entendia bem com o outro. O desfecho foi um alívio para ambos.
Dois outros ministros trocaram de posição porque a presidente errou na montagem da chamada cozinha do Palácio do Planalto. Deu poder demais a Antonio Palocci Filho, transformando-o num espécie de primeiro-ministro e num alvo cobiçado. A solução foi nomear Gleisi Hoffman (PT-PR) para seu lugar na Casa Civil.
A presidente também pagou um preço alto por deixar na articulação política um deputado federal de pouca expressão. Brincou com o perigo: uma crise com o PMDB beirou o incontornável. Para arrumar essa área, a saída possível foi deslocar Ideli Salvatti da insignificante pasta da Pesca para substituir Luiz Sérgio na Secretaria de Relações Institucionais. E Luiz Sérgio seguiu para o exílio na Pesca.
Esse número de alterações no ministério tem alguns efeitos. O pior deles: paralisar o governo. É conversa fiada quando o Palácio do Planalto diz que está tocando a vida normalmente, apesar de uma crise. Nunca está. Tudo para. Faz-se uma cerimônia aqui, uma viagem ali, mas a paralisia toma conta.
O segundo efeito negativo é a instabilidade política. A agenda legislativa de Dilma tem poucas e simbólicas boas notícias, como a criação da Comissão da Verdade e uma nova lei de acesso a informações públicas. É uma agenda modesta para um primeiro ano, no qual o presidente tem capital para exigir mais do Congresso. Provas disso são a provável derrota no Código Florestal e o misto de omissão e tibieza na briga dos Estados pelos royalties do petróleo.
No entanto, Dilma colheu um efeito positivo. A percepção de que lidou com as acusações de corrupção com intolerância rara no nosso presidencialismo meio parlamentarista. Tolerância irrealista para alguns, pedagógica para outros. É verdade também que ela mais reagiu à imprensa do que caçou os ditos malfeitores.
Vamos esperar pesquisas novas para ver o efeito em sua popularidade desses casos de corrupção. Aposta: para o grande público, colou a imagem de uma presidente que trata com seriedade e rédea curta os males da política.

A MAIS IMPORTANTE

A decisão de Dilma de maior impacto na vida das pessoas está na economia: comprou a briga pela redução dos juros, com todos os riscos que a contenda traz. Houve uma mudança na política monetária que merece crédito.
O voluntarismo no discurso de alguns auxiliares foi contido. O mérito das decisões do Banco Central é inegável. O governo decidiu conviver com uma inflação mais alta em nome do crescimento econômico. Agora, é uma questão de dosagem para não desarrumar a economia.

A MAIS NECESSÁRIA

Na área social, merece nota o plano de combater a miséria. É mais um passo adiante do
Brasil para resgatar sua principal dívida.

Kennedy Alencar

Dislexia, preconceito e arte

"Eu era ruim em ortografia. Ainda sou. Qualquer coisa com mais de seis letras, e eu caio fora."
(Noel Gallagher, compositor e guitarrista britânico)
Estas palavras, em tradução livre, do letrista de uma das principais bandas de rock da história não são apenas retórica em nome da arte. O que o irmão de Liam Gallagher está dizendo ali é que ele tem mesmo uma enorme dificuldade para ler ou escrever palavras com mais de seis letras, apesar de ser responsável por obras primas como "Wonderwall".
Isto porque Noel tem dislexia.
O músico, que acaba de lançar seu primeiro álbum solo depois da dissolução da banda, tem dislexia assim como entre cerca de 4% da população do planeta - no Brasil, é mais gente do que a população da cidade do Rio de Janeiro!
Ou seja, são pessoas que têm uma dificuldade de leitura e escrita que pode ainda implicar no entendimento da palavra escrita e também na fala. Os primeiros sintomas podem ser detectados no início do processo de aprendizado escolar.
Portanto são pessoas que sofrem preconceito, discriminação e são tratadas como menos iguais do que os chamados "normais"...
Num determinado momento da minha vida, um médico chegou a cogitar que eu tinha dislexia, porque não conseguir entender direito o que as pessoas falavam, ia mal na escola, sentia-me diferente dos demais. Imagine problemas dessa ordem lá pelos inícios dos 1960, quando os recursos da medicina (e das famílias sem bens) eram mais do que restritos.
Senti na pele com muito sofrimento o que hoje se chama vulgarmente de buillyng, ainda mais depois que se descobriu que meu problema era uma deficiência auditiva causada por um sarampo contraído aos 4 anos. Passei a ser tratado, então, como o surdinho da sala de aula ou da turma da rua, mas tudo bem, sobrevivi...
Todo esse papo músico-memorialista, aqui, tem na verdade o propósito mesmo de trazer à discussão a dislexia, que será objeto, ao longo desta semana, de uma série de debates, palestras, filmes e documentários, já que se está realizando no país a primeira Semana da Dislexia.
A iniciativa é do Instituto ABCD, uma organização social de interesse público, que apóia iniciativas que procuram esclarecer aspectos deste transtorno, bem como dar respaldo a instituições que lidam com disléxicos e seus parentes.
Imagine você numa dessas escolas de um dos cantões do Brasil, sem recursos, com professores mal remunerados, desmotivados, aparecer lá um aluno que:
1 - Não consegue ter fluência na leitura, acaba lendo sílaba por sílaba ou letra por letra.
2 - Não consegue compreender o significado dos textos que lê.
3 - Escreve com um monte de erros de ortografia.
4 - Inverte letras ou sílabas na hora da redação.
É claro que a criança será (e em geral é) discriminada, colocada à margem do grupo social, quando não classificada de vagabunda, idiota ou deficiente mental.
Obviamente isso não ocorre apenas nos "cantões do Brasil", não, mas também em escolas muito bem qualificadas que não têm o preparo mínimo para (nem mesmo a preocupação de...) primeiro detectar a criança com dislexia (lembre-se que são cerca de 4 em cada 100 alunos...) e depois dar o tratamento educacional adequado às suas necessidades - atendimento em separado, mais tempo para lidar com as palavras, menos pressão por resultados, não expor publicamente suas mazelas.
A dislexia é oficialmente classificada como uma doença, de origem provavelmente genética e desconhecida. Mas em países como a Inglaterra - de onde foi tirada a ideia de se realizar uma semana dedicada ao tema - ela recebe tratamento educacional. Mesmo porque, ainda como doença, não tem remédio que a cure, tampouco terapia que reduza seus efeitos, muito menos é contagiosa.
Mas na escola, em casa, na comunidade, tendo a criança ou jovem a oportunidade de encarar seu problema com apoio e segurança, acabará evoluindo a ponto de levar uma vida praticamente normal.
Ou até além disso, revelando talentos que jamais se esperaria de pessoas que mal conseguem colocar uma frase no papel.
Como é (ou foi) o caso de personalidades como Tom Cruise, Orlando Blum, Cher, Walt Disney, Thomas Edison, Nelson Rockefeller, Pablo Picasso, Lewis Carrol (aquele da Alice...), John Lennon, Winston Churchill, Steven Spielberg ou Leonardo Da Vinci...
Todos eles, em menor ou maior grau, brigam ou brigaram com as letras por conta de um problema que até hoje ninguém sabe direito porque se manifesta.
Mas sabe-se, sim, que exclusão e preconceito é tudo o que essas pessoas não precisam. Muito ao contrário.
Daí a importância de se apoiar a Semana da Dislexia e suas iniciativas, que podem ser conhecidas em detalhes no site www.institutoabcd.org.br

Luiz Caversan

Kit Dilma!



Blog Josias de Souza

As batalhas (nas sombras) do G20

O G20, o clube das 20 maiores economias do planeta, reúne-se quinta e sexta-feira próximas em Cannes, cidade do Mediterrâneo francês cujo Palácio dos Festivais está acostumado a receber personagens em geral mais charmosos, durante o seu badalado Festival de Cinema.
Mas o enredo da cúpula do clubão tem lá suas emoções, embora seja preciso mergulhar em caudalosos documentos oficias, traduzir o jargão para a linguagem dos mortais comuns e saber que raramente o documento final expressa devidamente as batalhas de bastidores. Afinal, no cinema em geral há mocinhos e bandidos claramente marcados, ao passo que entre os governantes predomina uma linguagem cifrada que busca não deixar ninguém carimbado como perdedor ou o "mau" da película.
Assim, o texto final de Cannes dirá, uma vez mais, que os governantes estão empenhados em que a economia mundial persiga um crescimento "forte, sustentado e equilibrado".
A fórmula vem sendo usada desde a primeira cúpula (Washington, 2008) e, como é óbvio, ninguém pode ser contra, a não ser algum tarado que goste de recessão ou de crescimento predatório ou de desequilíbrios de qualquer natureza.
O problema aparece quando se sabe o que os principais atores defendem para chegar ao tal crescimento forte, sustentado e equilibrado. "Sustentado" não entra na disputa de bastidores porque ninguém tem coragem de ser ambientalmente incorreto e defender um crescimento que devaste matas, mares, ricos etc, por mais que, na prática, sejam predadores.
Já o termo "equilibrado" introduz o primeiro combate: de um lado, Estados Unidos, do outro a China. Os EUA assim como o Brasil acham que a China deveria dar menos ênfase às exportações e mais ao mercado interno e, por extensão, deveria manipular menos o câmbio. Manter baixo o valor do iuan facilita exportações (assim como o real sobrevalorizado dificulta as exportações brasileiras).
Mas, atenção, a aliança Brasil/EUA não é de ferro. O governo brasileiro cansa-se de reclamar de que a política norte-americana chamada de "quantitative easing" (na prática injetar dinheiro diretamente na veia da economia para estimulá-la) prejudica o Brasil, entre outros países, porque gera uma liquidez que busca remuneração suculenta como os juros brasileiros oferecem. Resultado: entram dólares demais, o real se sobrevaloriza e as exportações ficam prejudicadas.
É por isso que uma das discussões mais ou menos permanentes no G20 é a substituição do dólar como a grande moeda universal. O único substituto eventual é um tal DES (Direitos Especiais de Saque, moeda contábil usada pelo Fundo Monetário Internacional) e formado por uma cesta de moedas (dólar, euro, libra esterlina e iene japonês).
O Brasil até gostaria de que o real fizesse parte da cesta, mas as chances de que, num futuro próximo, se processe a substituição tende a zero. É uma operação complicada demais e, nas atuais condições de temperatura e pressão, a cesta teria que incluir o iuan, o que provoca urticária nos chineses. Afinal, se o iuan entrar no jogo, a China se veria obrigada a deixar seu valor ser estabelecido pelo mercado, em vez de ser administrado diretamente pelo governo, como ocorre hoje.
Uma segunda batalha em torno de como chegar ao crescimento, dá-se entre Brasil e EUA de um lado (outra vez) e os países europeus liderados pela Alemanha. A presidente Dilma Rousseff tem insistido e, na minha opinião, tem razão em que centrar no corte de gastos os programas de ajuste fiscal é um equívoco grave. Com menos ênfase, o presidente Barack Obama diz mais ou menos a mesma coisa.
Mas a Alemanha, a voz principal da Europa, acredita piamente que o equilíbrio das contas públicas tanto no déficit como na dívida é o caminho e o único caminho para reconquistar a confiança dos mercados e, por aí, voltar ao crescimento.
Esse tipo de discussão fica, no entanto, confinado ao debate entre os negociadores, parte dos quais são chamados de "sherpas", em alusão aos guias que levam os alpinistas aos cumes do Himalaia. Ou seja, são os que fazem o trabalho pesado para que seus chefes, os governantes, finquem a bandeira (emitam o documento final) na sexta-feira.

