quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Comandante da Policia Militar do Rio pede demissão do cargo

O coronel Mário Sérgio Duarte pediu, no inicio da noite desta quarta-feira (28), para deixar o cargo de comandante da Policia Militar do Rio. O pedido enviado ao secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, foi aceito.
Duarte estava no cargo havia pouco mais de dois anos. A decisão do comandante da PM em deixar o cargo aconteceu após a prisão do tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira, suspeito de ser o mandante da morte da juíza Patricia Acioli, em agosto.
O tenente-coronel era homem de confiança de Mário Sérgio Duarte, que foi o responsável direto por sua nomeação para o comando do 22º Batalhão, na Maré. Ambos foram do Bope (Batalhão de Operações Especiais), a tropa de elite da PM do Rio.
Suspeito de ser o mandante do assassinato da juíza Patrícia Acioli, em 11 de agosto deste ano, o tenente-coronel Oliveira está preso preventivamente, mas diz ser inocente. Na época, a magistrada investigava crimes cometidos por policiais do 7º Batalhão, em São Gonçalo, quando Oliveira comandava a unidade.
Na carta enviada ao secretário, o coronel alegou problemas de saúde como motivo para deixar o cargo. Na segunda-feira (26), ele foi submetido a uma cirurgia na próstata, de acordo com a sua assessoria.
Em nota, o secretário Beltrame "lamentou a saída e esclareceu que tem por política conceder autonomia às chefias das polícias para que, em nome da eficiência, possam buscar as melhores medidas administrativas e técnicas para ajudar na implementação da política de segurança".
O nome do novo comandante será anunciado nas próximas horas. Beltrame está reunido com a cúpula da Segurança Publica do Rio para definir o substituto de Mário Sérgio Duarte. Assim que tiver o novo nome, deverá comunicar a escolha ao governador Sérgio Cabral (PMDB).
Estão cotados para assumir o cargo os coronéis Aristeu Leonardo, atualmente na coordenação da região da zona oeste do Rio; Carlos Malheiros, atual subcomandante da PM; e Pinheiro Neto, ex-comandante do Bope e atual assessor do comandante-geral. Pinheiro Neto se formou na mesma turma na PM do tenente-coronel Cláudio Oliveira.

VEJA A ÍNTEGRA DA CARTA DE DEMISSÃO:

Exmo. Sr. Secretário de Estado de Segurança José Mariano Benincá Beltrame

Dirijo-me à V. Exa. para solicitar exoneração do cargo de Comandante-Geral da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

O motivo de fazê-lo se fundamenta na necessidade de não deixar nenhum espaço para dúvidas quanto a minha responsabilidade no processo de escolha dos Comandantes, Chefes e Diretores da Corporação,preservando, de quaisquer acusações injustas, as pessoas que me confiaram a nobre missão que assumi comprometido com a honra, e agora deixo, norteando tal decisão neste mesmo imperativo de valor.
Sobre o caso particular que me impõe esta decisão, o indiciamento do Tenente Coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira no homicídio da Juíza Patrícia Acioli, e sua conseqüente prisão temporária, devo esclarecerà população do Estado do Rio de Janeiro que a escolha do seu nome, como o de cada um que comanda Unidades da PM, não pode ser atribuída a nenhuma pessoa a não ser a mim.
O Rio de Janeiro, senhor Secretário, está em franco processo de recuperação de sua imagem como lugar de tranquilidade pública e paz social não por acaso, mas, seguramente pela aplicação de um conjunto de ações norteadas pela clareza das idéias.
O Estado, sua população, cada pessoa que por aqui transita em busca de paz e bem, devem continuar confiando nesta Política Pública que privilegia a vida, descontrói o ódio e reacende esperanças.
Ao tempo que vos agradeço pela confiança depositada e o apoio nos momentos mais difíceis, solicito-vos que encaminhe este pedido ao Exmo. Sr. Governador, a quem também explicito meus eternos agradecimentos pela oportunidade e a honra que me concedeu ao nomear-me Comandante de minha amada Instituição. Deixo de fazê-lo pessoalmente por me encontrar hospitalizado, convalescendo de uma cirurgia.

Coronel Mário Sérgio Duarte

MARCO ANTONIO MARTINS

Ministros do STF buscam acordo para limitar ação do CNJ

Os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) querem impor limites ao poder que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) tem atualmente para investigar juízes acusados de cometer crimes, mas buscam uma maneira de fazer isso sem esvaziar completamente as funções do órgão.
Os ministros decidiram ontem adiar o julgamento de uma ação da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) que tenta derrubar a resolução do conselho que estabelece regras para investigar e punir magistrados sob suspeita. A AMB considera a atuação do CNJ inconstitucional, por ferir a independência do Poder Judiciário.
Em conversas reservadas, integrantes do tribunal concluíram nos últimos dias que é possível encontrar uma solução consensual, que tenha o apoio da maioria dos ministros e assim evite a repercussão negativa que uma decisão radicalmente contrária à atuação do conselho teria.
A ideia é definir parâmetros para indicar em que circunstâncias e de que maneira o CNJ poderia entrar em ação. O voto em que o STF definiria essas questões já tem um esqueleto pronto, mas falta acertar os detalhes.
Uma das propostas prevê que o conselho, ao receber denúncia de irregularidades cometidas por um magistrado, estabeleça um prazo de alguns dias para que a corregedoria do tribunal estadual em que ele atue abra processo contra ele. Se isso não acontecer, o CNJ poderia então investigar o caso.
Nos casos em que o tribunal abrir investigação sobre o magistrado sob suspeita, o conselho poderia também estabelecer prazos para que ela produza resultados. Quando isso não ocorrer, o CNJ assumiria o controle do processo e passaria a investigar a própria corregedoria estadual.
Essas ideias começaram a ser discutidas no início da semana passada. O ministro Luiz Fux é quem está mais perto do voto considerado ideal pelos colegas. Ele só deverá ser levado ao plenário do Supremo quando a maioria dos ministros concordar com os critérios estabelecidos.

TEATRO

Mas nem todos concordam em chegar a um acordo. O ministro Marco Aurélio Mello, historicamente avesso a esse tipo de negociação a portas fechadas, é contra a ideia. "Não cabe acerto prévio", afirmou. "Nós compomos um tribunal, não um teatro".
Relator da ação proposta pela AMB, ele deverá proferir o voto mais duro contrário à atuação do conselho quando o julgamento for retomado.
Criado em 2005 para exercer o controle externo do Poder Judiciário, o CNJ puniu até hoje 49 magistrados, entre eles um ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Paulo Medina.
Atualmente, o conselho pode abrir procedimentos disciplinares mesmo nos casos em que o tribunal estadual já investiga o magistrado sob suspeita.

FELIPE SELIGMAN

Governo pede suspensão de comercial de lingerie com Gisele Bündchen

A Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal pediu ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) a suspensão do campanha publicitária "Hope ensina", que traz a modelo Gisele Bündchen mostrando a "melhor maneira" de contar más notícias ao marido.
Primeiro, Gisele aparece usando roupas normais para falar, por exemplo, que bateu o carro. A estratégia é classificada como "errada" e em seguida a forma "correta" é mostrada: a modelo repete a notícia, usando apenas lingerie. "Você é brasileira, use seu charme", conclui a peça publicitária, que está no ar desde o último dia 20.
A secretaria afirmou que recebeu, por meio da ouvidoria, diversas manifestações de indignação contra a peça. Foram enviados dois ofícios um ao Conar, pedindo a suspensão da propaganda, e outro ao diretor da Hope Lingerie, Sylvio Korytowski, manifestando repúdio à campanha.
Para a secretaria, "a propaganda promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grande avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas".
A Secretaria de Políticas para Mulheres também diz acreditar que o comercial reforça a discriminação contra a mulher, o que infringe a Constituição Federal.

OUTRO LADO

Em resposta encaminhada à secretaria, a Hope informa que o objetivo da campanha é "mostrar, de forma bem-humorada, que a sensualidade natural da mulher brasileira, reconhecida mundialmente, pode ser uma arma eficaz no momento de dar uma má notícia".
A empresa nega que tenha tido intenção de parecer "sexista". "Bater o carro, extrapolar nas compras ou ter que receber uma nova pessoa em sua casa por tempo indeterminado são fatos desagradáveis que podem acontecer na vida de qualquer casal, seja o agente da ação homem ou mulher."
A nota da empresa diz ainda que a escolha de Gisele, brasileira bem sucedida internacionalmente, foi "exatamente para evitar que fôssemos analisados sob o viés da subserviência ou dependência financeira da mulher".
A assessoria da empresa diz que a campanha será mantida no ar e que a Hope está em contato com o governo para esclarecer as polêmicas levantadas.

NÁDIA GUERLENDA
JOHANNA NUBLAT

'Salvatti', se puderes!



Blog Josias de Souza

Barraco no Supremo

O supremo Tribunal Federal é aquela Corte solene, onde senhores e agora senhoras vetustos e vetustas, metidos em longas togas negras, fazem discursos intermináveis que poucos ouvem e quase ninguém entende. Mas é nesse cenário e com esses personagens que se fazem a democracia e a defesa da lei e da cidadania. Pelo menos em tese.
Pois não é que está o maior barraco no Supremo? Começou com a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), que, por corporativismo, entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade tentando limitar os poderes e a abrangência do Conselho Nacional de Justiça, órgão que fiscaliza o Judiciário e, portanto, os juízes.
O pau quebrou, e os ministros se dividiram. Uns contra, outros a favor de deixar o CNJ quase como mero ratificador das investigações e decisões das corregedorias regionais, onde os juízes estão, claro, mais 'protegidos' por colegas e amigos.
Ao criticar o corporativismo e defender a CNJ, a corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon, bateu firme, dizendo que há 'bandidos' que se escondem atrás da toga. Ou seja, que há juízes bandidos.

O mundo caiu!

Extraordinariamente, o presidente do Supremo, César Peluso, abriu a sessão da Corte na terça-feira com uma nota de 12 dos 15 conselheiros do CNJ condenando as declarações 'levianas' de Eliana Calmon, que teria colocado sob suspeição todos os juízes do país e o próprio Judiciário.

É barraco ou não?

E teve aquele detalhe pessoal na reação indignada de Peluso. Na entrevista bombástica à Associação Paulista de Jornais, Eliana Calmon citou especificamente o Tribunal Regional de São Paulo: segundo ela, o órgão só vai se deixar investigar 'quando o Sargento Garcia prender o Zorro'.
Ih! Qual a origem do ministro Peluso? O Tribunal Regional de São Paulo.

Eliane Cantanhêde

Dilmetaleira!



