quinta-feira, 28 de abril de 2011

Governadores são derrotados no STF


Na tarde desta quarta-feira (27), o plenário do Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento da ADI 4.167, no tocante ao parágrafo 4º do art. 2º da Lei 11.738, que versa sobre a destinação de, no mínimo, 1/3 (um terço) da jornada de trabalho do/a professor/a para a hora aula-atividade, rejeitando, assim, a tese da inconstitucionalidade proposta pelos cinco governadores considerados “Inimigos da Educação, Traidores da Escola Pública”.
No início do mês, o STF já havia julgado constitucional a parte da Lei 11.738 que vincula o piso nacional aos vencimentos iniciais das carreiras de magistério de estados e municípios.
Mesmo considerando a hora aula-atividade constitucional, é possível que gestores descompromissados com a educação de qualidade não apliquem efetivamente o preceito da norma federal, em razão de a votação no STF não ter alcançado o quorum qualificado de seis votos. Nestes casos, os Sindicatos deverão ingressar com ação judicial nos tribunais estaduais, podendo eventuais recursos retornarem ao STF.
Diante da improcedência integral do pedido de inconstitucionalidade da Lei 11.738, e à luz dos efeitos jurídicos perpetrados no julgamento sobre a hora aula-atividade, a CNTE orienta seus sindicatos filiados a exigirem dos gestores públicos a aplicação de todos os preceitos da lei do piso do magistério, devendo, nos casos de descumprimento do parágrafo 4ª do art. 2º da Lei 11.738, os mesmos ingressarem com ação judicial para forçar, no curto prazo, o pronunciamento do judiciário local e, posteriormente, a decisão sobre o efeito vinculante na Suprema Corte.
Renato AlvesLembramos, ainda, que a aplicação dos preceitos da Lei 11.738 – questionados na ADI 4.167 – não necessita aguardar o acórdão do relator. O cumprimento da decisão deve ser imediato.

CNTE

Relatório do Sintepe aponta problemas nas escolas estaduais


Na audiência pública desta terça-feira (26), realizada no auditório da OAB-PE, bairro de Santo Antônio, o Sintepe apresentou o resultado de um levantamento feito no mês de março sobre a situação das escolas da rede estadual de Pernambuco.
Participaram do encontro, o presidente e a vice do sindicato, Heleno Araújo e Antonieta Trindade, que representaram também CNTE, da qual são diretores, o deputado federal Paulo Rubem (PDT-PE), e a assessora do gabinete da deputada estadual Teresa Leitão, Ivete Caetano.
O relatório foi baseado nas visitas feitas por diretores e representantes setoriais do sindicato em 163 das 1.107 unidades (14,7% da rede), localizadas na Região Metropolitana do Recife e nos municípios de Palmares (Mata Sul), Gravatá (Agreste) e Cabrobó (Sertão).
Foram identificados em 157 escolas (96,3%), problemas de infraestrutura, como instalações elétricas precárias, salas de aula inadequadas, quadras poliesportivas abandonadas, falta de bancas e material didático.
As chuvas ainda agravaram a situação de sete unidades (4,29%). Imóveis erguidos abaixo do nível da rua estão vulneráveis a alagamentos que já chegaram a paralisar as atividades na Escola Pedro Barros Filho, em Piedade, além de prédios com infiltrações e sem manutenção no sistema de esgoto e saneamento, que prejudicam o funcionamento da Escola Nossa Senhora das Dores, no bairro de Areeiro, em Camaragibe, no inverno.
No período de visitas ficou constatado que faltam professores de todas as disciplinas em 35 escolas, o que corresponde ao percentual de 21,47%. Casos graves de violência também foram denunciados por trabalhadores de nove unidades (5,5%), enquanto o sentimento de insegurança foi observado em 28 escolas, totalizando 17,1%.
Entre as ocorrências mais críticas estão agressões, alunos armados e casos recentes de funcionários mantidos reféns e tiroteio, que aconteceram na Escola Estadual Poeta Mauro Mota, no bairro de Socorro, em Jaboatão dos Guararapes.
“Em apenas cerca de 15% das escolas pesquisadas encontramos sérios problemas que vão de encontro ao que é colocado na publicidade do governo”, alertou o presidente do Sintepe, Heleno Araújo.
A apresentação do relatório foi a maneira escolhida pelo Sintepe para chamar a atenção das autoridades e sociedade civil nesta que é comemorada a 12ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública.
Até o próximo dia 29, o sindicato junto à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) promoverá debates com a categoria e a comunidade escolar sobre o Plano Nacional de Educação (PNE), para o decênio de 2011-2020.
Durante a audiência a entidade destacou quatro pontos do PNE que foram reforçados na pauta de reivindicações entregue ao governo no último dia 8:
-Garantia do direito à educação, levando em conta os dados do IBGE que apontam que 209 mil crianças e jovens de 4 a 17 anos estão fora das escolas em Pernambuco;
- Permanência em sala de aula, já que 112 mil estudantes abandonaram o ensino fundamental e médio da rede pública em 2009, segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE);
- Melhoria do processo de ensino-aprendizagem devido a média de 3,1 obtida na última avaliação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), cujas notas valiam entre 0 e 10;
- Valorização profissional, que de acordo com o ranking do Ministério da Educação (MEC), os R$1.045 pagos aos professores da rede estadual que cumprem 40 horas de jornada de trabalho são o pior salário do país.
“Considerando que a nossa pauta possui 73 itens econômicos e pedagógicos, esse diagnóstico vai fortalecer o nosso argumento para as negociações da campanha salarial educacional de 2011”, argumentou Heleno Araújo.
PISO SALARIAL – De 9 a 13 de maio serão realizadas mobilizações em todo país em defesa do pagamento integral do Piso Salarial do Magistério. Nesta semana haverá uma paralisação nacional da categoria no dia 11, acompanhada de um ato público em Brasília.

Sintepe

Conselho de (a)ética!



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Ultimate entrevista!



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Vacinação!



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Ensino para o século 19

Sou escritor e consultor. Professor, só duas vezes por semana. Por isso posso dar-me ao luxo de ter uma agenda flexível: trabalho em casa, fujo do trânsito, entro em contato com a maioria das pessoas com quem convivo via telefone e internet. Nada me impede de largar tudo e ir para a praia no exato momento em que você lê este artigo em sua mesa de trabalho. Só não o faço porque, como todo mundo, aceito mais demandas do que seria humano atender.
Com a digitalização dos processos, cada vez mais profissionais têm regimes de trabalho como o meu, com reuniões em cafés e um código de vestimenta sem considerações mais profundas do que se uma peça de roupa está limpa, inteira e razoavelmente desamassada. A vida tecnológica tem, muitas vezes, a aparência desleixada da de um estudante universitário.
A maioria das escolas, no entanto, ainda parece qualificar o profissional do século 19. As que frequentei, por exemplo, me prepararam para um mundo muito diferente. Comparadas com a rotina que levo hoje, eram quase paramilitares. Se diziam "progressivas", mas tinham códigos de vestimenta, horários rígidos, filas, contagens e chamadas. Avaliações aleatórias, sem direito a consulta, eram a norma. Como também o eram os trabalhos individuais, o preenchimento de relatórios e formulários para a realização de qualquer tipo de atividade, as punições morais na forma de notas e as restrições de circulação.
Mas o pior eram o que chamavam de "aulas": aquelas longas sessões em que informações desconexas eram impostas por autocratas entediados a uma audiência trancafiada e imóvel, sem poder de voto, argumentação ou debate, que tinha que decorar nomes de organelas, fórmulas de mecânica, sistemas políticos gregos e reações de oxidação, mesmo que mostrasse vocação para o jornalismo ou eletrônica.
Não é preciso dizer que telefones celulares, YouTube e mídias sociais, se existissem na época, certamente seriam proibidos, sob a justificativa de atrapalharem a "didática". O sistema, enfim, era mais claro em suas restrições de movimento, de expressão e de atividade do que em suas propostas. Se é que existia alguma proposta além de passar em um tal de exame vestibular para profissões hoje extintas.
As escolas de hoje são, é claro, diferentes. Mas não muito. Não sou pedagogo, mas me parece inadequado chamar de "educação" um sistema que desperdiça vários anos em um curso preparatório para uma única prova. E que, mesmo depois do obstáculo ser transposto, se perpetua pelos anos de faculdade, em nome da "adequação para o mercado de trabalho". Que trabalho ainda demanda um comportamento de decorebas e isolamento?
É duro admitir, mas a maioria das crianças e adultos ainda vêm sendo adestrados segundo padrões do século 19. Qualquer profissional adaptado ao mercado contemporâneo sabe que o aprendizado é um processo contínuo, infinito e prazeroso. Ou pelo menos deveria sê-lo. Não surpreende que a maioria dos que se sentem adaptados sejam autodidatas. Ou que não tenham aprendido quase nada do que praticam em sala de aula.
Tampouco surpreende ouvir de profissionais bem-sucedidos que a faculdade mais os atrapalhou do que ajudou. Ou de tantos estudantes comentarem abertamente que seu maior objetivo é sair da escola rápido para começar a trabalhar logo de uma vez. Mesmo que depois voltem a ela em busca de novos certificados e mestrados, como se o conhecimento fosse finito e pudesse ser encapsulado, enclausurado... e esquecido.
É preciso rever a forma com que é ensinado, avaliado e cobrado o que se mostra nas escolas. Qualquer nerd ou gamer sabe muito bem que, quando o desafio é fascinante e socialmente reconhecido, os professores são reverenciados e os certificados, quase acessórios.