Clóvis Rossi

"Elders" pela paz

Imagine formar um grupo de anciãos sábios, juntando o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, o ex-presidente americano Jimmy Carter, a ex-presidente da Irlanda e ex-alta comissária de direitos humanos da Onu Mary Robinson, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-secretário geral da ONU Kofi Annan, Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega e ex- diretora geral da Organização Mundial de Saúde, e muitos outros. Esse grupo, chamado "The Elders", tem a missão de discutir os grandes problemas do mundo. Mas eles não ficam só no blá-blá-blá. Apesar de muitos já terem ultrapassado os 80 anos, eles viajam ao redor do globo para mediar conflitos.
Em maio de 2011, Kofi Annan, Desmond Tutu e Mary Robinson foram para a Costa do Marfim conversar com o novo presidente Alassane Ouattara e falar sobre uma comissão de reconciliação e verdade, depois de meses de violência após as eleições.
Em abril de 2011, Jimmy Carter, Mary Robinson, Gro Brundtland e Martti Ahtisaari, ex-presidente da Finlândia, foram à Coreia do Norte discutir a questão nuclear e a crise humanitária 6 milhões de pessoas estão passando fome lá.
Entre os Elders, há nada mais, nada menos que três prêmios Nobel da Paz: Carter, Tutu e Ahtisaari, que ganhou em 2008
O grupo foi formado pelo Nelson Mandela em 2007. E é apoiado pelo Peter Gabriel e pelo Richard Branson, dono da Virgin. Eles financiam o grupo e organizam a arrecadação de fundos.
Nesta semana, os "Elders estiveram no Rio de Janeiro no Santa Teresa Hotel para sua reunião semestral.
Eles se encontraram com a presidente Dilma no Alvorada. E depois tiveram um debate com jovens a maioria de ONGs como AfroReggae e de comunidades carentes no Convento de Santo Antônio
Na terça-feira, fizeram um almoço no hotel para saber um pouco mais sobre o Brasil. E eu tive o enorme privilégio de participar.
Quando cheguei ao hotel e olhei para a mesa, quase morri do coração. Estava lá a plaquinha designando meu lugar --do meu lado direito, o arcebispo Desmond Tutu. Do lado esquerdo, o ex-presidente Jimmy Carter. Na minha frente, Mary Robinson. Ao lado dela, Fernando Henrique.
Fernando Henrique abriu o almoço, falando sobre "O Brasil no mundo, de ditadura militar a grande potência". Foi uma apresentação breve, em inglês. Depois veio o professor João Nogueira, da PUC-Rio, falando sobre o papel do Brasil nos BRICs. Humberto Saccomandi, editor de Internacional do jornal Valor, prosseguiu falando sobre o crescimento econômico do Brasil e suas responsabilidades políticas no mundo. Eu fui a quarta a falar, e fiz uma apresentação sobre os direitos humanos e a política externa do Brasil, mudanças e continuidade do governo Lula e Dilma. E o diretor da faculdade de Direito da FGV, Oscar Vilhena, concluiu, falando sobre o futuro dos direitos humanos na política externa brasileira.
O almoço era todo off-the-record, ou seja, não se pode publicar o que cada um dos Elders disse. Mas dá para falar sobre o tom: eles queriam saber como o Brasil estava integrando o setor informal dentro de sua economia, tinham questões sobre o "compasso moral" que orienta a política externa brasileira e pode contribuir para seu soft power; queriam entender melhor o conceito de "responsabilidade ao proteger", invocado pela presidente Dilma no discurso da assembleia da ONU, e como é o relacionamento coincidências e divergências entre os BRICs.
O arcebispo Tutu (e ele autorizou a publicação disso, uma vez que já havia falado em público) disse que "doía muito" ver seu país, que lutou tanto para ter liberdade, ter feito o que fez com o Dalai Lama. Pressionado pela China, o governo sul-africano não concedeu visto para o Dalai Lama ir à festa de aniversário de Tutu.
Vai ser difícil esquecer esse almoço.

Patícia Campos Mello

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Procuradoria vai pedir anulação das provas do Enem

O Ministério Público Federal no Ceará pedirá à Justiça Federal a anulação total ou parcial das provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em todo o país.
Na ação, o procurador da República Oscar Costa Filho vai pedir também que a determinação do MEC para a realização de novas provas do Enem para os 639 alunos do Colégio Christus que tiveram acesso antecipado a questões do exame nacional seja anulada.
Para o procurador, a decisão do ministério "não corrige" o problema e trata de forma desigual participantes de um concurso nacional.
"A prova é nacional, mas na hora de resolver os problemas, tratam como se fosse local", disse o procurador.
"Há uma discriminação odiosa contra os alunos [do Christus]. Os estudantes não têm nada com isso e estão sendo tratados como cúmplices", afirmou.
Segundo Costa Filho, 13 perguntas de uma apostila entregue aos alunos eram iguais às das provas do Enem ele defende que essas questões sejam anuladas.
Ele não soube dizer, no entanto, se essa apostila era uma cópia completa do pré-teste aplicado pelo MEC na escola ou uma prova simulada realizada pelo estabelecimento de ensino. "A Polícia Federal está investigando", disse.

FÁBIO GUIBU

Novo ministro do Esporte anuncia fim de convênios com ONGs


Horas após ser confirmado como novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PC do B-SP) afirmou nesta quinta-feira que vai fazer mudanças na pasta e que não pretende mais realizar convênios de nenhum programa do ministério com ONGs.
Segundo Rebelo, a presidente Dilma Rousseff lhe deu a responsabilidade de montar a nova equipe. Ele disse, no entanto, que ainda não pensou em nomes.
"Recebi da presidente Dilma a demonstração de confiança e a responsabilidade de montar a minha equipe para dirigir o ministério. As mudanças serão anunciadas de acordo com as consultas que vou realizar para estruturar a equipe que trabalhará comigo no ministério (...). Certamente que haverá mudanças e certamente as competências que lá estão poderão mudar simplesmente por escolha pessoal, escolha técnica. Mas isso não significa a condenação de ninguém", disse.
Em resposta às suspeitas de irregularidades na pasta, Rebelo disse que não pretende realizar novos convênios com ONGs em todos os programas do ministério, não só nos do programa Segundo Tempo --principal alvo das suspeitas de desvio de dinheiro e que levou a queda de Orlando Silva. Ele afirmou que as ações do ministério devem continuar por meio de convênios com as prefeituras.
"Os convênios com as prefeituras continuam. Não vamos acabar com o Segundo Tempo. A intenção é acabar com os convênios com as ONGs, em qualquer programa. Não acabar com os programas. Continuaremos fazendo [os convênios] com as prefeituras, com os órgãos públicos", disse.
O novo ministro não confirmou, porém, a suspensão dos convênios que já estão em andamento. E disse que todas as investigações na pasta devem continuar.
"As ações do Ministério Público, da Polícia Federal, Tribunal de Contas, dos órgãos de controle, todas elas terão curso com apoio e ajuda ministério."
Aldo falou ainda sobre sua ligação com a Fifa e com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Ele já presidiu a CPI do Futebol, entre 2000 e 2001, mas negou que isso possa influenciar o seu trabalho. Também negou que as doações de campanha que recebeu de empresas patrocinadoras da CBF possa o atrapalhar.
"Não atingirá de qualquer forma a minha independência", disse.
Ex-presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Rebelo confirmou que defende a meia-entrada para os jogos da Copa de 2014, no Brasil, mas disse que a partir de agora a sua posição é a posição de governo.
Ele disse que a relação da Fifa com o governo "será de cooperação e independência".
Mais cedo, Aldo almoçou com o antecessor e colega de partido, Orlando Silva. Segundo ele, para tomar conhecimento da estrutura da pasta.

MARIA CLARA CABRAL
ANDRÉIA SADI

PC do Black Tie!



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No fundo, no fundo...



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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Ministro ajudou ONG sob suspeita em novo contrato


O ministro do Esporte, Orlando Silva, autorizou de próprio punho uma medida que beneficiou uma organização não governamental do policial militar que hoje o acusa de comandar um esquema de desvio de dinheiro público, informa reportagem de Filipe Coutinho e Fernando Mello, publicada na Folha desta terça-feira (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
Em julho de 2006, Orlando assinou um despacho que reduziu o valor que a ONG de João Dias Ferreira precisava gastar como contrapartida para receber verbas do governo, permitindo que o policial continuasse participando de um programa do ministério.
A medida foi autorizada mesmo depois de auditorias internas terem apontado os primeiros indícios de fraude nos negócios do policial com o ministério, num período em que ele ainda mantinha relação amistosa com o governo.
Os documentos obtidos pela Folha são os primeiros a estabelecer uma ligação direta entre Orlando e o policial.

OUTRO LADO

O Ministério do Esporte afirmou que Orlando Silva reduziu o índice de aplicação de recursos pela ONG porque a área técnica foi favorável, além da "indicação da prerrogativa do ministro de reduzir a contrapartida".
O parecer da área técnica afirma que, com o ªpoder discricionário do ministro de reduzir a contrapartida", submetia a minuta do convênio com a entidade para consideração dos superiores.