Blog Josias de Souza

Novo desenvolvimentismo sai do armário

Não houve manifesto, livro, artigo estruturante. Nem twitter teve. Mas parece, porque não há confirmação oficial, proclamado o novo desenvolvimentismo.
A sombra que espreitou Brasília nos Anos Lula agora parece, não está confirmado oficialmente, dominar, inconteste, o Planalto e por tabela a Esplanada.
A proclamação mais enfática do novo modelo veio logo de um emérito ex-tucano, o professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, que em sua coluna na Folha de papel na última segunda-feira, identificou a troca na direção macroeconômica nos seguintes termos: "Enquanto o tripé ortodoxo é 'taxa de juros elevada, taxa de câmbio sobreapreciada e Estado mínimo', o tripé novo-desenvolvimentista é 'taxa de juros baixa, taxa de câmbio de equilíbrio, que torna competitivas as empresas industriais que usam tecnologia moderna, e papel estratégico para o Estado'.
A argumentação é contestável, para dizer o mínimo: Estado mínimo com uma carga tributária que come 35% de toda a riqueza produzida pelo Brasil?
O Brasil de fato nunca foi ortodoxo. Consolidou-se nos últimos anos, do Plano Real para cá, um compromisso nacional e multipartidário com algum rigor econômico que garantiu estabilidade e previsibilidade, seminais para toda a emergência socioeconômica em curso no país.
Foram 17 anos nessa toada, longe de ortodoxa, mas perto do previsível. Essa previsibilidade conservadora, consolidada nos Anos Lula e tachada de "neoliberal" e "ortodoxa" sem nunca tê-lo sido, é abandonada agora pelo que parece ser o primeiro filho de fato importante dos nove meses iniciais do governo Dilma: a mudança na política econômica.
Nada foi declarado oficialmente. Mas a forma como o Banco Central cortou os juros e o anunciado aumento de imposto para importação de carros são os últimos exemplos, enfáticos, da mudança de rumo econômico que já seria possível constatar apenas registrando quem são os assessores mais próximos da presidenta hoje na área econômica.
Bresser em seu artigo argumenta que o novo desenvolvimentismo é pragmático e não se guia por premissas ideológicas. Tomara, porque a premissa ideológica hoje parece ser a do antimercadismo.
Como não há nada formulado, estruturado, anunciado, esclarecido, ficamos a conjecturar, como Bresser, o que seria a nova política econômica.
O que sabemos é que ela opera sob uma imensa facilidade às nossas custas: a explosão da arrecadação de tributos no país após o crescimento econômico e processos sustentáveis de formalização e bancarização da economia.
Em algum momento o Brasil iria relaxar seu conservadorismo econômico. Começou a fazê-lo em meio ao tumulto na economia global que está sendo justamente usado para justificar as mudanças.
"O desafio colocado pela crise", como expressou a própria Dilma em seu discurso na ONU, "é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo".
Talvez fosse melhor abandonar a segurança do conservadorismo econômico, que tanto fez pelo país, em momento mais tranquilo da economia mundial.
Mas os formuladores e formuladoras da nova política econômica não quiseram esperar para tirar seu novo instrumental macroeconômico da gaveta. Estavam ansiosos em mostrar que as coisas mudaram.
O "novo desenvolvimentismo", na falta de um nome ou explicação melhor, saiu do armário.

Sérgio Malbergier

Memórias da última noite de paz

Um dia de 1994, estava em Jerusalém, depois de cobrir a eleição de Iasser Arafat como presidente da Autoridade Palestina.
Recebo um telefonema surpreendente: o rabino Henry Sobel, então figura-chave na Congregação Israelita Paulista, me convida para acompanhá-lo até a Faixa de Gaza, onde teria uma audiência com o "rais" (como os árabes designam seus líderes).
Topei na hora, claro. Arafat era, salvo erro de memória, o primeiro dirigente árabe eleito em pleito "fair and free" (justo e livre, o rótulo com que a comunidade internacional beatifica processos eleitorais). Entrevistá-lo justo naquele momento era o sonho de qualquer jornalista.
Fomos a Gaza, o rabino, eu e mais três jornalistas, dois judeus (um sul-africano, o outro de Nova York) e um português (do semanário "Expresso", a melhor publicação portuguesa).
Na passagem fronteiriça de Erez, os soldadinhos israelenses (pouco mais que meninos bem armados) recomendaram ao rabino que tirasse o quipá quando passasse para o outro lado. Os acompanhantes palestinos, ao contrário, disseram que não haveria nenhum problema se Sobel mantivesse o quipá, por mais que se trate de um indicativo explícito de que seu portador é judeu.
Arafat nos recebeu cordialmente. Comigo, então, foi de uma malandragem típica dos políticos que querem fazer um afago no interlocutor. Depois do beijo no rosto com que os árabes se saúdam, me disse: "Você é muito conhecido por aqui".
Resisti à tentação de perguntar se poderia encontrar a edição em árabe da Folha nas bancas de Gaza (única maneira de ser conhecido lá, certo?). Achei que ele não entenderia a ironia. Na verdade, eu era conhecido apenas por Ahmed Sobeh, que havia sido delegado no Brasil da OLP (Organização para a Libertação da Palestina).
Deve ter sido consultado pela segurança do líder quando chegou a lista dos convidados de Sobel e certamente me recomendou. Afinal, faço um descomunal esforço para tentar entender as duas partes desse interminável conflito e relatar com toda a honestidade o que vejo e sinto.
Terminada a entrevista, Sobel perguntou se Arafat topava participar da leitura de um salmo. Aceitou.
O rabino, então, leu em hebraico o salmo 37, dedicado às pessoas queridas que morrem, em homenagem a Yitzhak Rabin, o premiê israelense assassinado por judeus radicais e a quem Arafat se referia, sempre, como "parceiro" [para a paz].
O "rais" acompanhou a leitura, em inglês. "Amém", dissemos todos ao final, Arafat inclusive.
O líder palestino pediu para guardar o texto que diz: "Não se desencoraje com os que fazem o mal/ Porque eles vão desaparecer/ Confie no Senhor/ E Ele fará sua correção brilhar luminosamente como o sol do meio-dia./ Os maldosos perecerão/ Mas aqueles que servem o Senhor herdarão a Terra/ E se deliciarão na abundância de paz."
Pena que o salmo tenha sido tão pouco profético. Acho até que aquela noite em Gaza foi o último momento em que houve paz entre um judeu de quipá e um palestino de "kafiah", o turbante dos árabes em xadrez preto-e-branco.
A cena de 17 anos atrás me voltou agora à memória ao perceber a impossibilidade de que se repita algo parecido nos próximos muitos meses, anos talvez. Pena.

Clóvis Rossi

Alckmin vai jogar crianças na rua?

A resposta a essa pergunta é: há um grande risco.
Como noticia a Folha, o governador Alckmin quer aumentar o risco do aluno que não aprende repetir o ano, fazendo mais uma prova na sétima série. Mas não é mesmo o que tem que ser? O aluno não aprende, não passa.
Isso para mim é ignorância, da qual a maior vítima é o aluno.
Uma ignorância repetida demagogicamente nas campanhas eleitorais, defendida pelo PT e, agora, aceita pelo PSDB, para agradar pais e professores. Significa que estão mais de olho nas urnas do que nos alunos.
A maior parte do problema de aprendizagem não é do aluno. Ele é vítima de classes superlotadas, currículo desinteressante, professores desmotivados e despreparados. Na maioria das vezes, o aluno vem de famílias desestruturadas e com baixo repertório cultural. Não recebe assistência médica ou psicológica.
Para piorar, são poucos os sistemas de recuperação para quem não consegue aprender. É algo que deveria ser feito todos os dias para evitar uma bola de neve.
A classe fica, portanto, um inferno; os professores têm razão de reclamar, afinal muitos alunos não conseguem acompanhar as aulas. Nem sabem ler direito.
Mas o caminho mais fácil vira punir a vítima, com aplausos dos pais e professores, em meio a alguns educadores ignorantes e atrasados.
O resultado é visto em pesquisas: repetência afeta ainda mais a autoestima e aumenta a evasão escolar, colocando crianças e adolescente mais próximos da rua. É um problema a menos em sala de aula. Um problema a mais para a sociedade.

Gilberto Dimenstein

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Correios e trabalhadores não chegam a acordo; greve continua


A reunião para tentar encerrar a greve nos Correios terminou sem acordo na tarde desta terça-feira. O movimento completa duas semanas. Representantes dos funcionários grevistas e diretores da empresa vão realizar uma nova rodada de negociações na quarta-feira.
Esse foi o primeiro encontro entre as partes desde o início da paralisação. Na ocasião, o presidente da empresa, Wagner Pinheiro de Oliveira, informou que retiraria a proposta e só aceitaria voltar a negociar após o fim da paralisação.
A reunião começou por volta de meio-dia e durou pelo menos seis horas. A empresa havia informado que levaria para iniciar as discussões sua proposta inicial: reposição da inflação de 6,87%, reajuste linear de R$ 50 e um abono de R$ 800 (que não seria incorporado ao salário).
"A partir da proposta realizada pela empresa, diversos exercício financeiros foram realizados", informou a empresa em nota.
Os trabalhadores afirmam que parte do impasse esteve ligado ao corto do ponto dos funcionários grevistas, que a empresa não teria aceitado voltar atrás. "E também não registraram as propostas em ata, então por enquanto não tem nada de concreto", disse José Rivaldo da Silva, secretário-geral da Fentect, federação que reúne os 35 sindicatos da categoria.

ATRASOS

O presidente dos Correios, Wagner Pinheiro de Oliveira, afirmou na última segunda-feira (26) que serão necessários três dias de trabalho para colocar em dia as entregas atrasadas pela greve dos funcionários.
A estimativa é que 95 milhões de objetos estejam com a entrega atrasada o que corresponde a 35% do total acumulado. No último fim de semana foi realizado um mutirão para tentar amenizar os impactos do movimento.

LIMINAR

O sindicato que representa a categoria na Paraíba obteve uma liminar na qual os Correios está proibido de cortar o ponto dos funcionários - o que já acontece na folha de pagamento deste mês. A empresa teria de fazer uma nova folha de pagamento, sob multa de R$ 300 mil.
A categoria promete hoje entrar com ações parecidas em todo o país. "Nós vamos recorrer dessa liminar na Paraíba", disse o presidente da empresa. Ele também afirma que em outros locais, como no Rio Grande do Sul, a liminar foi negada.

RENATO MACHADO

Greve dos bancários fecha 21% das agências em todo o país

A greve dos bancários provocou o fechamento de 4.191 agências em 25 Estados e o Distrito Federal, segundo a Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro), entidade que coordena o Comando Nacional dos Bancários. O número representa 21% das agências que existem em todo o país (20.073).
Apenas os trabalhadores de Roraima não aderiram ao movimento. Uma assembleia, no entanto, está marcada para a noite desta terça-feira, e os bancários daquele Estado podem parar a partir de amanhã.
De acordo com o presidente da Contraf, Carlos Cordeiro, houve maior adesão de trabalhadores no primeiro dia da greve, em relação à paralisação do ano passado. Em 2010, os bancários pararam por 15 dias.
"A greve começou mais forte que a do ano passado, uma das maiores que fizemos nos últimos 20 anos, quando fechamos 3.864 unidades no primeiro dia de paralisação", afirmou o sindicalista, que espera que a adesão de trabalhadores cresça ainda mais a partir de amanhã.
Na Grande São Paulo, 16% dos empregados no ramo bancário cruzaram os braços, de acordo com o sindicato dos bancários de São Paulo, Osasco e região.
A estimativa é que 21.100 trabalhadores tenham parado. Com isso, 687 pontos bancários, dos 2.400 centros administrativos e agências, ficaram fechados hoje.
As ações de protesto do sindicato foram concentradas na região central de São Paulo, onde diversas agências não estão funcionando, ou operam com número bastante reduzido de funcionários. Muitos bancos também estão fechados na zona norte da cidade.
Caixas de auto atendimento, operações por telefone e internet, e correspondentes bancários, como casas lotéricas, seguem funcionando normalmente.
Os bancários rejeitaram proposta de reajuste de 8% sobre pisos, salários e participações nos lucros feita pela Fenaban (Federação Nacional dos Bancos). Os trabalhadores pedem 12,8%.
Não há previsão de uma nova rodada de negociação entre banqueiros e trabalhadores. A greve dos bancários é por tempo indeterminado.