Luli Radfahrer

Águas futuras

Na última terça-feira foi o Rio que ficou debaixo d'água. As imagens logo remeteram às enchentes do início do ano. Sabíamos que, passadas as águas de março, o tema vai para gaveta, e retorna no verão seguinte. Todos aqueles planos, promessas, propostas, aqueles pedidos de liberação de verbas para emergências, que inundaram as telas da TV se calam, em um clique de botão, e a sociedade, conformada, espera, a repetição.
Todavia as chuvas não mais respeitam estação. E o Rio, submergiu.Na cobertura, surge o secretário que assume não ter conseguido realizar a previsão a tempo de avisar o povo. Tudo por água abaixo.
Parece aqueles filmes épicos que se repetem nos feriados de Páscoa e Natal; Ben-Hur, com a corrida de bigas; Charleston Heston, pela enésima vez. E as reportagens de feriadões, do Carnaval, com as mesmas filas, imagens e declarações.
Mas há solução sim. Nada que seja panaceia nem bala de prata que, em passe de mágica, resolva tudo. Primeiro, é questão mesmo de atitude, de cobrar, de perseverar, de não se conformar e de agir. Cada um fazer a sua parte e não ficar no comodismo da reclamação como se houvesse um semideus de plantão a resolver tudo. E há ideias, algumas já apresentadas por várias frentes que ficam sem resposta, sem a gente saber por que não são implantadas.
O exercício de acolher as sugestões, aplicá-las, avaliá-las não só atinge os resultados que elas proporcionam, como criam corrente positiva de soluções, interação com a sociedade, um clima a favor. Para não restarmos só a lamentar.
Podem ser pequenas coisas, mas que mudem hábitos. Podem ser projetos médios que, uma vez feitos, suscitem a vinda de outros formando uma cadeia regeneradora e criativa.
Hoje, destaco as calçadas verdes (sugestão enviada por Edson Martins e Fernando Nassif, por e-mail).
Foram introduzidas, segundo consta, no início do século 20, pela Cia. City, nos loteamentos do Jardim América, Pacaembu e City Lapa. Eram obrigatórias. Durante décadas, constituíram-se em paisagem fantástica, conforme documento Calçadas Verdes e Acessíveis de Gilmar Altamirano, José Roberto Andrade Amaral e Paulo Sérgio Silva iniciativa da APPA (Associação Pompeia de Preservação Ambiental) com apoio da Secretária Municipal do Verde e do Meio Ambiente e Universidade da Água. Mas, limitaram-se ao setor rico da cidade. Por que a periferia não pode tê-las também?
Em 1972, a Lei do Zoneamento de São Paulo acabou com a obrigatoriedade nesses locais.
Em vez de estender aos mais pobres, nivelou-se pelo negativo: nem para pobres nem para ricos. Sem calçadas verdes,que hoje são exceções. Temos um bom exemplo na rua Mercedes, na Lapa, e em pequeno trecho na Faria Lima, perto do cruzamento com a Juscelino, sentido Pinheiros-Itaim. Além de mais bonitas, ajudam significativamente na drenagem da água da chuva. Não resolvem enchentes, porém minimizam seus efeitos. E é assim que se vai avançando.
Os canteiros centrais de várias avenidas também poderiam ser gramados. O projeto original da arquiteta Rosa Kliass, na Paulista, era gramado. Um radialista, segundo a história contada pelo documento citado, passou a protestar porque a travessia o levava a pisar na lama!!!
Óbvio que ele estava atravessando fora da faixa de pedestres, de forma anárquica. E venceu. Pavimentaram o canteiro. É o tipo de postura que muda a cidade para pior. E é absorvido sem a gente saber o motivo.
Calçadas verdes não são panaceia, como disse. Mas embelezariam a cidade, principalmente a periferia, que é tão inóspita, e ajudariam na drenagem. Melhor que o mar de asfalto. E podem ser feitas pela própria população, responsável pelos passeios em frente das residências.
É só seguir a cartilha da Prefeitura de São Paulo, estar atento à Lei 13.646, de 2003. Está lá como fazer.
CONCEITO
Plantar árvores, arbustos, forração vertical (hera e unha-de-gato, por exemplo) e grama de forma organizada, gera o que o arquiteto-paisagista Benedito Abbud denomina de calçada verde.
A copa das grandes árvores minimiza a massa construída descontínua da cidade de São Paulo e propicia sombreamento (ambientes mais frescos).
Os arbustos e trepadeiras plantados em muros, viadutos e arrimos propiciam uma maior sensação de verde.
O conjunto melhora a qualidade ambiental, retendo o calor durante o dia e amortecendo o calor durante a noite.
As calçadas verdes contribuem para uma variação de temperatura menor e consequentemente uma população mais saudável.

José Luiz Portella

A nova classe A (enche o saco)

Só se fala da nova classe C, que irrita classes mais abastadas com a invasão dos aeroportos e de outros redutos antes sempre restritos às elites, onde pobre só entrava pela porta de serviço, tal o apartheid social brasileiro de então.
Mas e a nova classe A?
O sucesso de Lula e do PT veio tanto da emergência dos pobres como dos ricos do Brasil. O número de milionários explodiu, bancos de investimento e que administram fortunas descobriram na PTlândia a nova fronteira financeira global.
Outro dia, terça-feira, o Fasano tinha espera de uma hora mal aberto o salão. No outro italiano que encontrei lugar, cariocas expatriados, com seus Blackberries e iPhones misturados aos talheres sobre a mesa, vomitavam riqueza para o restaurante inteiro ouvir e gargalhavam com suas comparações entre Rio, São Paulo, Nova York e... Niterói.
Esses cariocas geralmente estudaram nas boas escolas de economia do Rio (e do Brasil), PUC e FGV, depois foram para os EUA e agora voltam porque a ação está aqui. São Paulo é a nova Nova York. Rio é a nova Los Angeles. Costa Leste e Costa Oeste da via Dutra.
Os cariocas voltaram acompanhados de uma legião de gringos, já que toda corporação global que se preze abriu ou reforçou suas operações no Brasil, onde se investindo tudo parece dar.
Os terninhos estão por toda parte. Quem não usa paletó, põe o blazer com calça jeans. "A energia de São Paulo é incrível", dizem os novos gringos que passeiam em sua garoa.
E o ciclo que alimentou o primeiro boom milionário no Brasil está em curso novamente: nova onda bem-sucedida de abertura de capital das empresas na Bolsa de São Paulo, novo patamar altista das commodities agropecuárias e minerais que exportamos, valorização de terras, imóveis e ativos em geral, moeda forte, economia aquecida, escassez de mão de obra.
Esta nova classe A é muito mais plural do que a anterior porque mais meritocrática, na medida em que se pode ser meritocrático no Brasil. Herdeiros quatrocentões deram lugar a profissionais urbanos e também rurais não mais ligados a heranças fundiárias ou esquemas oficiais, mas estabelecidos por sua capacidade de aproveitar as imensas oportunidades do novo Brasil.
Os novos ricos como os velhos novos ricos são ruidosos, ostentatórios e pouco ilustrados. Mas com uma fome de viver tudo tão intensamente que deve haver alguma beleza nisso.
Se a nova classe média é a cara do novo Brasil, a nova classe alta é a coroa.
As duas serão igualmente importantes na formação do novo país. As duas vieram para romper o status quo que vigorou por séculos entre nós. São fruto de Lula depois de FHC e convergem para um tropicapitalismo que, bem resolvido, justificará finalmente nossa infundada alegria.

Sérgio Malbergier

O casamento do século

Não vou remar contra a maré. Comento hoje o "casamento do século", mas prometo que não vou dizer uma palavra sobre o vestido de Kate Middleton nem traçar paralelos com a princesa Diana. Na verdade, vou advogar pela abolição da monarquia, mas comecemos pelo começo.
Por que o enlace entre um oficial da Royal Air Force e uma historiadora da arte, com uma audiência televisiva esperada de 2 bilhões de terráqueos, desperta tamanha atenção? A resposta é até fácil. O noivo, William de Gales, é o segundo na linha de sucessão da coroa britânica. Isso significa que ele muito provavelmente será o monarca do Reino Unido, e chefe de Estado de mais 15 Estados independentes, que incluem o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia. É verdade que os poderes de fato do soberano são para lá de limitados, mas, ainda assim, rei é rei e não há dúvida de que é a realeza que diferencia este casamento das dezenas de uniões entre celebridades que se celebram todos os anos, acendendo muito menos holofotes.
A pergunta relevante, então, é: por que temos esse lance com reis e rainhas? A resposta não é trivial. Desde que o homem desenvolveu a agricultura, cerca de dez mil anos atrás, os bandos relativamente igualitários de caçadores-coletores foram dando lugar a sociedades maiores e mais complexas, que, se não exigiam, ao menos ofereciam espaço para uma autoridade central. Nasciam assim os primeiros reis e, com eles, as primeiras tiranias.
Assumir o poder é apenas a primeira dificuldade na vida de uma dinastia. Uma vez lá, é preciso manter-se no comando. O método mais eficiente é contar com um bom exército, mas outros truques também são bem-vindos. Um particularmente útil é convencer os súditos de que eles devem, além de temer, amar e respeitar o soberano. Pode parecer contraditório, mas algumas fragilidades da cognição humana favorecem o candidato a déspota.
Como mostra o trabalho do psicólogo Paul Bloom, da Universidade Yale, nós, humanos, temos uma visão essencialista do mundo, ou seja, estamos sempre à procura da natureza oculta das coisas. Esse hábito, exótico mesmo para os padrões dos mamíferos antropoides, tem uma série de consequências, algumas positivas, outras, negativas.
Comecemos pelas boas. Essa obsessão para com substâncias e quididades nos leva a ser observadores detalhistas, que tentam ler em pistas externas a verdadeira essência dos objetos e isso tende a favorecer a sobrevivência. Se você for um botânico superficial, acabará levando a planta venenosa em vez do remédio para casa. Em algum grau, o essencialismo é real. O próprio sucesso das ciências indica que existem de fato realidades não evidentes a ser descobertas no mundo. Outros subprodutos interessantes incluem nosso gosto pela filosofia, pela ficção e a filatelia (ou qualquer outro colecionismo).
Do lado menos brilhante do essencialismo, temos a obstinada tendência de enxergar propriedades invisíveis mesmo onde elas não existem. É por acreditar que diferenças superficiais devem refletir também diferenças essenciais que temos fenômenos como o racismo e demais formas de discriminação moralmente condenáveis. Desenvolvemos também uma tendência a crendices sem paralelo em outras espécies animais, do que dão prova a astrologia, a homeopatia e a religião. Quem apostou que, na era da ciência, a humanidade finalmente superaria esse gênero de superstição quebrou a cara.
Voltando à realeza, ela soube explorar nossa quedinha por naturezas secretas. Antes de mais nada, monarcas tiveram o cuidado de informar seus súditos de que se sentavam no trono e empunhavam o cetro por direito divino. Isto é, depois do Altíssimo, eram eles que mandavam e ai de quem tentasse contestar. Evidentemente, tudo é um jogo de mão dupla. Se faz parte da essência do soberano comandar, essa virtude precisa exibir também algumas manifestações externas. É assim que surgem metáforas como a do "sangue azul" e, mais concretamente, leis suntuárias que reservavam trajes exclusivos para reis, seus familiares e outros membros da nobreza. Na Roma imperial, por exemplo, só o imperador podia usar a toga púrpura. Penalidades para quem descumprisse a norma variavam conforme o freguês (e as necessidades do vendedor). Iam desde multa até a morte, passando pelo confisco das propriedades.
E há mais. Como mostra Michel Foucault em "As palavras e as Coisas", pelo menos até o finzinho do século 16 era perfeitamente razoável, senão obrigatório, acreditar em magia: fazer ciência nada mais era do que descobrir analogias absconsas entre seres. Assim, era perfeitamente natural que o corpo do rei possuísse propriedades místicas.
Ninguém melhor do que Shakespeare, um autor da transição do século 16 para o 17, para apresentá-las. Na terceira cena do quarto ato de "Macbeth", quando o nobre Macduff e Malcolm, o filho do rei assassinado, que estava exilado na Inglaterra, discutem os contrastes entre a monarquia boa (a inglesa) e a má (a escocesa, encabeçada por Macbeth), o herdeiro legítimo do trono escocês diz a respeito de seu anfitrião: "Miraculoso feito realiza este bom rei, já presenciado várias vezes por mim, desde que me acho no reino da Inglaterra. De que modo consegue o céu mover, só ele sabe. Mas pessoas tocadas de moléstias estranhas, cheias de úlceras, tristíssimo espetáculo a todos, desespero da medicina, sãs ele tem posto com lhes pôr ao pescoço uma áurea estampa, ao tempo em que murmura santas preces. Dizem também que aos reis seus sucessores transmitirá esse poder bendito de curas realizar. Mas além dessa virtude estranha, o dom possui celeste da profecia, sobre lhe cercarem o trono várias bênçãos que o declaram cheio de graças".
Utilizar o rei como terapia não era um hábito exclusivamente inglês. Pelo que sabemos hoje sobre o efeito placebo, é razoável supor que o toque monárquico funcionasse para algumas enfermidades. Mas, como os médicos de então não sabiam diferenciar entre moléstias infecciosas e psicossomáticas, o mais provável é que a prática constituísse uma ameaça à saúde do rei.
Os efeitos do essencialismo não acabam aqui. Pelo menos desde Homero, reis souberam colocar-se nos melhores papéis ficcionais. Virtualmente todos os heróis da Ilíada são soberanos ou herdeiros de algum território. O mesmo vale para Gilgamesh, os reis Saul, David e Salomão, o ciclo arturiano, Boewulf e até as histórias infantis, povoadas por príncipes e princesas. Não parece exagero afirmar que, em nossas cabeças, as noções de herói e rei se misturam. É claro que, de vez em quando, surge um monarca que pode ser considerado do mal, como Macbeth, mas eles são em geral punidos no curso da ação e a justiça poética termina bem servida.
Após quase 3.000 de doutrinação política e literária, que se valem de nossas mais vexatórias fraquezas neurológicas, seria uma surpresa se não víssemos a monarquia, em especial bodas reais, com a mais favorável das inclinações. O problema é que, com o curso do tempo e o progresso da civilização, o princípio mesmo de monarquia se tornou moralmente injustificável. Como defender que um ser humano tenha privilégios sociais e legais em virtude não de seu esforço (ou, se admitirmos o direito de herança, do de seus pais), mas apenas de seu nascimento? É difícil até imaginar uma ideia mais antidemocrática do que essa.
É incrível que, nesses tempos de politicamente correto, nos quais discursos que apenas contemplem a possibilidade de haver diferenças naturais entre raças, gêneros e grupos sociais são severamente patrulhados, 2 bilhões de humanos ainda celebrem e se encantem com a mais absurda das dicotomias jamais criadas pelo homem: a divisão do mundo em soberanos e súditos. Daí que o inexpressivo movimento republicano inglês tem toda minha simpatia.

