sábado, 28 de agosto de 2010

IBGE: Brasil se encaminha para virar país de gordos



O brasileiro é um sujeito azarado. Até bem pouco, não tinha o que comer. Agora, diz o IBGE, arrisca-se a ter a saúde engolida pela comida.
Pesquisa divulgada nesta sexta (27) informa: Quase metade (49%) dos brasileiros com 20 anos ou mais está acima do peso.
O sobrepeso é maior entre os homens (50,1%) do que entre as mulhres (48%).
Márcia Quintsler, funcionária do IBGE que coordenou o estudo, pintou o quadro com tintas vivas:
"O excesso de peso e a obesidade são fenômenos crescentes e aparecem de forma generalizada. As informações [...] são muito contundentes".
Entre os gordos, 14,8% já evoluíram para um quadro de obesidade. O flagelo é maior, nesse caso, entre as mulheres (16,9%) do que entre os homens (12,5%).
As crianças não estão alheias ao problema. Na faixa de 5 a 9 anos, 33,5% estão acima do peso normal. Um salto de 20 pontos percentuais em duas décadas.
Nesse universo, há 16,6% de crianças que já migraram do sogrepeso para a obesidade. Em 1989, eram 4,1%.
Presente à apresentação dos dados, o ministro José Gomes Temporão (Saúde) deu uma idéia das consequências da encrenca:
"Excesso de peso, obesidade e inatividade física projetam hipertensão, diabete, doenças cardiovasculares, AVC, câncer e doenças crônicas”.

Blog de Josias de Souza

Jabuticaba: capitalismo turbina esquerda

No final, Lula, Dilma e PT serão os grandes beneficiados políticos do capitalismo brasileiro.
Um casamento feliz, consagrador, que diz muito da nossa esquerda e do nosso capitalismo. E de nossa inclinação à acomodação.
A disputa sempre foi pelo centro. O PSDB descobriu isso primeiro e levou por oito anos. A democracia brasileira, muito funcional até agora, depois colocou Lula e PT no poder quando eles também foram para o centro.
O que Lula e PT agregaram ao capitalismo brasileiro foi a imprescindível consolidação do consenso em torno dele. Um valor bem medido pelos grandes termômetros econômicos de um país com nosso grau de abertura: Bolsa e câmbio.
Se a "ameaça" da primeira ascensão da esquerda ao poder, em 2002, fez desabar a Bovespa e o real, ambos agora não estão nem aí para a eleição. Ou melhor, sentem-se bastante confortáveis com o resultado das pesquisas.
Há um determinismo cronológico que ajuda a explicar o fracasso da direita nacional: o apogeu do capitalismo por aqui só começaria depois do alinhamento da esquerda. Que está em pleno curso. Como é bonito ver Aldo Rebelo, comunista clássico, ser louvado pelos grandes produtores rurais por sua defesa do novo código florestal.
No capitalismo jabuticaba, heterodoxo pela política, é assim: a defesa dos pilares da economia de mercado às vezes soa mais forte nos alto-falantes da esquerda do que nos da direita.
E há, claro, Luiz Inácio "metamorfose ambulante" Lula da Silva. Pai dos pobres, mãe dos ricos, Lula incluiu todos entre os beneficiados de seus oito anos de glórias. Menos a oposição.
O presidente é o maior cabo eleitoral do país, o Datafolha prova. Mas o é não só por seu carisma e liderança, mas principalmente por ser o maior protagonista do modelo econômico atual, seu maior símbolo.
O voto em Dilma é mais um voto no capitalismo como o conhecemos do que em Lula. Está aí outro grande feito do nosso presidente. E do nosso capitalismo.

Sérgio Malbergier

Idade palíndroma

São aquelas palavras, frases ou números que podem ser lidos tanto da esquerda para a direita quanto da direita para a esquerda que dá na mesma, o sentido é idêntico. Ama, ana, 1001, 01/02/2010, a torre da derrota...
Há outros famosos: socorram-me subi no ônibus em marrocos - é famoso, mas nunca entendi direito porque alguém pede socorro só por subir num ônibus, a não que ser que o ônibus seja assaltado...
E tem palíndromo até em latim: In girum imus nocte et consumimur igni , que quer dizer "Damos volta na noite e somos consumidos pelo fogo". Este aqui é na verdade uma advinhação, cuja resposta é: tochas.
Mas o fato é que o encantamento causado pela coincidência de letras e sentidos sempre fez muita genta atribuir certa magia ao palíndromo, como se houvesse nele algum sinal, alguma premonição, uma dica de alguma coisa. E o que o ser humano sempre irá procurar certamente são dicas misteriosas e/ou ocultas, que protejam, expliquem, justifiquem sua jornada, sua passagem pela vida.
Foi justamentre pensando na vida, pois acabara de completar mais um ano de existência, que na madrugada de sexta-feira entrei no Facebook, a rede virtual de relacionamento, para ver se alguém já tinha aparecido para dar parabéns (quem não gosta de receber parabéns? E o Facebook, autêntica esquina, boteco virtual, é um lugar sensacional para dar, receber parabéns e outras atividades afins).
De cara me chamou a atenção, ao abrir o Facebook, o fato de que estou na casa dos 818 amigos. Boa parte, claro, é compsota apenas de "conhecidos", gente que por algum tipo de afinidade acaba estabelecendo um vínculo via coputador. Mas 818, o vejam só, é um palíndromo.
E advinha quantos aninhos estava acando de completar ali naquele momento? 55.

Outro palíndromo!

Hum, hum, pensei logo, olha a coincidência aí de novo querendo dizer alguma coisa!
O que será?
Bem, por via das dúvidas não estou buscando nem aceitando novas amizades no Facebook para que meu rol de amigos continue palíndromo (ou palindrômico?), da mesma forma que vou procurar em todos os cantos deste meu meio século + meia dezena de vida para ver se encontro alguma mensagem, algum significado maior, alguma dica dos céus, seja o que for...
Ontem mesmo já intuí uma coisa que me deixou intrigado: como tanto faz de que lado você está lendo, no palíndromo na verdade a gente nunca sabe se está indo ou se está voltando.
Aos 55 anos de vida também, não sei se estou indo ou voltando, se estou mais pra lá do que pora cá, se há um lá e um cá, ou se tudo não passa de uma grande brincadeira sideral, estando a gente aqui apenas para se divertir.
Prefiro assim, diversão e um pouco de arte, temperados com bastante amor.
Essa idéia foi compartilhada devidamente por dezenas de amigos, que por sua vez postaram recadinhos no Face, como a Sandrinha Muraki, que disse que meu lance é que enquanto está todo mundo indo, eu estou voltando (êta pressa!), ou o Maurício Machado, piadista inveterado, que veio com um palíndromo improvável, "a vaca cava", porque vaca não cava coisíssima nenhuma.
Para terminar, o poema de amor palíndromo, lindo e sensual, que a Dani Kormann mandou e que compartilho aqui:
"Ávido. Amá-la na taba, no toco da casa, no muro, no paço, na poça, na maca, na livre sala, servi-la na cama, na copa, no capô, no rumo, na saca do coto, na bata, na lama. Ó diva!"