BANCOS

Segundo a Fenaban, a greve é "infundada", e foi definida em meio às negociações, sem que houvesse uma situação de impasse.
"Nós não interrompemos as negociações e seguimos afirmando que as conversas precisam continuar", diz o diretor de relações do trabalho da Fenaban, Magnus Apostólico.

Folha de São Paulo

Presidência Rock and Roll!



Blog Josias de Souza

Senado confirma escolha de Ana Arraes para o TCU

O Senado confirmou nesta terça-feira a escolha da deputada federal Ana Arraes (PSB-PE), 64, para uma vaga no Tribunal de Contas da União. Ela recebeu 48 votos favoráveis, 17 contrários e uma abstenção.
O principal cabo eleitoral da deputada foi seu próprio filho, o governador Eduardo Campos (PSB-PE). Na semana passada, para garantir a aprovação dela pela Câmara, ele articulou apoio com governistas e oposicionistas e chegou a despachar em Brasília para acompanhar as negociações. O PMDB, que tinha lançado candidato para a vaga, orientou voto nela no Senado.
Reportagem "[publicada]": hoje pela Folha mostra que a deputada e o governador já pagaram cerca de R$ 300 mil em verbas públicas a uma locadora de automóveis de uma filiada ao PSB. A sócia majoritária da empresa, Renata Ferreira, é filiada ao PSB, legenda presidida pelo governador. Ela também tem emprego, como terceirizada, no Ministério de Ciência e Tecnologia e seu pai trabalha no gabinete de Ana Arraes desde 2007.
Filha do governador Miguel Arraes (1916-2005) e deputada sem expressão, Ana Arraes será a primeira mulher a ocupar uma vaga no tribunal.
A votação no Senado, que geralmente é apenas para homologar a vaga da Câmara --uma vez que a indicação desta cadeira cabe aos deputados-- ficou agitada após o discurso do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).
Adversário político de Campos, o peemedebista disse que subia à tribuna constrangido para ter que falar da "mãe de um governador", mas que fazia por considerar a eleição "um absurdo, uma prática não republicana".
"É um exemplo do vale-tudo na política. Se o que ocorreu na Câmara nas últimas semanas não é nepotismo, não é abuso do poder político e uso da máquina, eu não sei mais o que é".
A fala provocou uma série de discursos de senadores aliados em defesa da indicação de Ana Arraes, boa parte lembrando o currículo que inclui dois mandatos de deputada federal. O líder do PT, Humberto Costa (PE), negou a tese do nepotismo.
"A deputada não é simplesmente a mãe de um governador ou filha de um ex-governador. É uma pessoa que tem militância política séria, que tem comportamento e postura ética inquestionável ao longo de sua vida".
Líder do PSB, Antonio Carlos Valadares (SE), disse que a escolha foi legítima e que ela tem todas as credenciais para ocupar o cargo.
Na Câmara, a deputada conquistou 222 votos, 73 a mais do que o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), que está no sexto mandato e já presidiu a Câmara.
Ana Arraes terá seis anos de mandato no TCU, pois precisará se aposentar aos 70. Ganhará R$ 25,4 mil.

MÁRCIO FALCÃO

PM acusado de mandar matar juíza no Rio diz ser inocente

Apontado como o mandante do assassinato da juíza Patrícia Acioli, o tenente-coronel da PM Cláudio Luiz de Oliveira chegou à Delegacia de Homicídios na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, por volta das 16h para prestar depoimento. Questionado sobre o seu envolvimento no crime, Oliveira negou todas as acusações.
Oliveira está preso desde a madrugada. Na época do assassinato, ela era comandante do 7º Batalhão, em São Gonçalo, cidade onde a juíza atuava.
"Eu acredito na Justiça. Sou inocente e tenho certeza que isso vai ficar provado", afirmou o policial, que também disse desconhecer o depoimento do policial militar que teria o denunciado. "Não tenho conhecimento do depoimento de ninguém."
Nesta terça-feira, a Corregedoria da Polícia Militar do Rio informou que o outro suspeito de participar do assassinato, o policial militar Júnior César de Medeiros, ainda está sendo procurado. A prisão temporária dele já foi decretada pela Justiça.
Além de Medeiros e Oliveira, outros cinco policiais que já estavam presos por outros crimes também tiveram a prisão decretada.

O CASO

A juíza Patrícia Acioli foi assassinada com 21 tiros e, segundo a polícia, o crime foi planejado um mês antes. Poucas horas antes de ser assassinada, no dia 11 de agosto, a juíza havia decretado a prisão dos três PMs, que eram acusados pela morte do jovem Diego Beliene, 18, durante uma operação policial.
Para a polícia, os PMs tramaram a morte da juíza para tentar evitar a prisão, mas não sabiam que o decreto já havia sido expedido. Três PMs foram presos no dia seguinte ao assassinato da juíza, mas a investigação revelou a participação deles nos assassinatos do jovem e da juíza apenas um mês depois.

PAULA BIANCHI

Professora baleada por aluno em SP passará por nova cirurgia


A professora Rosileide Queirois de Oliveira, 38, que foi baleada por um aluno de 10 anos dentro de uma escola municipal de São Caetano do Sul (Grande São Paulo), na semana passada, passará por uma nova cirurgia amanhã. A criança se matou no corredor da escola após o crime.
De acordo com o Hospital das Clínicas, a professora está bem e passará por uma nova cirurgia devido à fratura sofrida na patela do joelho. A cirurgia anterior tinha sido para a retirada do projétil que ficou alojado entre o reto e o útero. Ainda não há previsão de alta.
Ontem, a delegada Lucy Fernandes, responsável pelo caso, disse que o garoto pode ter tentado fazer uma brincadeira, quando realizou o disparo. Segundo depoimento da diretora da escola à polícia, um colega do menino disse a um psicólogo que ele queria brincar com a professora.
A professora atingida pelo tiro ainda deverá ser ouvida. Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), a delegada está em contato com o hospital para definir quando poderá ser colhido o depoimento, mesmo que ainda na unidade.

SALA DE AULA

A Prefeitura de São Caetano do Sul informou ontem que a sala de aula onde ocorreu o crime ficará desativada por tempo indeterminado. As aulas permanecem suspensas em toda a escola e devem ser retomadas amanhã (28).
De acordo com nota divulgada hoje, a ideia é que a sala em que funcionava o 4º ano C da escola municipal Professora Alcina Dantas Feijão seja transformada em algum laboratório ou sala de leitura.

TRAGÉDIA

O crime aconteceu às 15h50 de quinta-feira (22) na escola, considerada a melhor pública de São Caetano do Sul.
Segundo a delegada, o aluno pediu para ir ao banheiro e, na volta, atirou contra a professora. Na sequência, o garoto se retirou da sala, sentou em uma escada e disparou ele próprio, na cabeça.
Ambos foram socorridos com vida. O aluno foi atendido no Hospital de Emergência Albert Sabin, em São Caetano. Ele teve duas paradas cardíacas e morreu às 16h50, de acordo com a prefeitura da cidade.

Folha de São Paulo

Professores em greve se acorrentam na Assembleia de MG

Cerca de 25 professores ocupam desde a tarde de segunda-feira (26) o plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e se recusam a deixar o local. Segundo a Casa, os professores que estão em greve estão acorrentados uns aos outros.
Eles fazem um protesto para reivindicar o pagamento de piso nacional para a categoria no Estado. A greve dos professores estaduais já dura 112 dias.
De acordo com a Assembleia, os manifestantes entraram no plenário quando acontecia uma debate aberto ao público e, após o fim do evento, se recusaram a deixar o local.
Segundo a Assembleia, não há previsão de haver sessão no plenário hoje. A Casa também afirma que está tentando negociar com o grupo e que a polícia legislativa não pretende retirá-los à força.
Ontem, a ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia Antunes Rocha não acatou o pedido do Sind-UTE, o sindicato dos professores de ensino público de Minas Gerais, e manteve a liminar expedida no último dia 16 pelo Tribunal de Justiça de Minas, que considerou abusiva a greve.
O sindicato afirma que vai se reunir na quarta-feira (28) com a ministra e solicitar que ela reveja sua decisão.
Os números da greve são divergentes. O sindicato fala que a adesão é de 50% das escolas. O governo de Minas afirma que apenas 0,3% das escolas estão totalmente paralisadas e 17%, parcialmente. De um total de 156.824 professores, cerca de 8.500 estão ainda em greve.
Os professores reivindicam o pagamento do piso nacional do professor (R$ 1.187 para 40 horas semanais) com a diferenciação do nível de escolaridade dos docentes. O governo de Minas ofereceu R$ 712 (valor do piso nacional proporcional para 24 horas semanais) mais gratificações, porém sem distinguir o professor que tem ensino médio do que tem nível universitário.
O governo de Minas oferece ainda a opção de o professor optar por receber um valor único (que engloba o vencimento básico e gratificações) que tem valor mínimo de R$ 1.122 para 24 horas semanais. Dependendo do nível de instrução, o valor pode chegar a R$ 1.932. Esse valor, contudo, encerra a possibilidade de haver novas gratificações no futuro.
Na tarde desta terça-feira (27), o sindicato promove uma reunião entre os grevistas para discutir a continuação da greve.

JEAN-PHILIP STRUCK

STF mantém decisão que considera abusiva greve de professor em MG

O STF (Supremo Tribunal Federal) não acatou o pedido do Sind-UTE, o sindicato dos professores de ensino público de Minas Gerais, e manteve a liminar expedida no último dia 16 pelo Tribunal de Justiça de Minas, que considerou abusiva a greve.
O pedido de cassação da liminar foi negado nesta segunda-feira pela ministra mineira Cármen Lúcia Antunes Rocha. A greve dura 111 dias.
O Sind-UTE ainda não fez uma avaliação da nova situação e, por enquanto, mantém a greve e a manifestação que faz desde a semana passada na Assembleia Legislativa do Estado, em Belo Horizonte. A manifestação reúne cerca de 200 professores, segundo o sindicato. Dois professores estão em greve de fome há sete dias. O estado de saúde deles é considerado estável.
Os números da greve continuam divergentes. O sindicato fala que a adesão é de 50% das escolas. O governo de Minas afirma que apenas 0,3% das escolas estão totalmente paralisadas e 17%, parcialmente. De um total de 156.824 professores, cerca de 8.500 estão ainda em greve.
Os professores reivindicam o pagamento do piso nacional do professor (R$ 1.187 para 40 horas semanais) com a diferenciação do nível de escolaridade dos docentes. O governo de Minas ofereceu R$ 712 (valor do piso nacional proporcional para 24 horas semanais) mais gratificações, porém sem distinguir o professor que tem ensino médio do que tem nível universitário.
O governo de Minas oferece ainda a opção de o professor optar por receber um valor único (que engloba o vencimento básico e gratificações) que tem valor mínimo de R$ 1.122 para 24 horas semanais. Dependendo do nível de instrução, o valor pode chegar a R$ 1.932. Esse valor, contudo, encerra a possibilidade de haver novas gratificações no futuro.