Hélio Schwartsman

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Surpreeeeeesa!



Blog de Josias de Souza

Malhação do Judas!



Blog de Josias de Souza

Uma ceia pouco santa!



Blog de Josias de Souza

Brasil, um país de poucos

Há anos não viajava para o destino escolhido no feriado que passou, no litoral norte de São Paulo.
A paisagem é totalmente outra em relação à última vez: novas lojas, muitas com ar condicionado, supermercados grandes e modernos e muita, muita gente.
Há muito tempo também não pegava uma estrada, dirigindo, no Brasil.
O tráfego está horrível. Quando podem, os carros voam. Os motoristas são mal educados e absurdamente imprudentes. Quanto maior e mais potente o veículo, maior também a audácia.
A ascensão da classe C no Brasil vem expondo no cotidiano das cidades e de locais antes tranquilos a saturação. E a tremenda falta de senso do coletivo que existe no Brasil.
Os que ultrapassam nas faixas contínuas a 150 km por hora, que param seus carros em qualquer lugar sem se importar com o ir e vir dos demais ou que abrem porta-malas para despejar músicas altas são a face mais visível dessa doença, bem brasileira.
O que se vê é a apropriação privada de locais públicos. Seja por famílias porcalhonas na praia e motoristas que trafegam impunes pelos acostamentos nas rodovias à evidente ocupação ilegal, pela antiga e nova classes média e C, de encostas e áreas de preservação.
É o mesmo fenômeno que entope o trânsito nas cidades. Falta infraestrutura, assim como falta educação e civilidade no Brasil emergente.
Há algumas décadas, os ricos e bem de vida optaram por se fechar em condomínios. Esperavam fugir da violência, da pobreza e do "povão", que pouco os incomodava nas férias ou feriados, imobilizados pela falta de recursos.
A classe dominante, endinheirada mas não necessariamente civilizada, também desfrutava de mais exclusividade. Podia se esbaldar com seus jet skis, voar em carros por estradas mais vazias e construir como quisesse à beira mar.
O quadro mudou. Hoje, há cada vez mais brasileiros competindo por aeroportos, estradas, praias, pousadas, restaurantes.
É ótimo que seja assim, e que se cobre mais infraestrutura a partir de nossos impostos.
Mas, nesse novo contexto, a classe emergente só replica o comportamento da antiga minoria.
É cada um por si. Nisso o Brasil não mudou.

Fernando Canzian

Das vantagens de ser fora-da-lei

A guerra na Líbia está se transformando em uma demonstração clássica de que o crime compensa. Ou de que há vantagens em ser um fora-da-lei, como é visivelmente --e há muitíssimos anos, o caso do coronel Muammar Gaddafi.
Gaddafi bombardeia sem a menor misericórdia a cidade de Misrata, a única na Tripolitania, a região central, que está precariamente em mãos dos rebeldes.
Já as potências ocidentais, apesar de terem um mandato legal para preservar vidas na Líbia, ficam com as mãos amarradas porque, primeiro, não podem pôr tropas em solo líbio e, segundo, qualquer tentativa de bombardear as tropas que cercam Misrata e que acabe atingindo civis provocaria uma enorme onda de repúdio.
É essa, claro, a vantagem da democracia. Nenhum governante pode fazer o que bem entender sem prestar contas à opinião pública. Ditaduras, ao contrário, fazem o que bem entender. Em vez de prestar contas, matam. Simples, assim.
Prefiro, como é óbvio, o modelo democrático. Mas deveria haver uma fórmula que permita às democracias anular a possibilidade de atuação à margem da lei - e da civilização - das ditaduras, de toda e qualquer ditadura.
Enquanto não há, corre-se o risco de se assistir na Líbia à derrota da civilização. OK, você pode até dizer que países civilizados também cometem barbaridades. Tem razão. Mas onde é que você prefere viver, em países nos quais a norma é a barbárie, como na Líbia, ou naqueles em que a barbárie é a exceção?

Clóvis Rossi

Que tal um aumento?

Quando escuto as discussões atuais sobre o orçamento federal dos Estados Unidos, a mensagem que percebo é mais ou menos a seguinte: precisamos tomar medidas drásticas imediatamente! E precisamos manter os impostos baixos, se não cortá-los ainda mais!
Seria de imaginar que, dada a gravidade da situação, talvez o melhor fosse elevar os impostos, e não reduzi-los.
Minha descrição quanto ao debate orçamentário não é de maneira alguma um exagero. Considerem a proposta orçamentária do deputado Paul Ryan, que todas as Pessoas Muito Sérias nos garantiram ser corajosa e importante. A proposta começa pelo alerta de que uma "grande crise de dívida é inevitável", a menos que enfrentemos o problema do deficit. E em seguida, pede não por um aumento mas sim por novo corte de impostos, que conduziria os impostos pagos pelos norte-americanos mais ricos ao seu mais baixo patamar desde 1931.
E devido a esse grande corte de impostos, a única forma pela qual a proposta Ryan pode ao menos alegar que reduziria o deficit envolve cortes severos de gastos, que incidiriam primordialmente sobre as pessoas mais pobres e vulneráveis. (Uma avaliação realista sugere que a proposta de Ryan na realidade conduziria a uma elevação do deficit.)
A proposta do presidente Obama é muito melhor. Pelo menos apela por uma elevação dos impostos que incidem sobre as rendas mais altas ao patamar vigente no governo Clinton. Mas preserva os demais cortes de impostos adotados no governo Bush -cortes que originalmente foram justificados como maneira de eliminar um grande superavit orçamentário. E, como resultado, a proposta orçamentária do presidente também continua a depender pesadamente de cortes de gastos, ainda que não chegue de fato a resultar em um orçamento balanceado.
Assim, por que ninguém está oferecendo uma proposta que reflita a realidade de que os cortes de impostos de Bush foram um imenso erro, e sugerindo que elevar a arrecadação assuma papel importante para a redução do deficit? Na verdade, há quem defenda essa proposta, e retornarei a isso em breve. Primeiro, porém, vamos conversar sobre o estado atual do sistema tributário norte-americano.
Com base no tom de boa parte das discussões sobre o orçamento, seria de pensar que estamos cambaleando ao peso de níveis esmagadores e nunca vistos de tributação. A realidade que é a alíquota efetiva da tributação federal sobre todas as faixas de renda caiu significativamente nos últimos 30 anos, especialmente nas faixas de renda mais elevadas. E, acima de tudo, os impostos norte-americanos são muito inferiores aos da maioria dos demais países ricos, como proporção da renda nacional.
O fato é que não estamos sendo pesadamente tributados, quer sob os padrões históricos, quer em comparação com outras nações. Portanto, se você está realmente horrorizado com o deficit orçamentário, por que não propor um aumento de impostos como parte da solução?
Esperem: há mais. O cerne da proposta Ryan é um plano para privatizar e reduzir as verbas do plano de saúde federal Medicare. Mas isso nada faria para reduzir o deficit ao longo dos 10 próximos anos, o que explica por que todos os cortes em curto prazo vêm de reduções brutais na assistência aos necessitados e de cortes não especificados em verbas optativas. Aumentos de impostos, por outro lado, podem funcionar como um remédio rápido para tirar as contas do vermelho.
E é por isso que a única das grandes propostas orçamentárias em discussão que oferece um percurso plausível para equilibrar o orçamento é a que inclui aumentos de impostos significativos: o "Orçamento do Povo" proposto pela bancada progressista do Congresso. Diferentemente da proposta de Ryan, que consiste de ideologia direitista ortodoxa acompanhada por certa dose de raciocínio mágico, a proposta dos progressistas é genuinamente corajosa, porque pede por sacrifícios compartilhados.
É verdade que a arrecadação cresceria em parte devido à imposição de tributos substancialmente mais altos sobre os ricos, uma ideia popular em toda parte exceto em Washington. Mas a proposta também envolve aumento na contribuição previdenciária, o que resultaria em alta dos impostos pagos por cerca de 6% dos trabalhadores. Além disso, ao rescindir muitos dos cortes de impostos de Bush, não apenas aqueles que afetam os mais ricos, a proposta resultaria em modesta elevação até mesmo nos impostos da classe média.
Tudo isso, somado a cortes de gastos concentrados nas despesas com a defesa, resultaria em orçamento balanceado por volta de 2021. E a proposta torna esse resultado possível sem desmantelar o legado do New Deal e do programa Great Society, que nos deu o Medicare e o Medicaid.
Mas se a proposta dos progressistas tem todas essas virtudes, por que não está recebendo atenção nem ao menos comparável ao projeto de Ryan, muito menos sério? É fato que ela tem pouca chance de conquistar aprovação em curto prazo. Mas o mesmo vale para o plano de Ryan.
A resposta, lamento em dizer, é a insinceridade de boa parte dos integrantes da linha dura orçamentária. A preocupação deles com o orçamento não é tão importante quanto seu desejo de fazer exatamente aquilo que o Orçamento do Povo evita, a saber, rasgar nosso contrato social e recuar o calendário em 80 anos, sob a alegação de que isso é necessário. Eles não querem que ninguém lhes diga que uma virada radical à direita não é realmente necessária.
E não é, como a proposta orçamentária dos progressistas demonstra. Precisamos reduzir o deficit, ainda que não estejamos diante de uma crise imediata. A maneira pela qual escaparemos do vermelho, porém, é questão de escolha, e ao tornar aumentos de impostos parte da solução, podemos evitar cortes devastadores para os pobres bem como medidas que solapariam a segurança da classe média.