Luiz Caversan

Nada é impossível

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Parlamentares que votaram contra e a favor do projeto governamental


Acima, você confere os deputados que votaram a favor do projeto do Governo do Estado, prejudicando os trabalhadores em educação, provocando um achatamento no Plano de Cargos e Carreiras (PCC) da categoria e os parlamentares que votaram contra o projeto. Preste atenção e lembre-se, as eleições estão chegando.

Sintepe

Lulodependência!



Blog de Josias de Souza

Quem quer o filho na escola pública?

Essa é uma ótima pergunta lançada, durante debate na TV, por Aloizio Mercadante para Geraldo Alckmin - e deveria ser repetida sempre. Sua resposta será a melhor medida para sabermos até que ponto somos uma nação civilizada.
Apesar de uma série de avanços, os 16 anos de PSDB estão muito longe de ter produzido, na educação, uma boa vitrine; as escolas são ruins, a imensa maioria dos alunos sai do ensino médio com poucos conhecimentos, a começar da língua portuguesa.
Mas, ao partir para um correto ataque, o PT, refém do corporativismo sindical, apresenta mais problemas do que soluções. Defende a indústria da repetência, ao atacar o sistema de aprovação por ciclos, como se apenas o aluno fosse culpado por não aprender - o que é, além ineficaz, injusto com o aluno, transformado de vítima em vilão. A repetência só provoca evasão e ressentimento. Não há nenhuma evidência de que o sistema baseado na repetência produza melhores notas. Basta, aliás, o PT consultar os dados do Ministério da Educação.
A crítica correta seria afirmar que o sistema de progressão exigiria um melhor acompanhamento do aluno, impedindo que ele fique tão defasado.
O PT também ataca o sistema de bônus que, pela primeira vez, tentou reconhecer um pouco os profissionais mais esforçados e aplicados. A melhor crítica seria afirmar que os salário inicial do professores ainda é baixo, o que dificulta a atração dos professores.
Com soluções desse tipo, aquela pergunta sobre se um político colocaria o filho na escola pública vai perdurar por muito mais tempo.
Mas já considero um tremendo avanço que a qualidade de ensino seja a principal polêmica de um debate.

Gilberto Dimenstein

domingo, 22 de agosto de 2010

Serrapto!



blog do Josias de Souza

Segunda infância!



Blog do Josias de Souza

A cartilha da discórdia

A intenção até que era boa. A ideia era compilar uma espécie de dicionário das diferenças culturais entre os povos, para que os britânicos não deem vexame na hora de receber as hordas de turistas estrangeiros que irão a Londres para os Jogos Olímpicos de 2012.
No papel, faz todo o sentido. Regras de etiqueta são o paraíso do relativismo cultural. Se, na ética e na lei existem alguns universais (todos os códigos morais e sistemas legais do mundo proíbem o assassinato, por exemplo), é difícil não ver o dedo caprichoso do arbítrio na norma social, vigente no Japão e em outros países do Oriente, que considera ofensivo mostrar ao interlocutor a sola do sapato. Por que não o cotovelo ou a língua?
E, em algumas situações, não basta que uma parte conceda à outra o benefício da ignorância para evitar a saia justa. Mesmo que um árabe muçulmano em visita ao Brasil saiba que os brasileiros não têm a obrigação de conhecer as leis dietárias islâmicas, haverá mal-estar se o prato oferecido na recepção for uma suculenta feijoada.
Foi assim que nasceu a famigerada cartilha do VisitBritain, a agência oficial de turismo do Reino Unido. Sobre os brasileiros, ela diz: "têm uma noção de espaço pessoal menor do que outras culturas". Afirma que sempre chegamos atrasados, vestimo-nos de modo provocativo, interrompemos as conversas a todo instante e damos beijos e abraços a roldão. Sugere ainda que os ingleses nunca nos questionem sobre informações pessoais, como idade, salário e estado civil.
Se você achou um pouco ofensivo, não viu muito. Para a cartilha, os argentinos são pavio-curto e não têm o menor senso de humor. É preciso muito cuidado com a forma de servir-lhes o vinho, pois um pequeno erro num intricado sistema de gestos pode provocar um incidente.
Como o leitor já deve ter intuído, sobram palavras e definições que tendem a ser vistas como pouco amáveis por dezenas de povos e nações. A publicação, que deveria ajudar os turistas a ser bem recebidos em Londres, foi um tiro pela culatra, que está provocando protestos em todo o mundo. Até o momento em que escrevo estas linhas, já li três colunas que invectivavam contra a cartilha, tachando-a de preconceituosa e generalizante.
Evidentemente, não cabe a mim defender a iniciativa britânica, que com certeza errou na mão, ao ferir as suscetibilidades que pretendia proteger. Acho, contudo, que seria oportuna uma discussão sobre o preconceito. É o que pretendo fazer hoje.
Eu começo com uma observação de ordem prática. Os esforços da turma do politicamente correto para depurar a língua do que eles chamam de preconceito costumam, no longo prazo, dar com os burros n'água. Repito aqui a historieta da palavra "cretino", que já contei em outras colunas.
Em regiões montanhosas, como a Suíça, são pobres as fontes de iodo ambiental, o que, antes do processo de iodatação do sal de cozinha, concorria para provocar uma alta prevalência de hipotireoidismo congênito (ou cretinismo). Como os bons helvéticos já eram politicamente corretos "avant la lettre", recusavam-se a chamar as crianças afetadas pela síndrome pelo nome de "idiotas". No século 18, passaram a usar o mais piedoso termo "cristão", que soava "crétin" no francês dialetal ali falado. Acabaram inventando, sem querer, a palavra "cretino", hoje de alcance mundial e politicamente incorreta.
Preconceitos podem até ser momentaneamente reforçados pela língua, mas são capazes de sobreviver muito bem sem ela. Se a categoria que se quer designar é relevante, ela subsistirá numa palavra ou fórmula perifrástica, a qual, gostemos ou não, muito provavelmente será "contaminada" pelas características positivas ou negativas do grupo a que se refere.
Receio até que nossa época veja o preconceito de forma um pouco preconceituosa. Se você quer deslegitimar uma ideia, o melhor caminho é qualificá-la como um estereótipo. A condenação já fica subentendida. Cuidado, não estou sugerindo que seja legítimo discriminar pessoas em virtude das categorias reais ou imaginárias a que ela pertence, mas esse é um problema moral e não relativo ao "preconceito".
Embora exista um bom número de estereótipos simplesmente errados, eles muitas vezes apontam para desvios estatísticos reais. Quando se afirma, por exemplo, que brasileiros costumam atrasar-se, não se está dizendo que todo brasileiro sempre atrasa, mas apenas que não é incomum que isso aconteça. Estamos lidando com médias, que são, como se sabe, um conceito traiçoeiro. No caso, para agravar ainda mais o quadro, trata-se de uma média intuída e não mensurada de forma organizada. De toda maneira, médias representam um valor obtido a partir resultados válidos para vários indivíduos, mas que não podem ser extrapolados para nenhum indivíduo em particular. Na média, a humanidade tem um testículo e um seio. Nossa experiência ensina que é perfeitamente possível encontrar um brasileiro (eu, por exemplo) mais pontual do que a média dos ingleses.
Comecemos, portanto, limpando o meio de campo, para que a discussão possa desenrolar-se de forma menos confusa.
O preconceito, a rigor, nada mais é do que um processo psicológico, uma operação mental que agrupa casos particulares numa categoria e, em seguida, generaliza características desse grupo para situações similares. E isso é apenas uma forma de pensar. Mais do que isso, a forma humana de pensar. Não é um mecanismo que possamos desligar quando não estamos satisfeitos com ele.
Essa nossa capacidade de extrair essências e projetá-las para o futuro está tanto na origem do pior racismo como também do pensamento científico. O problema, portanto, não é que pensemos pelo intermédio de preconceitos, mas que não saibamos rever nossas conclusões quando a situação assim o exige. Dispomos de outras ferramentas, como as intuições morais, notadamente a ideia de justiça, além, é claro, da razão, que nos permitem em princípio corrigir os resultados.
Tomemos o caso do preconceito contra outras culturas. Temos boas razões evolutivas para desconfiar do estrangeiro. Se um membro da tribo vizinha uma vez me atacou, é darwinianamente útil que eu parta do pressuposto de que todos aqueles que pertencem àquela tribo inimiga tentarão me agredir e antecipe o ataque. Só que esse tipo de raciocínio, que fazia sentido na pré-história, perdeu inteiramente a razão de ser em sociedades modernas, nas quais os estrangeiros deixaram de ser uma ameaça para converter-se numa fonte de receitas financeiras via turismo e de estímulos intelectuais, à medida que nos colocam em contato com outras culturas.
Se esse etnocentrismo com matizes de intolerância já foi útil para manter-nos vivos, hoje, a exemplo da capacidade de armazenar energia na forma de tecido adiposo, é apenas um estorvo. Serve para separar, gerar injustiças e fomentar violência. Temos, portanto, razões morais para repudiar o racismo e qualquer outro juízo que resulte em atitudes discriminatórias. Mas o problema, vale frisar, é de ordem moral e não deve colocar sob suspeição todo e qualquer raciocínio indutivo. Já é hora de acabar com o preconceito contra o preconceito.