PAULO PEIXOTO

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Viagem para a morte da zona do euro

É possível sentir-se ao mesmo tempo apavorado e entediado? É como eu me sinto em relação às negociações em curso sobre como reagir à crise econômica da Europa, e desconfio que outros observadores compartilham meu sentimento.
Por um lado, a situação da Europa é realmente assustadora: com países que respondem por um terço da economia da área do euro agora sendo alvos de ataques especulativos, a própria existência da moeda única está sendo ameaçada _e um colapso do euro poderia causar prejuízos enormes ao mundo.
Por outro lado, os responsáveis políticos europeus parecem estar determinados a continuar na mesma linha do que vêm fazendo até agora. Eles provavelmente encontrarão uma maneira de oferecer mais crédito aos países com problemas, o que pode ou não afastar temporariamente o desastre iminente. Mas não parecem estar nem um pouco preparados para reconhecer uma verdade crucial: que sem mais políticas fiscais e monetárias expansionistas nas economias europeias mais fortes, todas suas tentativas de resgate vão fracassar.
A história até agora: a introdução do euro, em 1999, levou a um boom enorme na concessão de empréstimos às economias periféricas da Europa, porque os investidores pensavam (equivocadamente) que, em função da moeda comum, a dívida grega ou espanhola fosse tão segura quanto a dívida alemã. Contrariamente ao que se ouve com frequência, esse boom de crédito não estava financiando principalmente gastos governamentais perdulários Espanha e Irlanda chegaram a ter superávits orçamentários na véspera da crise, e suas dívidas eram baixas. Em lugar disso, os fluxos de dinheiro entrantes alimentaram principalmente grandes booms de gastos de particulares, especialmente com habitação.
Mas quando o boom de crédito terminou repentinamente, o resultado foi uma crise econômica e fiscal. Recessões selvagens empurraram as arrecadações de impostos para baixo, mergulhando os orçamentos no vermelho; enquanto isso, o custo dos resgates dos bancos levou a dívida pública a aumentar de repente. E um resultado foi um colapso na confiança que os investidores sentiam nos títulos de dívida dos países periféricos.
E agora, como fica? A resposta da Europa vem sendo exigir austeridade fiscal rígida dos devedores com problemas, especialmente cortes acentuados nos gastos públicos, e, ao mesmo tempo, fornecer financiamento tapa-buraco até que os investidores privados voltem a sentir confiança. Poderá essa estratégia funcionar?
Não para a Grécia, que realmente foi fiscalmente perdulária durante os bons anos e deve mais do que tem condições plausíveis de pagar. Provavelmente não para Irlanda e Portugal, que, por razões diferentes, também têm dívidas pesadas. Mas, desde que haja um ambiente externo favorável especificamente, uma economia europeia total forte, com inflação moderada, poderia funcionar para a Espanha, que mesmo agora tem dívida relativamente baixa, e a Itália, com alto nível de dívida mas déficits surpreendentemente pequenos.
Infelizmente, os políticos europeus parecem estar determinados a negar a esses devedores o ambiente de que necessitam.
Pense o problema assim: com o fim do boom financiado pela dívida, a demanda dos consumidores nos países devedores caiu muito. Ao mesmo tempo, os gastos do setor público também estão sendo fortemente reduzidos pelos programas de austeridade. Então de onde vão vir os empregos e o crescimento? A resposta só pode estar nas exportações, principalmente para outros países europeus.
Mas as exportações não podem crescer se os países credores também estiverem implementando políticas de austeridade, possivelmente empurrando a Europa como um todo de volta à recessão.
Além disso, os países devedores precisam cortar preços e custos com relação a países credores como a Alemanha, algo que não seria muito difícil se a Alemanha tivesse inflação de 3% ou 4%, permitindo que os devedores ganhassem terreno simplesmente por terem inflação baixa ou zero. Mas o Banco Central Europeu tem um viés deflacionário cometeu um erro terrível ao elevar as taxas de juros em 2008, justamente quando a crise financeira estava ganhando força, e mostrou que não aprendeu nada quando repetiu o erro este ano.
Em consequência disso, o mercado hoje prevê inflação muito baixa na Alemanha cerca de 1% nos próximos cinco anos, o que implica em deflação significativa nos países devedores. Isso vai ao mesmo tempo aprofundar as recessões deles e aumentar o ônus real de suas dívidas, mais ou menos garantindo o fracasso de todos os esforços de resgate.
E não vejo sinal algum de que as elites políticas europeias estejam preparadas para repensar seu dogma de dinheiro apertado e austeridade.
Parte do problema talvez seja que essas elites políticas têm memória histórica seletiva. Elas adoram falar sobre a inflação alemã do início dos anos 1920 _uma história que, por acaso, não tem relevância alguma para nossa situação atual. Mas elas quase nunca mencionam um exemplo que vem muito mais ao caso: as políticas de Heinrich Bruening, o chanceler alemão de 1930 a 1932, cuja insistência sobre equilibrar os orçamentos e preservar o padrão ouro fizeram a Grande Depressão ser ainda pior na Alemanha que no resto da Europa, o que preparou o palco para "aquilo".
Não prevejo que nada tão terrível aconteça na Europa do século 21. Mas há uma distância muito grande entre o que o euro precisa para sobreviver e o que os líderes europeus estão preparados para fazer, ou até mesmo falar em fazer. E, em vista dessa distância, é difícil identificar razões para otimismo.

Paul Krugman

Águas nunca navegadas




Especular hoje sobre o futuro da economia global é um exercício de adivinhação. A tormenta financeira talvez mal tenha começado.
O que está em jogo: um dominó de calotes e quebra de bancos na Europa, a ruptura do euro afundando alguns de seus 17 condôminos e um longo período de estagnação nos Estados Unidos.
As consequências dessas alternativas, ou da combinação delas, são incógnitas.
Nesta crise, os manuais foram abandonados. Enquanto não houver um risco sério de inflação no horizonte, deve prevalecer a heterodoxia, em voga desde 2008.
Para especular sobre o futuro, a alternativa é o passado.
Por alguns séculos, os países centrais de hoje enriqueceram se apropriando dos recursos de regiões periféricas. Foram vários os ciclos de rapina. Do ouro e da prata, da escravidão, do açúcar, da borracha, para ficar só na América Latina.
Depois de se industrializar, os ricos viveram de sua riqueza. E forneceram crédito à periferia para que comprasse o que produziam.
Foi assim que vários países da Ásia e da América Latina também se industrializaram minimamente. Ao mesmo tempo em que se endividaram barbaramente.
Nas décadas de 1980 e 1990, a conta chegou. A quebradeira foi geral. Do Brasil à Tailândia, do México à Malásia.
A periferia aprendeu. Tratou de poupar e ajustar suas contas.
Já o mundo rico continuou vivendo de sua riqueza. Penhorando o futuro numa espiral de endividamento. A crise atual cobra essa conta.
O quadro à esquerda mostra claramente como o G7 (EUA, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão) e o conjunto das economias avançadas se endividaram enquanto os emergentes fizeram o ajuste.
Ao mesmo tempo em que reduziam o peso do endividamento público como proporção de suas economias (do PIB), os emergentes passaram a acumular bilhões em reservas.
O quadro à direita mostra esse movimento. Foi uma resposta dos emergentes ao trauma de repetidas crises cambiais e de endividamento.
Eles não apenas diminuíram dívidas e aumentaram o caixa. Suas economias também cresceram rapidamente, sobretudo na Ásia. E, mais recentemente, na América Latina.
O resultado (no quadro abaixo) é que os emergentes finalmente hoje respondem pela metade do PIB mundial.
Mas muito do crescimento deles ainda depende dos países ricos. Eles dominam a demanda global (ver quadro). Os ricos ainda compram o excedente de produção dos emergentes.
EUA e China dão o exemplo. Americanos se endividaram comprando o que os chineses fabricaram. Países como o Brasil entraram na roda vendendo produtos básicos à China.
A grande incógnita é se os países ricos, agora traumatizados, seguirão o caminho dos emergentes no passado. Na direção de um ajuste estrutural que reduza seu endividamento e aumente as reservas.
Numa economia global, para que uns tenham superavit, outros têm de acumular déficits. Necessariamente.
Quando os emergentes buscaram isso, contaram com os países ricos. Eles tinham renda elevada e disposição para consumir se endividando.
A perspectiva dos ricos hoje é inversa: emergentes com renda baixa (pobre nos EUA é mais do que classe C no Brasil) e escaldados pela praga do endividamento.
O quadro inspira conflitos. Isso nunca aconteceu.

Fernando Canzian

Mercado prevê inflação acima do teto da meta em 2011

O mercado financeiro passou a prever o descumprimento da meta de inflação neste ano, após a redução dos juros e a alta do dólar, mostrou o relatório Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (26).
O prognóstico para a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2011 subiu de 6,46% na semana anterior para 6,52%.
A alta foi a sexta consecutiva. A projeção do ano que vem foi revista pela quarta vez seguida, de 5,50% para 5,52%.
A meta de inflação do governo é de 4,5% ao ano, com dois pontos percentuais de tolerância.
No final de agosto, o BC surpreendeu o mercado ao interromper o processo de alta dos juros com um corte de 0,5% na Selic, a 12%.
Semanas depois, a piora na crise da dívida da Europa ajudou a empurrar o dólar a R$ 1,95, com uma valorização de cerca de 20% desde o início do mês. A moeda norte-americana diminuiu um pouco a alta e era cotada a R$ 1,8385 real no fechamento de sexta-feira.
A meta de inflação não é descumprida desde 2003.
A estimativa para o IPCA nos próximos 12 meses subiu de 5,71% para 5,76%.
O prognóstico para a alta do PIB (Produto Interno Bruto) em 2011 caiu pela oitava vez, passando de 3,52% para 3,51% na semana passada, enquanto o de 2012 se manteve estável a 3,70%.
A estimativa para a Selic neste ano permaneceu em 11%, e para o ano que vem continuou em 10,75%.
Segundo o Focus, a previsão para a taxa de câmbio no final deste ano passou de R$ 1,65 por dólar para R$ 1,68. A projeção no final de 2012 foi elevada de R$ 1,65 a R$ 1,68.