Filipe Coutinho e Fernando Mello

O Brasil e a inflação

O economista de Harvard Kenneth Rogoff (ex-FMI e ortodoxo) foi um dos primeiros a pregar a solução. Ela ganha a praça, de propósito ou não.
Esgotada a munição convencional na atual crise, a ideia seria viver com um pouco mais de inflação. Usá-la para corroer a dívida de famílias e governos. De quebra, tentar estabilizar os preços dos imóveis nos países ricos.
A ideia é heterodoxa, assim como os tempos atuais.
Inflação é deletéria e pode provocar efeitos colaterais enormes. Especialmente em países com histórico de preços altos (e indexação) como o Brasil.
A inflação acumulada em 12 meses nos EUA bateu em 3,9% em setembro. Há um ano, era de 1,1%. Em tempos normais, algo acima de 2% provocaria reação do Fed (o BC dos EUA).
Na zona do euro, os preços anualizados até setembro subiram 3% (1,9% há um ano).
Não há sinais, nos EUA e na Europa, de movimentos para interromper isso.
O motor da inflação no mundo rico é a estratégia dos bancos centrais norte-americano e europeu.
O Fed e o BCE inundam há meses seus mercados com dólares e euros. Que são emprestados a famílias e empresas a custo zero ou negativo.
Isso estimula as pessoas a gastar. Tendo à frente a perspectiva de que tudo ficará mais caro no futuro (com a inflação), os consumidores também tendem a antecipar o consumo.
Outro efeito de mais inflação é que ela corroeria as dívidas das famílias e governos. Dívidas que são a causa e que estão no centro da atual crise.
Se os EUA tiverem, digamos, três anos de inflação na faixa de 5% ao ano, uma família que hoje deve US$ 10.000 passará a dever US$ 8.400 em termos reais em 36 meses.
O mesmo ocorre com as dívidas dos governos. Isso alivia a carga sem que seja necessário um rigoroso ajuste fiscal, que só afundaria mais a economia.
Mais inflação também ajudaria a estabilizar o valor dos imóveis no mundo rico. Se há uma perspectiva de alta nos preços mais à frente, eles deixariam de cair agora.
Problema 1: a inflação deprime o poder de compra. Seriam necessários ajustes salariais para compensar. Mas argumenta-se que deixar os preços correr um pouco mais soltos seria melhor do que travar a atividade com alta de juros.
Problema 2: se para os países ricos a estratégia tem riscos mas parece válida, ela pode ser explosiva para o Brasil. O país não ficará imune à alta dos preços no mundo rico.
Contratos de aluguel, tarifas e mensalidades permanecem indexados a índices de preços por aqui. Além disso, 29% do total da dívida pública está indexada à inflação.
Desde fins de agosto nosso BC aposta em reduzir o juro básico (a Selic) acreditando que a inflação cederá por conta da crise internacional.
A atual leniência dos países ricos com os preços complica essa estratégia.

Fernando Canzian

Sobrevida e estratégias de saída

Na última sexta-feira, Orlando Silva era uma carta fora do baralho presidencial. Da África, a presidente Dilma havia formado a convicção de que o ministro do PC do B não reunia mais condições de conduzir o Ministério dos Esportes, pasta de altíssima visibilidade e de vital importância em tempos de Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil. Nem tanto pelas acusações de corrupção, porque até aqui não há provas concretas contra Silva, mas muito mais pela sua frágil sustentação política e técnica.
Do continente africano, Dilma confidenciou a assessores no Brasil que no seu retorno, na última sexta-feira, providenciaria a saída de Orlando Silva do ministério, garantindo porém que a pasta ainda ficaria nas mãos do PC do B. Uma parte do script traçado pela presidente, porém, saiu fora do planejado. Ao se reunir com Silva na noite de sexta, Dilma encontrou "um guerreiro", na definição de um assessor presidencial, disposto a se defender por manifestar uma crença de que está sendo alvo de uma campanha.
A presidente resolveu, então, fazer um ajuste no seu roteiro. Avaliou, ali, que cometeria uma "injustiça" se demitisse Orlando Silva naquele momento, apesar de avaliar que para ela, pessoalmente, seria mais conveniente e produtivo afastar seu auxiliar. Só faria melhorar sua imagem na população de uma presidente que não tolera, como diz, "malfeitos". Mas avaliou que não deveria entrar pura e simplesmente na onda, como disse um assessor.
Foi ali que Orlando Silva ganhou uma sobrevida. Quanto tempo vai durar esse prolongamento de sua estada à frente do Ministério dos Esportes é uma pergunta que os assessores palacianos estão se fazendo. Ou seja, ninguém no Palácio do Planalto aposta na permanência do ministro do PC do B. Mas não há consenso sobre até quando ele consegue se manter no posto.
A avaliação é que Dilma decidiu não jogar Orlando Silva na fogueira neste momento, evitando queimá-lo em praça pública. Deu ao ministro um tempo de vida útil para que ele não saia tão chamuscado do seu governo. Há quem aposte que sua sobrevida não passa desta semana. Quem sabe dure apenas alguns dias mais. Outros chegam a apostar que ele, caso não surjam os famosos "fatos novos", pode até se sustentar um pouco mais. Quem sabe até a reforma ministerial. Improvável.
O fato é que, ao dar uma sobrevida a Orlando Silva, Dilma pode ter garantido a ele a saída honrosa. Em outras palavras, o ministro poderá dizer que ganhou o apoio da presidente, mas preferiu "pedir demissão" para não atrapalhar o país num período esportivo tão vital. A conferir.

Valdo Cruz

Futuro garantido!



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Dilma e FHC: aula de civilidade

O encontro de Dilma Rousseff e FHC, durante um jantar no Palácio da Alvorada, é uma aula de civilidade.
Dilma mostra que um presidente tem de estar acima dos partidos e aberta a toda e qualquer pessoa que possa ajudar a nação, com sugestões e críticas. O que deveria ser óbvio mas não era com seu antecessor, que parecia ter um problema psicológico com Fernando Henrique Cardoso, tantas foram as descortesias desnecessárias.
Poucos são os brasileiros que, pela experiência política e administrativa, além de extraordinárias conexões com centros acadêmicos mundiais, deveriam ser ouvidos sempre por um presidente. E Fernando Henrique é um deles.
Sempre disse aqui que Lula, com todos os seus defeitos, foi muito, mas muito melhor do que seus inimigos imaginavam que ele seria. Lula ajudou a estabilizar o Brasil e a reduzir a miséria, assegurando os valores democráticos. Aqueles espasmos que ele tinha dizendo-se inventor do Brasil são, hoje, apenas um detalhe, talvez apenas um sintoma de insegurança.
Mas coube a Fernando Henrique fazer as medidas mais importantes para que Lula pudesse deslanchar. É preciso ser desinformado ou tapado ideologicamente para não perceber tamanha obviedade.
Dilma Rousseff está ajudando a colocar, na história, as coisas no seu devido lugar, mostrando como a civilidade deve ocorrer entre governo e oposição.

Gilberto Dimenstein

domingo, 23 de outubro de 2011

Começa 2º dia de prova do Enem; portões são fechados


Fecharam às 13h os portões de acesso aos locais das provas da edição 2011 do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Neste domingo, os alunos terão cinco horas e meia para resolver 90 questões de matemática e linguagens, além da redação --a prova acaba às 18h30.
Com 5,4 milhões de inscritos (o maior número da história), as provas da edição 2011 do Enem valerão na seleção de mais de 260 mil vagas no ensino superior no ano que vem. O Enem é utilizado em processos seletivos de universidades federais.
De acordo com levantamento feito pela Folha, a prova será considerada na seleção de ao menos 105 mil universitários.
No sábado (23), foram registrados 25,3% de abstenção, segundo o Inep, instituto que organiza o Enem. No ano passado, o índice de abstenção registrado no primeiro dia de Enem foi de 27%.
Ocorreram tumultos nos locais de acesso à prova em três Estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. De acordo com o instituto, o problema ocorreu por conta da "ansiedade de última hora e impaciência com relação a filas na entrada".
Professores de cursinhos ouvidos pela Folha consideraram a prova de ontem teve dificuldade média e foi cansativa.
As instituições federais usam a prova de diferentes modos: como única forma de seleção ou mecanismo complementar ao vestibular.
Nesse número não estão consideradas as vagas disponíveis nos institutos federais, que oferecem formação superior tecnológica, que também utilizam a prova. O Ministério da Educação ainda não tabulou esses dados.
A avaliação também escolhe os bolsistas em instituições privadas via Prouni. Considerando as últimas edições do programa, deverão estar disponíveis no primeiro semestre do ano que vem cerca de 160 mil bolsas -quantidade aproximada de 2010 e deste ano.
Somando as vagas nas universidades federais e no Prouni, significa que o Enem influenciará em ao menos 10% dos novos postos a serem oferecidos no ensino superior do país em 2012.
Na tentativa de reduzir problemas no exame, o Inep contratou empresa de gerenciamento e avaliação de risco, que acompanhou processos como a logística de distribuição das provas.
O Inmetro também foi contratado para acompanhar a impressão e a distribuição dos cadernos de provas. Mesmo com o novo aparato, o Inep alterou dez locais de prova que estavam sem condições de uso.

Folha de São Paulo

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

ONU pede investigações sobre circunstância de morte de Gaddafi


O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu nesta sexta-feira uma investigação sobre as circunstâncias da morte do ex-ditador líbio Muammar Gaddafi, anunciada ontem pelas forças rebeldes do país, durante operação militar em Sirte.
"A respeito da morte de Gaddafi ontem, as circunstâncias ainda não são claras. Nós consideramos que é necessária uma investigação", declarou o porta-voz, Rupert Colville, em referência aos vídeos que foram divulgados pelos meios de comunicação.
"Deveria haver algum tipo de investigação, dado o que vimos ontem, acho que é muito essencial", disse ele, em referência às imagens divulgadas da captura de Gaddafi, nas quais ele ainda aparecia com vida.
Embora inicialmente não houvesse uma versão oficial, um vídeo que mostra o ex-ditador capturado ainda vivo transmitido por emissoras árabes gerou suspeitas de que ele tivesse sido executado pelos rebeldes. O premiê da Líbia, Mahmoud Jibril, disse que relatórios de perícia mostram que a causa da morte foi um tiro recebido durante um tiroteio.
"Gaddafi foi retirado de dentro de uma tubulação de esgoto e não mostrou resistência alguma. Quando começamos a movê-lo ele foi atingido por um tiro no braço direito e quando o colocamos numa picape ele ainda não tinha nenhum outro ferimento", disse o premiê citando o relatório.
Um médico que examinou o corpo, porém, afirmou que ele foi fatalmente ferido por uma bala em seus intestinos depois de ser capturado. "Gaddafi foi capturado vivo, mas morreu depois. Houve uma bala e essa foi a causa primária de sua morte; ela penetrou em suas entranhas", afirmou o Ibrahim Tika à emissora árabe de TV Al Arabiya. "E houve uma outra bala na cabeça, que entrou e saiu".
Segundo o porta-voz da ONU, as circunstâncias da morte do ex-ditador estão "muito pouco claras" porque há "quatro ou cinco versões diferentes de como ele morreu". Colville pediu mais detalhes para determinar se houve uma execução por parte dos rebeldes ou se foi durante troca de tiros.
O funcionário do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos lembrou ainda que o Conselho de Direitos Humanos da ONU já havia designado meses atrás uma comissão para investigar as violações de direitos cometidas na Líbia pelos dois lados do conflito.
Colville chamou ainda as novas autoridades líbias e a quem puder ajudar que "contribuam para tranquilizar a situação no país", tendo em vista que "há gente demais que está armada na Líbia e que a situação está muito desordenada".
Segundo ele, porém, a queda do regime e das últimas cidades que permaneciam fiéis a ele coloca o fim a oito meses de sofrimento e violência extrema. "Começa uma nova era que deve responder às aspirações do povo por democracia e direitos humanos", afirmou.