Hélio Shwartsman

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Corrida eleitoral



Blog do Jamildo

Tecnologia para as massas

Philip Roth disse outro dia a Tina Brown em entrevista que você vê no Youtube que a grande literatura em algumas décadas será como o latim hoje. Estudado e mantido vivo apenas nos meios acadêmicos por algumas dezenas de milhares de entusiastas.
Roth talvez, como sempre, esteja sendo amargo demais. Mas que a literatura vai mudar como a música mudou é um processo que já começou.
A Barnes & Noble, maior rede de livrarias dos EUA, está à venda e em crise. Suas megastores parecem hoje dinossauros em Manhattan.
Lembro de Paulo Francis escrevendo insistentemente em algum ano da década de 1990 sobre a inauguração da mega Barnes & Noble da Quinta Avenida, um templo à cultura, andares e andares, estantes e estantes de livros inventariando a experiência humana.
Houve época no século 20 em que as pessoas iam às livrarias e se largavam a ler por seus sofás e poltronas postos ali para esse fim, por horas. Escolhia-se um livro ao acaso, qualquer livro. Hoje não há lugar melhor para browsear estantes e conteúdos do que a internet. O Google se propõe a ser a maior biblioteca do planeta. Tomara, agradecemos o acesso.
Mas a Barnes & Noble não está convivendo bem com a era digital. E a indústria da música já provou como isso é fatal, com a morte súbita das megalojas de discos (alguém ainda lembra o que é um disco?) como Tower e Virgin e a dominação total das vendas e trocas online.
As vendas de e-livros explodem junto com as de iPads, Kindles e outros leitores eletrônicos. Amazon e Aplle rumam para dominar o mercado na qual a Barnes & Noble reinou por muito tempo. Entrar na B & N que tanto entusiasmou Francis hoje é deprimente. Já numa loja da Apple não dá nem para entrar.
Os saudosistas, sempre reacionários, lembrarão como é valiosa a sensação de folhear livros percorrendo fileiras cheias deles e dirão que o fim das livrarias é mais um sinal de nossa inexorável decadência intelectual.

Balela.

A cauda longa da web é a maior difusora de conhecimento. Suas estantes virtuais são muito maiores e mais completas do que as estantes da maior Barnes & Noble.
Os leitores de livros ainda custam caro demais no Brasil por causa de um protecionismo vesgo e uma tributação ignorante que impedem o acesso de milhões de brasileiros ao que há de mais atual nas novas tecnologias.

Isso nos deixa tão para trás.

Um Kindle nos EUA custa US$ 190. Um similar menos sofisticado no Brasil custa mais que o dobro. O iPad sofre a mesma distorção.
Nós brasileiros sempre lemos pouco, um defeito enorme e sintomático. Agora estamos nos excluindo da revolução dos e-livros.
Precisamos de uma nova abertura dos portos e menos ou nenhum imposto.

Tecnologia para as massas!

Sérgio Malbergier

A deseducação do PT

O PT tem uma série de bons motivos para criticar a educação em São Paulo --a começar pelas mudanças de diretrizes nas diversas gestões do PSDB.
Definitivamente, o ensino público está longe de ser a melhor bandeira para os tucanos. Mas os petistas estão partindo para um caminho literalmente deseducado, ao atacar a progressão continuada --ou seja, o aluno é reprovado depois de ciclos. Assim, eles culpam a vítima.
Está demonstrado em inúmeros estudos que a reprovação não melhora aprendizado. Pelo contrário. Abate a auto-estima e provoca evasão. Ou seja, só faz aumentar a insegurança.
Se um ou outro aluno não aprendesse, ok. Mas quando a maioria não aprende, a culpa é menos do aluno do que da escola.
Muito mais sensato (e sério), em vez de criticar a progressão continuada, é implementar (o que foi feito com escassez pelo PSDB em São Paulo, embora reconheça avanços) é um sistema contínuo de recuperação para que o aluno não fique para trás.
No mais, quem implantou a progressão continuada em São Paulo (e merece elogios) foi o PT, durante a gestão de Luiza Erundina, que tinha como secretário Paulo Freire.