REUTERS

Alemanha rejeita aumentar valor de pacote de resgate europeu

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, rejeitou nesta segunda-feira qualquer aumento do pacote de ajuda financeira aos países europeus, atualmente em € 440 bilhões. A proposta está em debate na Comissão Europeia, em Bruxelas, e mais cedo houve indícios de que o fundo emergencial pudesse alcançar € 2 trilhões.
O jornal espanhol "El Mundo" diz que o chefe das finanças alemão afirmou em entrevista a um canal de TV local que os europeus "não têm intenção de aumentar" o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, na sigla em inglês), dotado de € 750 bilhões e que colocará à disposição inicialmente € 440 bilhões.
"Nós demos a eles os instrumentos para que [o fundo] possa intervir em caso de necessidade. Depois vamos utilizá-lo com eficácia, porém não temos a intenção de reforçá-lo", acrescentou.
O Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, deve votar nesta quinta-feira a reforma do EFSF, que praticamente duplica os aportes da Alemanha.
Mais cedo, o comissário para Assuntos Econômicos e Monetários da União Europeia, Olli Rehn, admitiu em comunicado na edição eletrônica do jornal alemão "Die Welt" que o plano está em estudo, mas não detalhou de quanto seria o aumento para fundo de resgate do bloco.
Segundo fontes ouvidas pelo correspondente econômico da BBC Robert Peston, o fundo poderá ser ampliado para € 2 trilhões.
Outro ponto que o novo pacote prevê é a redução de até 50% na dívida grega. Há temores de que uma falência da Grécia contamine os demais países da União Europeia, que detêm títulos da dívida grega.
Sobre a Grécia, Rehn afirmou que ela não pode e não vai cair em insolvência. "Embora agora tenha chegado o momento da verdade para o país e esta é a última chance para evitar o colapso da economia grega", advertiu.

BANCOS

O novo plano de resgate também prevê ajuda financeira aos bancos da zona do euro. Para que isso seja viável, seria permitido que o Banco Central Europeu facilite empréstimos junto ao EFSF. O fundo assumiria o maior risco, o de emprestar aos países com dificuldades e, dessa forma, reduzir os riscos para o Banco Central Europeu.
O comissário da UE reforçou a necessidade de recapitalização das instituições financeiras para evitar uma nova crise bancária na Europa. "Seria muito difícil evitar o contágio. A riqueza da Alemanha é baseada em um euro estável e em membros estáveis", ressaltou. "A crise atual é uma combinação de uma grave crise da dívida pública e de debilidades do sistema bancário. Você não pode resolver um sem o outro", resumiu.
A expectativa é que o plano seja colocado em prática dentro de cinco ou seis semanas, de acordo com fontes do FMI ouvidas pela BBC. Rehn afirmou "estar seguro de que os ministros de Finanças tratarão sobre o tema dentro de semana", e que "ficou claro que é preciso fazer mais".
No sábado, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, pressionou o BCE a assumir um papel crucial contra a crise. "A ameaça de uma cascata de inadimplência, fechamento de bancos e riscos catastróficos devem ser removidos da mesa", disse ao comitê do FMI.

NEGOCIAÇÕES

Neste domingo, autoridades discutiram como fortalecer o sistema bancário da Europa e conter a crise, incluindo a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, e o ministro da Economia da Grécia, Evangelos Venizelos.
O FMI disse que o fundo de resgate da União Europeia não poderia combatê-la sozinho.
"É muito importante que vejamos uma combinação do BCE e do EFSF", disse Antonio Borges, diretor do departamento europeu do FMI, referindo-se ao fundo de resgate de € 440 bilhões.
"O BCE é o único agente que pode realmente alarmar os mercados", acrescentou --uma consideração essencial, pois investidores estão cada vez mais céticos em acreditar que a Grécia pode evitar um default e que formuladores de políticas podem evitar a crise.
Analistas afirmam que, com esse valor, o fundo de resgate será insuficiente caso a crise se espalhe para além de Grécia, Portugal e Irlanda para economias muito maiores como Itália ou Espanha.
A Alemanha tem se mostrado relutante em colocar mais de seu próprio dinheiro para reforçar o fundo e, em vez disso, voltou seu foco para maneiras de elevar os fundos já existentes, possivelmente por meio do BCE.
A maior autoridade financeira da UE, Olli Rehn, disse no sábado que quanto antes os governos da região atribuírem mais poderes ao EFSF, a atenção se voltará para decidir como obter mais impacto com o dinheiro existente.
Analistas estimam que o fundo de resgate precisaria subir para ao menos € 2 trilhões para proteger Itália e Espanha caso a crise se espalhe.

AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Nas nuvens!



Blog Josias de Souza

Português arcaico!



Blog Josias de Souza

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Corpo de menino que atirou em professora é enterrado



O corpo do garoto de 10 anos que atirou na professora e depois se matou dentro da sala de aula, na quinta-feira (22), foi enterrado por volta das 16h desta sexta no cemitério das Lágrimas, em São Caetano do Sul (Grande São Paulo).
O velório da criança aconteceu desde a noite de ontem no mesmo local. A reportagem conversou com diversas pessoas presentes no velório amigos da família, estudantes do colégio e colegas do menino e de seu irmão mais velho, de 14 anos.
Todos se mostravam incrédulos com o que ocorreu e tentavam buscar uma explicação. Invariavelmente, o garoto que se matou foi descrito como uma criança amável, estudiosa, quieta e tranquila.
Apesar de não ter muitos amigos na sua classe, fez amizades com outros alunos do quarto ano e com colegas do irmão mais velho. Brincava de pega-pega, esconde-esconde e queimada.
O velório foi acompanhado por muitos amigos da Igreja Presbiteriana que a família frequentava e na qual o menino tocava bateria.
"Ele era muito amoroso. Nunca vi alguém tirar ele do sério", disse Carmelita Cordeiro, 65, amiga da família.

TRAGÉDIA

O crime aconteceu às 15h50 de ontem na escola municipal Professora Alcina Dantas Feijão, considerada a melhor pública de São Caetano do Sul. O garoto é filho de um guarda civil municipal e usou a arma do pai um revólver calibre 38 para fazer os disparos. A escola permanece fechada nesta sexta-feira.
Segundo a polícia, o aluno pediu para ir ao banheiro e, quando voltou, já estava armado. Depois de atirar contra Rosileide, o garoto se retirou da sala, sentou em uma escada e disparou nele próprio, na cabeça.
Ambos foram socorridos com vida. O aluno foi atendido no Hospital de Emergência Albert Sabin, em São Caetano. Ele teve duas paradas cardíacas e morreu às 16h50, ainda de acordo com a prefeitura da cidade.
A professora permanece internada no Hospital das Clínicas, na capital paulista. Ela passou por uma cirurgia de cerca de três horas para a retirada do projétil. Segundo o HC, ela passa bem e está consciente.
O pai do aluno chegou a sentir falta da arma durante a manhã de quinta e procurou seu filho mais velho, que não estava com ela. A família soube que o garoto havia pego o revólver do pai somente após o ocorrido.
Segundo o secretário municipal de Segurança Pública, Moacyr Rodrigues, a arma é particular e não pertence à guarda civil.
A polícia investiga se o menino era vítima de bullying.

CAROLINA LEAL

Justiça aceita denúncia de lavagem de dinheiro contra Edir Macedo


A Justiça Federal aceitou parcialmente denúncia feita pelo Ministério Público Federal contra o fundador da Igreja Universal, Edir Macedo, e outros três integrantes da cúpula da igreja.
Além de Macedo, a diretora financeira Alba Maria Silva da Costa, o bispo João Batista Ramos da Silva e o bispo Paulo Roberto Gomes da Conceição foram denunciados pelos crimes de estelionato, falsidade ideológica, formação de quadrilha, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo
As acusações de estelionato e falsidade ideológica, porém, foram rejeitadas pela Justiça Federal. O Ministério Público já anunciou que vai recorrer desta decisão.
A denúncia foi feita no último dia 12 e a decisão sobre a aceitação de parte dela é do dia 16.
Segundo a denúncia, os acusados remetiam para o exterior dinheiro proveniente das doações de fiéis, por meio de uma casa de câmbio paulista. Os recursos voltavam posteriormente ao Brasil, com aparência de legalidade.
Essa denúncia já havia sido feita pelo Ministério Público Estadual, mas acabou derrubada pela Justiça estadual sob o entendimento de que o assunto deveria ser tratado na esfera federal. O processo está sob sigilo.
Na época da denúncia, a Universal afirmou que "trata-se das mesmas acusações de sempre aos dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus, que sempre se mostraram inverídicas".

Folha de São Paulo

Volta à realidade!



Blog Josias de Souza

Indicação não quis reparar erro, diz roteirista sobre "Tropa 2"

O roteirista Bráulio Mantovani teve uma boa notícia na última terça-feira (dia 20/9), quando "Tropa de Elite 2" foi o escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga entre os cinco indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Também coprodutor do filme, dirigido por José Padilha, ele diz que não acha que a indicação tenha sido para corrigir a escolha de 2007, quando "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburger, foi o eleito mas não entrou entre os finalistas.
"A escolha é feita a cada ano por uma comissão diferente. O trabalho dela é escolher um filme que, pelo menos em teoria, tenha chances de conseguir a indicação. Por que as pessoas da comissão perderiam tempo avaliando escolhas passadas para encontrar erros e tentar repará-los? Seria uma idiotice", afirma.
Bráulio Mantovani, roteirista do filme "Tropa de Elite", nega que indicação seja para reparar erro
Para ele, escolher é algo "absolutamente subjetivo, uma vez que é impossível testar empiricamente duas hipóteses neste caso". "Nada garante que 'Tropa de Elite' conquistaria a indicação se fosse o escolhido em 2007. Se eu não tivesse escrito nenhum dos filmes naquele ano e fosse da comissão, teria escolhido 'Tropa'. Mas isso não significa que eu estaria certo. Seria apenas a minha opinião."
O diretor de fotografia Lula Carvalho, também responsável pelo longa, diz que o filme merece pela quantidade de gente que o assistiu um recorde de 11 milhões de espectadores.
"Eu já esperava [pela indicação] desde o primeiro filme, pelo fenômeno que foi, com as pessoas repetindo frases do 'Tropa' na rua antes mesmo de ele estrear. Estou orgulhoso. Espero que a gente consiga vencer as outras etapas no Oscar", conta à Folha por telefone, do Rio.
Entretanto não sabe dizer o que pode fazer o filme levar a estatueta hollywoodiana. "Ele emenda bem a realidade na ficção. Mas não entendo a fórmula para dar certo. O mérito é ser um bom filme. Talvez isso faça a diferença", finaliza.
Os indicados ao Oscar serão anunciados em 24 de janeiro. Os vencedores saem em cerimônia em 26 de fevereiro em Los Angeles.