Paul Krugman

Martin Amis versus O Casamento

Novo livro de Martin Amis em produção para sair ainda este ano. O Estado da Inglaterra, seu título em tradução fiel.
Amis conhece os truques da profissão. Antes é preciso preparar o terreno para o lançamento. Caetano Veloso não tem o que aprender com o controvertido (uma palavra-chave no metiê) escritor.
Entrevista de Amis, seja para que veículo for, acaba em página ou espaço nobre de jornal britânico. Desta vez, Amis armou seu joguinho para Le Nouvel Observateur, conhecidíssima publicação francesa. E mandou brasa para valer no Reino Unido, com particular ênfase na Família Real.
Ora, como a entrevista saiu menos de dez dias antes do Real Casamento, fica óbvia a intenção do autor, de estatura mais para baixa do que para a média, feito o presidente francês Nicolas Sarkozy.
Falar mal e bem alto do Reino Unido para ou diante de franceses é uma das supremas delícias para os gauleses que continuam engasgados com todos os monumentos erguidos em homenagem a le petit caporal (outro baixinho chato) em terras de França.
Não sei quanto se tomou de vinho durante a entrevista e se era de nobre, ou pelo menos boa, estirpe, mas uma amostragem do que foi dito, gravado, publicado, e por estas ilhas divulgado, quase causaram a sensação de sempre. O pessoal já começa a levar "o cabeçudo" (apelido dado por seu ex-amigo, Julian Barnes) homem na troça.
Muitos apontam para o fracasso de seus últimos discos, digo, livros, tanto em venda quanto crítica, como explicação plausível para os chiliques públicos daquele que já foi mais que um promissor romancista novo. Money e London Fields são leitura obrigatória para quem quiser entender este país.
Mas, e depois, há sempre um depois, Amis começou a dar tremendas "furadas" na grande área. Data de então seu anti-ufanismo, que teve e tem o efeito contrário: bota tudo quanto é ufanista chato opinando nas esquinas mal iluminadas da maior parte dos jornais.
Seguem algumas de suas declarações mais memoráveis para o Observateur frisando-se o fato de que Amis prepara-se para deixar de vez sua terra natal, trocando-a - ora, ora, não diga - pelos Estados Unidos:
"Eu preferia não ser inglês".
"A Grã-Bretanha encontra-se numa condição de decrepitude moral."
"Os ingleses, eu os adoro." (Afinal são eles que compram os livrecos, confere?) E Amis complementa sua adoração dizendo que seu próximo romance, O Estado da Inglaterra, deverá ser seu "derradeiro insulto"para a pátria materna.
"O maior império que já existiu passou a ser uma potência de segunda ou terceira classe." (No que não há muito o que se discutir, para quem não estiver envolto no Union Jack, a bandeira do Reino Unido.)
"Sem talento e sem ambição ganha-se um bom dinheiro da mesma maneira. As mocinhas todas sonham apenas em ser modelos."
"A celebridade é a nova religião." (Logo quem diz isso, hem?)
"Londres pode dar a impressão de ser uma cidade agradável de se viver mas, por dentro, ela é podre."
"Tivemos uma revolução 100 anos antes dos franceses e nossa guerra civil não foi tão horrenda." ( Vivôôô, enfim algo que Amis diria nos bons tempos. Ou então o vinho não era lá essas coisas. Também pode ser um desses flashes de lucidez que batem em quem bebe mal.)
"A Família Real é composta de filisteus."
"Não quero me ver ligado ao império britânico. Eu preferia não ser inglês."
Curiosamente, Martin Amis tem encômios (palavra que o mau escriba usaria) para o príncipe Charles. Quem diria, hem? Acha-o charming. Gosta, em especial, de seu riso - e aí Amis encerra os trabalhos, recusa mais um copinho de vinho e finaliza com um último bom mot como se dizendo "saúde": "a real risada lembra o ronco de um porco".
Não. Amis não foi convidado para essa chatice desse casamento. E se fosse, ponho a mão no fogo, não iria.

Ivan Lessa

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Haddad: formação e remuneração serão principais metas do PNE

O ministro da Educação Fernando Haddad considera como principais metas do novo Plano Nacional de Educação aquelas que estão relacionadas à formação e à remuneração de professores. "Se fosse apontar as metas que mais dialogam com os principais problemas da educação brasileira, diria que são as metas relacionadas ao magistério, no que diz respeito à formação e à remuneração", afirmou o ministro, após participar de audiência pública sobre o Plano Nacional de Educação, na Assembleia Legislativa de São Paulo.
O Plano Nacional de Educação, cujos objetivos deverão ser alcançados até 2020, traz duas metas relacionadas à formação de professores: garantia, em regime de colaboração entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, de que todos os professores da educação básica passem a ter formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam; e a diplomação de 50% dos professores da educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu e a garantia a todos de formação continuada em sua área de atuação.
Em relação à remuneração, o plano prevê a valorização do professor da educação básica, a fim de aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de 11 anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente; e a garantia, no prazo de dois anos, da existência de planos de carreira para os profissionais em todos os sistemas de ensino.
Sabemos que o magistério brasileiro tem uma remuneração que é 60% da média das demais profissões com nível superior. Se quisermos valorizar a educação, não há como dissociar a modernização da educação da valorização daqueles que são responsáveis pela educação", disse o ministro. "Temos uma meta específica que também conta com estratégicas específicas de equalizar a remuneração média do professor vis-à-vis a remuneração média com nível superior."
Haddad disse estar otimista com a mobilização da sociedade para acompanhar a tramitação do plano no Congresso Nacional. No entanto, afirmou que para o plano nacional obter sucesso será preciso que estados e municípios também comecem a debater os planos locais de educação.
"Se os estados e municípios começarem um debate sobre os seus próprios planos, não vai acontecer o que ocorreu com o plano anterior, que foi aprovado, mas não houve uma mobilização para aprovação dos planos estaduais e municipais. E a educação básica é estadual e municipal. Ela não é federal", afirmou o ministro.

CNTE

Em países onde a educação vai bem, salários iniciais de professor equivalem ao de engenheiro

"Nos países onde os alunos têm os melhores resultados nos testes padronizados internacionais [como o Pisa], a remuneração dos professores se encontra no nível dos salários de engenheiros e médicos", afirma o pesquisador americano Philip Fletcher, membro do Conselho Consultivo da Avalia Educacional, do grupo Santillana.
Cingapura, por exemplo, ocupa a segunda posição no ranking de matemática do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), prova que envolve 65 países.
Em ciência, o país está na quarta colocação e em leitura, na quinta. O Brasil fica em 57º em matemática, em 53º em ciência e em 53º em leitura, no Pisa 2009.
Um dos pilares do sucesso educacional do país é o investimento em seus professores, que começam a ensinar pelo mesmo salário de um engenheiro contratado pelo governo cerca de US$ 2.500 por mês.
"Além de transmitir conhecimentos, os professores devem ajudar os estudantes a descobrir seus talentos", diz o professor Lee Sing Kong, diretor do NIE (Instituto Nacional de Educação, em inglês), órgão ligado ao Ministério da Educação.
O NIE forma cerca de 2.000 docentes ao ano: dois terços deles já têm diploma superior e fazem pós-graduação de um ano em educação; os demais cursam bacharelados de quatro anos. Enquanto estudam, os professores recebem salário. A formação é obrigatória para os profissionais da rede pública.

Modelos de sucesso

Mas a valorização do papel do professor é preocupação globalizada e foi tema da primeira Cúpula Internacional da Profissão Docente, realizada nos EUA em março, que reuniu representantes de 16 países, como Brasil, Finlândia, Cingapura e China.
"Na Finlândia, a seleção dos profissionais não se baseia apenas na sua competência cognitiva, mas dá igual importância a seu potencial de liderança, seus valores éticos, sua disposição para ensinar, sua habilidade de comunicar e de se relacionar bem", afirma Fletcher, que já foi consultor do MEC.
Além disso, em países onde a educação vai bem, "os professores têm ampla autonomia no desempenho de suas atividades didáticas para alcançar alunos com diversos estilos de aprendizagem". Para ele, tal autonomia reafirma aos professores seu profissionalismo, "o que sustenta sua estima e respeito na comunidade".
Para José Francisco Soares, da UFMG, nem todas as fórmulas podem ser aplicadas de modo imediato no Brasil, cuja carreira docente é a priori desprestigiada. "A forma como a sociedade trata o professor é como coitadinho. Temos de dar a ele a chance de ser profissional."

CNTE

Que bom que os Sindicatos de Trabalhadores da Educação preocupam os sacerdotes da privataria!