Gilberto Dimenstein

Olimpíada eleitoral



Blog de Josias de Souza

terça-feira, 17 de agosto de 2010

domingo, 15 de agosto de 2010

A voz do coração

Escuta teu coração

Pesquisa

Eduardo Campos amplia diferença para 41 pontos. Vai a 62%, a maior avaliação aferida pelo Datafolha no País



Em pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, o candidato ao governo Eduardo Campos (PSB) aparece com vantagem ampliada para 41% em relação ao segundo colocado Jarbas Vasconcelos (PMDB).
Em primeiro lugar, o socialista aparece com 62%, três a mais que na pesquisa anterior, realizada há três semanas. É maior pontuação medida pelo instituto nas oito unidades da Federação pesquisadas. Se a eleição fosse hoje, Campos seria reconduzido ao cargo já no primeiro turno.
Jarbas, por sua vez, perdeu 7 pontos e está com 21%. No levantamento anterior, Campos tinha 59%, e Vasconcelos, 28%.
Edilson Silva (PSOL) e Jair Pedro (PSTU) têm 1% cada. 3% dos eleitores disseram votar em branco e 11% ainda não decidiram. A pesquisa ouviu 1094 pessoas em Pernambuco e tem margem de erro de 3% para mais ou para menos.
A pesquisa, divulgada nesta sexta, foi feita de 9 a 12 de agosto com 1.094 eleitores de 38 cidades do Estado de Pernambuco. Os contratantes da pesquisa são a Folha e a Rede Globo. A pesquisa está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número 22.764/2010.
A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

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O tamanho do blablablá!

Horário Eleitoral Gratuito
o tempo de cada um



- Em tempo: A propaganda eletrônica (rádio e TV) começa na terça-feira (17) da semana que vem.
O TSE divulgou o tempo que cada presidenciável terá para despejar seu blablablá no tapete da sala dos eleitores.
O lero-lero de Dilma será maior: 42,6% de todo o horário eleitoral –10min39s. O palanfrório de Serra (29,2%) vai durar 7min1
A vitrine de Marina será diminuta: 1min23s. A parolagem de Plínio Sampaio, ainda menor: 1min2s. Os outros presidenciáveis, cinco “nanicos”, terão 56 segundos cada.

Blog de Josias de Souza

Sobre a corrupção, a eleição e o ‘estrondoso’ silêncio



A Promotoria de São Paulo esquadrinha uma quadrilha que se especializou em beliscar o prato da garotada.
Desviam-se verbas da merenda escolar. Em dois anos, foram mordidos pelo menos R$ 280 milhões.
A coisa envolve funcionários de 35 prefeituras e empresas fornecedores de merenda. Suspeita-se do envolvimento de prefeitos e secretários.
De um lado, ajeitam-se as licitações. Do outro, pagam-se as propinas –de 5% a 15%. A mutreta se espraia por prefeituras de outras partes do país.
Sob esse cenário, em que o furto alcança até o estômogo das crianças, a corrupção foi como que banida do debate eleitoral de 2010.
Violação de cofres públicos, como se sabe, é coisa encontradiça em várias partes do mundo. Quase todas no Brasil.
Numa rodinha de chope, se o amigo fala em corrupção, é difícil mudar de assunto. Muda-se, no máximo, de corrupto.
A despeito disso, o tema sumiu da agenda partidária. Compreensível. Já não há mais freiras no bordel.
Hoje, não se pode mais mencionar apenas o nome do escândalo. É imperioso citar também o sobrenome.
Há o mensalão do PT federal, o mensalão do DEM de Brasília, o mensalão do PSDB de Minas...
No PMDB, há a calva dissimulada de Alagoas, a sobrancelha assanhada do Pará, o bigode indestrutível do Maranhão...
Chega-se a uma inescapável conclusão: o Estado brasileiro entrega-se a um esforço diuturno para provar aos cidadãos que não existe mais coisa nossa.
Agora só há Cosa Nostra. Sob o silêncio, misturam-se, em amistosa cumplicidade, culpados inocentes e inocentes culpados.

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Com as duas mãos!



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Garupa!



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Eleição/2010

Debate pra quê?

Continuo com saudades dos xingamentos, dos gritos, do desespero dos mediadores em tentativas inúteis de manter o controle sobre exaltados candidatos. Assim eram os debates eleitorais de antigamente na televisão. Mesmo aqueles com apenas dois oponentes conseguiam prender a atenção do eleitor-telespectador.
Na noite de quinta-feira passada, confesso que fiz força para não dormir diante da TV, durante o debate entre os candidatos ao governo de Pernambuco. Faltou pouco. Com todo respeito aos colegas da TV Clube/Band pela iniciativa louvável e democrática, foram poucos os momentos que realmente atrairam a atenção.
Mas a culpa não é dos organizadores - embora o formato ajude a tornar o programa mais insípido. A culpa, na verdade, é dos próprios candidatos. Seja pelo despreparo, seja pela falta de compromisso com a apresentação de propostas diferenciadas, seja pelo estilo demasiadamente matreiro. O fato é que o primeiro embate do pleito estadual não trouxe nada de novo para o eleitor.
Preocupado em defender sua gestão, o governador-candidato Eduardo Campos (PSB) obviamente jogou confetes em si mesmo. E quando teve oportunidade de partir para a luta franca com o desafeto Jarbas Vasconcelos (PMDB), preferiu a ironia e a esquiva. Nem parecia aquele candidato que nas ruas se mostra disposto a fazer da oposição uma "terra arrasada".
Jarbas, por sua vez, mostrou que está mesmo destreinado para debates. Talvez por ter rejeitado a participação em todos os confrontos de 2002, quando disputava a reeleição como favorito. Por mais que se esforçasse ontem, o peemedebista não conseguia trazer o rival Eduardo para dentro do ringue. O resultado é que os dois ficaram apenas se xingando de longe, que nem meninos buchudos.
E os outros quatro concorrentes? Sim, havia mais deles no debate. Mas suas participações refletiram seus índices nas pesquisas, que oscilam entre zero e um ponto percentual. Não conseguiram despertar discussões acaloradas, e tampouco apresentar propostas que atraíssem o eleitor.
Faça-se aqui uma justa exceção para Sérgio Xavier (PV), que se esforçou para explicar as propostas modernas dos verdes, baseadas na sustentabilidade. Mas a tabelinha com os oponentes não ajudou. Entre os representantes da ultra-esquerda, a preocupação se limitava à crítica radical aos governos de Eduardo e de Jarbas, mescladas a promessas inexequíveis, como a reestatização de empresas privatizadas, e coisas afins.
Mas por que defender o bate-boca, as agressões e as baixarias politicamente incorretas no debate? Talvez por já ter ligado a tevê convencido de que não seria surpreendido com discursos diferenciados ou propostas inovadoras para o Estado. E sem isso, só mesmo o velho vale-tudo eleitoral para evitar os cochilos em frente à telinha. Mas nem isso eles souberam fazer. Que saudades dos velhos debates...