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES

Por falar em direitos humanos

Se a presidente Dilma Rousseff pretende mesmo colocar direitos humanos no centro de sua política externa, terá um valioso auxílio a partir do início do ano. A HRW (Human Rights Watch, ou Observatório dos Direitos Humanos) passará a ter presença física no Brasil, com base em São Paulo.
Trata-se, para quem não sabe, de uma legítima ONG ou seja uma Organização realmente Não-Governamental, posto que seus USS$ 52 milhões de orçamento vêm, todos, do setor privado. Nenhum centavo de governos.
A "rationale" por trás da vinda para o Brasil apoia-se no seguinte teorema:
1 - O Brasil (e também Índia e África do Sul, outros países em que a HRW está igualmente se instalando) é uma democracia, com imprensa livre e judiciário independente, que ganha crescente peso nos assuntos planetários.
2 - A HRW tem imensas dificuldades em atuar exatamente onde é mais necessária, ou seja, nos países que são grandes violadores dos direitos humanos. Logo, seu poder de pressão é limitado. Por isso, pretende pressionar governos como o do Brasil para que estes, por sua vez, pressionem, digamos, a Síria, que é bola da vez no noticiário internacional em matéria de violação em massa dos direitos humanos.
A propósito: tanto Iain Levine, vice-diretor executivo de Programas, como José Miguel Vivanco, diretor-executivo para as Américas, dizem-se decepcionados com a posição do Brasil em relação à Síria. Como se sabe, o governo brasileiro hesita demais em aprovar resoluções mais duras de condenação ao governo sírio, o que, ao menos do meu ponto de vista, contraria o compromisso da presidente em colocar direitos humanos no centro da política externa.
Desconfiam, os dois, que, entre esse compromisso e um viés anti-imperialista de alguns de seus integrantes, o governo Dilma acaba sendo omisso. Explico o anti-imperialismo: são as potências ocidentais que lideram o movimento na ONU em favor de endurecimento com a Síria. O presidente Barack Obama, por exemplo, disse, na assembleia-geral, na quarta-feira, que a questão, para os Estados Unidos, é clara: "Ficaremos ao lado do povo sírio ou com seus opressores?".
Já a presidente Dilma Rousseff não usou a palavra Síria em seu discurso, embora tenha manifestado "veemente repúdio" às "repressões brutais que vitimam populações civis".
Mas a ação da HWR não se limitará ao plano internacional. Tem uma vertente interna, no quesito segurança pública. Aqui, trata-se, como diz Vivanco, de demonstrar que segurança pública não é, em absoluto, incompatível com o respeito aos direitos humanos.
Na realidade brasileira, nem sempre (ou raramente?) tem sido possível dar efetiva segurança ao público sem atropelar direitos humanos. Eis um terreno minado, posto que parece haver um crescente sentimento, na opinião pública, em favor de um endurecimento na ação policial, mesmo que implique vítimas colaterais.
É saudável, de todo modo, que venha uma instituição respeitável como a HRW para colaborar nesse debate e também no outro, em torno da centralidade dos direitos humanos na diplomacia brasileira.

Clóvis Rossi

Dólar alto terá impacto menor sobre alimentos mas pode pressionar alugueis

Os turistas que vão para o exterior nos próximos meses estão preocupados com a elevação do dólar por causa dos gastos que realizarão fora do país.
Mas quem não pensa em viajar tão cedo também será afetado pela forte valorização que a moeda americana registrou neste mês.
Primeiro, nas compras de eletroeletrônicos. Nas pequenas lojas especializadas, como as da rua Santa Ifigênia, no centro da cidade de São Paulo, vários artigos –como HDs externos, calculadoras financeiras, tocadores de MP3, controles de videogames-- encontram-se em falta, porque os importadores estão segurando os produtos a fim de repassá-los nas próximas semanas já com reajuste de preços.
Não deve haver um choque no supermercado, entretanto, segundo os especialistas em inflação.
Os produtos que costumam subir mais nessas situações são aqueles cujas matérias-primas (as chamadas commodities agrícolas), negociadas no mercado internacional, têm cotação em dólar: o pão, o macarrão, a bolacha (ou biscoito, como quiserem ), feitos de farinha de trigo; a margarina, de óleo de soja; o açúcar.
"Porém, os preços das commodities estão recuando, o que compensa, em parte, a elevação da moeda americana", diz Heron do Carmo, estudioso de preços da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e presidente do Conselho Regional de Economia paulista. "Além disso, para o valor final de determinado item, contribuem as despesas com funcionários, transporte... Em alguns casos, a embalagem chega a custar mais do que o produto em si. Não se pode dizer que uma mercadoria vai ficar muito mais cara apenas devido à escalada do dólar."
Constituem exceção, logicamente, os itens manufaturados em outros países --azeites, vinhos e chocolates, por exemplo.
Demora um pouco para os reflexos aparecerem nas gôndolas. "Temos observado uma oscilação bastante forte no dólar. No entanto, somente se a moeda ficar em um nível mais alto por pelo menos um mês será possível perceber consequências nos alimentos", explica André Braz, economista da FGV (Fundação Getulio Vargas) responsável pelos cômputos dos seus índices de inflação. Cumprida tal condição, os efeitos surgiriam a partir de novembro, em pequenas doses, diluindo-se ao longo de seis meses.
É preciso considerar, adicionalmente, que a economia brasileira vem se desacelerando, o que dificulta o repasse do aumento dos comerciantes para o seu cliente. "Ainda é cedo para tirar conclusões, inclusive porque não sabemos em qual ponto a moeda americana vai se estabilizar", frisa Braz.
O governo está preocupado com o avanço dos preços porque os índices de inflação já estão acima da meta estabelecida, de entre 2,5% e 6,5% no ano.
Para o consumidor, a orientação é pesquisar mais os preços das mercadorias que costuma adquirir, considerar mudar de supermercado se notar reajustes excessivos, ou trocar a marca dos produtos que entram no seu carrinho.
Uma conseqüência mais importante poderá ser notada especialmente nos alugueis, cujos reajustes costumam ter como baliza o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV. Esse indicador contempla produtos que são mais afetados pela alta do dólar, minérios em estado bruto e matérias-primas industriais.
"A porcentagem usada para o acerto dos contratos é a acumulada em doze meses. Então, o tamanho do aumento será influenciado por outros fatores de médio prazo", pondera Braz.
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Denyse Godoy

Carga tributária brasileira sobe para 33,6% do PIB em 2010

A carga tributária bruta brasileira em 2010 subiu para 33,56% do PIB (Produto Interno Bruto), informou há pouco a Receita Federal. No ano retrasado, o percentual havia sido de 33,14%.
O aumento decorreu do crescimento de 7,5% do PIB e de 8,9% da arrecadação tributária nos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Em 2010, a arrecadação tributária bruta totalizou R$ 1,2 trilhão.
De acordo com a nota divulgada pela Receita nesta sexta-feira, esse incremento deve ser explicado pela forte atividade econômica no ano passado.
"A evidência mais clara dessa resposta elástica ao crescimento econômico reside no fato de a expansão da receita tributária ocorrer, principalmente, em tributos vinculados ao valor agregado (Cofins e IPI) e à massa salarial (contribuição previdenciária ao INSS", afirma nota divulgada pela Receita Federal.

MAIS IMPOSTO

Na semana passada, o governo federal anunciou um aumento de 30 pontos percentuais nas alíquotas de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de carros e caminhões que tenham menos de 65% de conteúdo nacional.
Ficam livres do aumento as montadoras que comprovarem investimentos em inovação. Um carro popular até mil cilindradas teve o IPI alterado de 7% para 37%.
A medida, no entanto, gerou protestos de montadoras estrangeiras, que recorreram à Justiça para adiar a cobrança.

ARRECADAÇÃO

A arrecadação de tributos federais, divulgados ontem pela Receita Federal, somou R$ 74,6 bilhões em agosto, um aumento de 8,1% em relação ao mesmo período do ano passado, já considerada a inflação do período.
Mesmo com o pagamento de R$ 2,8 bilhões em tributos extraordinários, houve uma desaceleração no ritmo de crescimento da arrecadação no ano. Em relação ao mês de julho, há uma queda real de 17,6%.
Até agosto, o governo federal já recolheu R$ 639 bilhões em impostos, valor 13,26% maior do que nos oito primeiros meses de 2010. De janeiro a julho, a taxa de crescimento da arrecadação era de 14%.

ANA CAROLINA OLIVEIRA
MAELI PRADO

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Na ONU, Dilma pedirá articulação para solucionar crise econômica

A presidente Dilma Rousseff pedirá nesta quarta-feira, ao discursar na abertura da 66ª Assembleia Geral da ONU, uma articulação entre os países para superar a crise econômica global.
Segundo um diplomata que teve acesso a um esboço do texto, Dilma deve ainda expressar apoio aos anseios de povos do norte da África e do Oriente Médio, protagonistas da chamada Primavera Árabe, que se mobilizaram em favor de mais abertura política e liberdades individuais.
Dilma será a primeira mulher a discursar na abertura do evento, a cargo do Brasil desde a 1ª Sessão Especial da Assembleia, em 1947. À época, coube ao diplomata brasileiro Oswaldo Aranha o discurso inaugural da sessão, tradição que se manteve desde então.
O discurso de Dilma também representará sua estreia na Assembleia Geral e ocorrerá na véspera da primeira viagem oficial da presidente à Europa. Ela deve passar os dias 4 e 5 de outubro em Bruxelas durante a Europalia, festival de artes que nesta edição homenageará o Brasil. Em seguida, deve ir à Bulgária, país onde seu pai nasceu, e à Turquia.

CRÍTICAS

Em sua fala na ONU, segundo o diplomata, Dilma deve criticar a forma como os países mais afetados pela crise econômica têm tratado a questão.
Em agosto, durante a cerimônia de lançamento da nova política industrial do governo, ela afirmou que a persistência da crise internacional era gerada pela "insensatez, incapacidade política e supremacia de ambições regionais ou corporativas de alguns países".
"O Brasil tem condições de enfrentar essa crise, mas não pode se declarar imune a seus efeitos", afirmou a presidente.
O governo teme que a longa duração da crise afete o ciclo de crescimento do país, de cujo vigor depende para implantar suas políticas sociais.
Em seu discurso, a presidente também saudará a Primavera Árabe. Desde janeiro, uma onda de manifestações populares no norte da África e no Oriente Médio levou à queda dos governos da Tunísia, Egito e Líbia. Os manifestantes exigem mais liberdades políticas e civis, bem como reformas econômicas que reduzam as assimetrias sociais em seus países.
É possível ainda que a presidente se refira à demanda palestina por um aval da ONU à sua soberania, um dos principais temas desta edição da Assembleia Geral, e que pode ser levado à votação nos próximos dias. O Brasil, assim como seus vizinhos sul-americanos, já reconheceu a Palestina como um Estado soberano.

REFORMAS

Dilma dirá ainda que sua prioridade como presidente é reduzir a pobreza no Brasil, e citará a melhoria dos padrões de vida dos brasileiros mais pobres nos últimos anos.
A presidente também defenderá a reforma de instituições internacionais para que países emergentes, entre os quais o Brasil, ampliem sua representatividade. Ela argumentará que as nações em desenvolvimento hoje desempenham um papel global maior do que quando essas instituições foram moldadas.
Entre as mudanças que julga necessárias, Dilma mencionará a reforma do Conselho de Segurança da ONU e reforçará a demanda brasileira por um assento permanente no órgão.
Hoje, o Brasil ocupa um dos 15 postos rotativos no órgão, que tem como atribuição zelar pela manutenção da paz e da segurança internacional. Há cinco membros permanentes na instituição, com poder de veto: Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido.
Dilma também deve se referir ao fato de ser a primeira mulher a discursar na abertura da Assembleia Geral e afirmar que, no Brasil, as mulheres têm importância cada vez maior nas famílias, economia e política. Ela elogiará a criação, em 2010, da ONU Mulheres, órgão que defende a igualdade de gêneros e o fortalecimento do papel das mulheres na sociedade.