SAÍDA DA OTAN

O presidente francês, Nicolas Sarkozy, disse que a morte do ditador deposto da Líbia, Muammar Gaddafi, significa que a intervenção militar da Otan, a aliança militar do Ocidente, no país norte-africano está próxima do fim.
Sarkozy pediu também ao povo líbio que adote o "perdão, a reconciliação e a unidade", após a morte do ex-ditador.
"Não devemos nunca celebrar a morte de um homem, independente do que tenha feito", declarou Sarkozy, antes de completar que a operação da Otan na Líbia "chega ao fim".
Mais cedo na sexta-feira o ministro francês de Relações Exteriores, Alain Juppé, disse à rádio Europe 1 que a intervenção militar da Otan estava encerrada, mas acrescentou que a França iria auxiliar as autoridades interinas da Líbia na transição para um governo democrático.
"Acredito que podemos dizer que a operação militar terminou, que todo o território líbio está sob controle do CNT (Conselho Nacional de Transição) e que, sob a reserva de algumas medidas transitória na próxima semana, a operação da Otan chegou ao fim", disse.
"A operação deve terminar hoje porque o objetivo, acompanhar as forças do CNT na libertação do território, foi alcançado", completou. "Nosso objetivo não era matar Gaddafi. Nosso objetivo era forçá-lo a abandonar o poder".
Os países membros da aliança se reúnem hoje em sua sede em Bruxelas para debater o fim da missão na Líbia, informou uma fonte diplomática, um dia depois da morte de Gaddafi.

MANDATO DA ONU

Embora tenham reiterado que a meta no país não era a captura do ditador, algo que não estava incluso nas resoluções das Nações Unidas que aprovaram a missão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), as potências ocidentais deixaram transparecer nos últimos meses que persistiriam até que o país estivesse totalmente livre do ex-ditador.
"A Otan e seus parceiros concluíram com êxito o mandato histórico confiado pelas Nações Unidas para proteger o povo líbio. Nós terminaremos nossa missão em coordenação com as Nações Unidas e com o Conselho Nacional de Transição", disse o secretário-geral da aliança atlântica, Anders Fogh Rasmussen.
Na mesma linha, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse mais cedo que com a morte de Gaddafi a Líbia está "totalmente livre" e a missão da Otan "atingiu seus objetivos e deve logo chegar ao seu fim".
Vários países, incluindo os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) criticaram a aliança atlântica e as potências por terem extrapolado os limites dos mandatos da ONU durante a ação na Líbia e mostram hesitação quanto a medidas semelhantes em países como a Síria, onde a repressão do ditador Bashar Assad aos protestos já teria deixado mais de 3.300 mortos, segundo a ONU.

AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Rebeldes dizem que Gaddafi morreu, segundo agências e TV


Comandantes das forças rebeldes da Líbia afirmaram nesta quinta-feira que Muammar Gaddafi, cuja captura foi reportada mais cedo, não resistiu aos ferimentos e morreu, segundo agências de notícias e emissoras de TV.
As forças do CNT (Conselho Nacional de Transição), órgão político dos rebeldes, anunciaram a captura de Gaddafi nesta quinta-feira.
Segundo a emissora de TV britânica BBC, Gaddafi foi detido pelos rebeldes enquanto tentava escapar de Sirte, sua cidade natal, em um comboio. Um combatente do CNT declarou que ao ser capturado Gaddafi gritou: "Não atirem, não atirem."
O canal de TV "Libya lil Ahrar" também informou a detenção do ditador. Segundo a emissora, ele foi detido com o filho Muatasim; Mansur Dau, chefe dos serviços de segurança interna; e Abdullah Senusi, diretor do serviço de inteligência líbios.
De acordo com a France Presse, Aboubakr Younès Jaber, ministro da Defesa do regime, foi morto em Sirte hoje. O médico Abdou Raouf afirmou ter "identificado o corpo", levado nesta manhã para o hospital de campanha local.
A rede qatariana Al Jazeera afirmou que a Otan, a aliança militar do Ocidente, e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos informaram que ainda não podem confirmar os relatos da captura de Gaddafi, cujo paradeiro era desconhecido desde que os rebeldes ingressaram em Trípoli, capital líbia.
"Vimos relatos na mídia que não podemos confirmar", afirmou a porta-voz do Departamento de Estado Beth Gosselin à Reuters.

CAPTURA DE SIRTE

Forças rebeldes da Líbia capturaram nesta quinta-feira as últimas posições mantidas pelos partidários de Muammar Gaddafi em Sirte, cidade natal do ditador.
"Sirte foi liberada. Não há mais forças de Gaddafi", disse o coronel Yunus Abdali, chefe de operações na parte oriental da cidade. "Agora estamos caçando seus combatentes, que estão em fuga".
Outro comandante da linha de frente confirmou a captura da cidade costeira no Mediterrâneo, que era o último bastião de importância de combatentes pró-Gaddafi.
A ofensiva final contra a cidade natal do ditador começou por volta das 8h no horário local e durou cerca de 90 minutos antes de os soldados leais ao regime fugirem.
Pouco tempo antes, cerca de cinco veículos de combatentes gaddafistas tentaram escapar da cidade, mas os passageiros foram mortos pelos soldados do CNT.
Os rebeldes realizavam uma grande operação de busca na cidade, revistando prédios e residências na tentativa de encontrar algum combatente leal ao regime que pudesse estar escondido.
Mais cedo, um comandante do CNT já havia afirmado que a queda de Sirte era iminente, depois que suas forças entraram no último bairro da cidade que não estava sob seu controle.
"É o último dia da batalha, dentro de algumas horas anunciaremos a queda de Sirte", declarou o tenente-coronel Hussein Abdel Salam, da Brigada Misrata.
A captura de Sirte é considerada pelos rebeldes essencial para a consolidação da queda do regime de Muammar Gaddafi, há 42 anos no poder. O CNT afirmou que só começará a instauração de uma democracia na Líbia quando todo o território estivesse sob seu controle.

FUGA

Pessoas ligadas a autoridades do regime de Gaddafi fugiam da cidade de Sirte desde segunda-feira (17), entre elas a mãe e o irmão de Mussa Ibrahim, porta-voz de Gaddafi, informou um comandante do CNT.
"São parentes de autoridades do regime. A mãe e o irmão de Musa Ibrahim estão entre eles", afirmou Wissam ben Hamidi.
Quase 150 combatentes do novo regime se reuniram ao redor dos veículos, o que provocou cenas de confusão, antes que as famílias fossem retiradas rapidamente do local. De acordo com Hamidi, comandante das operações na frente leste de Sirte, alguns ocupantes dos veículos eram pessoas procuradas pelos rebeldes, mas nenhuma era considerada importante.

BANI WALID

A cidade líbia de Bani Walid, que era um dos últimos redutos fiéis a Gaddafi, a 170 km ao sudeste de Trípoli, foi "totalmente libertada" na segunda-feira (17), segundo anúncio de Ahmed Bani, um dos chefes militares do CNT.
De acordo com moradores, homens leais a Gaddafi recuaram devido ao avanço das forças rebeldes. Segundo relato do morador Moammar Warfali, combatentes do governo de transição cercaram o centro, um hospital e vários edifícios que eram usados por franco-atiradores leais a Gaddafi para impedir o avanço.
Bani Walid é a terra da tribo Warfalla, a maior e uma das mais influentes do país. A cidade está sitiada há semanas, e as autoridades negociavam uma rendição com os líderes tribais.

AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A mão invisível do Estado (no seu bolso)

O índice mais marcante do mês até aqui foram os R$ 75 bilhões arrecadados pela Receita Federal no mês passado, R$ 5 bilhões a mais do que em setembro de 2010.
Aliás, pelo desempenho, com resultados facilmente mensuráveis, a Receita é o órgão federal mais competente dos últimos anos.
Recorde atrás de recorde.
A economia pode estar desacelerando, mas o crescimento da arrecadação em 2011 será de chineses 11%, segundo estimativa conservadora da competente Receita Federal.
Com a ajuda da Vale (que desistiu de apelar em disputa tributária com a União e pagou R$ 5,8 bilhões em julho), o ano deve fechar em R$ 935 bilhões arrecadados.
Inapelavelmente, o sucesso da Receita significa menos dinheiro no seu bolso. Mas para os políticos é uma bonança de proporções maracanescas. Em todas as esferas. E longe de terminar.
O novo desenvolvimento brasileiro traz um processo crescente e benigno de formalização da economia que significa também maior tributação da economia.
Além disso, a fiscalização aumentou com a tecnologia, e tributar passou a ser uma arma cada vez mais usada como instrumento de governo, dada a passividade com que o brasileiro se deixa taxar.
Com o caixa cheio, os governantes têm oportunidades históricas de melhorar os serviços públicos e estimular o desenvolvimento. E de poupar, reduzir dívidas.
Ou, pensando fora da caixa (ou da jaula do Leão), de taxar menos trabalhadores e empresas, deixando mais recursos para consumo, investimento e poupança privados.

O que é melhor?
Enquanto nos EUA a discussão sobre os impostos domina o debate político e eleitoral, no Brasil o assunto é um não-assunto, ajudado pela falsa complexidade do tema.
O pior é que, muito brasileiramente, há um consenso de que a reforma tributária é indispensável, mas ninguém faz nada.
De tão óbvia e obrigatória, o Congresso processa desde FHC propostas ambiciosas que depois se transformam em monstrengos, apodrecem naturalmente e vão para o lixo sem comoção.
Esse fracasso retumbante de se realizar o óbvio mostra os limites do sistema político brasileiro, a incapacidade de avanços mais complexos.
Conseguimos até aqui garantir um processo eleitoral eficiente e um Legislativo capaz de aprovar leis. É muito se comparado ao lugar de onde viemos, mas pouco para o lugar onde vamos.
Falta a política mais inteligente e eficaz, que não se escore somente no nosso bolso para governar.
Os governos estão ficando viciados em Receita. Como todo vício, a cura será difícil. E muito custosa.

Sérgio Malbergier

Depois do Segundo Tempo!