Vários meios de comunicação utilizam-se de seu poder unilateral para realizar ataques truculentos a quem ousa contrariar seus interesses. O artigo de Gustavo Ioschpe, publicado na edição de 12 de abril de 2011 da Revista Veja (campeã disparada do pensamento ultraconservador no Brasil), não apenas confirma a opção deliberada da Revista em atuar como agência de desinformação - trafegando interesses privados mal disfarçados de interesse de todos -, como mostra o exercício dessa opção pela sua mais degradada face, cujo nível, deploravelmente baixo, começa pelo título - “hora de peitar os sindicatos”. Com a arrogância que o caracteriza como aprendiz de escriba, desde o início de seu texto, o autor considera patrulha ideológica qualquer discordância em relação às suas parvoíces.
Na década de 1960, Pier Paolo Pasolini escrevia que o fascismo arranhou a Itália, mas o monopólio da mídia a arruinou. Cinquenta anos depois, a história lhe deu inteira razão. O mesmo poderia ser dito a respeito das ditaduras e reiterados golpes que violentaram vidas, saquearam o Brasil, enquanto o monopólio privado da mídia o arruinava e o arruína. Com efeito, os barões da mídia, ao mesmo tempo em que esbravejam pela liberdade de imprensa, usam todo o seu poder para impedir qualquer medida de regulação que contrarie seus interesses, como no caso exemplar da sua oposição à regulamentação da profissão de jornalista. Os áulicos e acólitos dessa corte fazem-lhe coro.
O que trafega nessa grande mídia, no mais das vezes, são artigos de prepostos da privataria, cheios de clichês adornados de cientificismo para desqualificar, criminalizar e jogar a sociedade contra os movimentos sociais defensores dos direitos que lhes são usurpados, especialmente contra os sindicatos que, num contexto de relações de superexploração e intensificação do trabalho, lutam para resguardar minimamente os interesses dos trabalhadores.
Os artigos do senhor Gustavo Ioschpe costumam ser exemplos constrangedores dessa “vocação”. Os argumentos que utiliza no artigo recentemente publicado impressionam, seja pela tamanha tacanhez e analfabetismo cívico e social, seja pelo descomunal cinismo diante de uma categoria com os maiores índices de doenças provenientes da superintensificação das condições precárias de trabalho às quais se submete.
Um dos argumentos fundamentais de Ioschpe é explicitado na seguinte afirmação:
Cada vez mais a pesquisa demonstra que aquilo que é bom para o aluno na verdade faz com que o professor tenha que trabalhar mais, passar mais dever de casa, mais testes, ocupar de forma mais criativa o tempo de sala de aula, aprofundar-se no assunto que leciona. E aquilo que é bom para o professor - aulas mais curtas, maior salário, mais férias, maior estabilidade no emprego para montar seu plano de aula e faltar ao trabalho quando for necessário - é irrelevante ou até maléfico aos alunos.
A partir desse raciocínio de lógica formal, feito às canhas, tira duas conclusões bizarras. A primeira refere-se à atribuição do poder dos sindicatos ao seu suposto conflito de interesses com “a sociedade representada por seus filhos/alunos”: “É por haver esse potencial conflito de interesses entre a sociedade representada por seus filhos/alunos e os professores e funcionários da educação que o papel do sindicato vem ganhando importância e que os sindicatos são tão ativos (...)”.
A segunda, linearmente vinculada à anterior, tenta estabelecer a existência de uma nefasta influência dos sindicatos sobre o desempenho dos alunos. Nesse caso, apoia-se em pesquisa do alemão Ludger Wossmann, fazendo um empobrecido recorte das suas conclusões, de modo a lhe permitir afirmar que “naquelas escolas em que os sindicatos têm forte impacto na determinação do currículo os alunos têm desempenho significativamente pior”.
Os signatários deste breve texto analisam, há mais de dois anos, a agenda de trabalho de quarenta e uma entidades sindicais afiladas à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e acompanham ou atuam como afiliados nas ações do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - ANDES-SN. O que extraímos dessas agendas de ação dos sindicatos é, em tudo, contrário às delirantes e deletérias conclusões do articulista.
Em vez de citar pesquisas de segunda mão, para mostrar erudição e cientificidade em seu argumento, deveria apreender o que demanda uma análise efetivamente científica da realidade. Isso implicaria que de fato pesquisasse sobre a ação sindical docente e sobre os processos econômico-sociais e as políticas públicas com os quais se confronta e dialoga e, a partir dos quais, se constitui. Não imaginamos que um filho de banqueiros ignore que os bancos, os industriais, os latifundiários, a grande mídia têm suas federações ou organizações que fazem lobbies para ter as benesses do fundo público.
Um efetivo envolvimento com as pesquisas e com os processos sociais permitiria ao autor perceber onde se situam os verdadeiros antagonismos e “descobrir” que os sindicatos não se criaram puxando-se de um atoleiro pelos cabelos - à moda do Barão de Münchhausen -, autoinventando-se, muito menos confrontando-se com os alunos e seus pais.
As análises que não levam isso em conta, que se inventam puxando-se pelos cabelos a partir dos atoleiros dos próprios interesses, não conseguem apreender minimamente os sentidos dessa realidade e resultam na sequência constrangedora de banalidades e de afirmações levianas como as expostas por Ioschpe.
Uma das mais gritantes é relativa ao entendimento do autor sobre quem representa a sociedade no processo educativo. É forçoso lembrar ao douto analista que os professores, a direção da escola e os sindicatos também pertencem à sociedade e não são filhos de banqueiros nem se locupletam com vantagens provenientes dos donos do poder.
Ademais, valeria ao articulista inscrever-se num curso de história social, política e econômica para aprender uma elementar lição: o sindicato faz parte do que define a legalidade formal de uma sociedade capitalista, mas o ultraconservadorismo da revista na qual escreve e com a qual se identifica já não o reconhece, em tempos de vingança do capital contra os trabalhadores.
Cabe ressaltar que todos os trocadilhos e as afirmações enfáticas produzidos pelo articulista não conseguem encobrir os interesses privados que defende e que afetam destrutivamente o sentido e o direito da população à educação básica pública, universal, gratuita, laica e unitária.
Ao contrário do que afirma a respeito da influência dos sindicatos nos currículos, o que está mediocrizando a educação básica pública é a ingerência de institutos privados, bancos e financistas do agronegócio, que infestam os conteúdos escolares com cartilhas que empobrecem o processo de formação humana, impregnando-o com o discurso único do mercado - o da educação de empreendedores. E que, muitas vezes, com a anuência de grande parte das administrações públicas, retiram do professor a autoridade e a autonomia sobre o que ensinar e como ensinar dentro do projeto pedagógico que, por direito, eles constroem, coletivamente, a partir de sua realidade.
O que o Sr. Ioschpe não mostra, descaradamente, é que esses institutos privados não buscam a educação pública de qualidade e nem atender o interesse dos pais e alunos, mas lucrar com a venda de pacotes de ensino, de metodologias pasteurizadas e de assessorias.
Por fim, é de um cinismo e desfaçatez vergonhosa a caricatura que o articulista faz da luta docente por condições de trabalho e salário dignos. Caberia perguntar se o douto senhor estaria tranquilo com um salário-base de R$ 1.487,97, por quarenta horas semanais, para lecionar em até 10 turmas de cinquenta jovens. O desafio é: em vez de “peitar os sindicatos”, convide a sua turma para trabalhar 40 horas e acumular essa “fortuna” de salário básico. Ou, se preferir fazer um pouco mais, trabalhar em três turnos e em escolas diferentes. Provavelmente, esse piso para os docentes tem um valor bem menor que o que recebe o articulista para desqualificar e criminalizar, irresponsavelmente, uma instituição social que representa a maior parcela de trabalhadores no mundo.
Mas a preocupação do articulista e da revista que o acolhe pode ir aumentando, porque, quando o cinismo e a desfaçatez vão além da conta, ajudam aqueles que ainda não estão sindicalizados a entender que devem fazê-lo o mais rápido possível.

CNTE

quarta-feira, 20 de abril de 2011

"Piso será pago em junho e com retroativo", afirma secretário




Apesar de cronometrado, o segundo debate com o secretário Anderson Gomes, realizado na tarde desta terça-feira (19), trouxe boas notícias para os trabalhadores em educação.
Como o gestor tinha compromissos agendados com o governador e fora do Estado, a conversa começou pontualmente às 14h, após o discurso de abertura da vice-presidente do Sintepe, Antonieta Trindade.
Durante pouco mais de uma hora e meia, Gomes respondeu os questionamentos do último encontro, ocorrido em fevereiro passado, anotou novas pendências e se prontificou em apresentar as soluções em um próximo debate.
Logo no início, o secretário garantiu estar resolvendo a lotação dos professores que ficaram sem turmas por conta da instrução normativa que provocou o fechamento de turnos da noite, do 1º ano do Ensino Médio e do programa Educação para Jovens e Adultos (EJA).
A orientação repassada por ele aos docentes foi a de exercer outras atividades pedagógicas e continuar assinando o ponto nas escolas onde estão lotados, e caso haja algum problema, os profissionais deverão procurar a Secretaria de Educação.
Sobre a inclusão das aulas de Educação Física no horário regular e o início do turno da tarde, que passou de 13h30 para 13h este ano, ficou estabelecido que cada unidade terá autonomia para definir o formato a ser adotado com base no diálogo entre a direção da escola e os funcionários.
A preocupação do Sintepe com relação às duas questões se deu pela falta de estrutura e condições adequadas, o que inviabiliza o retorno do aluno à aula após a prática de exercícios físicos, e o deslocamento de docentes entre as unidades de ensino já que a maioria está vinculada a mais de uma rede.
A respeito dos aprovados nos últimos concursos, Gomes justificou que há divergências entre os números do quadro efetivo, contratos temporários e demanda na rede, levantados pelas secretarias de Educação e Administração e pelo Sintepe. Ele disse estar aguardando um posicionamento do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), devido às ações impetradas no órgão sobre o assunto, para iniciar a convocação.
A insatisfação com os gestores também esteve presente nas colocações da categoria nesta segunda plenária. "Não adianta só ter gaiola bonita", retrucou Anderson Gomes. "Visitei uma escola que estava cheia de sérios problemas, mas o que era unânime do aluno ao funcionário, era o diretor. Por isso, ele foi trocado", relatou o secretário assegurando que tais situações devem ser denunciadas para que a Secretaria tome providências.
Entretanto, o principal anseio por parte dos trabalhadores foi o pagamento integral do Piso Salarial dos Professores, após a recente e favorável decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
"Eu conversei com o secretário de Administração por telefone e ele disse que o piso será pago em junho e com retroativo, para vocês terem tranquilidade para dar uma boa aula e formar alunos com qualidade", afirmou.
Apesar da confirmação, o secretário não detalhou valores. "As questões do Plano de Cargos voltarão a serem discutidas junto com o sindicato na Mesa Geral de Negociação marcada para daqui a duas semanas".
Depois de aprovar as medidas da Secretaria para os problemas colocados no debate anterior, a vice-presidente Antonieta Trindade reforçou que o sindicato vai continuar pressionando o governo pelo piso. "Nessa reunião da primeira semana de maio vamos cobrar um posicionamento sobre o início das negociações específicas e a determinação do STF de que o piso deve ser considerado como salário base da carreira, sem gratificações incorporadas", adiantou.

Sintepe

Desvios de dinheiro comprometem a qualidade da educação

Em 1º de abril, a Controladoria Geral da União (CGU) divulgou informações sobre a 33ª edição do Programa de Fiscalização por Sorteio, responsável pela inspeção dos recursos federais repassados aos estados e municípios brasileiros. Desde 2003, a CGU chegou, através do Programa, a 1.821 municípios, tendo sido fiscalizadas verbas da ordem de R$ 16,2 bilhões.
Embora a cifra fiscalizada pela CGU pareça significativa, a mesma corresponde ao repasse de complementação da União ao Fundeb de apenas dois anos. E tendo em conta que um dos maiores ralos do dinheiro público continua instalado na rubrica da educação, o que pensar do fato de mais recursos estarem sendo repassados a estados e municípios para investimento no nível básico? Em 2006, a União enviou aos entes federados R$ 500 milhões a título de complementação do Fundef. Em 2010 foram R$ 8 bilhões, em âmbito do Fundeb.
Segundo auditou a CGU, entre 2007 e 2008, 58% dos municípios gastaram dinheiro do Fundeb indevidamente e 41% executaram licitações fraudulentas, muitas delas envolvendo recursos educacionais - segundo publicou o jornal O Globo, em 14.4.2011. À luz do balanço dos trabalhos da CGU, em termos globais, as referidas auditorias abarcaram menos de um décimo do total das verbas da União destinadas ao Fundeb, que se concentram em 9 estados da federação. É muito pouco!
Por outro lado, esta situação, além de ir contra os argumentos de estados e municípios de que não possuem recursos financeiros para pagar o piso do magistério, também evidencia a necessidade de se investir no controle social das verbas públicas, através de uma gestão democrática ampla e eficaz.
Mesmo com o advento da Lei 11.494 - em especial o capítulo VI, que trata do acompanhamento, controle social, comprovação e fiscalização dos recursos - ainda é corriqueira a indicação de apadrinhados de gestores para as funções de conselheiros/as do Fundeb, ocorrendo a mesma coisa na Merenda e em outros conselhos sociais. E isso exige uma ação mais enérgica do Estado no sentido de garantir a isenção dos membros da comunidade local nesses Conselhos, bem como a formação necessária para que exerçam com competência e responsabilidade as atividades que lhes são atribuídas.
De posse de mais essas denúncias, a CNTE reforçará o pedido ao MEC para que em parceria com os entes federados expanda os cursos de formação e instrumentalização dos/as conselheiros/as sociais da educação, devendo, ainda, os mesmos contarem com ampla assessoria do Ministério da Educação, dos Tribunais de Contas, dos Ministérios Públicos e da própria Controladoria Geral da União, quando o assunto envolver recursos federais. A CNTE também já apresentou emendas à proposta de Plano Nacional de Educação com vistas a aprimorar a gestão democrática e o controle social na educação.