JOÃO FELLET

Estudos mostram que passar horas malhando pode até engordar


Se já é chato perceber que as longas horas passadas na academia não consumiram um grama do seu peso, descobrir que o treino pode engordar é péssimo.
A pior hipótese foi comprovada na Universidade de South Wales, na Austrália. O estudo conduzido pelo médico Steve Boutcher, do programa de pesquisas em exercícios, comparou dois grupos de 45 mulheres com 20 anos e um pouco acima do peso.
Suplemento esportivo também engorda, diz fisiologista britânico
As do grupo que fez um treino curto (20 minutos) de alta intensidade na bicicleta perderam em média 2,5 quilos em 15 semanas. As que treinaram por 40 minutos, pedalando em velocidade regular e contínua, ganharam 500 gramas no período.
Outro trabalho, da Universidade do Oeste da Escócia, comparou os resultados obtidos com o treino curto intenso e o tradicional, longo e moderado, em 57 adolescentes, concluindo que o segundo leva sete vezes mais tempo para reduzir a gordura.
Para ter uma amostra maior, pesquisadores do Waikato Institute of Technology e da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, juntaram 22 estudos sobre o tema. O levantamento mostrou que a perda de gordura é até duas vezes maior na atividade de alta intensidade feita por curtos períodos.
Há dois anos, o advogado Sergio José dos Santos, 38, combinou boca fechada com treinos curtos e intensos para perder 20 dos 106 quilos que tinha na época. Atingiu seu objetivo.
Já mais magro, o advogado mudou a maneira de malhar: começou a passar várias horas na academia, fazendo exercícios menos puxados de forma contínua, por um tempo maior.
"Eu gostava, saía muito disposto. Mas comecei a ganhar peso de novo. Parece que você se acostuma com o exercício, e o organismo estoca gordura de qualquer coisa que você come", diz ele, que há 20 dias voltou aos treinos de menor duração e maior intensidade. "Já estou emagrecendo", afirma.
A malhação mais longa e moderada pode ser engordativa porque deixa a pessoa com muito mais fome quando acaba de treinar, levando-a a exagerar na comida sem perceber.

MAIS FOME
Cientistas da Universidade de Munique sugerem que a culpa é do aumento da secreção de um hormônio chamado grelina, que desperta a sensação de fome no cérebro. Eles identificaram que a secreção desse hormônio aumenta bastante na atividade de longa duração. Nos treinos curtos, os níveis de grelina permanecem estáveis: aquela vontade de enfiar o pé na jaca não é despertada depois do exercício.
"O treino intervalado de alta intensidade queima muito mais gordura do que ficar horas na esteira em atividade moderada", diz o professor de educação física Carlos Klein, da consultoria Movimente-se, de São Paulo.
Treino o quê? Intervalado, porque combina o exercício feito por alguns segundos quase no limite da capacidade máxima da pessoa (um "tiro" de corrida, por exemplo), seguido de descanso por mais ou menos o dobro de tempo.
Na pesquisa neozelandeza, foram pedaladas rapidíssimas por oito segundos, seguidas de 12 segundos de descanso.
A disputa para definir qual tipo de treino queima mais gordura não é nova. Até pouco tempo, a conclusão era a oposta: ficar mais tempo se exercitando em intensidade moderada era o canal para emagrecer.
Isso porque, como a gordura é fonte de energia lenta, seria preciso treinar mais e em menor intensidade para usá-la como combustível.
Na atividade de alta intensidade, a gordura também é mobilizada, só que em menor proporção comparada aos carboidratos. Mesmo assim, o gasto total é maior, diz Mauro Guiselini, mestre em educação física pela USP.
A estratégia para treinar quase à exaustão é intercalar atividade e descanso. "Ninguém aguenta muito tempo", diz Saturno de Souza, diretor-técnico da Bio Ritmo.
A vantagem é que, assim, a queima de gordura continua por mais tempo no pós-exercício, segundo Guiselini.
"Para perder um quilo você precisa gastar 7.000 calorias a mais do que as consumidas", diz o médico Turíbio Leite de Barros, da Unifesp.
"O aluno come bolo de chocolate com chantili, mas o prejuízo não se paga em duas horas de esteira."
Um erro clássico é fazer horas de aeróbico, nada de musculação e eliminar carboidratos da dieta. "Aí o corpo usa proteína como fonte de energia e perde massa muscular. Qualquer carboidrato ingerido será transformado em gordura", diz Guiselini.
Leite de Barros diz que o treino intervalado e intenso é menos monótono do que o "devagar e sempre".
Isadora Brant/Folhapress
Outra vantagem, para o ator Gustavo Fernandes, 34, são os resultados. "Passar horas na academia não funcionou para mim." Há nove meses, faz o treino curto e focado, três vezes por semana. "Estou quase no peso."
O arquiteto Reynaldo Rosemberg, 44, tem experiência semelhante. "Eu treinava cinco vezes por semana, ficava uma hora na esteira. Agora, faço aeróbico de 20 minutos e perco muito mais calorias."
Muito bom, mas se esse treino emagrece mais, também machuca mais: aumenta o risco de tendinite, lesão articular, inflamações. "Na velocidade, é mais comum a pessoa fazer o exercício na postura errada, prejudicando toda a organização do corpo", alerta Leite de Barros.

IARA BIDERMAN

Lula diz que político não pode 'tremer' quando for acusado


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em Salvador (BA), que "político tem que ter casco duro" e não pode "tremer" cada vez que for acusado de fazer "coisa errada".
A declaração se referia aos ex-ministros Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura) e Pedro Novais (Turismo).
Segundo Lula, eles pediram exoneração porque não resistiram à pressão de suspeitas de envolvimento em casos de corrupção.
O ex-presidente não fez menção ao petista Antonio Palocci, que saiu da Casa Civil em junho.
"Político tem que ter casco duro. Se o político tremer cada vez que alguém disser uma coisa errada sobre ele e não enfrentar a briga para dizer que está certo, acaba saindo mesmo", disse o petista, durante cerimônia da Universidade Federal da Bahia.
Ele recebeu o título de doutor honoris causa em meio a protestos de estudantes.
Um grupo de manifestantes reivindicou do governo federal a aplicação de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em educação.
Enquanto Lula discursava, citando números de sua gestão para o setor, os estudantes gritavam do lado de fora do auditório.
No fim da cerimônia, eles foram autorizados a entrar e ergueram cartazes. Lula brincou com os manifestantes, dizendo que dedicava a eles o título que acabara de receber.

ELEIÇÕES

Ao falar com a imprensa, Lula minimizou o peso das pesquisas eleitorais que apontam a senadora Marta Suplicy (PT) na liderança da corrida pela Prefeitura de São Paulo, em 2012.
Ele defendeu que o partido lance "pessoas novas" para ganhar a eleição.
Segundo o Datafolha, a ex-prefeita (2001-2004) tem hoje 31% das intenções de voto.
Já o ministro da Educação, Fernando Haddad, o preferido de Lula, oscila entre 1% ou 2%, dependendo do cenário.
"O PT tem 30%, qualquer que seja o candidato", afirmou o ex-presidente.

GRACILIANO ROCHA

A cara!



Blog Josias de Souza

Tempos confusos

O vento mudou de direção. Coisa de um mês atrás todo mundo queria saber qual era o piso para o dólar em relação ao real. A moeda americana caminhava para custar menos de R$ 1,50. O sinal vermelho acendeu dentro do governo e Dilma autorizou sua equipe a jogar pesado. Resultado: nos últimos dias, a pergunta mudou para "Qual será o teto para o valor do dólar?" Na semana passada, havia quem dissesse que não custaria mais do que R$ 1,75. Na abertura desta semana chegou perto de R$ 1,80.
A mudança de trajetória do dólar levanta algumas questões. Qual será seu impacto na inflação doméstica? Afinal, com dólar mais caro os preços dos importados ficam mais elevados, deixando de ajudar o Banco Central na sua luta contra a inflação. Será um impacto tão negativo que leve o Banco Central a flexibilizar sua nova linha de política monetária, adotada desde que decidiu cortar em 0,50 ponto percentual a taxa de juros?
Por enquanto, todas as apostas indicam que o BC irá fazer mais dois cortes de 0,50 ponto percentual nos juros até o final do ano, fechando 2011 com taxa de 11%. E se a inflação der sinais de resistências nos próximos meses por conta de eventuais contaminações vindas de um dólar mais valorizado? O BC pode decidir reduzir o tamanho dos cortes de juros planejados? Por enquanto, a resposta parece ser não. Só que os ventos estão mudando muito rapidamente.
Tão rapidamente que o governo, tudo indica, não levou totalmente em conta esse novo cenário ao baixar a medida protecionista de elevar o IPI sobre a importação de carros. O dólar mais caro vai encarecer a importação de automóveis no país. Se a alta for além do que todos previam, talvez não fosse necessário subir tanto a alíquota de IPI sobre carros importados como fez o governo na semana passada.
Nesse tempo tão confuso, o cenário internacional contribui para tudo ficar ainda mais nebuloso. O destino das dívidas de países europeus, como Grécia, parece ser mesmo o da moratória. Negociada ou não? Afetando mortalmente ou não a saúde de alguns bancos europeus? Criando que tipo de efeito dominó no restante do mundo?
Diante de rumos, internos e externos, tão incertos, a boa governança indicaria precaução a todos. Pois bem, não é o que presenciamos em Brasília dentro do Congresso. Até agora, não se ouve um discurso, que dirá uma iniciativa, da parte do nosso parlamento em busca de medidas que possam melhorar nossa proteção na área econômica.
Pelo contrário, o debate está repleto de tópicos que só falam em como distribuir mais dinheiro para esse e aquele projeto. Senadores e deputados estão envolvidos na discussão da nova divisão dos royalties, do aumento de verbas para saúde, do reajuste de salários do Judiciário e do Legislativo. Mais uma vez, parece que nosso Congresso só vai acordar para o mundo quando ele desabar.

Valdo Cruz

Homosapiens!



Blog Josias de Souza

Inimigos da semana

No futebol, o ideal é que a rivalidade fique restrita aos gramados. Mas todos nós sabemos que os duelos, principalmente os dos últimos anos, também acontecem com alfinetadas que provocam discussões muito antes de uma partida e se prolongam até muito depois que o árbitro apita o final do tempo regulamentar.