Sérgio Montenegro Filho

Tirando casquinha lula

Dilma amplia vantagem sobre serra 41% a 33%



Blog de Jamildo

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Problema insolúvel

Suicídio

O escritor existencialista Albert Camus (1913-1960) certa vez escreveu: "Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia".
A crer na psiquiatria, esse já deixou de ser um problema filosófico. "Estudos mostram que 90% dos suicídios estão associados a transtornos mentais; e os outros 10% foram mal investigados", diz o psiquiatra Bruno Mendonça Coêlho, da USP, com quem conversei para fazer uma matéria sobre o assunto que foi publicada na Folha no último sábado.
Longe de mim querer negar as evidências empíricas. É só o teste da realidade que distingue a ciência de nossas fantasias e delírios pessoais. Ainda assim, acho que Camus não estava tão errado assim. Mesmo que a esmagadora maioria das pessoas que tenta e eventualmente consegue se matar padeça de uma ou mais afecções psiquiátricas, isso não invalida a discussão filosófica em torno do valor da vida e da moralidade de interrompê-la. O próprio Coêlho admite a possibilidade teórica do "suicídio filosófico": "Talvez o monge tibetano que se mata em protesto contra a China, mas é um número desprezível dos casos".
Antes de recorrer aos filósofos, contudo, acho que vale dar uma espiadela na demografia do suicídio. Nós, brasileiros, não costumamos vê-lo como um problema muito sério. É que nossos números são relativamente modestos quando comparados aos do resto do mundo e às cifras da violência interpessoal. Por aqui, a taxa anual de suicídios por 100 mil habitantes é de 4,68. Já a de homicídios, é de 25,2 --cinco vezes mais.
Em escala global, porém, o quadro se inverte. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a taxa global de suicídios fica entre 10 e 30 por cem mil habitantes, com os países campeões, como a Rússia e a Lituânia, exibindo cifras maiores do que 40. É uma das principais causas de morte do planeta. Só no ano 2000, 815 mil pessoas tiraram a própria vida. Isso representa mais do que o total de assassinatos ou de mortos em guerras no mesmo ano. Segundo a OMS, do 1,6 milhão de mortes violentas registrado em 2000, 815 mil se deveram a suicídios, 520 mil a homicídios e 310 mil a conflitos.
É claro que poderíamos passar anos discutindo a qualidade desses números. Por uma série de razões culturais, emocionais, religiosas e até securitárias --suicidas perdem seus seguros de vida--, as pessoas não gostam de alardear que seus parentes se mataram. Muitas vezes, conseguem evitar que o corpo vá para o Instituto Médico Legal e a causa conste do certificado de óbito. Com isso, as estatísticas acabam refletindo um número de suicídios menor do que o real. Isso ocorre não só no Brasil, mas no mundo todo. Em que grau é a pergunta que ninguém sabe responder.
E, se contar corretamente cadáveres já é difícil, muito mais é computar pensamentos e atitudes que de algum modo se relacionam ao suicídio. Foi essa, entretanto, a proposta do núcleo de epidemiologia psiquiátrica da USP, do qual Coêlho faz parte. Num artigo que está prestes a ser publicado na "Revista Brasileira de Psiquiatria", eles tentaram quantificar, numa amostra comunitária, as cognições e comportamentos relacionados a suicídio (CCS) e relacioná-los a transtornos mentais.
Para isso, realizaram 1.464 entrevistas domiciliares em São Paulo, nas quais pesquisadores treinados aplicaram questionários padronizados para o diagnóstico de transtornos mentais e fizeram perguntas para avaliar as CCS. Concluíram que 9,5% já tiveram pensamentos suicidas e 3,1% tentaram tirar a própria vida. Transtornos depressivos, por vezes associados ao abuso ou dependência de álcool e de outras drogas, foram identificadas num número significativo desses casos.
Mas chega de chatear o leitor com números. Antes de ser sequestrado pela medicina, o debate filosófico em torno do suicídio mobilizou grandes pensadores. De um lado, estão aqueles que, amparados nas tradições judaico-cristã e platônica, condenaram o suicídio.
Um bom representante dessa espécie é santo Tomás de Aquino (1225?-1274). Para ele, o suicídio é errado porque contraria a lei natural, faz mal à família e à sociedade e, mais importante, ofende a Deus, a quem nossas vidas pertencem.
Opondo-se a essa visão, David Hume (1711-1776) escreveu seu "Ensaio sobre o Suicídio". Para o autor, Deus deu ao homem e aos animais o poder de alterar a natureza em proveito próprio. É assim que é lícito à humanidade emprestar a força dos rios para mover moinhos e rodas d'água. Em princípio, portanto, nada há de errado em alterar o curso da vida (suicidar-se) em busca de maior quinhão de felicidade, isto é, para pôr fim a um estado de miséria ou sofrimento. Se não há crime em "desviar o curso do Nilo ou do Danúbio, sendo eu capaz de fazê-lo, onde está o crime em desviar algumas onças de sangue de seu canal natural?".
Numa linha semelhante vão os existencialistas, mais especificamente Jean-Paul Sartre (1905-80). Para Sartre, é claro, Deus não existe. Mas isso não é exatamente uma boa notícia. Sem o Criador, nós ficamos sós no mundo. Pior, sabemos que vamos morrer e então não seremos nada. Se há palavras que descrevem bem a condição humana no existencialismo, elas são: angústia, desespero, absurdo e náusea. Só o que resta, para Sartre, é a liberdade, ainda que sob condições externas não controladas pelo indivíduo.
A liberdade sartriana opera mais como um fardo do que como uma dádiva. "Estamos condenados à liberdade" é o lema existencialista. Não escolhemos existir, mas, uma vez lançados no mundo ao nascer, somos os únicos responsáveis por tudo o que fazemos. O principal para o existencialismo é que sempre está em nosso poder alterar nossa existência, cuja liberdade só cessa com a morte. Daí que Camus afirmou que o suicídio é a única questão filosófica importante.
Se quisermos, um existencialista "avant la lettre" foi o estoico Epicteto (55 - 135): "Lembra-te de que a porta permanece aberta. Não sejas mais medroso do que as criancinhas, mas faze como elas quando estão cansadas de seus jogos e gritam 'não brinco mais'; quando estiveres em situação similar, grita 'não brinco mais' e parte; mas, se ficares, não chores".
Hoje, é claro, os Epictetos, Camus e Humes seriam medicados com antidepressivos. A filosofia sobreviveria? Provavelmente sim, mas as imagens e metáforas talvez ficassem piores.