Blog Josias de Souza

A insustentável leveza das cidades

A explosão do restaurante no Rio e o incêndio no bairro de Jaraguá, São Paulo, expõem a fragilidade das cidades. Rio e São Paulo são grandes cidades pela pujança econômica e pelo número de habitantes. Contudo, se mostram extremamente frágeis diante do cotidiano.
Deslizamentos frequentes, áreas de risco, calçadas que causam acidentes, bueiros voando, shopping em cima de lixão, atropelamentos inconsequentes diários. Essa é a rotina.
Antigamente se dizia do Brasil que era um gigante com pés de barro. Aludia-se ao potencial do país continente e sua fraca base estrutural. O Brasil conseguiu mudar. Longe de perfeito, com mazelas inquestionáveis, mas é preciso reconhecer que o país saiu da condição de patinho feio para ser um protagonista mundial.
As cidades não. Nesse ponto, das coisas simples do dia a dia, do viver em paz usufruindo as boas coisas caminhamos para trás. Vivemos desconfortáveis e com medo. Insegurança permanente. Sutil, às vezes, mas sempre presente.
O que está errado?A estrutura de administração das metrópoles não evoluiu. É a mesma há décadas. O nítido desenvolvimento de mecanismos de comunicação e controle é desprezado. Hoje, com um simples telefone inteligente você se comunica em tempo real. E toma providências. A administração pública não. Engatinha, usa a tecnologia mais como factoide do que como instrumento real de operação.
Os administradores regionais ou subprefeitos são hipotéticos. Em geral, têm atribuições demais e recursos de menos. Além de muitas atribuições descentralizadas no papel permanecerem na verdade nas mãos dos prefeitos. Centralizadores e midiáticos. As leis, decretos e regulamentos municipais são arcaicos e contraditórios. Há sempre um espaço para o jeitinho, para a acomodação.
E não há nada mais sem sentido do que as licenças provisórias. Existem para contornar as posturas municipais. Ou um estabelecimento está ou não está apto a prestar o serviço que se propõe.
Licença provisória é o caminho para o descontrole. Enquanto essa fragilidade nos atinge e incomoda. Enquanto isso é capa manchete de jornais não se vê candidato ou partido com proposta concreta e consistente.
E o "gatonet", os puxadinhos, a apropriação do espaço público?
As respectivas prefeituras deveriam assumir o comando e o controle das cidades, mesmo quando certas atribuições lhes escapam. Nesses casos formariam órgãos de controle dos poderes federal e estadual, integrando-os às políticas municipais. Sempre com um plano claro e insofismável.
As grandes cidades são agora os gigantes com pés de barro que o Brasil já foi. A população, ora resignada, enfrenta essa renúncia de competência do poder público. Por trás do discurso de "cidades sustentáveis" feito pelos prefeitos, está a dura realidade de uma insustentável fragilidade que nos deixa tristes e acuados.
As eleições municipais são feitas para tratarmos disso.

José Luiz Portella

Rito tribal!



Blog Josias de Souza

Entre Wall Street e a Idade da Pedra

A pedidos, comento as manifestações da família do "Ocupe Wall Street" que estão se espalhando pelo mundo. Acredito que elas podem ser úteis, enquanto ajudarem governos esclarecidos a impor uma regulação mais sábia sobre os mercados financeiros. Não é preciso ter pós-graduação em economia pelo Instituto Lênin para reconhecer que, em determinados setores, o Estado precisa criar mecanismos que moderem os apetites de agentes privados, sob pena de produzir megaconfusões como a crise de 2008, cujas consequências o planeta amarga até hoje.
Outro ponto interessante é que esse tipo de movimento, à medida em que lança legiões de jovens numa reflexão sobre o papel das instituições, contribui para arejar e até mesmo desfossilizar a ação política. É em ocasiões como essas que demandas das próximas gerações são incorporadas ao "Zeitgeist", o horizonte de preocupações de uma época.
Isso dito, passo ao que há de preocupante nesses protestos. Eles se sustentam em algumas das forças mais retrógradas da psique humana, que, no passado remoto e recente, coadjuvaram em vários tipos de massacres e genocídios.
Prossigamos com vagar e cuidado, começando pelas noções intuitivas de economia que estão na base das manifestações. Nossos cérebros foram moldados para operar no paleolítico. Ali, as trocas, quando havia, eram todas na base do olho por olho, dente por dente, isto é, um bem concreto, como, digamos, uma caverna confortável por uma mulher, ou uma vaca e três galinhas ou outros produtos e serviços bastante concretos. Nossa psicologia tem dificuldade para lidar com as abstrações matemáticas envolvidas na economia moderna, como dinheiro, lucro, juros, para não mencionar verdadeiros desafios lógicos, como o mercado de derivativos e as alavancagens financeiras.
O resultado é que não temos nenhuma dificuldade para ver operários, artesãos e fazendeiros como produtores de valor. Eles, afinal, transformam coisas de menor valor em alimentos ou objetos dos quais temos necessidade para sobreviver.
O mesmo não se aplica a comerciantes e outros intermediários, aos quais chamamos pejorativamente de "atravessadores" como se a logística de levar produtos das fábricas e hortas para as gôndolas dos supermercados não valesse nada.
Em pior situação ainda estão os pobres banqueiros (nunca achei que utilizaria o adjetivo ªpobresº para qualificar o substantivo ªbanqueirosº, mas para tudo há uma primeira vez). Para nossos cérebros pré-históricos, emprestar dinheiro a juros é muito mais uma exploração do que um serviço. Quase nunca nos vem à mente que os níveis historicamente extraordinários de riqueza global de que hoje desfrutamos, que podem ser medidos em termos de calorias por habitante e até de expectativa de vida, só se tornaram possíveis graças ao comércio e aos mecanismos financeiros.
E, como mostra o psicólogo evolutivo Steven Pinker no recém-lançado "The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined" (os melhores anjos de nossa natureza: por que a violência diminuiu), essa indisposição quase neurológica para com intermediários tem complexas implicações sociais.
(A propósito, este novo livro de Pinker é uma das obras mais estimulantes obras que li nos últimos anos. Ainda estou na metade do catatau de quase mil páginas. Prometo uma resenha mais substanciosa assim que terminá-lo).
É muito fácil, diz Pinker, transferir a antipatia em relação a um comerciante ou banqueiro em particular para um grupo étnico. Essas atividades não exigem a possessão de terra ou fábricas. Elas dependem principalmente de conhecimento, que é algo que pode ser passado com certa facilidade para familiares e amigos. Igualmente importante, a expertise é portátil. Essas características fizeram com que alguns grupos étnicos se especializassem em atividades intermediárias, mudando-se para comunidades que delas tinham necessidade. Logo, tornaram-se minorias prósperas, virando alvo de inveja e ressentimento.
Não é uma coincidência que esses grupos tenham sido vítimas preferenciais de discriminação, expulsões e mesmo genocídio. O caso dos judeus na Europa é bem conhecido, mas está longe de ser o único. Também experimentaram perseguições os indianos no leste da África e na Oceania, os armênios na Turquia, os ibos na Nigéria, os chineses na Indonésia, Malásia e Vietnã, e várias minorias burguesas na União Soviética, na China e no Camboja.
Mais do que acidentes históricos, as agressões a que esses e outros grupos foram submetidos têm raízes em nosso essencialismo, sustenta Pinker. Intuições econômicas fora de lugar nos fazem ver comerciantes e banqueiros como aproveitadores. Muitas vezes, apenas pensar em pessoas enriquecendo à custa de outras já produz em nossos cérebros a emoção do desgosto. Mas é porque temos a tendência de procurar uma natureza secreta por trás das coisas (o essencialismo) que rapidamente estendemos a sensação de aversão originada por um intermediário em particular a todos os demais membros da categoria, que por acaso equivale a um grupo étnico. Também por uma operação de generalização, o desgosto é elevado do plano físico para o moral.
Ditadores e todos aqueles interessados em perseguir uma minoria raramente têm dificuldade em fazer com que a população passe a ver o alvo como uma categoria moralmente diferenciada, sempre descrita através de metáforas que evocam a emoção do desgosto: ratos, insetos, piolhos, predadores, vermes, sanguessugas, parasitas, baratas são alguns dos termos historicamente utilizados para referir-se aos membros do grupo perseguido.
Só que, como nota Pinker, grupos étnicos rivais podem passar décadas ou mesmo séculos desconfiando um do outro sem se matar, ou ao menos sem fazê-lo em larga escala. Para transformar a competição em um grande genocídio é preciso trazer mais um elemento: a ideologia, que pode assumir roupagens religiosas, políticas, nacionalistas ou ainda uma mistura disso tudo.
A ideologia nesse sentido amplo opera como um gatilho porque ela introduz a noção de utopia, a ideia de uma sociedade perfeita ou quase onde todos serão infinitamente felizes, seja no outro mundo, no paraíso socialista ou no Reich de mil anos. Passa a valer, então, o cálculo utilitarista. Se é uma minoria que se põe no caminho entre o aqui e a perfeição absoluta, torna-se lícito eliminar os representantes desse grupo. Em alguns casos, notadamente no universo religioso, essa licitude vira até um imperativo moral: manda-se o herege para a fogueira para salvar-lhe a alma imortal.
Nada indica que os estudantes acampados em Wall Street sairão por aí queimando banqueiros ou os enforcando nas tripas de comerciantes. Por enquanto, vale a avaliação inicial de que esses movimentos mais contribuem com as democracias do que as desestabilizam. Mas, antes de aplaudi-los e apoiá-los incondicionalmente, é bom ter em mente que eles também exprimem forças profundamente reacionárias de nosso psiquismo. A depender delas, prevaleceria um igualitarismo primitivo baseado no escambo e na aversão às tecnologias. Em suma, ainda estaríamos na Idade da Pedra.

Hélio Schwartsman

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Vivemos em uma ditadura da corrupção imposta pelo PT, diz leitor


Durante os anos da ditadura militar, a Igreja Católica foi uma grande arma e voz da população para resgatar a democracia e os direitos dos cidadãos.
Sua coragem foi personalizada no cardeal dom Paulo Evaristo Arns, pessoa extraordinária e imprescindível, que com sua coragem individual, lutou e salvou várias pessoas da prisão arbitrária e da tortura.
Hoje vivemos em nova ditadura, desta vez a ditadura da corrupção, implantada pelo PT e seus braços que cala jornalistas, Poder Judiciário e o Congresso Nacional.
Esperamos que a Igreja, novamente, com sua credibilidade, mobilização e coragem precisamos de novos dom Paulo Evaristo Arns possa ajudar a população brasileira a resgatar a moralidade, a ética e a decência na vida política e econômica do país.