CNTE

Terapias ocupacionai$!



Blog de Josias de Souza

Devagarzinho!



Blog de Josias de Souza

Facebook prepara uma bomba na rede social

Na minha coluna passada, publiquei aqui a lista das dez profissões mais promissoras do futuro (veja no www.catracalivre.com.br), com base nas análises do mercado de trabalho feitas pelo governo dos Estados Unidos.
Evidentemente, umas das áreas mais prósperas tem a ver com a tecnologia da informação, que exige gente preparada, atualizada, veloz e cada vez mais veloz. Um exemplo dessa velocidade é a bomba que vai ser lançada pelo Facebook nas redes sociais.
Em pouco tempo, quem usar o Facebook (e aí estamos falando de mais de meio bilhão de pessoas) vai, com um simples click, usar a voz para se comunicar.
O que significa um ataque em projetos com o Skype e ainda mais uma ofensiva contra a telefonia fixa ou por celular. Num país em que o preço da chamada é uma fortuna, imagine o que esse novo aplicativo do Facebook vai significar.
Como o foco desta coluna é, essencialmente, o capital humano, vemos como preparar profissionais é treiná-los para aprender sempre e sem parar para enfrentar tanta inovação, Por isso, que os educadores dizem que a tal era da informação já passou. Vivemos a era da criatividade, em que, para sobreviver, cada um tem de ser um inovador.

Gilberto Dimenstein

Papai Noel não mora mais aqui

Olha, não adianta mais escrever cartinhas para Papai Noel, se o endereço for Rovaniemi, Lapônia, Finlândia.
O bom velhinho tomou tal surra, na eleição finlandesa de domingo, que está absolutamente incapacitado de exercer sua prodigalidade ao menos em relação a estrangeiros pobres, sejam eles da própria Europa periférica (Portugal, por exemplo) ou dos países árabes.
A extrema-direita xenófoba quase quintuplicou sua porcentagem de votos e chegou aos 19%, o que lhe dá 39 cadeiras em um Parlamento de 200 integrantes, em que o Partido de Coalizão Nacional, conservador, ficará com maioria relativa (44 lugares).
O partido que chacoalhou a política finlandesa chama-se "Finlandeses Autênticos", o que diz tudo. Fez campanha com dois eixos: negar apoio ao pacote de ajuda a Portugal, em estudos pela União Europeia, e na rejeição aos imigrantes, como se fossem um problema na Finlândia. Representam apenas 1,7% da população contra, por exemplo, os 7,4% da Espanha.
O resultado eleitoral na Finlândia é apenas o mais recente salto da extrema-direita xenófoba, no caso uma xenofobia que vai ao ponto de rejeitar socorrer não apenas os pobres magrebianos que fogem dos conflitos mas até um país-membro da União Europeia, caso de Portugal.
É uma baita complicação, porque o socorro europeu tem que ser aprovado por unanimidade dos países que usam o euro (a Finlândia usa) e as regras finlandesas obrigam submeter ao Parlamento os pacotes de ajuda.
A social-democracia, que ficou praticamente empatada com os "Autênticos Finlandeses", mas terá 42 cadeiras, também é contra a ajuda. Tem-se, portanto, 81 deputados eleitos contrários, em tese, a ajudar Portugal.
Sem ajuda, Portugal terá que dar o calote, o que está causando certo pânico na Europa, até porque a Grécia, já socorrida pela União Europeia, também está na iminência de ser obrigada a reestruturar sua dívida (uma formulação menos agressiva que calote mas que quer dizer a mesma coisa, basicamente).
Minha opinião: os dois países mais a Irlanda, outra que já recorreu aos cofres da UE/Fundo Monetário Internacional, deveriam partir logo para o calote porque as condições que os mercados lhes estão impondo são insuportáveis. Mais: os bancos credores já estão preparados para a reestruturação, pelo menos no caso da Grécia.
Repito o que disse o economista-chefe de um grande banco alemão a um grupo de jornalistas convidados pelo governo local para um seminário sobre a crise: a Grécia deveria aplicar um corte de 30% na sua dívida que seria perfeitamente absorvido pelos bancos.
Claro que seria: eles estão cobrando juros tão altos que já se cobriram do prejuízo que acreditam venham a ter com o calote, total ou parcial.
Se é assim, o resultado eleitoral na Finlândia fica mais incômodo pelo que revela de rejeição aos imigrantes, que vai se tornando característica de quase todas as eleições europeias.
O pior é essa característica tomou todos os países nórdicos, que costumavam ser os mais tolerantes, os mais generosos inclusive na ajuda externa. Na Suécia, os "Democratas" passaram pela primeira vez a barreira dos 4%, abaixo dos quais não conseguem vaga no Parlamento (fizeram 5,7% no ano passado).
Na Noruega, o Partido do Progresso chegou a impressionantes 23% em 2009, quando o que vinha sendo habitual é que extrema-direita europeia ficasse confinada a um máximo inferior a 20%.
Na Dinamarca, o Partido do Povo mantém-se há uma década como o terceiro maior.
Nem preciso falar dos casos da França e da Itália, envolvidos em um lamentável jogo de empurra de imigrantes do Norte da África, sob pressão de seus grupos xenófobos.
Afugentar imigrantes não vai adiantar muito porque, se uma vida digna não está ao alcance em seus países, eles irão atrás de onde ela está. É próprio da natureza humana.
A Europa deveria, isto sim, seguir a orientação exposta por Heribert Pranti, em recente coluna para o jornal (conservador) Süddeustche Zeitung, de Munique, considerado um dos melhores do mundo: "Existe um meio de melhorar a situação nos países de origem [da imigração]: o fair-play. Enquanto a manteiga europeia for mais barata que a manteiga local no Marrocos; enquanto a galinha francesa custar menos que a galinha local no Níger; enquanto as 'fábricas flutuantes' [alusão aos grandes pesqueiros] pescarem tudo que se move, a África conhecerá o êxodo. As subvenções europeias [a seus produtores agrícolas] criam as razões de fugir; a confusão política nos países de origem faz o resto".
Continua: "De nada serve erguer muros nem instalar campos de trânsito no litoral. Isso não faz mais do que manter a ilusão de que podemos continuar a subvencionar a exportação de produtos alimentares europeus e que não somos obrigados a compartilhar a riqueza europeia".
Você tem razão, Heribert. Mas o voto finlandês de domingo mostra que uma parcela importante dos europeus não quer mais brincar de Papai Noel.

Clóvis Rossi

Falta carinho, e algo mais

A frase acima é de um petista, com bom trânsito no Palácio do Planalto. Segundo ele, o governo da presidente Dilma Rousseff está precisando dar mais atenção ao Congresso. Diz que nem é necessário atender a todos os pedidos de deputados e senadores governistas. Bastaria, como primeiro passo, distribuir uns afagos, receber no gabinete, conversar, dar uns tapinhas nas costas, dizer como o parlamentar é importante para o governo.
Só isso, acredita esse petista, já aliviaria um bocado a tensão reinante hoje dentro do Congresso. Dado esse primeiro encaminhamento, a conta a ser paga em troca do apoio dos congressistas da base aliada nem precisaria ser tão elevado. Mas, por enquanto, avalia o parlamentar, tem muito deputado e senador se sentindo mero coadjuvante, relegado a segundo plano. Alguns se sentem quase um zero à esquerda.
O clima de insatisfação é tão crescente que já está sobrando para o ministro Antonio Palocci (Casa Civil), classificado até pela oposição como um bom negociador, daqueles em quem é possível confiar. Pois bem, já tem muita gente no Congresso dizendo que nem o Palocci resolve alguns tipos de pedidos. E não são, dizem, pedidos cabeludos, complicados, nada republicanos.
Bem, se já estão começando a reclamar do Palocci, nem é preciso dizer o que andam falando do ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais), oficialmente o articulador político do governo, mas que não desfruta de poder suficiente para resolver as pendências com o Legislativo.
O fato é que a presidente Dilma Rousseff, até aqui, tem demonstrado que realmente não deseja depender muito do Congresso. Daí sua decisão de não assumir as grandes reformas da Constituição. Além disso, sua formação técnica não combina muito com o estilo parlamentar. Por outro lado, dizem alguns assessores, nos poucos encontros que já teve com líderes da base aliada a reação foi muito positiva. Ou seja, bastaria ela intensificar essas reuniões. O problema é convencê-la disso. Talvez acredite ser perda de tempo. Na verdade, na maior parte das vezes realmente é. Mas é assim que funciona o mundo da política.
Por enquanto, Dilma se deu bem na sua curta convivência com o Congresso. Conseguiu aprovar o salário mínimo do jeito que queria, com apoio expressivo de sua base. Mas aliados no Congresso alertam que há um risco de troco no ar. E isso pode acontecer na votação da medida provisória que reajusta a tabela do Imposto de Renda na Fonte em 4,5%. Até petistas estão propondo uma correção maior. Seus líderes no Congresso devem adiar ao máximo a votação do tema.
Até lá, quem sabe, Dilma decide tratar com um pouco mais de carinho sua base aliada e acertar uma nomeação aqui, outra ali, além de resolver a pendência das famosas emendas parlamentares, aquele instrumento usado por deputados e senadores para distribuir verbas para sua base eleitoral. Por sinal, o ministro Luiz Sérgio está empenhado em solucionar de vez essa encrenca. A equipe da presidente Dilma não queria pagar as emendas registradas em contas a pagar pelo ex-presidente Lula. Se honrar uma parte desses compromissos, a paz voltará a reinar. Aí, não vão reclamar nem de falta de carinho. Afinal, o que interessa mesmo estará liberado.

Valdo Cruz

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Secretário volta a debater com trabalhadores em educação na terça-feira


Depois de pouco mais de dois meses, o secretário de Educação, Anderson Gomes, volta ao Sintepe para responder aos questionamentos feitos pela categoria no dia 10 de fevereiro.
O novo debate será realizado na terça-feira (19), das 14h às 16h, no auditório do sindicato.
O secretário se comprometeu em esclarecer a aplicação da instrução normativa que provocou o fechamento de turmas da noite, do 1º ano do Ensino Médio e do programa Educação para Jovens e Adultos (EJA), de 47 unidades do Recife e interior do Estado.
Outro ponto reivindicado pelos trabalhadores diz respeito à inclusão das aulas de educação-física no horário regular. A categoria reclamou que a falta de estrutura e condições adequadas em grande parte das escolas inviabiliza o retorno do aluno à sala de aula após a realização de exercícios práticos.
O sindicato também cobrou um posicionamento sobre a mudança do início do horário das aulas do turno da tarde, que passou de 13h30 para 13 horas. Para o Sintepe, a medida prejudicou o deslocamento de docentes entre as unidades de ensino.
“Levando em conta que a maioria dos docentes está vinculada a mais de uma rede, alguém que largar ao meio-dia de uma escola em Paulista, por exemplo, não terá como almoçar e chegar a tempo em uma unidade no Jordão”, analisou a vice-presidente do sindicato, Antonieta Trindade.
A direção vai aproveitar a oportunidade para questionar o secretário sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal de que o Piso Salarial do Magistério deve ser considerado como salário base da carreira, sem gratificações incorporadas. “Vamos cobrar dele um posicionamento do governo sobre o pagamento do Piso de acordo com o que foi estabelecido pelo STF”, adiantou Trindade.
O debate com o secretário de Educação será aberto ao público.