Hélio Schwartsman

A não-eleição

Sabe a última da eleição? Nem eu.

A maior notícia da corrida eleitoral é a falta de notícia da corrida eleitoral. Ao menos até agora.
O que se previa uma eleição sangrenta depois da Copa do Mundo tem sido um jogo tão insosso quanto os de nossa seleção na África.
Primeiro porque os candidatos principais em muito se parecem. Segundo porque, dada a popularidade do governo, todos dizem amém a Lula. E se Lula é símbolo de muitas coisas do país, é principalmente do consenso em torno do modelo muito mais econômico que político que deu a milhões de brasileiros pobres e a milhões de brasileiros ricos mais dinheiro no bolso e confiança no futuro.
Ninguém vai tirar o país desse caminho, tão óbvio quanto tardio. Nossa democracia demorou a descartar todas as mirabolantes teorias e planos que prometiam paraísos e entregavam infernos. Encontramos estabilidade seminal simplesmente seguindo as regras básicas do capitalismo de mercado. Foi a simplicidade, estúpido.
Tão simples que a população entende bem. E defende. No voto.
Outro dia tive o prazer de conhecer a cientista política Argelina Cheibub Figueiredo num debate da Fundação Educar no Insper-SP. Diante dos jovens alunos, a professora fez uma coisa muito importante: foi contra o senso comum. Defendeu sua posição de que o sistema político brasileiro é muito eficiente, realizando eleições periodicamente com grau muito satisfatório de liberdade e alternância.
A sucessão de eleições livres e eficientes é uma grande realização, inegável. Embora muito lentamente, esse processo parece trazer algum começo de depuração da política partidária, como aponta o movimento Ficha Limpa, essa sim a maior novidade (super positiva) desta eleição.
Com a educação de massas precária que temos no país, é natural que políticos abaixo de qualquer suspeita se elejam e reelejam com facilidade. Mas a consolidação da democracia e seu consenso em torno do modelo econômico fazem emergir essa massa que agora, cidadã porque consome, passará a exigir também melhor educação, saúde, saneamento, segurança... Que virão com políticos melhores.
No final, o verdadeiro salto para o desenvolvimento (e ainda estamos longe dele) virá pela educação. O mercado de trabalho em expansão exige mão-de-obra cada vez mais qualificada, e essa demanda, por força da natureza econômica, viabilizará a oferta.
Ainda investimos nada em educação do que precisamos para dar o salto final. Países como Cingapura e Coreia do Sul deram esse salto investindo muitas vezes mais que o Brasil nas suas escolas, professores e alunos.
A educação já é o novo consenso brasileiro. O que Lula fez ao materializar o consenso em torno da economia de mercado, o próximo presidente precisa fazer em relação à educação.
Voltando às eleiçõeszzzzzzzzz......
Se ela tiver que esquentar, e a propganda na TV certamente trará algum calor, que seja por uma disputa feroz pela melhor proposta para a educação.

Sérgio Malbergier

Somos como dizem que somos?

Janela para o mundo

Informa Vinícius Queiroz Galvão, na Folha desta quinta-feira, que a agência nacional de turismo do Reino Unido divulgou guia em que diz que os brasileiros sempre chegam atrasados, vestem-se de maneira provocativa para qualquer ocasião, interrompem as conversas a todo instante e costumam dar beijos e abraços indiscriminadamente.
Além disso, teríamos "noção de espaço pessoal menor do que outras culturas", o que, francamente, não sei o que quer dizer.
É evidente que o guia comete um erro primário, o da generalização. Se a ciência parece ter comprovado que não há um único ser humano igual a outro, é impossível, cientificamente, que todos os brasileiros sejam iguais uns aos outros --e, por extensão, nos comportemos todos da mesma forma.
Eu, por exemplo, neto de italiano, não posso ter o mesmo comportamento dos meus vizinhos, de ascendência japonesa. Até gostaria porque os dois, o Paulo e a Xica, são maravilhosos.
É de se imaginar, portanto, que a imagem que os britânicos formaram dos brasileiros deve-se ao comportamento de uma maioria, não de todos eles.
Ainda assim, é justo dizer que a maioria dos brasileiros sempre se atrasa? Ou é apenas um estereótipo? Francamente, eu não sei responder, talvez por ter verdadeira obsessão pela pontualidade.
As brasileiras vestem-se provocativamente em qualquer ocasião? Minha resposta é não. Ou, mais exatamente, nem mais nem menos do que mulheres de idades equivalentes de qualquer outra tribo, menos as muçulmanas.
Afinal, a tal de globalização levou a uma uniformidade até chata em um montão de coisas. O vestir é uma das mais padronizadas de todas as coisas. Não é que todo mundo se vista da mesma maneira, como é óbvio. Mas há uma certa padronização entre tribos. Posto de outra forma: descolados ingleses vestem-se mais ou menos como descolados brasileiros ou venezuelanos ou dinamarqueses. Bregas também observam uma certa uniformidade, independentemente da nacionalidade.
Damos beijos e abraços indiscriminadamente? Quando eu era jovem, séculos atrás, não dávamos. Era aperto de mão, abraço no máximo. Hoje, o jeito de saudar é mesmo um beijo no rosto. Mas todas as tribos o fazem.
Lembro-me até hoje de uma entrevista com Iasser Arafat, o líder palestino, em seu QG de Gaza, uns 16 anos atrás. Quando fui a ele apresentado pelo rabino Henry Sobel, Arafat tascou-me um beijo no rosto.
Interrompemos a conversa a todo instante? Só os chatos o fazem, sejam brasileiros, ingleses, italianos, argentinos ou venusianos.
Por fim, é bom ressalvar que a imagem que os brasileiros damos aos estrangeiros tem duas vertentes: uma, a dos turistas, que, nestes tempos de câmbio favorável, andam aos bandos por toda a parte. Outra, a dos brasileiros que vivem no exterior. São, pela mais recente conta do Itamaraty (setembro passado), 3 milhões, quase a metade (1,2 milhão) nos Estados Unidos. A propósito: no Reino Unido, que confeccionou o guia, há o maior contingente de brasileiros que vivem na Europa (180 mil em um total de 800 mil).
Para estes e também para os turistas, um aviso: a Flórida, objeto de desejo de tantos brasileiros, pode adotar uma legislação ainda mais dura que a do Arizona. O procurador-geral, Bill McCollum, também candidato nas primárias do Partido Republicano para escolher quem disputará o governo do Estado em novembro, está defendendo uma legislação que obrigaria a polícia local a comprovar se as pessoas que são detidas estão legal ou ilegalmente no país.
No Arizona, a lei autoriza essa investigação arbitrária. Na proposta McCollum, obriga.
Se os brasileiros, residentes ou turistas, se comportarem da maneira extravagante relatada no guia britânico, serão fatalmente vítimas disso que, no jargão local, se chama de "racial profiling" --ou seja, desconfiar de alguém pela sua aparência (preto ou latino é sempre suspeito).