LEITOR ANDRÉ COUTINHO
CAMPINAS (SP)

Receita paga hoje maior lote de restituições do IR; 2,69 milhões receberão

A Receita Federal libera nesta segunda-feira o pagamento do 5º lote de restituição do Imposto de Renda 2011. A todo, o fisco irá pagar quase R$ 2,5 bilhões para 2,69 milhões de contribuintes.
De acordo com a Receita, o dinheiro é referente à declaração deste ano e à malha fina dos exercícios 2010, 2009 e 2008. Trata-se de um dos maiores lotes de pagamento da história.
Serão creditados R$ 2,448 bilhões para 2.656.556 contribuintes referentes ao exercício de 2011. O valor já considera a correção de 5,93%, pela taxa Selic, de maio a outubro de 2011.
Do lote residual de 2010, serão pagas restituições para 24.665 contribuintes (R$ 35,76 milhões). Outros 6.491 contribuintes receberão R$ 10,434 milhões do lote de 2009, e 3.031 contribuintes dividirão R$ 5,48 milhões do lote de 2008.
Para saber se teve a declaração liberada, o contribuinte deverá acessar a página da Receita na internet ou ligar para o Receitafone 146.
O dinheiro será depositado na conta informada na declaração. Quem não tiver o valor depositado deve procurar uma agência do Banco do Brasil ou ligar para a central de atendimento 4004-0001 (capitais), 0800-729-0001 (demais localidades) e 0800-729-0088 (deficientes auditivos) para agendar o crédito.
A restituição ficará disponível no banco durante um ano.
Veja os próximos lotes de pagamento da restituição:
6º - 16 de novembro
7º - 15 de dezembro

Folha de São Paulo

Som e fúria

Ler "Mein Kampf", a autobiografia intelectual de Hitler, é um dos exercícios mais penosos de qualquer existência letrada. Mas existem vantagens no ordálio: chegamos ao fim e entendemos melhor a cabeça de um oportunista e de um lunático.
Esses dois traços estão presentes nas páginas que Hitler dedica aos seus anos de agitação populista depois da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918). Sim, ele tentara a Academia de Belas Artes de Viena. Mas o fracasso em ser um artista das telas não apagou a possibilidade de ser um artista da retórica e da exploração emocional, sobretudo em Munique.
E quando sabemos que a Alemanha do pós-guerra não era propriamente um paraíso econômico e social, entendemos que Hitler era o homem certo no momento certo. Ele próprio o confessa: as massas confusas que o escutavam em reuniões clandestinas só precisavam de uma causa e de um líder. A grandeza perdida da Alemanha era a causa. Ele era o líder. Os judeus, claro, os bodes expiatórios da humilhação germânica no Tratado de Versalhes. Deu no que deu.
Passou quase um século. E a Europa está novamente nas ruas. São protestos de indignação popular que correm as capitais europeias. E os comentadores de serviço repetem todos o mesmo ponto: os protestos são difusos, sem objetivo claro, com motivações contraditórias.
Difícil negar: de Londres a Roma, de Lisboa a Atenas, o que existe é um vago sentimento anti-elitista e anti-capitalista, também onipresente na ocupação de Wall Street, a mãe de todas as batalhas.
Mas o que me preocupa na indignação corrente é precisamente a natureza difusa dos protestos. E isso é tangível na Europa, que vive hoje a mais séria crise econômica e financeira desde a Segunda Guerra Mundial. Essa crise não é mais do que princípio do fim do seu "modelo social": a ideia generosa de que o Estado pode suprir todas as necessidades básicas do cidadão, do berço até à cova.
Os portugueses já estão a sentir o fim desse modelo: o anúncio do governo de Pedro Passos Coelho de que o subsídio de férias e o subsídio de Natal irão desaparecer até 2013 (e poucos acreditam que eles voltarão depois dessa data) lançou ondas de choque e pavor entre os lusos. Que se passa, perguntaram eles, para que o mundo dos nossos avós e bisavós esteja a desaparecer?
A pergunta é imprecisa: no mundo dos avós e dos bisavós, em plena ditadura do Estado Novo (1932 - 1974), não existia o "modelo social" que os portugueses de hoje tomam por eterno. Mas a memória dos presentes é curta e impaciente. Como convencer o europeu moderno que, no século 21, há todo um estilo de vida, feito de conforto e crédito, que acabou?
Essas notícias não se recebem de cabeça fria. E o caldo de indignação e ressentimento vai aumentar de uma forma nunca vista.
A minha secreta esperança é que a história não se repita; e que o clamor descontente das massas seja apenas isso: som e fúria, sem nenhum "artista" pronto para os manipular.

João Pereira Coutinho

Personal trainer!



Blog Josias de Souza

A Apple não precisa existir

Estavam reunidos há dias, os vários gênios. Verdadeiros gênios, como o Secretário da Defesa Robert McNamara, Dick Bissell, da CIA, e o presidente John Kennedy. A questão, nos idos de 1962, era clara: ou os EUA deixavam a União Soviética instalar mísseis em Cuba portanto com distância fácil para atingir os EUA ou uma quarentena dos mares impedia a chegada de novas armas. Neste segundo caso, Kruschev apertaria o famoso botão vermelho, iniciando a terceira guerra mundial, desta vez atômica?
Centenas de teses tentaram elucidar a decisão que esta turma tomou, e que resultou do fiasco da Baia dos Porcos, desembocando na Crise dos Mísseis. Sem o apertar do botão, afinal razão pela qual você está vivo para ler este artigo.
A conclusão mais interessante é a de que meteram os pés pelas mãos por que a decisão foi por comitê. Tivesse o Kennedy decidido sozinho e o final teria sido outro. Em grupo, os pontos fora da curva são aplainados. Coletivos não fazem grandes bobagens, só fiascos médios, e também não ousam.
É como a humanidade sempre se protegeu, avançando lentamente. Tanto assim que alguns dos países mais ricos do mundo, como a Arábia Saudita, proíbem mulheres de dirigirem. Os humanos andam bem devagarinho.
A tecnologia engana, e dá a impressão de que estamos andando a passos largos. Vide o acelerador de partículas em Genebra, que agora coloca uma dúvida sobre o Einstein ter errado, e ser possível um neutrino viajar a uma velocidade maior do que a luz o que seria um divisor de águas em toda a física.
Steven Jobs não decidia em grupo. Ouvindo o zunido de um ventilador num computador a ser lançado, usou da prerrogativa monárquica o bichinho voltaria à prancheta até que se inventasse a ventilação silenciosa. Qualquer comitê teria privilegiado o cronograma de produção e a necessidade de faturamento. Também quando errou com o Apple III, Jobs estava sozinho em suas convicções.
A pergunta que não cala é: uma empresa deve sempre sobreviver ao seu fundador? Ou é aceitável que ela exista apenas como veículo para um talento particular, vindo a morrer, lenta mas inexoravelmente, em seguida?
Só para ficar neste ramo, a IBM é uma sombra do que foi abaixo de Tom Watson Sr., a HP degringolou depois que Bill Hewlett se aposentou, e a Dell é só o Michael Dell. Netscape, Lycos e Atari que foram todos líderes inovadores não existem mais. A própria Microsoft, que dez anos atrás valia dezenas de Apples, agora vale bem menos do que uma.
Jobs, espiando do lado de lá, como tantos fundadores que se foram, deseja a perenidade deste seu veículo? Ou sabe que é apenas vaidade querer ver a empresa viver um século? Zuckerberg quer ver a rede Facebook viva e atuante daqui a 45 anos? É relevante, ou mesmo possível?
Talvez o caso Jobs nos lembre que não é preciso criar uma empresa para o todo sempre. É perfeitamente legítimo que seja uma extensão do fundador, enquanto durar, à la Vinicius. Se a Apple começar a tropeçar, com seus cinco membros do Politburo aplainando os extremos, não faz diferença. A não ser para os saudosistas.
Nosso próximo aparelho "high-tech" virá da Samsung coreana, da Haier chinesa ou da XXL californiana. Os empregados trabalharão em outro lugar, com o mesmo salário e sala, os fornecedores venderão para o novo rei do pedaço, os mercados globais se curvarão às novas majestades.
O rei está morto, longa vida ao rei! Foi-se um gênio especialmente genial, não resta dúvida. Ficou uma empresa normal. Que não tem licença para existir para sempre. Em todo gênio, um louquinho que ameaça apertar o botão vermelho, em cada comitê uma história de pequenos fiascos. Nem Baia dos Porcos, nem i4Ever.

Ricardo Semler

Disparidade de armas!



Blog Josias de Souza

Candidato sem ideias não é preciso

Há muitos candidatos e quase nenhuma ideia. A menos de um ano da eleição municipal, o cordão de candidatos a prefeito cada vez aumenta mais. Ninguém apresenta inovação, ousadia, projetos estruturantes. Sem sonhos, sem perspectivas.
A discussão dos candidatos e entre eles é sobre coligações, tempos de TV, alianças, captação de vices. Faz parte, mas não pode se sobrepor, nem dar o tom.
Tudo se passa como, ao formar a chapa, a coligação se impusesse diante do eleitor, obrigando-o a uma escolha por exclusão. Um Palmeiras x Corinthians; um Corinthians x São Paulo. Sobra para sociedade optar sem aprofundamento. Tecla um número, para que o outro não ganhe.
Ninguém sequer arrisca tentar seduzir a cidade com ideias novas. Mostrar diferença. Todos na defensiva. Com a mesma roupa cinza.
Diminuir sensivelmente a fila do trânsito, que é absolutamente possível, criar centros de ideias e inovações junto às universidades, tornar São Paulo a "capital do conhecimento" com investimento maciço e ousado em educação em todos os níveis, implantar, de fato, a Logística Reversa, adensar a Barra Funda, levar emprego à Cidade Tiradentes, limpar o Tietê e Pinheiros e outros projetos estruturantes nem pensar.
São propostas "nunca dantes navegadas". Restam para serem apresentadas como factóides em reuniões do tipo "C40 - cidades sustentáveis". São temas para foto de terno azul-marinho em seminários internacionais. Pós-eleitorais.
A ordem é ganhar na retranca.
Projetos estruturantes vão além de resolver o problema específico. Se São Paulo conseguir tornar navegáveis os rios Tietê e Pinheiros, há mudança fenomenal. Ganhamos os rios, e a cidade passa a acreditar que pode vencer qualquer desafio, pois fez algo que as pessoas não acreditavam. E para fazê-lo teve que montar uma organização que será modelo para outras grandes empreitadas. Estrutura-se a hidrovia, a sustentabilidade e revoluciona-se o transporte. Isso passa batido.
A matriz de campanha é arcaica.
Há um cansaço geral dessa política " Velha República". Se fossem permitidas candidaturas independentes, fora dos partidos, acho que teríamos surpresas. Um grito nada rouco de protesto, um "contra a mesmice que aí está". Algo que se aglutinou em torno de Marina Silva na recente eleição presidencial, e que não era propriedade dela.
Era uma reação de cansaço. Um desejo de esperança.
Sobram candidatos, mas falta a sensibilidade.
Para ir além da Taprobana, é preciso mais do que a comum força humana.
Prefeito é preciso. Ter candidatos, sem ideias, não é preciso.