Sintepe

O ovo do dragão!



Blog de Josias de Souza

Vaticínio!



Blog de Josias de Souza

Guerra dos pijamas!



Blog de Josias de Souza

Brasil correu no vazio

Os primeiros cem dias de governo Dilma receberam manifestações elogiosas.
A presidente é discreta, fala pouco, "desalinhou" o Brasil no apoio a alguns regimes autoritários e continua perseguindo sua imagem de gerente. Além disso, parece pouco afeita a adulações a políticos e congressistas.
O contraste com Lula é evidente. E, paradoxalmente, passou a revelar o que havia de ruim no governo anterior, terminado em clima de ôba-ôba inédito em torno do presidente mais popular da história recente.
O Brasil está em uma enrascada considerável neste momento. Obra de Lula.
Por conta das pressões inflacionárias no mundo todo, mais de uma dezena de países (sem contar os 16 que integram a zona do euro) elevaram neste ano suas taxas de juro básicas a fim de conter os preços. Brasil e Índia foram os únicos a iniciar esse ciclo bem antes, ainda em 2010.
O Brasil exagerou na dose de crescimento no ano eleitoral de 2010 e agora está pagando a conta. A corrosão da renda real dos trabalhadores ocorre desde outubro e o Banco Central deve continuar elevando os juros para conter a atividade.
Manteremos o recorde mundial de juros altos, onerando mais a dívida pública e desestimulando o setor privado a investir.
O que os últimos anos do governo Lula (em especial 2010, com alta de 7,5% no PIB) vão deixando claro é que muita coisa foi construída sobre uma base etérea, frágil e artificial. Corremos muito, mas sobre algo vazio.
Essa base etérea responde pelo nome de crédito ao consumo. Crédito caro, com o qual os consumidores ainda pagam quase duas geladeiras e levam só uma nas compras financiadas.
Segundo novo relatório do FMI, os bancos brasileiros expandiram seu patrimônio em cerca de 100% nos últimos quatro anos a fim de, principalmente, despejar crédito no mercado consumidor que cresce ao ritmo de cerca de 30% ao ano.
O crédito é um poderoso instrumento para fazer qualquer país crescer. Antecipa sonhos de consumo e estimula empresas a investir para vender mais.
Mas, no Brasil, além de ser caríssimo ele foi oferecido ao público em ritmo que cresceu muitíssimo mais rápido do que a oferta de bens e serviços. E, principalmente, dos investimentos produtivos.
Daí a inflação "bombando".
Apesar dos anos de glória de Lula e do crédito ao consumo em alta, o Brasil terminou 2010 com uma das menores taxas de investimento (em fábricas, infraestrutura etc.) do mundo, equivalente a pouco mais de 18% do PIB (quando o ideal seriam mais de 25%).
A parte do governo federal nisso equivale a menos de 1% do PIB (sem contar as estatais). Em qualquer país, são os investimentos públicos que puxam os privados.
Por tudo isso ainda teremos à frente, e por um bom tempo, algumas boas doses de inflação em alta e renda em baixa.
Tudo agora somado a juros mais altos. A serem pagos por uma sociedade endividada "como nunca antes na história desse país".

Fernando Canzian

Uma maravilhosa aula de criatividade

Uma das minhas diversões favoritas aqui em Cambridge, quase como se fosse um parque de diversão, é visitar um prédio em que centenas de jovens, com seus professores, ficam desenvolvendo as mais intrigantes experiências: robôs que cantam ópera, celulares que detectam problemas de visão, carros cujos motores são as rodas ou games que transformam crianças em programadores.
Desenvolvem máquinas capazes de perceber as emoções humanas --coloquei mais detalhes desses projetos www.catracalivre.com.br. Estou me referindo ao Media Lab, do MIT, considerado um dos lugares mais inventivos do mundo em tecnologias da comunicação.
O que vemos é maravilhoso. São centenas de estações de trabalhos, coloridas, repletas de engenhocas. O que não vemos é o mais importante: um currículo que revoluciona o que entendemos por educação.
Lá não tem sala de aula. Os alunos escolhem, sem precisar comprovar, as aulas que vão ter em qualquer universidade do mundo, Eles dizem o que vão fazer, como fazer e, ainda por cima, como vão ser avaliados. Seus professores são essencialmente orientadores-inventores.
Pode parecer moleza, mas é muito mais duro do que o sistema convencional --afinal, o resultado tem de ser uma invenção consistente e aplicável.
É um dos exemplos de como o ensino tem de se preparar para produzir não papagaios amestrados, mas inventores. É o aluno como protagonista do conhecimento.

Gilberto Dimenstein

Tudo é ressentimento

LISBOA - Gosto de Martin Amis. Dos ensaios, não dos romances. Depois de Gore Vidal, não existe pena mais inteligente e sardônica a escrever sobre livros e literatos.
Pena que, ao natural, Amis não tenha a mesma elegância. Agora, conta o "The Sunday Telegraph", o escritor inglês desceu o chicote sobre a Família Real em declarações à imprensa francesa. "Filistinos", diz Amis. E "filistinos" por quê?
Logicamente, porque ignoram a importância de Martin Amis no esquema geral do mundo. Pior: nem sequer conhecem a sua obra literária. "A rainha não escuta ninguém", diz Amis, que teve encontros formais com Elizabeth 2ª e percebeu, pelo olhar enfadado da senhora, quão insignificante ele era.
O mesmo com o marido de Elizabeth 2ª, o duque de Edimburgo. "Sou escritor", disse-lhe Amis. O duque, espantado, replicou: "A sério?"
As palavras de Martin Amis têm interesse porque não é todos os dias que vemos um "snob" lambendo as feridas em público. E uso o termo "snob" no sentido em que ele era usado para hierarquizar os alunos na universidade de Cambridge no momento da matrícula: depois do nome, aparecia a condição social. Para quem não nascera em berço aristocrático, um "sine nobilitas" ("sem nobreza", i.e., "s.nob") arrumava com o sujeito.
Exatamente como Amis se sente arrumado, prova acabada de que o "filistino", na verdade, é ele. Se Amis não concedesse à Família Real importância alguma, jamais haveria semelhante exibição de vaidade e ressentimento. Para os neutros em matéria monárquica, a existência dos Windsor é, quando muito, um anacronismo pitoresco do qual não exigimos reconhecimento ou aplauso.
Mas Martin Amis quer reconhecimento e aplauso. E apesar de deplorar a histeria mundial com o casamento real do próximo dia 29 de abril, ele não se distingue das multidões sentimentais que irão encher Londres para saudar William e Kate (e, confesso, estragar as minhas férias da Páscoa).
A única diferença é que as multidões vão chorar e aplaudir os esponsais; Amis, se pudesse, jogaria tomates ou ovos podres neles. Duas formas de paixão são duas formas de paixão. O leitor, que intimamente também alimenta iguais sentimentos de amor e ódio pela instituição monárquica, sabe do que falo.
Para concluir, Amis confessa ainda, em tom dramático, que gostaria de não ser inglês. Pobre Martin. Só um perfeito inglês teria uma relação tão intensa e patológica com a primeira das famílias nativas.

João Pereira Coutinho

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O destempero das elites diante da vitória do Piso do Magistério, no STF