Clóvis Rossi

Chama da esperança

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Na sala com Alzheimer e Huntington

Informação

Fãs da série "House" na TV paga reviram os olhos em tédio quando os doutores Chase, Foreman, Treze ou Taub --auxiliares do iracundo House-- sugerem realizar mais uma punção lombar para firmar um diagnóstico. Não passa um programa sem que cogitem espetar uma agulha entre as vértebras do paciente para retirar e examinar uma amostra do liquor, fluido que envolve e protege o sistema nervoso, inclusive a medula espinhal.
Agora eles poderão acrescentar mais uma hipótese, o mal de Alzheimer, à lista tenebrosa do que é possível detectar com o exame do líquido cefalorraquidiano. Surgiu um teste que permite dizer, com grande certeza, se alguém vai desenvolver a doença que começa atacando a memória e pode acabar numa demência triste e arrasadora.
Atualmente, só é possível determinar com segurança se uma pessoa teve Alzheimer depois que ela morre, dissecando seu cérebro para verificar a presença das placas de proteínas que o destroem. O novo teste consegue detectar a presença dessas proteínas no liquor.
O exame inovador representa uma faca de dois gumes, porém. Possibilita predizer a degeneração do cérebro, mas não há como impedi-la. Alzheimer prossegue sem cura.
O estudo que comprovou a eficácia do novo exame por punção lombar saiu ontem no periódico médico "Archives of Neurology", ligado à Associação Médica Americana (EUA). Foi a segunda notícia mais destacada na primeira página do diário "The New York Times", e com razão.
Não é todo dia que se desenvolve teste diagnóstico confiável para uma moléstia que aflige uns 35 milhões de pessoas no mundo. O feito foi realizado pelo grupo de John Trojanowski, da Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia. Contudo, em entrevista à repórter Gina Kolata, do "NY Times", Trojanowski lançou a pergunta incômoda: "Quão cedo você vai querer rotular as pessoas?"
Receber o diagnóstico de uma doença incurável soa como uma sentença à morte, ou à vida sem perspectiva. Muita gente pode preferir viver sem a informação.
É essa a escolha de muitos filhos de portadores da doença de Huntington, ou coreia de Huntington ("coreia" é uma palavra antiga para designar danças, com a mesma raiz de "coreografia"; em medicina, é usada para síndromes que ocasionam movimentos involuntários e rápidos).
Existe um teste de DNA para predizer com segurança se uma pessoa carrega o gene da doença de Huntington, descoberto em 1993. O problema é que, como no caso de Alzheimer, não há cura para essa degeneração do sistema nervoso central. E ela ataca o portador entre os 30 e os 50 anos.
A dra. Treze, de "House", escolheu não saber. Prefere conviver com a dúvida sobre os 50% de chance de ter herdado o gene da mãe.
Alzheimer é um mal menos cruel, do ponto de vista da idade. Há casos precoces, por volta dos 50 anos, mas o mais comum é manifestar-se depois dos 65. Após os 85, a demência pode afetar mais de um terço da população que tiver sobrevivido à infinidade de outros males a rondar o corpo envelhecido.
No limiar dos 53, com vista e memória começando a cansar, um colunista míope pode encarar como boa a notícia do teste de Trojanowski. Se chegar a ser rotineiramente oferecido em clínicas e coberto por seguros de saúde, consideraria a sério a hipótese de realizá-lo --para melhor conhecer o que o aguarda em matéria de decrepitude.
Se tivesse um parente com Huntington, contudo, nunca teria feito a investigação genética. Uma coisa é saber, aos 20 ou 30 anos, que em uma década estaria reduzido ao espectro dançante da pessoa que foi. Outra, bem diversa, é tentar preparar-se, sem muita esperança, para o que a velhice lhe reserva.
"La vecchiaia è brutta", dizem os italianos, com sabedoria. Só não vê quem não quer.
O leitor, claro, terá outras opiniões a respeito. Essas escolhas todas são muito pessoais. Em princípio e em geral, ter informação é melhor que não ter, mas se podem imaginar muitas exceções à regra.
Ambos os exames, por fim, devem estar disponíveis, pagos pelos planos de saúde, para todos que tenham razões para se acreditar portadores não sintomáticos. Ao médico cabe só a obrigação de esclarecer os pacientes. Nunca, jamais, a decisão sobre virem a conhecer suas chances na loteria biomolecular que chamam --chamamos todos-- de própria vida.

Marcelo leite

Censo 2010



Blog de Josias de Souza

Audiência

Debate x futebol



Blog de Josias de Souza

terça-feira, 10 de agosto de 2010

sábado, 7 de agosto de 2010

Campanha



Blog de Jamildo

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

Sintepe

Avançar com ousadia e tempo para compartilhar

DISCURSO JURÍDICO: O MINISTÉRIO PÚBLICO

Volta e meia nos deparamos com uma notícia de determinada ação do Ministério Público Federal ou Estadual provocada por suspeita, denúncia ou delito cometido por alguém. Mas afinal, o que é o Ministério Público? Trata-se de uma instituição do Estado Brasileiro que exerce controle sobre as demais instituições de todos os Poderes da República, sem modelo similar em democracia de outros países.
Os procuradores e promotores de justiça ingressam no Ministério Público somente por concurso e os chefes são protegidos por um mandato. No caso do Governo Federal, o órgão é chefiado pelo Procurador Geral da República, indicado pelo presidente dentre os membros de carreira do MP da União e aprovado pelo Senado.
Os promotores de justiça nos estados são chefiados pelo Procurador Geral de Justiça, indicado pelo Governador a partir de uma lista tríplice proposta pelos próprios procuradores, sem que haja necessidade de aprovação pela Assembléia Legislativa.
A partir da Constituição de 1988, o MP saiu da esfera do Poder Executivo, não se subordinando a nenhum poder e passando, portanto, a ter uma grande autonomia, alta discricionariedade (direito de fazer ou não alguma coisa) e, também, no extenso leque de atribuições. O MP tem quatro (04) principais responsabilidades com suas conseqüências políticas:
a) Ação Penal Pública – Quando ocorre um crime – roubo ou assassinato, por exemplo – a polícia é responsável pela investigação. Sob a coordenação do delegado, o inquérito policial é elaborado e enviado para um Juiz, que distribui o caso para o Promotor responsável. Baseado nessa peça, o Promotor recorre ao Poder Judiciário, que decidirá sobre a condenação ou absorção do acusado.
b) Inquérito Civil – É um instrumento utilizado na fase preliminar ao processo judicial. O inquérito civil permite que as investigações sejam conduzidas e coordenadas pelos promotores, que podem decidir, independente de outro ator estatal, se o caso merece transforma-se em uma Ação Civil Pública.
c) Ação Civil Pública - Trata-se de um instrumento jurídico que questiona a legalidade de atos sobre direitos coletivos. Por exemplo: O MP pede a proibição da comercialização de um refrigerante, ou entra com uma ação contra uma fábrica que está poluindo o meio ambiente, ou, ainda, apresenta denúncia de corrupção contra um político. Nesse caso o MP não é obrigado a encaminhar a ação para um Juiz. O próprio órgão decide como será resolvida a questão jurídica. O inquérito cível é monopólio do MP, que pode convocar pessoas para testemunhar, e mesmo propor um termo de compromisso para resolver a questão.
d) Controle externo – O MP é responsável pela fiscalização de praticamente todas as instituições, do correto comprometimento da lei às ações dos políticos, sendo esta característica unicamente brasileira, pois nenhuma outra instituição do mundo tem controle externo somado à ação penal pública e a ação civil pública.