Segue algumas disputas que aqueceram o mundo do futebol na última semana:

Corinthians x São Paulo - É notório que a troca de farpas entre corintianos e são-paulinos tem sido intensa nos últimos anos. Mas na semana em que os dois times se enfrentam as provocações aumentam ainda mais. É preciso dizer que essa briga ocorre porque um clube passou a se interessar em ter o que o outro tem de mais forte.
Por exemplo, nos últimos tempos o Corinthians tenta transformar a imagem de seu clube. Sem perder a fama de time popular, o clube quer conquistar uma faixa de público mais abonado financeiramente. Por isso, lança sempre ações de marketing para atrair essa faixa de torcida. O São Paulo, por sua vez, tenta fazer o caminho inverso e procura atingir uma massa de torcedores pertencente às camadas sociais mais baixas ou à nova classe média. O time do Morumbi sabe que vai ter de acabar de vez com a fama de "clube da elite" para conseguir esse tipo de torcedor.
Há ainda o esforço de o Corinthians demonstrar que é um time que está organizado, com as construções de estádio e CT de treinamento e o estatuto que prevê a constante troca de poder práticas que sempre foram associadas ao São Paulo. Já o time do Morumbi tenta provar que não foi ultrapassado pelo Corinthians nas ações de marketing e traça novas estratégias para dar mais visibilidade ao clube.
Resumindo: a briga entre São Paulo e Corinthians está no fato de o Corinthians querer ser um pouco o São Paulo e vice-versa.
Tite x Corinthians - Apesar de a diretoria afirmar que não vai mandar embora seu treinador, é preciso dizer que Tite ainda não foi dispensado porque a direção do clube não achou um nome de peso no mercado que possa substituí-lo na reta final do Campeonato Brasileiro. Há uma grande simpatia por Ney Franco, mas este parece não querer desfazer seu contrato com a CBF que garante ao treinador emprego até os Jogos Olímpicos de 2016.
Mano Menezes x seleção - Infelizmente não vejo Mano Menezes como o técnico ideal para montar nossa seleção para a Copa de 2014. Acho que, com pouco mais de um ano no cargo de treinador, ele mudou muito suas convicções apenas para se manter no cargo. A prometida renovação não aconteceu pois na primeira sequência de resultados ruins ele já chamou jogadores veteranos, entre eles Ronaldinho Gaúcho. Também mudou muito rápido o estilo de jogo. Ele que prometia resgatar o futebol ofensivo do Brasil, logo se agarrou a um time repleto de volantes. Mano é um técnico com bons conhecimentos de futebol, mas chegou muito cedo à seleção.
Palmeiras x Palmeiras- Poderia ser Felipão x Frizzo, Situação x Oposição, Jogadores x Jogadores, Felipão contra as torcidas organizadas..., pois é incrível o caos que vive o clube. Não passamos uma semana sem que não estoure uma crise no clube. O Palmeiras subverteu a ordem do futebol e entra em crise até quando o time consegue vitórias importantes. Não existe no nosso futebol outro clube com tanto poder de autodestruição quanto o Palmeiras. O que o clube precisa é de um grupo de dirigentes fortes, que blindem o departamento de futebol das pressões. Esse vácuo na direção faz sempre alguém querer ser dono do time, agora quem faz esse papel é o técnico Luiz Felipe Scolari, talvez o único que tenha competência ou saiba o que é dirigir um time de futebol.
Luxemburgo x Forças Ocultas - Ainda considero Vanderlei Luxemburgo um dos melhores treinadores do país, mas está na hora de ele parar de pensar que existe uma grande conspiração para diminuir sua capacidade. Nos últimos anos, é só o time treinado por ele viver um mau período para ele culpar árbitros, gramados e até jornalistas pelos maus resultados. O declínio de Luxemburgo tem início quando ele começou a se preocupar mais em calar aqueles que o criticam de maneira pesada do que em fazer seu trabalho em campo. Por exemplo: faz tempo que o treinador não apresenta nenhuma novidade tática - ou até mesmo uma substituição que surpreenda o adversário e dê realmente resultado.
Práticos x Teóricos - A argumentação mais ridícula que um jogador faz quando não quer aceitar uma crítica é dizer que jornalistas nunca pisaram num gramado para dar uma opinião. Desculpe, mas não é preciso estar mil partidas em campo para saber distinguir, por exemplo, o que é falta ou não, ou descobrir como um time se organiza taticamente. Com certeza, há jornalistas que vivem mais o futebol que muitos atletas, que por vezes não sabem nem as regras do esporte que praticam.

DESTAQUE
Para o Vasco, que se mantém entre os líderes do Campeonato Brasileiro. Passei a considerar o time, o atual campeão da Copa do Brasil, como candidato ao título quando seu treinador, Ricardo Gomes, que felizmente está se recuperando de um AVC, disse a seguinte frase: "Para nós, é o título ou nada". E o time está seguindo o que o treinador disse. O mérito do Vasco é ter o que é chamada de "espinha dorsal de um time" muito forte, com grandes jogadores em posições estratégicas, como Fernando Prass (goleiro), Dedé (zagueiro), os veteranos Juninho Pernambucano (na armação), Eder Luís (atacante velocidade) e Diego Souza (um meia-atacante que decide muitas partidas em jogadas individuais).

ERA PARA SER DESTAQUE
Enquanto o já citado Ricardo Gomes saiu do hospital e Sócrates vai se recuperando, é bom lembrar os momentos difíceis que passa Escurinho, que marcou época jogando no Internacional. Na grande equipe que a equipe gaúcha teve na primeira metade da década de 1970, ele sempre entrava quando o time estava em dificuldades. Com boa estatura e muito bom no jogo aéreo, ele se transformava em uma grande opção para receber cruzamentos. Com suas cabeçadas precisas, tanto na finalização quando na preparação de jogadas - veja esse lance espetacular em http://youtu.be/tPibYLOKbmo -, o Internacional virou muitas partidas nas campanhas dos títulos brasileiros de 1975 e 76. O jogador ainda teve uma boa passagem pelo Palmeiras, fez parte do time que foi vice-campeão brasileiro em 1978 e no time paulista até jogou no gol, quando, na primeira partida da decisão contra o Guarani, entrou no lugar de Leão, que foi expulso.

HUMBERTO PERON

Político de barras!



Blog Josias de Souza

Redes sociais pegaram ditadores desprevenidos, diz professor que mapeou tuítes


As mídias sociais Twitter, Facebook, YouTube e blogs desempenharam papel central na Primavera Árabe, conclui o especialista em comunicação Philip Howard.
Professor da Universidade de Washington, em Seattle, ele conduziu o primeiro estudo quantitativo abrangente sobre o uso de mídia digital nas revoltas que varreram o Oriente Médio e do Norte da África neste ano, analisando mais de 3 milhões de tuítes.
Na rede, diz, os jovens organizadores das manifestações encontraram a ferramenta ideal para viabilizar os protestos de forma rápida, abrangente e irrefreável. Derrubaram assim duas ditaduras longevas: a de Zine Ben Ali na Tunísia e a de Hosni Mubarak no Egito.
Howard, autor de "The Digital Origins of Dictatorship and Democracy: Information Technology and Political Islam" (As origens digitais da ditadura e da democracia: tecnologia da informação e islã político), conversou com a Folha por e-mail nesta semana. Eis a entrevista:
Folha - Alguns analistas afirmaram que as redes sociais foram uma ferramenta, ou um catalisador, para as revoltas sociais no Oriente Médio e no Norte da África, mas não as geraram. Seu estudo, porém, sugere que a velocidade foi um ponto crucial. Qual o peso que teve a velocidade de comunicação viabilizada pela rede?
Philip Howard - A velocidade foi importante porque os ativistas conseguiram pegar os ditadores desprevenidos. De fato, a tecnologia em si não causa levantes políticos, mas nossa pesquisa mostra que ela pode ser usada por ativistas criativos para pegar governos autoritários com a guarda baixa.
Isso porque a maioria dos governos autoritários não tem uma compreensão mais sofisticada de como as mídias sociais funcionam.
Folha - Você afirma que o governo no Egito começou a usar as redes sociais para antecipar o próximo passo dos manifestantes. Examinando os dados usados no estudo, vocês acharam algum sinal de contrapropaganda dos regimes?
Howard - Boa questão. Os governos de fato usam a mídia digital para estratégias de contra-insurgência. É por isso também que eu não falo de Revolução do Twitter ou Revolução do Facebook.
Embora essas tecnologias tenham sido importantes neste ano, cinco anos atrás eram SMS e blogs que pegavam os ditadores desprevenidos, e no ano que vem pode ser outra coisa.
Sabemos, por nossos estudos em campo, que governos como o da Síria e o do Irã usam identidades falsas para convocar protestos em um dado lugar e hora e prender todo mundo que aparece.
Folha - É difícil não se empolgar com o que aconteceu na Tunísia e no Egito, mas a taxa de penetração da Internet nos dois países é muito baixa, embora eles tenham comunidades on-line bastante sofisticadas. Você vê algum risco de o uso político das redes sociais amplificar só a voz de uma elite intelectual?
Howard - Isso já é mais difícil de responder, porque eu acho que, em parte, foi a elite intelectual que cansou de um regime autoritário, de suas mentiras e da falta de oportunidades econômicas.
Pode ser que, como os usuários da internet são normalmente de classe mais alta, gente mais educada, que suas opiniões sejam mais liberais do que a da maioria dos egípcios.
Pode ser que haja um sentimento pró-islã mais forte entre a população offline, e se os liberais antenados dominarem o debate político, sim, será em detrimento dos conservadores islâmicos.
Folha - O estudo identifica uma série de condições no Egito e na Tunísia que ajudaram esse movimento on-line a crescer população jovem e urbana, gente educada e sem oportunidade de emprego, blogosfera sofisticada. Apesar de protestos em outros lugares, porém, só ali as revoltas floresceram. Você identifica outros países com terreno fértil?
Howard - Jordânia e Marrocos são países onde poder haver manifestações populares pró-democracia.
O padrão parece ser que, em países com ativistas versados em tecnologia, mas sem governos autoritários que se amparam na riqueza do petróleo, há momentos-chave na política quando se frauda uma eleição.
É cada vez mais difícil fraudar uma eleição, e os governantes desses dois países logo fizeram concessões na Primavera Árabe - prometeram eleições na Câmara e reforma Constitucional.
Folha - Pouco antes de a Primavera Árabe começar, você havia publicado um livro sobre o uso da tecnologia da informação e da Internet em Estados islâmicos. Você se surpreendeu quando os movimentos eclodiram.
Howard - Meu instinto era que o Egito entraria em crise, mas que a crise viria na reeleição fraudada do Mubarak, que estava prevista para acontecer neste mês.
Eu não achava que ele sobreviveria [politicamente] com os ativistas digital ficando tão bons no que fazem.
O livro propõe uma receita para a democratização, e o que aconteceu nos últimos seis meses se encaixa nela.
Uma coisa que me surpreendeu, porém, foi a forma como os protestos políticos se espalharam para além da região na Espanha, na China, em Israel etc.

LUCIANA COELHO

PF investiga a Vale em operação para combater grilagem


A Polícia Federal investiga um suposto esquema fraudulento de apropriação de terras públicas do Estado de Minas Gerais ricas em minério de ferro e suspeita do envolvimento da mineradora Vale, informa reportagem de Paulo Peixoto, publicada na Folha desta quarta-feira (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
A PF e os Ministérios Públicos Federal e estadual querem saber as razões de a companhia ter pago R$ 41 milhões a supostos integrantes de uma quadrilha que fraudava títulos de terras públicas.
A Vale diz desconhecer o inquérito.
O esquema envolve servidores públicos, mineradoras, empresas de exploração florestal e grileiros, segundo a polícia.
A Operação Grilo, deflagrada na terça-feira, resultou no afastamento do secretário de Regulação Fundiária, Manoel Costa, a pedido do Ministério Público do Estado.
A PF pediu a prisão de dez pessoas e cumpriu mais de 20 mandados de busca e apreensão, a maioria em cidades do norte de Minas, onde as investigações estão concentradas.
A quadrilha, segundo a PF, contava com a colaboração de pelo menos dois funcionários do Iter (Instituto de Terras de Minas Gerais), autarquia do governo estadual, subordinada ao secretário Manoel Costa.

Paulo Peixoto