A CNTE, primando pela decência que rege suas relações institucionais em defesa da educação de qualidade e da valorização dos/as trabalhadores/as das escolas públicas brasileiras, há mais de seis décadas, vem a público repudiar matérias publicadas recentemente na revista Veja e no jornal O Estado de São Paulo, as quais contêm opiniões anacrônicas, reacionárias, preconceituosas e inverídicas.
Ambas as opiniões têm como ‘pano de fundo’ a vitória parcial dos conceitos de piso salarial, definidos na Lei 11.738, que foram questionados no STF pelos então governadores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Ceará considerados pela comunidade escolar “Inimigos da Educação, Traidores da Escola Pública” - através de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4.167).
Para quem acompanha atentamente as notícias da educação, o artigo de Veja, assinado por Gustavo loschpe na edição de 11/4/2011, sob o título “Hora de peitar os sindicatos”, e do editorial do Estadão, de 9/4/2011, transpareceram, integralmente, as posições dos que defendem a ADI 4.167. No primeiro caso, trata-se de quase plágio da entrevista concedida pelo Secretário de Educação de São Paulo às Páginas Amarelas da citada revista, edição nº 2.136, de 28 de outubro de 2009, intitulada “Contra o corporativismo”. Já a posição do Estadão, sobre a composição da jornada dos professores, se pautou em argumentos considerados insuficientes e sem comprovação pela maioria dos ministros do STF que estiveram presentes no julgamento da ADI 4.167.
Mesmo discordando da posição oficial do Estadão - que carece de profundidade pedagógica e de credibilidade do ponto de vista das supostas insuficiências financeiras de estados e municípios -, reconhecemos que ela expressa, sem subterfúgios, a concepção de Estado e Sociedade de sua linha editorial. Repugnante, no entanto, é a posição de Veja, que se esconde por detrás de um repórter, supostamente representante de uma determinada parcela social comprometida com a qualidade da educação pública. Perguntamos, então, a ele (repórter) e à revista: quem vocês representam, de fato, e a qual qualidade educacional se referem?
Indagamos esse veículo de comunicação porque, para a CNTE e para muito/as brasileiros/as, Veja não passa de um instrumento a serviço das elites desacostumadas a suportar derrotas políticas e judiciais. E, se não bastasse o recorrente desprezo pela imparcialidade - princípio básico do bom jornalismo -, a revista, para vingar-se de quem ousa ir contra os interesses de seus financiadores, incita a intolerância e o preconceito de classes em pleno Estado Democrático de Direito. E essa é uma postura arbitrária de quem nega a ‘democracia popular’ - constituída nos fundamentos e no aprimoramento da cidadania - para se socorrer à velha ‘democracia burguesa’, em que as leis e a justiça atendem exclusivamente à minoria abastada.
Atendo-se, pontualmente, ao editorial do Estadão, consideramos que:
1. O jornal, erroneamente, referiu-se a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, como sendo uma Entidade contrária à Lei do Piso. Essa informação foi desmentida em nota divulgada pela Undime, após a veiculação do jornal.
2. Os números das supostas contratações necessárias, decorrentes da hora-atividade computada à carga semanal de trabalho do/a professor/a, constam dos argumentos jurídicos dos governadores que arguiram a inconstitucionalidade da Lei 11.738, porém não convenceram, até o momento, a maioria dos ministros da Suprema Corte. Assim como a CNTE, alguns ministros contestaram esses números e outros os consideraram pertinentes para atender ao preceito constitucional de oferta da educação pública de qualidade, sem perigo de ‘quebra’ dos entes federados.
3. Tal como na ADI 4.167, o editorial desconsidera o fato de a educação possuir recursos vinculados constitucionalmente - inclusive para honrar despesas com seus profissionais - e que a União, além de possuir competência concorrente com os estados para legislar sobre matéria educacional, também tem a obrigação de suplementar os entes federados que não conseguirem honrar os compromissos da Lei 11.738.
4. Em nenhum momento, o periódico aponta as inúmeras irregularidades recentemente divulgadas pela imprensa nacional, que comprometem sobremaneira o investimento na área educacional - a exemplo do desvio de R$ 660 milhões constatado no Fundo da Educação Básica (Fundeb) do Estado de São Paulo, cujo valor representou, segundo informações publicadas no jornal O Globo, em 10/5/2010, 28,6% das falcatruas cometidas (em todo Brasil) contra os referidos Fundos Estaduais, no ano de 2009.
5. A alegação de governadores e prefeitos de que melhores salários não influenciam a qualidade da educação - questão apontada tanto no editorial do Estadão quanto na matéria de Veja - não corresponde aos discursos eleitorais da maioria desses gestores, tampouco aos resultados de pesquisas de opinião pública e científicas, realizadas recentemente. Em maio de 2010, o Instituto Ibope divulgou pesquisa qualitativa, realizada com eleitores de todo Brasil, sobre o tema educação, na qual a valorização profissional dos educadores (composta por melhores salários, formação inicial e continuada, planos de carreira e jornada de trabalho apropriada) constou como primeiro item de reivindicação da sociedade. Esta pesquisa corroborou um estudo divulgado pela Unesco, em outubro de 2009, que apontou a necessidade de se elevar o status do professor da educação básica, através das imediatas implementações (i) da política nacional de formação (concebida pelo MEC em parceria com os entes federados) e (ii) do piso do magistério, à luz da Lei 11.738 - uma vez que 70% da categoria percebia vencimentos abaixo de R$ 720,00, o que colocava o Brasil na 4ª pior posição no ranking mundial de salários de professores da educação básica.
Com relação à matéria de Veja, além dos pontos já abordados, ressaltamos o seguinte:
6. O tom arrogante e a contestável base teórica do artigo revelam posições unilaterais, contraditórias e anacrônicas de quem se tenta intitular os “defensores da melhoria educacional do país”. Paradoxalmente, a matéria não se dá conta de que os pseudo-defensores (financiadores de Veja) integram as “elites que não querem um povão instruído, pois aí começarão os questionamentos que destruirão as estruturas do poder exploratório dessas elites”, como bem frisou o jornalista.
7. A atuação da CNTE e de seus sindicatos filiados sempre se pautou contra os interesses das elites do país, e fazemos questão de delimitar nosso campo de atuação. Para nós, essas elites são os verdadeiros cânceres sociais do Brasil. Nosso projeto vincula a educação à estratégia para se alcançar a soberania e o desenvolvimento para todos/as. Defendemos escola pública de qualidade socialmente referenciada, e não temos dúvida de que a desvalorização da categoria, a superlotação das salas de aula, as duplas e triplas jornadas de trabalho e a histórica desresponsabilização do Estado para com a formação dos profissionais da educação, só para ficar nas citações da matéria, sempre fizeram parte do projeto de sociedade pensado e executado pelas elites e seus agregados.
8. Não fosse a determinada atuação sindical, certamente as elites teriam aniquilado a educação pública e seus profissionais, como se tentou fazer em vários momentos da recente história do país, especialmente na era neoliberal (1990-2002). Além de impedir a privatização das escolas e universidades públicas e de lutar contra o nefasto arrocho salarial, educadores e estudantes se empenharam em ampliar o direito à educação - severamente restringido pelo Estado neoliberal.
9. Passada a fase de ataques às organizações da sociedade (sindicatos, entidades estudantis, movimentos sociais urbanos e rurais), essas representações iniciaram processo de cobrança pela retomada da responsabilidade do Poder Público frente a suas atribuições constitucionais. Pautada por princípios humanitários, democráticos e igualitários, a CNTE, junto com outros parceiros, lutou pela ampliação do financiamento para a educação básica, profissional e superior. O Fundeb, o fim da DRU na educação, a abrangência do Salário-Educação para toda a educação básica, assim como a política nacional de formação do magistério e dos funcionários de escola, a aprovação da Lei do piso do magistério, a ampliação da obrigatoriedade do ensino da pré-escola ao ensino médio (EC nº 59), a reserva de vagas em instituições de ensino superior para negros, índios e estudantes oriundos da escola pública e a implementação das disciplinas de história afrobrasileira, africana e indígena (leis 10.639 e 11.645) são algumas das pautas que nortearam as mobilizações da CNTE, nos últimos anos, em prol da educação pública, gratuita, laica, democrática e para todos e todas.
10. Sobre as teorias contra os Sindicatos - encomendadas por governos neoliberais da década de 1990, as quais o repórter cita -, as mesmas deixaram de ser defendidas por muitos de seus formuladores, revelando o anacronismo da base conceitual da matéria publicada por Veja. Como exemplo, em entrevista ao Estadão, em 02/08/2010, a ex-secretária adjunta de educação dos EUA, Diane Ravitch, pensadora dos testes nacionais e dos processos punitivos aplicados aos professores e demais profissionais da educação, desaconselhou a prática desses métodos e julgou prejudicial políticas remuneratórias baseadas em avaliações meritórias. Isso depois de concluir - empiricamente, após duas décadas - que a educação é um processo que extrapola os limitados testes. Lamentavelmente, o arrependimento da educadora americana não se alastrou pelo Brasil, e muitos gestores continuam se apoiando nesta fórmula falida.
11. A CNTE, com mais de 1 milhão de associados numa base de 2,5 milhões de trabalhadores/as, representa o terceiro maior grupo de ocupação do país. Além de legítima representante da categoria em território nacional, a Confederação conta com expressivo reconhecimento internacional junto a organizações da sociedade civil e de governo. Nos últimos dias 14 e 15 de março, a CNTE participou da Cúpula Internacional da Educação, organizada pela OCDE, em Nova Iorque. Numa perspectiva inversa à defendida por Veja - de “peitar os sindicatos” -, a condição para a participação dos países na Cúpula era o envio de representações sindicais do setor educacional. Também ao contrário do que pensa a revista brasileira e de parte dos gestores públicos descompromissados com a educação de qualidade, a Cúpula alertou, por meio de relatório disponível no site da OCDE, para a necessidade de melhorar o status do professor, de recrutar pessoas qualificadas, de oferecer formação permanente a elas e, sobretudo, de pagá-las melhor. Segundo o relatório, tão importante quanto o salário é fazer com que o professor seja respeitado, seja na estrutura de seu trabalho pedagógico, seja como cidadão que contribui para um amanhã melhor.
Em referência a essas últimas e atualizadas opiniões formuladas por estudiosos, gestores e educadores de todo o mundo - em recente evento mundial do mais alto gabarito - lamentamos, profundamente, que um veículo de comunicação nacional, responsável por formar a opinião de milhares de pessoas, se mostre porta-voz de teses ultrapassadas de uma elite que tenta posar de ‘déspota esclarecida’. Também não somos tolos para acreditar em simples desatualização de informações da revista Veja, fato que seria tão grave quanto à complacência amoral desse órgão de comunicação que insiste em se opor aos interesses da maioria do povo brasileiro.

CNTE

Inflação da espécie!



Blog de Josias de Souza

Oportunismo de grosso calibre!



Blog de Josias de Souza

A névoa da prosperidade

Mundo, mundo, complexo mundo.
Uma empresa americana, a Apple, não consegue vender direito seus produtos no Brasil por causa da tributação absurda e do ambiente de negócios precário do país.
Aí ela aciona a empresa taiwanesa que fabrica iPads e iPods para ela na China para que produza iPads diretamente no Brasil para assim a empresa de Steve Jobs finalmente começar a ocupar seu verdadeiro espaço no hoje indispensável mercado brasileiro.
Toda essa complexa rede de caminhos geo-econômicos que trará, ao que tudo indica, iPads para a nova classe média brasileira acabou traduzida como um resultado concreto da viagem da presidente Dilma Rousseff à China. Como?
Seria melhor que empresas decidissem investir no Brasil não porque nossos defeitos regulatórios e fiscais acabaram obrigando-as a fazê-lo, mas por causa de nossas virtudes.
Um iPad hoje custa no Brasil o dobro do que nos EUA. Mas é muito pior do que isso.
Pagamos no Brasil muito mais caro do que nos países avançados por tecnologia e infraestrutura básicas para o desenvolvimento e a inovação.
Todo o aparato básico da nova onda tecnológica que varre o mundo, a onda da comunicação, custa muito mais caro para um jovem brasileiro do que para um americano, por exemplo.
Computadores, câmeras, telefones, banda larga, tripés, lentes, microfones, qualquer produto da cadeia da comunicação custa muito mais barato em Nova York do que em São Paulo.
Como vamos concorrer e inovar nesse mercado global se já saímos com custos muito mais altos que barram acesso a ferramentas de ponta?
Quando vamos ao exterior agora ficamos seguros e contentes ao ver como, com nossa moeda e renda em alta, os preços americanos e europeus estão suaves comparados ao que temos em cidades como Rio e São Paulo.
A baixa competição e a alta carga tributária, num cenário de quase pleno emprego e renda crescente, estão tornando o Brasil um país cada vez mais caro e inflacionado. São tanto nossos defeitos quanto nossas qualidades que nos permitem agora comer nos melhores restaurantes de Nova York e Paris pagando preços de São Paulo.
Essa névoa da prosperidade (não) pode obstruir a visão.
O preço da complacência será o aborto do desenvolvimento.
Como disse um dos arautos do mercado financeiro no ano passado a esta Folha, o maior risco para o Brasil hoje é o da presunção.
A acomodação com o caos tributário, a ineficiência jurídica, a frouxidão fiscal e agora até com a inflação limitará nossa potência. E não adianta jogar a culpa no câmbio e nos juros. Eles são sintomas, não causas.
Nos EUA, ainda lutando para sair de uma grave crise econômica que pede mais gasto público, governo e Congresso já debatem sangrentamente como equilibrar as contas no futuro cortando recursos de programas importantes.
No Brasil, com crescimento robusto e arrecadação em alta, melhor momento para se economizar, temos dificuldades de impor cortes orçamentários anunciados pelo governo goela abaixo do Congresso.
A falta de rigor determina o Brasil, para o bem e para o mal. Ela nos permite superar o insuperável, mas também aceitar o inaceitável.
Bastaram alguns anos de equilíbrio econômico e crescimento mais robusto no Brasil para se começar o desmonte do modelo que vinha dando certo de câmbio livre, inflação na meta e relativo equilíbrio fiscal.
Os iPads Made in Brazil ajudarão ainda mais Dilma e o PT a conquistar a nova (e a velha) classe média. Mas eles são também sinal de algo mais profundo no novo mundo em formação: somos a última etapa do ciclo de um produto de ponta concebido nos EUA, industrializado por Taiwan, manufaturado na China e remontado no Brasil.
Estaremos realmente bem quando liderarmos essa cadeia.

Sérgio Malbergier