SECRETARIA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS E DE LEGISLAÇÃO

Maioria dos pernambucanos acredita que políticos locais são corruptos



Para a elaboração do livro O Que Pensa o Eleitor Pernambucano?, o Instituto Maurício de Nassau perguntou aos entrevistados se eles consideravam os políticos honestos?
63% dos entrevistados consideraram os políticos corruptos, mas com exceção . Por outro lado, 30% consideram todos os políticos corrptos.
No entanto, 24% desses mesmos eleitores decidiriam por algum tipo de artifício para evitar uma multa de trânsito, como subornar o guarda.
A maioria dos pernambucanos, de acordo com a mesma pesquisa, também rejeita a prática do nepotismo. 65% afirmam ser contrários ao nepotismo.
Porém, quano menor o nível de instrução, menor também a rejeição ao nepotismo. A mesma lógica ocorre com a renda.
Isso significa que parte do eleitor com menor renda e nível de instrução não teriam o espírito republicano. “No caso, esse eleitor tem uma concepção patrimonialista do Estado. Confunde a coisa pública com o privado”, explicam os pesquisadores do Instituto Maurício de Nassau.
A questão do nepotismo pode ser resumida em um exemplo prático, que ouvi da boca do próprio presidente da Alepe, o pedetista Guilherme Uchoa.
Como é público, o político é um notório defensor juramentado do nepotismo na nossa sociedade. E espoletou-se quando o Ministério Público do Estado começou a realizar uma campanha para acabar com a prática nas prefeituras do Estado.
Com pouco tempo, a Alepe entrou na berlinda, alguns deputados chegaram a dispensar parentes, mas o próprio presidente fez uma defesa enfática do fenômeno e negou-se a colocar um projeto de lei em votação.
Em um jantar, ele me contouque não ligava a mínima para a repercussão na opinião pública e menos ainda para polêmicas na internet.
Ele me dizia que quando esse negócio de blog e twitter chegasse lá em Igarassu ele começaria a se preocupar.
Nos dados da pesquisa da Nassau, quanto menor o nível de instrução, menor também a rejeição ao nepotismo. A mesma lógica ocorre com a renda. No caso, Uchoa é um desvio do padrão. Rico e bem letrado, ainda sim esposa uma concepção patrimonialista do Estado.

Blog de Jamildo

Investigação ou especulação?

Janela para o mundo

Para não perder o hábito, permita-me, caro leitor, remar contra a maré de louvação ao vazamento dos papéis da guerra do Afeganistão - 92 mil documentos capturados pelo sítio "Wikileaks" mas levados à fama pelo fato de terem sido repassados à três ícones da mídia tradicional. Foram, como você sabe, o britânico "The Guardian", o "New York Times" velho de guerra e a revista alemã "Der Spiegel".
Primeiro problema, a meu ver o mais grave: "Os relatórios do Wikileaks não são verificáveis e poderiam ser informação falsa da inteligência afegã", diz editorial do "Guardian", no mesmo dia em que publicava os relatórios.
Antigamente, antes de que o "fast journalism" se tornasse uma praga, nenhum jornal sério publicaria algo que não pudesse ser devidamente checado. Na pior das hipóteses, ante a possibilidade de tomar um "furo" em fato de relevância, o jornalismo sério advertia que a versão que difundia não pudera ser contrastada com uma fonte independente.
Agora, não, Atira-se primeiro e só depois se pergunta quem vem lá.
Parêntesis para entender a observação do "Guardian" sobre a inteligência afegã: o governo do Afeganistão está absolutamente convencido de que todos os problemas do país nascem e crescem no vizinho Paquistão. Quem me disse foi o próprio presidente Hamid Karzai, em uma conversa em Davos há dois anos.
Logo, a inteligência afegã teria interesse em demonstrar que sua contraparte paquistanesa colabora com o Talebã, conforme consta dos papeis que vazaram.

Fecha parêntesis.

Segundo grave problema, constatado por Joshua Foust, da respeitadíssima Columbia Journalism Review, editada pela escola de jornalismo da Columbia, de Nova York:
"É só dar um clique aleatório nos Diários de Guerra da Wikileaks para ver revelados os nomes das fontes afegãs: Simon Hermes, chefe da Missão de Assistência da ONU no Afeganistão; Mohammed Moubin, que trabalhou com a equipe de reconstrução da Província Paktika em 2006; e Gul Said, assessor da mesma equipe".
O criador da Wikileaks deu muitas entrevistas para jurar que os nomes das fontes haviam sido completamente protegidos. Logo, mentiu, como completa Foust:
Aparecem "nome após nome de 'colaboradores' com os militares dos EUA, nome após nome de pessoas cujas vidas estão agora em perigo direto. (...) Muitas das operações detalhadas nos vazamentos ainda estão em andamento e muitas das pessoas envolvidas ainda estão lá, torcendo para que estes vazamentos não os transformem em alvos de assassinos".
É um comportamento no mínimo discutível. Ainda mais que, como diz o presidente Barack Obama, "nenhum desses documentos revela nada que não tivesse sido informado e que não tenha sido publicamente debatido".
Você pode até achar que Obama está querendo minimizar algo inconveniente para o governo. Mas no sítio "Mother Jones", que não é "chapa branca", Adam Weinstein diz basicamente a mesma coisa: "A maioria das informações são porcas e parafusos táticos, descontextualizadas e em grande medida inúteis".
A propósito: os documentos que tratam das relações Brasil/EUA, também constantes do pacote, chegam a ser risíveis, de tão primários e inúteis. Confira em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2807201003.htm.
Para o meu gosto, fica a nítida sensação de que, no caso, tratou-se muito mais de "jornalismo espetáculo" do que de "jornalismo investigativo".

Clóvis Rossi