José Luiz Portella

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Não gosto do Dia do Professor

Não gosto do Dia do Professor, a ser comemorado no próximo sábado, por um único motivo: é um dia pouco comemorado. Deveria merecer mais, muito mais atenção, do país. Quase passa despercebido.
Não há nenhuma profissão tão importante para uma sociedade que se proponha a ser civilizada. É mais importante do que a medicina, que salva vidas, afinal quem forma o médico é o professor.
Nada deveria ser tão importante para uma nação do que saber atrair seus melhores talentos para ajudar a disseminar e produzir conhecimento. O que exige uma série de ações coordenadas e complexas. Isso significa que, no final, a pessoa tem de ter orgulho de ter essa carreira.
Não é o que ocorre. Estamos longe, muito longe, de recrutar os melhores talentos. Os salários não são atrativos. As condições de trabalho são péssimas, para não dizer vergonhosas.
Justamente por ter essa visão é que, aqui nesse espaço, faço questão de provocar polêmicas, não apenas criticando os governos, mas também, muitas vezes, quem se dispõe a defender os professores, esquecendo-se do mérito.
Há uma série de demandas corporativas que apenas se encaixam nesse ambiente de degradação. Basta lembrar quantas vezes dirigentes sindicais, sem a menor preocupação com o mérito, atacaram e atacam esforços para reduzir o absenteísmo, demitir professores sem condições de trabalhar ou exigir maior desempenho. Sem contar o explícito uso da máquina sindical para fazer política. Isso, para mim, apenas degrada a imagem do professor. Assim como os governos também usam a educação para fazer política eleitoral.
Some-se a isso que, apesar de todos os avanços, as famílias e a opinião pública pouco acompanham a educação pública. Um sinal de ignorância vemos nas pesquisas que indicam a satisfação dos pais com o ensino público.
Uma medida da nossa civilidade poderá ser medida pela atenção e reverência que se tenha no Dia do Professor.

Gilberto Dimenstein

O povo na rua

Havia de tudo um pouco na marcha contra a corrupção aqui em Brasília: gente vestida de presidiário, tipo Irmãos Metralha, gente com máscara de porco, que chafurda na lama, gente fantasiada de pirata, por causa dos desvios para paraísos fiscais. Não faltaram vassouras e, claro, uma vistosa pizza. Foi uma festa alegre, mas foi uma manifestação séria, se é que você me entende.
Em vez de palavras de ordem genéricas contra a corrupção, os organizadores focaram temas específicos: a constitucionalidade da lei da Ficha Limpa, em votação no Supremo, a garantia das prerrogativas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para investigar juízes, idem, fim do voto secreto de deputados e senadores, em análise no Congresso, e combate sério à evasão de divisas.
Foi uma manifestação sem partidos, sem UNE, sem sindicatos, mas com apoio da OAB e da CNBB. Aliás, o presidente desta entidade, Dom Raymundo Damasceno, deu declaração pública a favor do movimento nas comemorações de Aparecida do Norte. Tem peso, tem força.
Havia 20 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, segundo estimativas oficiais. E outras manifestações ocorreram também no Rio, em São Paulo e quase duas dezenas de cidades.
Há quem desdenhe desse tipo de articulação, basicamente liderada por setores da classe média urbana, que se vale agora das preciosas redes sociais da internet. Mas, sinceramente, eu dou o maior valor. Em vez de se indignar no sossego do seu lar, as pessoas estão indo às ruas exercer seu direito de gritar, pressionar, cobrar.
É assim que funciona a democracia. É assim que se mudam as coisas e se determina o futuro.

Eliane Cantanhêde

Dia das Crianças!



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Na Série D, time da Paraíba paga arbitragem com notas falsas

O Treze, time de Campina Grande (PB) que joga a Série D do Brasileiro, pagou a taxa de arbitragem aos três juízes que apitaram seu último jogo com notas falsas de R$ 50.
Os árbitros, dois da Fifa e um da CBF, só perceberam horas após o jogo, quando abriram envelopes de dinheiro entregues no estádio Amigão, em Campina Grande.
O Treze empatou em 3 a 3 com o Santa Cruz-PE pelas quartas de final da Série D. O jogo da volta, em Recife, está marcado para este domingo. Quem vencer está na Série C.
Sálvio Spínola, o juiz principal, e seus auxiliares Alessandro de Matos e Lorival das Flores receberam cerca de R$ 8.000 do clube mandante, uma parte em notas falsas.
Eles comunicaram a federação paraibana, que informou o clube sobre o assunto.
"Se isso aconteceu mesmo, a responsabilidade é toda nossa, e vamos ressarcir os árbitros", disse Fábio Azevedo, presidente do Treze.
Segundo o cartola, o dinheiro usado no pagamento aos juízes veio direto da bilheteria. "Nosso diretor financeiro está viajando. Quando ele voltar, vamos apurar isso. Talvez nós mesmos tenhamos recebido dinheiro falso."
Miguel Felix, que foi o assessor de arbitragem da CBF na partida, disse que os dois auxiliares prestaram queixa à polícia. Os 11.345 ingressos vendidos para o jogo renderam ao todo R$ 130.700.
Sálvio Spínola, que apitou a final da última Copa América, não respondeu ao pedido de entrevista da Folha.

ADRIANO WILKSON

Presente de grego!



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Ela voltou!



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Justiça manda grevistas dos Correios voltarem ao trabalho hoje


O TST (Tribunal Superior do Trabalho) determinou, e os funcionários dos Correios, após greve de 28 dias, retornam ao trabalho nesta quinta-feira. A multa diária por descumprimento é de R$ 50 mil para a Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares). A empresa indicou que vai levar de sete a dez dias para normalizar os serviços.

Por que greves no setor privado são menos frequentes?
Após diversas tentativas frustradas de acordo, o dissídio de greve foi julgado na terça-feira no plenário do TST.
A Fentect afirmou que orientou os funcionários a retomarem as suas atividades.
No ponto mais polêmico do julgamento, os ministros do TST determinaram o desconto no salário de 7 dos 28 dias de paralisação. Os outros 21 serão repostos pelos funcionários em trabalho extra aos sábados e domingos.
"Não é a jurisprudência do nosso tribunal [que determina o corte integral, mesmo quando a greve não é abusiva], mas pesou a circunstância de que a própria empresa concordava com os descontos de apenas alguns dias", disse o presidente do TST, ministro João Oreste Dalazen.

REPOSIÇÃO

A decisão contrariou o voto do relator do caso, Mauricio Godinho Delgado, que defendeu a reposição de todos os dias. No final, a proposta vencedora (com quatro votos) foi o corte integral no salário, mas o presidente do tribunal resolveu tornar vencedora a "proposta mediana", com o corte de sete dias.
Apesar desse corte, os ministros do TST também foram unânimes ao afirmar que a greve não é abusiva.
A decisão do TST prevê reposição na inflação de 6,87%, reajuste linear de R$ 80 a partir de outubro e um vale extra (alimentação) único de R$ 575. O resultado é muito abaixo da reivindicação inicial dos trabalhadores, que pediram reajuste de 7,16%, reposição das perdas dos últimos 16 anos de 24% e reajuste linear de R$ 400.
A greve começou em 14 de setembro. A empresa manteve a versão, durante toda a greve, que a adesão não passou de 25% dos 110 mil funcionários. Os funcionários chegaram a falar em 70%.
Praticamente não houve fechamento de agências, mas a empresa calcula que 184 milhões de cartas e encomendas tenham atrasado.
A empresa afirma que vai levar de sete a dez dias para normalizar os serviços.

RENATO MACHADO

domingo, 9 de outubro de 2011

'Inflação vai recuar em outubro', diz presidente do BC


A inflação vai cair em outubro. A garantia é do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para quem "de jeito nenhum" o IPCA, índice oficial da meta de inflação, ficará acima da taxa registrada em setembro, quando atingiu o pico do ano ao bater em 7,31% no acumulado de doze meses.
Para Tombini, que chegou a prever que o ponto mais alto da inflação em 2011 seria em agosto, nem mesmo uma piora no cenário externo muda sua previsão. "Não. Estamos acompanhando isso. Temos coletas diárias e elas estão vindo, na margem, entre 0,30% e 0,40%", contra uma taxa mensal no mês passado de 0,53% e de 0,75% em outubro do ano passado.
Em entrevista à Folha, na sede do banco em São Paulo, Tombini tratou ainda de embates que tem protagonizado, incluindo as acusações de que o BC, sob sua administração, se tornou mais imprevisível, assumiu mais riscos e está mais moderado no combate à inflação.
Essa postura lhe rendeu o apelido de "pombini" no mercado financeiro referência ao jargão que classifica de "pombo" banqueiros centrais adeptos de uma política monetária mais suave no combate à inflação.
"Se é essa a avaliação, eu estou muito bem acompanhado no mundo hoje em dia", rebate Tombini, que acredita ter sido convidado pela presidente Dilma por ter "afinidades" com ela.
Ele diz ainda que o BC não pode adotar uma política de ser imprevisível e que, no curto prazo, o país não pode ter uma meta de inflação abaixo de 4,5%.
Presidente engresso do quadro de funcionários do banco, ele espera terminar seu mandato com inflação na meta de 4,5% e um crescimento sustentável para o país, que ele calcula estar hoje entre 4,5% e 5%.
A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha na última sexta-feira, quando voltou a afirmar que o banco seguirá nos "ajustes moderados" nas taxas de juros.

Folha - O BC está aceitando mais inflação para não sacrificar crescimento. Isso não vai contra os princípios do sistema de metas?
Alexandre Tombini - O BC nunca falou que inflação maior no curto prazo seria necessária para evitar que a economia deixasse de crescer. O BC tem por princípio que o dilema inflação versus crescimento é um falso dilema. Você não cresce mais porque tem mais inflação. O que ocorreu no mundo é que a inflação subiu em todos os países. É um fenômeno disseminado. O que dissemos em março deste ano foi que prevíamos inflação no centro da meta em dezembro de 2012.

Então o mundo todo está tolerando mais inflação?
Não é questão de tolerar. A inflação subiu e sabemos muito bem que a política monetária age do lado da demanda. Tivemos no mundo inteiro um choque de oferta: as commodities (alimentos, petróleo), a primavera árabe, todas as questões da África e do oriente médio e o preço da energia subindo bastante. Com choque de oferta negativo, os BCs reagem a isso. O BC do Brasil foi um dos que mais reagiu. Não é questão de tolerar mais inflação.

O BC então fez uma adaptação do sistema de metas e passou a olhar 12 meses à frente e não o ano calendário?
O BC, dentro do regime, sem fazer qualquer ajuste, definiu como ponta de ancoragem dezembro de 2012.
Mesmo sabendo que pode estourar a meta em 2011, o BC mira 2012, isso não é uma ajuste?
O regime não mudou. Se mudasse, teríamos alterado a meta desse ano e não alteramos.

Quanto o sr. teme ter que escrever essa carta?
No relatório de inflação colocamos 45% de probabilidade disso ocorrer.

Não é um percentual elevado?
A nossa perspectiva é de redução da inflação, passando abaixo do teto da meta com 55% de probabilidade. A inflação está no pico, 7,31% ao ano, e vai cair até maio do ano que vem em dois pontos de percentagem. Já trabalhamos com inflação mais na faixa de 5% ao ano. Todo o mundo tem inflação caindo. Teremos inflação abaixo do teto [em 2011]. Se os outros 45% se materializarem, a inflação passará ligeiramente acima do teto, mas com perspectiva de redução.

Qual o custo econômico e político de ultrapassar o teto da meta em 2011?
A expectativa do mercado está em 6,52%, ligeiramente acima do teto de 6,5%. Isso já tem repercutido. O regime está preparado para essas questões. Dos países que seguem o sistema de metas de inflação, várias economias (Inglaterra, Nova Zelândia e outras) estão com inflação acima da banda ou acima da meta. Temos uma situação global e pode-se dizer que o Brasil não é um caso isolado de ter que lidar nesse momento com inflação mais elevada.

O dólar mais alto não comprometerá o cenário?
O movimento do dólar contra o real não vem desacompanhado. Mas tudo isso é muito recente, muito novo. O que sabemos é que a volatilidade é grande nesse período. Há turbulência no cenário internacional. E sabemos também que a economia global vai crescer pouco por um período prolongado em função da naturaza do problema, que é de confiança e tem a ver com o peso da dívida pública que tem que ser dissipado.

Ao reduzir os juros em sua última reunião, o BC ousou, fez uma aposta?
O BC não faz aposta. Quem faz aposta são os agentes de mercado. O BC tem um plano de voo. Desde o início do ano, nosso plano de voo, junto com outras políticas, era moderar o crescimento da economia brasileira. Há sinais cada vez mais nítidos de que essa moderação veio. Mas dissemos também que a política monetária atua com defasagem e que, no segundo semestre, a ação dessas políticas seria mais fortemente sentida. Isso vem ocorrendo. Nossa projeção era de crescimento de 4% [para 2011] até o relatório da semana passada. Em função da revisão dramática que houve no crescimento dos EUA, na zona do euro, no mês de agosto revisamos esse crescimento da economia brasileira para 3,5%.
O sr. chegou a prever o pico da inflação inicialmente para agosto, agora passou para setembro, com o IPCA atingindo 0,53%. Não teme que isso seja transferido para outubro?
De jeito nenhum. A inflação de outubro do ano passado foi de 0,75%. O Focus [estimativas do mercado] está com previsão de 0,48% [para outubro deste ano].

Então, a partir de agora a inflação começará a cair. Não há nenhum advento externo que possa mudar isso?
Não. Estamos acompanhando isso. Temos coletas diárias e elas estão vindo, na margem, entre 0,30% e 0,40% de inflação. Nossa perspectiva será um pouco mais alta do que isso, mas comparado com 0,75% de outubro do ano passado, são quase 0,30 ponto de baixa. Nosso horizonte é dezembro de 2012, mas em outubro a inflação em doze meses vai começar a recuar em 0,30 ponto, um pouco mais ou um pouco menos.

O BC reduziu para 3,5% a previsão de crescimento para 2011. O ministro Guido Mantega (Fazenda) e a presidente Dilma continuam trabalhando com 4%. Quem está mais otimista ou pessimista? Porque essa diferença?
O BC tem as suas premissas. Nossas previsões de crescimento são mais imprecisas do que as demais projeções, mas são as melhroes que temos internamente e divulgamos. O BC trabalha com autonomia nas suas avaliações, análises, nas suas decisões.

O sr. voltou a falar dos ajustes moderados na taxa de juros. Ajuste de 0,5 ponto percentual é moderado?
Não vou falar em níveis, mas comunicamos na decisão de agosto, quando reduzimos a taxa básica de 12,5% para 12% ao ano, que ajustes moderados seriam consistentes com a convergência da inflação para a meta de 2012. Essa visão de agosto, que foi o que levou o Copom a fazer o ajuste na política, continua válida.
O BC está com problema de comunicação com o mercado ou há má vontade com sua gestão?
Comunicação sempre pode melhorar. Acho que o BC tem um nível de comunicação bastante forte. Agora, é um processo que pode sempre melhorar.

A reclamação do mercado é que o BC de Tombini é mais imprevisível do que os anteriores. Como o sr avalia isso?
O BC não pode adotar uma política de ser imprevisível. A previsibilidade tem ganhos. Naturalmente, quando há muita volatilidade, muita incerteza, é natural que ocorram diferenças. Não é anormal que ocorra isso. Temos que botar nessa nessa conta o peso da maior volatilidade. Várias coisas mudaram. Hoje temos bancos centrais com inflação de 2,5% a 3% e taxa de juros de 1,5%, que estão usando instrumentos não convencionais para tentar restabelecer a normalidade dos mercados.

Quando o sr. acha que chegaremos a um juro de 9% ao ano como chegaram a prever ministros?
Temos meta de inflação, não de juros.

Declarações da presidente Dilma e do ministro Guido Mantega na véspera da decisão do Copom de cortar os juros criaram a impressão de interferência política. Até que ponto essas declarações prejudicam o trabalho do Banco Central?
O importante em relação ao tema é que o Banco Central trabalha com autonomia. Desde quando fui convidado pela presidente Dilma, em novembro do ano passado para assumir o BC, sempre trabalhei com essa premissa.

Como é sua relação com a presidente Dilma?
O presidente do Banco Central é ministro de Estado. Portanto e, principalmente em momentos de grande volatilidade internacional, temos que dialogar sobre economia global, economia brasileira. É normal que a presidente converse com seu presidente do Banco Central, seu ministro da Fazenda, para construir seus cenários. Naturalmente não são as únicas fontes de informação da presidenta da República, mas quero crer, sim, que a informação do presidente do Banco Central é importante para a presidenta da República formar sua opinião.

Com que periodicidade o sr. fala com ela?
Não tem isso de periodicidade, falamos por telefone, principalmente nesses momentos de grande volatilidade do cenário econômico. Conversamos bem.

Em algum momento o sr. se sentiu pressionado nessas reuniões com a presidente Dilma para reduzir juros e aumentar crescimento?
Não, absolutamente não. Há certa pressão em relação a qual é a visão do Banco Central em relação ao que está acontecendo. Uma cobrança de como o Banco Central está vendo o cenário internacional, brasileiro, cobrança natural no sentido de melhor entender esses cenários que se movem com certa velocidade.

A presidente costuma dizer que gostaria de o BC não repetir erros do passado, como na crise de 2008, quando acredita que o banco deveria ter reduzido os juros. Ela conversa com o sr. sobre isso?
Nós conversamos sobre cenários de economia, de mudanças, de dados, de tendências. Não conversamos sobre decisões passadas nem futuras, mas sobre o que está ocorrendo.

O pensamento do sr. não é parecido com o dela, porque naquela época, quando era diretor do BC, o sr. chegou a defender um corte de juros que acabou não acontecendo?
Bem, se ela me convidou para ser presidente do Banco Central é porque deve haver alguma afinidade.

Como o sr. avalia a questão fiscal?
É uma variável exógena, que o Banco Central não controla. Nossa hipótese de trabalho, explicitada no relatório de inflação, é de um resultado fiscal de 3,15% do PIB neste ano e de cumprimento da meta cheia ao longo dos próximos anos, em torno de 3,10% do PIB.

O sr. não teme a questão fiscal no próximo ano por conta de pressões por gastos, como salário mínimo?
O Banco Central, de novo, trabalha com a hipótese de cumprimento da meta cheia do primário. Como isso vai ser alcançado, é decisão de governo.

Temos uma meta de inflação de 4,5%, uma das mais altas do mundo, quando o Brasil vai estar preparado para reduzi-la?
Nós vamos ter de avaliar o cenário global dos próximos anos para responder com precisão a essa sua pergunta. O cenário global mudou bastante, estamos entrando numa nova fase da crise. O que vai resultar lá na frente temos de avaliar ao longo do período.
No curto prazo não dá para reduzir essa meta.
Não, no curto prazo não.

O mercado faz definições sobre o comportamento dos banqueiros centrais. No seu caso, o sr. é avaliado como um economista com uma postura mais de pombo, adepto de uma política monetária mais suave, do que de falcão, mais conservador e ortodoxo. O que acha disso?
Se é essa a avaliação, estou muito bem acompanhado no mundo hoje em dia.

Por quê?
Porque no Brasil infelizmente ainda temos a taxa de juros mais elevada entre todos os países. Onde está a taxa de juros do Banco Central Europeu? Em 1,5%. Do Federal Reserve? Entre 0% e 0,25%. No Brasil, nós temos taxa de juros de quase 12%, a inflação acumulada em doze meses é de 7,3%, perspectiva nos próximos 15 meses de 5,5% pelo próprio mercado, uma taxa [real] positiva. Enfim, se eu sou classificado assim, eu estou muito bem acompanhado pelos meus pares.

Qual o Brasil o sr. espera deixar quando terminar seu mandato?
Um cenário de inflação estabilizada, na faixa que temos hoje, de 4,5%, que é a meta do Banco Central.

Não tem a ambição de ser menos do que 4,5% quando deixar o governo?
Estou falando nesse horizonte que estou atuando.

Mas no plano do desejo, do imaginário do sr., não técnico?
Inflação na meta, girando em torno da meta, uma economia crescendo de forma sustentável, um sistema financeiro robusto, bem capitalizado.

De quanto seria esse crescimento sustentável no final do seu mandato?
No plano ideal, você tem de elevar a poupança doméstica para permitir crescimento potencial maior da economia, não inflacionária.

Hoje nosso crescimento potencial está em 4,5%?
4,5%, talvez um pouco acima disso.

Quanto?
Entre 4,5% e 5%.

Dá para chegar ao final do seu mandato crescendo na casa de 5%?
De novo vai depender de como a economia vai se desenvolver.

VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM